quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Antonio Roberto De Paula (Meu Lugar)

Tela  de Edgar Werner Osterroht
(retrata o Maringá Velho em 1952) 
Foi um tempo bom. Em que não havia tantas casas, não havia tanta gente. Você identificava um a um. Nas noites quentes, as pessoas colocavam cadeiras em frente à rua e ficavam até altas horas da noite quente conversando com os vizinhos.

O tempo não corria. Correr pra quê? Ia gostosamente devagar. A gente saboreava cada estação, cada jardim que renascia, cada chuva… A vida havia privilegiado todos nós. Pode parecer exagero, mas hoje é possível dizer que fizemos parte de um paraíso sem termos tido a noção disso.

O tempo foi passando. A máquina do tempo foi acelerando cada vez mais. Bruscas mudanças foram ocorrendo. Nosso lugar, uma perfeita obra de arte, foi sendo alterado até perder quase que completamente a identidade. De original ficamos nós, acuados.

Hoje, as casas estão coladas umas nas outras. Os carros aceleram no asfalto. Pessoas vêm e vão e eu não as conheço. E vez de cercas de balaústres, muros altos e grades. Na noite, estamos todos entricheirados.

O tempo corre. Já não consigo acompanhá-lo com a mesma eficiência. Vasculho recordações para tornar mais leves os dias. Deito na cama e sonho. Dou risadas com os amigos olhando para a rua vazia e o céu límpido. Uma buzina me acorda. O barulho me avisa que o paraíso ficou só na memória.
Fonte:
Da minha janela – 2003

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