quinta-feira, 2 de junho de 2011

José Tavares de Lima (Vozes do Coração) Parte I


Amar alguém eu temia...
E acabei, na indecisão,
pagando essa covardia
com a minha solidão!

As penas da vida aceita
sem revoltas, sem reclamos...
pois sempre a nossa colheita
depende do que plantamos...

Assim como todo lume
tem que ter ardor e chama,
também tem que ter ciúme
o coração de quem ama!

Busca no verso a alegria,
se hoje a vida te amargura,
que a vereda da poesia
pode levar-te à ventura !...

Contra a idade não tem fugas...
Mas eu vejo, com desgosto,
que a vida ingrata pôs rugas
antes do tempo em meu rosto!

Crê na vitória e tem calma
ante o revés que alucina...
Quem traz um sol dentro d'alma
não se perde entre a neblina!

Desperta. A noite é de encanto!
E a lua, aflita, no espaço,
já não pode esperar tanto
para ver o nosso abraço!...

De tanto esperar-te e vendo
que a idade avança, severa,
sinto em minh'alma crescendo
o desencanto da espera !...

Enfrente a luta e, persista
se acaso a vitória tarde...
Não há troféus de conquista
nas estantes do covarde!

Espero-a... A noite está fria,
mas não desisto... Ouço passos
e o prêmio da teimosia
vem se acolher nos meus braços!

Esquece a luta perdida
porque, mais que insensatez,
lembrar fracassos na vida
é fracassar outra vez !

Faz da vida uma peleja
pelo bem que tens em mente;
ninguém colhe o que deseja
desejando... simplesmente!

Fazendo um fico insincero
que na verdade deploro,
eu minto que não te quero
para esconder, que te adoro!

Felicidade, me resta
sonhar contigo e mais nada;
já que a sorte, em tua festa,
não permite a minha entrada!

Festeiro de alma iludida,
disfarçando a sorte ingrata,
faço uma festa da vida
mesmo que o vida me bata! ...

Lembra, em tua majestade,
quando o orgulho te arrebata,
que é no espelho do humildade
que a grandeza se retrata!

Meu maior contentamento
é quando, amorosa, dizes
que eu sou o melhor momento
dos teus momentos felizes !

Muita gente, na velhice,
não sonha mais... tem saudade
Corno se o sonho exigisse
certidão de nossa idade!...

Não deixa de ser valente
quem lutando fracassar...
Perder lutando é acidente;
Covardia é não lutar!

Nem a derrota embaraça
quem luta e nunca esmorece;
pois sabe que a nuvem passa
e o sol de novo aparece!

Nos obstáculos que enfrentas
sê forte e perseverante:
- é no rigor das tormentas
que se mede o navegante! ...

Nossa união que eu aceito
como a dádiva mais grata,
é nó-cego tão perfeito
que nem a morte desata !

O amor vem, não se procura...
Chega sutil, de repente,
como uma luz que a ventura
acende dentro da gente!

Partiste... Em meu desatino
vejo, ante o sonho desfeito,
que o pranto - intruso inquilino
fez domicílio em meu peito!

Pode ser falso o teor
que este conceito resume:
mas eu não creio no amor
de quem não sente ciúme

Pratica o bem desde agora,
pois com urgência é preciso
que no rosto de quem chora
faças brilhar um sorriso!...

Recebo cartas... Centenas!...
Eu trocaria, porém,
todas elas por apenas
uma que espero e não vem...

Se a sorte não me convida,
teimoso, forças concentro
e entro na festa da vida
como 'penetra'... mas entro! ...

Se não crês em Deus porque
não crês no que nunca viste,
lembra que o cego não vê,
mas sabe que a luz existe!...

Todo o bem que o amor resume
acaba em desilusão,
quando a sombra do ciúme
envolve a luz da razão

Venci distância e cansaço
para abraçar-te ... no fim,
quando cheguei, teu abraço
não esperava por mim...

Voltaste tão diferente
da mulher que foi tão linda,
que embora estejas presente
não sei se voltaste ainda!...

