domingo, 27 de novembro de 2011

Dagmar Braga (Poesias Avulsas)


CONSTRUÇÃO

Lanhada a pedra,
faço-me fio,
partilho, rasgo
entranha e estranho.

Quebrado o leme,
desoriento,
acolho vento,
maré e abismo.

Cavado o poço,
torno-me água,
mão retorcida,
lisura e barro.

Feito o silêncio,
lasso a palavra -
gume sequioso
de outra navalha.

PAISAGEM URBANA

no farol
estilhaço de vidro
fragmento de prisma
cinabre viscosidade

e um sonho coagulado em nossa retina

INFINITUDE

Ao derredor do tempo
(sorvo de luz e sombra)
o labirinto assoma

Não há porta que se abra
nem sina que nos sustente

O desafio
é a tessitura e o fio

Não há rastro ou memória
na solidão do exílio

Tudo — a um só tempo —
é pressentimento /
origem
tédio / espelho

Secreto e imenso — sempre —
o meu e o teu delírio.

PROSCRITOS


no exílio da manhã
o desamparo
a dois

quando cruzamos
olhares
urbanos desvalidos

forçado o esquecimento
banido o verbo

embora o corpo
estirado
de prazer e fúria

MADRUGADA

quando em silêncio arde o desespero
teu rosto assoma

tua mão acolhe o fogo e me desata
o descompasso

o dia serpenteia na garganta
um poema grita
germinando luz

Fonte:
Antonio Miranda

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