quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Olympio Coutinho (Histórias de trova) Capítulo II, continuação – Meus Irmãos, os Trovadores

Na busca para corresponder-me com os trovadores, descobri endereços de Luiz Otávio, JG, Aparício Fernandes, Eno Theodoro Wanke,
Invejo a felicidade
de quem saudoso se diz:
- Quem hoje sente saudade
já foi, Um dia, feliz!


Walter Waeny,
Não te prendas mais à dor,
nem lembres quem te esqueceu,
pois quem quer morrer de amor
vive do amor que morreu.


Álvaro Faria,
Mais pobre do que não ter
nem mesmo pão em seu lar,
é ter muito a receber
e nada ter para dar


e muitos outros. Enviava trovas, pedia opinião e recebia respostas que deixavam o então jovem trovador cada vez mais entusiasmado.

O JG enviou sua resposta através de um artigo publicado na seção “No Mundo da Poesia”, página literária de “O Jornal Feminino”, suplemento de “O Jornal”, do Rio de Janeiro, com o título “Um Trovador Mineiro”, que começava assim:
“Minas é a grande ilha do arquipélago da poesia brasileira. Terra de poetas e trovadores. Desde a primeira Escola de Poesia, com Gonzaga, Alvarenga, Cláudio Manoel da Costa, até os modernistas autênticos, como esse grande Drummond, alto e de ferro, mas musicado de águas como uma montanha de Itabira. Começo com estes palavras para falar de um trovador que desponta: Olympio da Cruz Simões Coutinho, de Ubá... Quanto às trovas que me mandou, posso lhe dizer que são boas, que deve continuar a escrever, pois possui as qualidades inatas de um trovador...” E, citando uma de minhas trovas enviadas
Eu sempre que fui roubar
as galinhas dos vizinhos
fico com pena dos órfãos:
trago também os pintinhos,


terminava assim: “Continue, meu caro Olympio, como trovador.... Mas, cuidado com a Polícia”.

Esta trova rodou muito por aí e, ao longo do tempo, cheguei a vê-la como anônima em almanaques e, mais tarde, fiquei sabendo que um magnífico trovador, José Ouverney, de Pindamonhangaba, criador do site www.falandodetrova.com.br, quando mais moço, anotava trovas em um caderno e, entre elas, havia anotado a tal “trova dos pintinhos” sem saber de quem era. Ficou sabendo somente em 2008, quando passei a ter contato virtual com ele através do seu site e quando, aliás, voltei a participar dos concursos e dos jogos, depois de mais quase 50 anos longe do movimento. Recentemente, quis incluí-la em uma antologia editada pela UBT BH, mas foi brecada... Daí, dei-lhe o formato atualmente exigido, mas não gostei:
Eu sempre que vou roubar
as galinhas dos vizinhos,
para órfãos não deixar,
trago, também, os pintinhos.


O A.A. de Assis a conhecia e sabia de quem era, pois fomos meio contemporâneos ali por volta de 1960/61/62.

Em 1961, ganhei um prêmio em um concurso de trovas promovido pelo Rotary Clube de Vila Isabel, no Rio, cujo tema era “rosa”. A trova vencedora foi:
“Enganou-se o passarinho,
voando de flor em flor,
pensando que fossem rosas
os teus lábios, meu amor!”.


Fui lá, levando meus pais, pois o orgulho era grande. Aproveitei a viagem para procurar trovadores com os quais mantinha correspondência. Estive também na redação do “O Jornal” para conhecer a Elza Marzullo e também o Symaco da Costa, que já me havia escrito. O Symaco era um tipo popular, bastante crítico em relação, principalmente, ao grande número de “trovadores” que surgiam devido à divulgação do movimento e que escreviam coisas assim:
“Se eu me chamasse Maria,
que sorTE EU TEria, enfim,
tanta gente escreveria
muitas trovas para mim”.


Mais tarde, em artigo publicado, afirmou: “
Veja o enfim; foi enfiado ali a martelo”.

Na mesma oportunidade, procurei o Aparício Fernandes no banco onde ele trabalhava para conhecê-lo pessoalmente. Ele havia divulgado uma de minhas trovas no programa da Rádio Globo sobre o trovismo. O Aparício convidou-me então para ir a uma reunião em uma casa da Tijuca, onde os trovadores de então se encontravam nas tardes/noites das quintas-feiras, um happy hour trovadoresco. Fui lá: não me lembro de quem era a casa, mas me lembro, ainda que vagamente, da presença do Luiz Otávio, do JG, do Aparício e outros que a memória não guardou. O Luiz Otávio, o JG e o Aparício já conheciam algumas trovas minhas e já haviam escrito, incentivando-me. Entre as trovas, havia a seguinte, que havia sido elogiada:
“Quisera ser qual o pássaro
que no laranjal faz ninhos;
constrói a felicidade
dentro de um monte de espinhos”.


Da original que eu havia produzido, houvera duas correções, a primeira feita pelo Symaco da Costa, quando o visitei na redação do O Jornal: qual no lugar de como no primeiro verso; a segunda, feita naquela reunião: que no laranjal faz ninhos... originalmente era “que nos laranjais faz ninhos”. Mas a briga boa foi da turma tentando colocar rima dupla na bichinha... tentaram, tentaram e acabaram dizendo mais ou menos o seguinte: "Deixa como está; é boa assim mesmo!"

Ainda em 1961, resolvi fazer uma primeira edição de um livro de trovas, ao qual dei o nome de “Festival de Trovas”. Tinha capa amarela e 101 trovas. Tratei de enviar exemplares para todos os trovadores com os quais mantinha correspondência e recebi elogios e conselhos que muito me valeram de JG de Araújo Jorge, Symaco da Costa, Augusto Astério de Campos, José Dias de Moraes, Walter Waeny, Luiz Otávio, Isaías Ramirez, Walter Gomes da Silva, José Alencar Gomes da Silva e Honório Joaquim Carneiro (então presidente e secretário, respectivamente da Associação Comercial de Ubá), Fernando Burlamarqui, A. Isaías Ramirez, Synésio Fagundes, Eno Theodoro Wanke, Nordestino Filho, Dídimo Paiva, Rodolfo Coelho Cavalcanti, Camilo Lélis da Silva, Evandro Moreira, Pereira de Assunção, Renato Pacheco e Aparício Fernandes. Uma carta que também me deixou entusiasmado foi a recebida do Rodolfo Coelho Cavalcanti, de Jequié, Bahia, da qual, imodestamente, transcrevo um trecho:

"O seu livro Festival de Trovas fez-me dizer sinceramente: o Brasil tem mais um trovador!... Tanto no lirismo como no humorismo, o amigo é um bom trovador. Sorri bastante com o seu grande humor na questão dos “pintinhos”... Fazia tempo que eu não sorria com uma boa trova e não queira saber a gostosa gargalhada que eu dei. Disponha sempre do trovador popular a amigo...”

Continua
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O autor

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