Fonte:
Colaboração de Darlene A. A. Silva
LIMA, José Tavares de. Vozes do Coração.

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 231)


Uma Trova Nacional Alinhar ao centro
Eu faço um apelo mudo
na velhice que me alcança:
- Destino, tire-me tudo
mas não me roube a esperança!
–MARINA BRUNA/SP–

Uma Trova Potiguar

Musa, fonte inspiradora,
deusa que embala a poesia;
do poeta é protetora
com toda soberania.
–ADELANTHA SOUZA DANTAS/RN–

Uma Trova Premiada

2011 - Ribeirão Preto/SP
Tema: VÍCIO - 1º Lugar

Oferecendo a miragem
de uma vida sem escolta
o vício vende passagem
para a viagem sem volta.
–OLYMPIO COUTINHO/MG–

Uma Trova de Ademar

Tem cão que mora num morro
e outro morando em mansão...
Porque nem todo cachorro
leva uma vida de cão!
–ADEMAR MACEDO/RN–

...E Suas Trovas Ficaram

Se o amor é um sacrifício,
não duvides, nem um pouco:
iria até para o hospício,
para amar-te como um louco.
–JORGE MURAD/RJ–

Simplesmente Poesia

–PAULO SETÚBAL/SP–
Só Tu

Dos lábios que me beijaram,
Dos braços que me abraçaram
Já não me lembro, nem sei...
São tantas as que me amaram!
São tantas as que eu amei!

Mas tu - que rude contraste!
Tu, que jamais me beijaste,
Tu que jamais abracei,
Só tu, nest'alma, ficaste,
De todas as que eu amei.

Estrofe do Dia

O aguaceiro no rio
desce fazendo manobra,
não procura um só desvio,
espuma fazendo dobra,
grande empecilho ou miúdo
passa por cima de tudo,
leva o que tiver na frente;
até o próprio rochedo
parece tremer com medo
dos abraços da corrente.
CANCÃO/PE–

Soneto do Dia

–GILSON FAUSTINOMAIA/RJ–
Um Filho de Santana do Matos

Pode um filho fugir da mãe querida,
mesmo sendo inda tenro, esse menino;
percorra pelo mundo outro destino,
sempre a mãe lhe dará uma acolhida.

Sua terra natal é sua vida.
Amar o antigo berço é dom divino.
Ali Deus colocou, do pequenino,
o início dessa estrada percorrida.

Em Santana do Matos tua história
estará para sempre na memória
do povo teu irmão do antigo lar.

Não preciso nem mesmo ser profeta,
pra saber, Ademar, que és o poeta
mais nobre e mais querido do lugar.

Fonte:
Textos enviados pelo autor

Ialmar Pio Schneider (Homenagens em Soneto V)


SONETO A DANTE ALIGHIERI –
Data de nascimento do poeta: 29.5.1265 – In Memoriam –

Diz-se que teve apenas três paixões:
a política, a poesia e Beatriz...
Assim viveu invernos e verões,
cantando seu amor p´ra ser feliz !

“A Divina Comédia” e as canções
que fez à sua amada tudo diz;
foram suas sublimes obsessões
desde os seus devaneios juvenis...

Há tempos li sua obra genial:
Inferno, Purgatório e Paraíso;
e senti quanto é monumental...

“Deixai aqui todas as esperanças,
ó vós que entrais.” Se não se perde o juízo,
o percurso é de trevas e esquivanças...

SONETO A RAUL BOPP
– Data de falecimento do poeta em 2.6.1984 – In Memoriam

Ilustre seguidor do “movimento
antropofágico”; Cobra Norato,
original poema do talento
desse escritor em seu desiderato...

“Nas terras do Sem-Fim”, é seu intento
morar, enfim, sem qualquer aparato,
co´a filha da Rainha Sofia e o vento:
“sumo sem rumo no fundo do mato”.

Sempre será lembrado, foi pioneiro
do nobre Modernismo Brasileiro,
criando imagens simples, infantis...

