terça-feira, 21 de agosto de 2012

Celito Medeiros (Seguindo o Intruso)

Caminho vagarosamente sem fazer barulho, para não ser visto pelo intruso que se distancia à minha frente. Passo por entre uns galhos espinhosos, já pisando em plena lama.

É um pequeno alagadiço que tenho que transpor e seguro em um cipó, para não cair ao escorregar naquelas bordas lisas do solo molhado. Mas tem uma coisa que já está me intrigando... por que sigo em frente tão curioso e para ver o quê?

Esquisito, mas parece que algo novamente me convida a seguir em frente, transpor obstáculos e não desistir. Talvez seja um apelo à minha simples curiosidade, uma vez que é atrativo sempre sair e desvendar o que possa parecer difícil e misterioso. Não posso dizer que não tenho meus medos, pois afinal, de medo todos possuem um pouco. Mas isso é coisa que eu não sinto no momento e sim, uma vontade danada de descobrir o que está se passando.

Já começo a suar um pouco, pois temos coberto mais de um quilômetro de caminhada tensa, e continuo sempre com aquela sensação de estar  sendo convidado a seguir em frente. Desço mais uma ribanceira, começando a alcançar um patamar de topografia plana com muitas árvores de cerejeira e peroba, intercaladas por muita taboca.

Quem eu sigo, parece caminhar com muita destreza e nunca se distanciar. Sim, claro, ele deve estar sabendo que eu o estou seguindo. Ele deve estar realmente querendo que eu o siga! Tal pensamento me deixa confuso.

Que droga, estarei sendo levado para alguma armadilha? Por quem? E para quê?

Não pude responder a essas perguntas, nem ficar por muito tempo me questionando, pois começo a ver uma espécie de clarão à minha frente e, minha pulsação aumenta terrivelmente ao tentar imaginar do que se trata.

Naquele mesmo instante sinto que alguém procura me comunicar que não devo ter preocupações e que me aproxime!

Ora, isso já parece estar extrapolando os limites!

Quem estaria querendo que eu me aproximasse e por quê? - Não me dou tempo a respostas e sigo em frente confiante, é isso - confiante - é como estou me sentindo. Já sei, este cara seja quem for, está utilizando de telepatia!...

Seria extraordinário, em plena selva amazônica, alguém usando de comunicação telepática!

Seria a mesma pessoa a qual eu seguia? Então, por isso toda minha coragem e o fato de tê-lo seguido sem muito questionar? - Hei! Realmente eu já devia ter percebido que não se tratava de um indígena, afinal eu só estava pensando tratar-se  de um indígena e isto fez com que não imaginasse  tratar-se de alguém mais.

As luzes em frente estão mais nítidas, mas estranhamente não parecem ser de uma fogueira. Começo a  perceber que é de mais de um ponto que parte tal claridade.  Não! Não pode ser!... Aquilo é um foguete!?

Pelas barbas de mil profetas, aquilo é uma nave!!?

É claro, estou sonhando. Aperto os dentes na mão esquerda e sinto uma dorzinha, opa!, não estou sonhando, é pura realidade.

Estou ainda molhado, me aproximo mais e mais... quando avisto pessoas! Seriam alienígenas? A clareira na mata não é grande - como essa coisa pousou?

Não, felizmente não, apenas orientais. Vestem uma espécie de quimono. Mas o que estes orientais estariam fazendo aqui? Ou não seriam orientais?!...

Bem, já se podem perceber os olhinhos puxados, pelo menos me parece que sim. O que parece claro é que de fato são orientais de olhos puxados! Estatura mediana. Magros. Irradiando simpatia. Nada leva a crer tratar-se de  inimigos. Ou seriam inimigos disfarçados em docilidades e revestidos com peles de cordeiro? Nem mesmo havia obtido respostas, contemplo aquele objeto estranho, mas que com certeza tem características de uma nave. Mais ou menos uns seis metros de altura por uns vinte e cinco de comprimento. A envergadura das asas cobre além do corpo de uns oito metros, mais uns três de cada lado. Escura, ou será por causa da noite que chega à madrugada?

