sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Geraldo Majela Bernardino Silva (Funções da Mensagem Literária) Parte 3


2. FUNÇÃO EMOTIVA, EXPRESSIVA ou DE EXPRESSÃO DO EU: 

A palavra como “exteriorização”.

Se o propósito do emissor é revelar, por  meio da linguagem verbal, aquilo que sente relativamente a um objeto, a uma pessoa ou situação, as palavras funcionarão como instrumentos de “exteriorização” desses sentimentos, dessa emoção.

É a exteriorização das emoções e atitudes interiores de quem fala, sem se preocupar com as reações do ouvinte. É a afirmação do seu “eu”. O importante não é o conteúdo da mensagem, mas a sua carga emocional. Centrada no emissor, informa o que ele sente, muitas vezes com o auxílio das interjeições, das exclamações, gritos de medo, de dor, raiva, alegria (funções instintivas fundamentais), ou mesmo insultos e palavrões. O mais comum, porém, é carregar-se o enunciado lingüístico dessa função através da entonação e dos diminutivos afetivos. Funciona também como informação suplementar pois adiciona à função referencial um sentimento íntimo.

Imagine, por exemplo, que você diga, ao receber a notícia de que um colega foi aprovado em um concurso:

“Pôxa, que legal! Ele bem que merecia!”

Você usou a linguagem (oral, no caso) para expressar, para exteriorizar sua satisfação com o sucesso do colega.

Leia agora este pequeno poema:

Madrigal tão engraçadinho - (BANDEIRA, Manuel.)
Teresa, você é a coisa mais bonita que eu já vi até hoje na minha vida, inclusive o porquinho-da-índia que me deram quando eu tinha seis anos.

Também aqui é fácil perceber que as palavras se empregaram como “exteriorização” de uma emoção, de um sentimento: a ternura do emissor por uma pessoa.

As letras de música são, muitas vezes, a “exteriorização” da emoção do emissor. Veja um exemplo:

“O que será que me dá
  que bole por dentro, será que me dá
  que brota à flor da pele, será que me dá
  e que me sobe às faces e me faz corar
  e que me salta aos olhos a me atraiçoar
  e que me aperta o peito e me faz confessar
  o que não tem mais jeito de dissimular”
  ...................................................................
 ( HOLLANDA, Chico Buarque - “À flor da pele”).

Alguns linguistas denominam essa função da linguagem de “expressiva” (ou emotiva) e, do que comentamos e observamos nos exemplos, podemos concluir que:

a função da linguagem será EXPRESSIVA, quando as palavras forem utilizadas como EXTERIORIZAÇÃO da emoção do EMISSOR relativamente a uma realidade.

Observando certos recursos lingüísticos utilizados pelo emissor, podemos, como recebedores, determinar a função expressiva na mensagem enunciada. Esses recursos são os seguintes:

= na língua oral:       - a entonação no enunciado da frase (de exclamação, tristeza, surpresa, etc.)
                              - o uso de expressões de gíria e da linguagem popular,
                              - o uso da linguagem figurada;
= na língua escrita:  - a pontuação;
                             - a seleção vocabular, ou seja, a escolha mais cuidadosa de palavras que
                                expressem o tipo de emoção que se pretende comunicar,
                             - o uso do verbo na 1a  pessoa do singular.

Continua...

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