Tendo sido um poeta inovador
seus versos falam alto pela cor
das matas do Amazonas no matiz!

SONETO A VOLTAIRE
– Falecimento do escritor em 30.5.1778 – In Memoriam

Ialmar Pio Schneider

Disse Voltaire em Cândido ou o Otimismo:
“Devemos cultivar nosso jardim!”
E porque defendia o Liberalismo,
foi perseguido sempre até o fim...

Lutou por suas ideias, outrossim,
sem jamais aderir ao conformismo,
e pelo seu caráter foi, enfim,
nobre filósofo do Iluminismo.

“Não concordo com nenhuma palavra
que dizes, mas defenderei até
a morte teu direito de dizê-lo”.

Esta frase genial de sua lavra,
vem confirmar um símbolo de fé
que deveremos ter como modelo...

Fonte:
Sonetos enviados pelo autor

Monteiro Lobato (Histórias de Tia Nastácia) XLII – Peixes na Floresta


Era um camponês que tinha uma esposa muito faladeira. Um dia em que ele achou um tesouro enterrado na floresta, trouxe-o para casa e disse à mulher:

— Acabo de descobrir uma grande fortuna, mas temos de escondê-la. Onde será?

A mulher achou melhor enterrarem o tesouro debaixo do assoalho da isbá em que moravam. O camponês concordou. Mas assim que a mulher foi ao poço buscar água, tirou o tesouro dali e escondeu-o em outro lugar.

A mulher veio com a água.

— Mulher mulher — disse o camponês — é preciso que ninguém saiba que temos este tesouro aqui debaixo do assoa lho. Muito cuidado com a língua, ouviu?

Mas como não tinha a menor confiança nela, armou um plano.

— Olhe, amanhã iremos à floresta apanhar peixes. Dizem que estão aparecendo em quantidade.

— O quê? Peixes na floresta? Onde já se viu isso?

— Na floresta você verá. Madrugadinha o camponês levantou-se

e foi à vila. Comprou uma porção de peixes, uma porção de aletria e uma lebre. Passou depois pela floresta, espalhando tudo aquilo em vários pontos. A lebre ele fisgou num anzol de linha comprida e jogou n'água.

Chegando em casa, almoçou e convidou a mulher para irem à floresta. Foram. Que beleza! Peixe por toda parte, um aqui, outro ali, outro acolá. A mulher, com gritos de surpresa, ia acomodando a peixada na cesta.

Depois deu com a aletria pendurada de uma árvore.

— Olhe, marido! Aletria pendurada em árvore!...

— Não me espanto de coisa nenhuma — disse o homem. — Nestes últimos dias tem chovido muita massa dessa, que fica assim pendurada das árvores. Mas a gente da aldeia já apanhou quase tudo.

Nisto chegaram à lagoa, onde ele jogara a lebre.

— Espere um pouco, mulher. Esta manhã pus aqui uma linha de anzol com isca para lebre d'água. Vou ver se apanhei alguma.

Puxando a linha apareceu no anzol uma lebre. — Como é isso? — gritou a mulher. — Lebre d'água? Que coisa espantosa! Nunca ouvi dizer de lebre que morasse em água!...

— Nem eu, mas o fato é que pesquei uma.

Voltaram para casa com aquela lindíssima colheita e a mulher passou o dia a preparar os peixes e a lebre.

Uma semana depois em toda a redondeza só se falava no tesouro que o camponês descobrira. As autoridades mandaram chamá-lo.

— É verdade que achou um tesouro na floresta?

O camponês riu-se.

— Tesouro, eu? Ah, quem me dera achar um!

— Mas sua própria mulher anda assoprando no ouvido de toda gente que você achou um tesouro e o escondeu debaixo do assoalho da sua isbá.

— Minha mulher anda a dizer isso? Coitada! É uma louquinha que não sabe o que diz.

— É verdade, sim! — gritou a mulher, furiosa. — Ele achou um tesouro, que eu ajudei a enterrar debaixo do assoalho! Louca, eu! É boa...

— Quando foi isso? — perguntou o camponês.