Não, realmente é escura, talvez um grafite ou sei lá o quê! Bico bem afinado, asas curtas para tal tamanho, bem pontiagudas, espere... parece ter um par de asas ainda menores no dorso que se alongam afinando até a cauda, terminando por elevar-se um pouco. É isso, as asas começam no bico e terminam na cauda, sendo que o centro da nave é o ponto mais alongado, formando uma espécie de estrela esmagada. Debaixo da interseção das asas está descida uma escada com corrimão.

Não percebo de imediato janela alguma além da que se situa na parte frontal. E é muito bonito o acabamento delas. Estranho eu não estar observando luzes coloridas piscarem, pois isto é o que eu imaginaria ver numa nave extraterrestre. Possui apenas algumas inscrições, mas parecem até familiares, pelo menos num escudo ou coisa assim, logo atrás do que seria provavelmente a cabine de comando. Em alto relevo, não distingo bem o desenho, mas vejo claramente a letra e o número: S 12.

Não tenho mais tempo para observações minuciosas, pois estão à minha frente quatro seres de aparência oriental, sendo  um deles uma mulher, pelos cabelos bem longos e pretos.       

Fico muito confuso, pois parecem bem humanos como se fossem nativos deste planeta, e a princípio nada percebo de diferente nestes seres, parecendo familiares.

Estariam estes Japas ou Chinas fazendo alguma experiência em nossas florestas? Mas, e este tipo de nave desconhecida, no meio da mata sem campo de pouso?

Sou tirado desses pensamentos com um deles que se adianta e me telecomunica dizendo:

- Tudo será devidamente esclarecido se você me der a honra de poder ser feito, ao devido tempo!

Reparo então, que o sujeito da esquerda está com seu quimono ou túnica um pouco suja e molhada, do que rapidamente posso concluir ser o furtivo visitante da noite que eu havia seguido até aqui.                    

Então procuro simplesmente... dar a entender a eles em pensamento, que estou um pouco desorientado com tudo isto. No entanto permanecerei na retaguarda, para não ser iludido ou ludibriado por quem quer que seja.

- Hei, funcionou!!!

Ele responde telecomunicando que está certo, e que compreendem como eu possa estar me sentindo. Diz também, que somente o que eu queira comunicar é que será compreendido por eles, que fui muito esperto em perceber logo que havia telecomunicação, bem antes de vê-los quando eu estava seguindo o furtivo da noite.

Da mesma maneira ele só comunicará o que for necessário ou perguntado.

Pergunto que garantias eu tenho de não ser apenas “usado” por eles, e imediatamente recebo como resposta:

- Apenas a sua intuição e capacidade de perceber.

Neste momento, a acompanhante feminina faz um gesto que entendo como sendo para eu entrar na nave. Estremeço..., engulo em seco e logo comunico que não estou com tanta pressa e prefiro trocar algumas idéias primeiro.

Vou logo perguntando o que fazem aqui e o que querem de mim. Novamente é meu primeiro interlocutor que comunica:

- Estamos em missão nesta área do planeta, estando perfeitamente “autorizados” a seguir com um projeto predeterminado e aprovado pela Patrulha Galáctica.

Diz também que seguiram a mim e meus companheiros nos últimos dias pela tela do radar de sua espaçonave. Não sei se estão respondendo de maneira a esclarecer ou a confundir ainda mais.

O que estou presenciando é real, preciso logo ter uma boa compreensão e tomada de decisão, para não complicar o encontro ou fazer algo de que me arrependa mais tarde.  Continuo suando e já estou com a boca seca. Pudera!

 Fonte:
Celito Medeiros. De Olho na Terra. Ed. All Print, 2005.

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