— Na véspera daquele dia em que juntamos peixe na floresta.

— Peixe na floresta? — repetiu o homem, fazendo cara de não entender.

— Sim. No dia em que choveu aletria e você pescou uma lebre d'água.
As autoridades convenceram-se de que a mulher era mesmo louca, e como na busca que deram nada encontrassem debaixo do assoalho da isbá, o caso morreu. O camponês esfregou as mãos, de contente.

— Veja se eu fosse me fiar nela! Estava hoje desmoralizado e com o meu rico tesouro perdido...
===========
— Que complicação para chegar a esse resultado! — exclamou Narizinho. — Esse camponês sabia a mulher que tinha.

— E que grande maroto! — disse Pedrinho. — Logrou a mulher, logrou as autoridades — logrou todo mundo. Freguês mais escovado ainda não vi.

— E isbá, dona Benta, que é? — perguntou Emília.

— É o nome das casas da roça lá na Rússia, em geral de madeira. Casa de roça, aqui nós chamamos rancho, casebre, casa de sapé, mocambo e outras coisas assim. Lá é isbá.

— Gostei da história dos russos — disse Narizinho. — Está pitoresca. Vamos ver outra de lá mesmo.

— Não. Para variar contarei uma de outra terra muito fria, a Islândia.
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Continua… XLIII – O Alcatraz e o Eider
–––––––––––––-
Fonte:
LOBATO, Monteiro. Histórias de Tia Nastácia. SP: Brasiliense, 1995.
Este livro foi digitalizado e distribuído GRATUITAMENTE pela equipe Digital Source

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 230)


Uma Trova Nacional

Choro não é argumento,
quem grita perde a razão,
somente o entendimento
resolve qualquer questão.
–ZÉ REINALDO/AL–

Uma Trova Potiguar

Cultuar o amor, entre os povos,
nos torna, um ser pertinaz,
estreitando, laços novos,
para que, tenhamos paz...
–FABIANO WANDERLEY/RN–

Uma Trova Premiada

2006 - Nova Friburgo/RJ
Tema: FRONTEIRA - M/H

Sem preconceito ou pudor,
mas de emoções verdadeiras,
grandes momentos de amor
não delimitam fronteiras!...
–HERMOCLYDES S. FRANCO/RJ–

Uma Trova de Ademar

Se a inspiração me inebria,
com temas, os mais dispersos;
mato a sede de poesia
na eterna fonte dos versos...
ADEMAR MACEDO/RN–

...E Suas Trovas Ficaram

Seu "lenço de despedida"
o vento não mais o solta,
que o trem da linha da vida
só tem ida, não tem volta!
–JOSÉ MARIA M. DE ARAÚJO/RJ–

Simplesmente Poesia

–ROSA REGIS/RN-
Saudade da Minha Infância

Eu queria ser criança novamente
Para jogar dedola na calçada;
Brincar de esconde-esconde e de pegada,
Sem malícia. E, inocentemente,
Brincar de cavalinho com Vicente.
De dona-de-casa e cozinhado;
De tica, de biloca, de roçado
E de boneca, ser mamãe, fingindo.
Saudosa disso tudo, eu lembro rindo,
Com imensa saudade do passado.

Estrofe do Dia

Uma velha rezadeira,
Um “véi” fazendo cigarro,
um pote velho de barro
e aquela boa parteira;
um chá de erva cidreira
pra qualquer tipo de dor...
Um cavalo corredor
e um menino “maluvido”;
“isso é cagado e cuspido
paisagem do interior.”
–ADEMAR MACEDO/RN–

Soneto do Dia

–SÔNIA SOBREIRA/RJ–
Tenho Pena

Tenho pena dos que sofrem na vida,
neste mundo, tão mau, tão inclemente,
dos que morrem sem culpa, do inocente
que sozinho, nem sabe o que é guarida.

Da montanha, calada e soerguida,
que altiva enfrenta as águas da vertente,
do mar, enfurecido de repente,
das ondas que se curvam na descida.

Tenho pena do brilho das estrelas,
dos cegos que jamais poderão vê-las
e do tempo que mostra a realidade.

Tenho pena das lágrimas vertidas,
da ilusão cujas asas são partidas,
de um sonho que deixou tanta saudade!

Fonte:
Textos enviados pelo autor

A. A. de Assis (A Guerra das Sanfonas)


Maio de 1964, semana dos 17 anos de Maringá. Na programação, um concurso de sanfoneiros, a mais badalada atração da festa. Gente e mais gente se juntava pra ver de perto; quem não vinha ficava em casa acompanhando pelo rádio, em ferrenha torcida.

Os artistas da sanfona de oito baixos chegavam de toda a região, alguns até de mais longe, prêmios convidativos, mais ainda o prestígio, a glória. As eliminatórias, durante a semana toda, eram o assunto único. Nhô Juca de mestre de cerimônia, caprichoso nos detalhes. Deu discussão, deu briga, tudo como convém a um festival que se preze. E aquele era uma verdadeira guerra.

Gente ilustre da cidade formando a comissão julgadora, músicos importantes, políticos, intelectuais. Chegou a grande finalíssima. Veio junto a decepção ecoada na forma de estrondosa vaia. Protestos e mais protestos. Os julgadores xingados de todos os nomes.

O motivo da bronca?... Magina: os sanfoneiros autênticos sentiram-se insultados e seus fãs-clubes se alvoroçaram. O grande problema: a comissão dera o primeiro lugar a um acordionista. Pior ainda: a um acordionista que tocara “El relicario” e “La cumparsita”. Absurdo. Onde já se viu enfiar acordeão em festa de sanfonas?... De jeito maneira!

Acordeão é ferramenta de gringo. “La cumparsita” é pra gente de língua enrolada. Nossa música é modinha, valsinha, toada, baião, que têm cheiro e gosto de terra, alma de povo. A comissão julgadora deveria ter pensado nisso. A grita era geral, contagiante. Queriam porque queriam a anulação do concurso. Injusto e impatriótico.

Sob apupos e assovios, o homem da “La cumparsita” recebeu, porém, assim mesmo o prêmio. A culpa afinal não era dele, era dos julgadores, mas naquela hora ninguém tinha serenidade para raciocinar direito. Era grito, era palavrão, era ovo lançado contra o palanque. O caso foi assunto do dia por dias e dias, em cada esquina, em cada bar, fofoca das boas, sobretudo das quentes.

Uma pena, porque depois de tamanha encrenca nunca mais se fez concurso de sanfoneiros por aqui. Pelo menos não daquele porte. Uma tradição que poderia ter permanecido, não fosse a insensibilidade daquela desastrada comissão julgadora.

Fonte:
ASSIS, A. A. de. Vida, verso e prosa. Maringá: EDUEM, 2010.

Ialmar Pio Schneider (Soneto Saudoso ao meu Pai!)


Hoje desejo te contar a história,
De um homem simples que bem conheci,
Jamais há de sair-me da memória,
Pois foi por seu caráter que vivi…

Deste mundo cumpriu a trajetória,
E trabalhando honestamente aqui,
Ele nunca aspirou dinheiro ou glória,
Foi meu exemplo desde que nasci…

Ora reside Além, na Eternidade,
Mas eu sempre o relembro com saudade,
E tanto tempo já tão longe vai…

Ainda o vejo lá na barbearia,
Me transmitindo com sabedoria,
Os seus ensinamentos, oh meu pai !

Fonte:
O Autor

Joubert de Araujo e Silva (Livro de Trovas)


A Morte vem tarde ou cedo
- com brumas no fim da estrada.
São as neblinas do medo...
- Talvez tudo... -Talvez nada

A neblina sobre a mata,
antes que o sol doure a terra,
parece um manto de prata
nos ombros verdes da serra.

Aquela aranha paciente,
que tece despercebida,
lembra o destino da gente
e as armadilhas, da vida!

A sorte foi bem marota
para o pobre do Aristeu,
fazendo morrer de "gota"
quem só da "pinga" viveu.

Cessa a luta na colina...
E Deus, ante o horror da guerra,
põe o algodão da neblina
sobre as feridas da terra.

Chego ao fim, com os pés sangrando,
abandonado e sozinho;
meus sonhos foram ficando
um a um pelo caminho...

De todas as despedidas,
esta é a mais triste, suponho:
duas almas comovidas,
chorando a morte de um sonho!

Enganam-se os ditadores,
que, no seu furor medonho,
mandam matar sonhadores,
pensando matar o sonho!

Lembro, triste, o amor passado,
vendo a Luz e o velho cais:
- saudade é barco ancorado
no porto do "nunca mais" ...

Manhã... Ao passar das horas,
incendeia-se o horizonte...
E o Sol - pastor das auroras,
varre as neblinas do monte.

Meu dentista entrou em cana;
numa grande confusão...
e uma coroa" bacana
foi o "pivô" da questão.

Na cachaça, o Zé Caolho
se sente realizado:
embora tendo um só olho,
ele vê tudo dobrado...

Os currais estão vazios...
o verde fugiu do chão...
e a seca, bebendo os rios,
vai devorando o sertão.

O segredo que o Biscalho
soube da esposa travessa
deu, por fim, “aquele galho"
que não lhe sai da cabeça...

O vento, pastor estranho,
tangendo as nuvens ao léu,
conduz seu alvo rebanho
pelas campinas do céu!

Quando um povo escravo acorda,
pondo fim ao jugo insano,
a mão de Deus põe a corda
no pescoço do tirano ...

Seca Braba. Ao longe, o grito
do carro de bois gemendo
parece um "ai" longo e aflito
do sertão, que vai morrendo ...

Se quiser proceder bem
quem briga alheia ajuiza,
dê razão a quem não tem,
pois quem já tem, não precisa!...

"Só com o Zé se casaria...”
Jurou, e foi verdadeira:
Já tem três filhos Maria,
e continua solteira!..

Vem a neblina... e a cidade
goteja um pranto silente...
- Neblina é como a saudade
molhando os olhos da gente.

Fontes:
Colaboração de Darlene A. A. Silva
Verso e Prosa
Evandro Moreira. Poetas Cachoeirenses.

Joubert de Araújo e Silva (1915 - 1993)


Joubert de Araújo Silva nasceu em São Felipe, no município de Cachoeiro de Itapemirim, no Estado do Espírito Santo, em 29/11/1915, filho de Venâncio Silva e Maria Adelaide de Araújo Silva.

Iniciou-se literariamente incentivado por Newton Braga, colaborando no "Correio do Sul" e na revista "Vida Capixaba".

Em 1939, transferiu-se para o Rio de Janeiro, onde ingressou no antigo IAPI.

Pertenceu à UBT, sendo redator do órgão oficial da entidade - Trovas e Trovadores.

Conquistou centenas de prêmios, inclusive o de Magnífico Trovador por 3 vezes nos Jogos Florais de Nova Friburgo. Obteve também premiações com vários sonetos e recebeu inúmeras honrarias, inclusive o título de Intelectual do Ano, em 1954 - pelo Jornal "Mensagem" e pela Casa da Cultura de Alegre, onde se sagrou um dos vencedores em 6 Jogos Florais.

Na Academia Cachoeirense de Letras ocupou a cadeira n.34 cujo patrono é Florisbelo Neves. A Academia Espírito-santense de Letras o premiou, em 1985, com o livro Caminhada, onde predominam os quartozetos.

Faleceu em 22/07/1993.

Obras:

"Caminhada" - 1990
Participação na Coletânea "Poetas Cachoeirenses", de Evandro Moreira.

FONTE:
Poetas Cachoeirenses, de Evandro Moreira

Monteiro Lobato (Histórias de Tia Nastácia) XLI - O Rato Orgulhoso

Um rato fazedor de grande idéia de si mesmo, vivia esperando ocasião de realizar coisas que mostrassem a sua importância. Certa noite acordou de sobressalto. A casa estava queimando. O rato ficou aflitíssimo, sem saber como escapar.

As labaredas, porém, cresciam e ele teve de resolver-se; ou ficava ali, e morria assado, ou escapava. Fechou os olhos e lançou-se ao fogo.

Mas; sem saber como, não se queimou. Achou-se lá fora, sem o menor tostadinho no pêlo. Isto o encheu de enorme orgulho.

— Qual! Sou mesmo diferente dos outros. Nem as chamas têm coragem de me queimar...

Passeou por ali uns instantes e voltou a ver o estado do incêndio. Só então percebeu que não tinha havido incêndio nenhum. Os raios do sol, que se iam erguendo, é que lhe deram a impressão de fogo.

O rato suspirou. A sua importância não era o que ele havia suposto. Mas que fazer para provar tal importância?

A pouca distância havia um morro altíssimo.

— Eis uma boa façanha para um rato como eu: dar um pulo e cair lá em cima do morro!

Preparou cuidadosamente o pulo e pulou. Novo desastre. Em vez de alcançar o alto do morro, caiu em cima dum montinho de areia, a seis palmos de distância.

O rato entristeceu. Estava custando a provar ao mundo a sua importância.

Olhou. Viu um lago que lhe pareceu enorme. Foi para lá. Mediu a distância.

— Se consigo atravessar a nado este aguão, todos os animais têm que reconhecer em mim um verdadeiro herói.

Lançou-se à água, nadou, e por fim chegou ao meio do lago. Sentia na cauda o peso de milhares de peixes agarrados a ela. Estava já cansadíssimo, de modo que teve de empregar todas as forças para chegar à margem oposta. Chegou, afinal. Uf!

— Canseira assim jamais senti. Mas não é para menos. Acabo de atravessar um dos maiores lagos do mundo.

Prestando melhor atenção, porém, viu que não havia atravessado lago nenhum, e sim uma pocinha lamacenta.. Os tais peixes que se agarraram à sua cauda não passavam de vermes da lama.

O rato ficou aborrecidíssimo, mas mesmo assim não abandonou o plano de fazer grandes coisas.

Longe dali havia um pau, que lhe deu a idéia de estar espetado no céu. "Oh; lá está uma grande coisa a fazer. Visivelmente aquele pau está sustentando o céu. Se eu o derrubar, o céu cai. O mundo inteiro ficará esmagado, mas eu provarei a minha importância."

Foi. Examinou bem o pau e depois abriu um buraquinho para esconder-se quando o céu viesse caindo. Feito isso, pôs-se a roer a madeira. Roeu, roeu, roeu, e quando viu que o pau estava cai não cai, correu a esconder-se no buraco.

— Pobre mundo! Vai ficar inteirinho achatado pelo céu!...

Esperou uma porção de tempo. Não ouviu barulho nenhum.

— Que será que houve?

Talvez o céu ficasse enganchado na lua — e com mil cautelas botou a cabeça fora do buraco, para espiar.

Que desapontamento! O céu azul lá estava no lugar de sempre, com um grande sol no meio. O ratinho olhou para o pau caído: era uma simples vara.

O ambicioso sentiu grande tristeza, mas não desanimou. "Hei de fazer uma coisa grande, custe o que custar. Hei de transportar este monte daqui para o oceano." Disse e pôs-se ao trabalho. Foi furando o monte e carregando a terra aos bocadinhos até o mar. Passou nisso anos e anos, até que um dia olhou e não viu mais o monte. Ele realmente o havia transportado para o mar.

— Hum! Agora compreendo como se fazem as grandes coisas. É à força de muito trabalho e muita paciência.

E morreu feliz por haver realizado um sonho de grandeza.
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— Bravos aos esquimós! — gritou Emília. A historinha deles está mais suculenta que todas as contadas até agora.

— Na verdade, este conto encerra uma preciosa lição — disse dona Benta. — Não há obstáculos que a paciência não domine. E até houve um grande pensador que disse: "O gênio é uma longa paciência."

— Mas, vovó, então tais esquimós são bem adiantadinhos. Para inventar histórias com lições como essa, é preciso que tenham boa cabeça.

— Pudera não! — gritou Pedrinho. — Eles só comem peixe. Peixe contém fósforo. Fósforo é sinônimo de inteligência.

— Mas se é assim — disse Narizinho — por que não progridem?

— Ah, minha filha, os esquimós já fazem o maior dos milagres vivendo naquela terra de gelos infinitos. Não há por lá vegetação nenhuma, a não ser, em certos pontos, a tundra, que é um tapete rasteiro de musgos e líquens. Isso dum povo desenvolver-se exige coisas: terras boas para culturas, clima agradável, cem fatores favoráveis. Para mim não há heroísmo maior do que o das tribos que passam a vida nos gelos. Brrr!...

— Bom. Conte outra dum país frio — da Rússia, por exemplo.
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Continua… XLII – Peixes na Floresta
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Fonte:
LOBATO, Monteiro. Histórias de Tia Nastácia. SP: Brasiliense, 1995.
Este livro foi digitalizado e distribuído GRATUITAMENTE pela equipe Digital Source

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 229)


Uma Trova Nacional

Minha saudade é defeito
que outra saudade requer
pois, sempre que abro o meu peito,
encontro a mesma mulher!
–HÉRON PATRÍCIO/SP–

Uma Trova Potiguar

Sua imagem é minha escolha,
dela assumo ser devoto,
pois por mais que eu vire a folha,
eu só vejo a mesma foto!
–MANOEL CAVALCANTE/RN–

Uma Trova Premiada

2008 - N. Friburgo/RJ
Tema: ESCOLHA - 8º Lugar.

Estou só... Mas sou feliz;
vou vivendo mesmo assim:
por escolhas que não fiz,
mas a vida fez por mim!
–SELMA PATTI SPINELLI/SP–

Uma Trova de Ademar

Aquela mão estendida
é Nau que ainda trafega
no mar revolto da vida
que a própria vida renega...
–ADEMAR MACEDO/RN–

...E Suas Trovas Ficaram


Passei a crer nos amigos
e em bondade ainda creio,
depois que vi dois mendigos
dividindo um pão ao meio.
–COLBERT RANGEL COELHO/MG–

Simplesmente Poesia

–SERGIO AUGUSTO SEVERO/RN–
Xaxado

De "Apragatas de Rabicho",
chapéu de Couro e Gibão,
os "Cabras de Lampião",
vão xaxando, "no capricho"!

"Matanto o Bicho", a Cachaça
"Papo-Amarelo" na mão,
e cortando a escuridão,
os lampeões, lá da Praça.

Pé à frente, deslizando,
num vai e vem levantando
a poeira, sem ter medo...

numa Dança, sem Parceira,
vai xaxando a Tropa inteira,
no Nordestino Folguedo !

Estrofe do Dia

“Santana do Matos” aniversaria,
e este filho que ela viu nascer;
lhe oferece com carinho esta poesia
mas nem sabe direito o que dizer;
pois eu que nasci da sua entranha
bem cedo me mudei pra terra estranha
quando ainda era muito pequenino;
mas guardei no vídeo da memória
é aqui que começa a minha história
e amar esta cidade é meu destino.
–ADEMAR MACEDO/RN–

Soneto do Dia

+++Nemézio Miranda/BA+++
(Homenagem Póstuma)
Destino de Velho Tema

Ele passava à noite à luz da lua,
fitando estrelas num silêncio imenso,
sem se lembrar que a vida tumultua
e avança e cresce num progresso intenso.

Era pequeno nesse tempo, e penso
sorrira às vezes da mania sua.
Hoje, homem feito, sinto-me propenso
a ver a noite só, à luz da lua.

Muitos rirão de mim... A velha história...
Não sorrira eu também de outros tantos,
antes de ver no amor a eterna glória?

Velho tema, terás esse destino.
Basta ter certo alguém todos encantos
que a gente sonho um dia, inda menino...

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