quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Celso Sisto (“Obax”, de André Neves)


Do artigo de Celso Sisto, “Imaginação de elefante”, do site www.artistasgauchos.com.br

 NEVES, André. Obax. Ilustrações do autor. São Paulo, Brinque-Book, 2010. 36p.

 Inventar histórias preenche o tempo e a vida. Traz brilho para os olhos, aumenta a nossa experiência com aventuras! Faz a gente treinar brincadeiras e conquistar amigos! E pronto, estamos prontos para sermos felizes!

 A pequena Obax, que vive nas savanas, é solitária e destemida: corre pela planície, vive aventuras e depois conta para todo mundo. Mas, ninguém lhe dá muito ouvidos! Suas histórias são mágicas e os outros às vezes caçoam dela. Um dia, ela tropeça numa pedra em forma de elefante e decide sair pelo mundo em busca de provar a verdade das histórias. Nas costas do elefante Nafisa, Obax dá a volta ao mundo e retorna ao ponto de partida. Cheia de novas histórias, que ninguém acredita. No dia seguinte, ali perto, nasce um baobá, para confirmar que as histórias são sempre possíveis de acontecer. E servem para, no mínimo, fazer sonhar, fazer crescer!

 O livro é lindo! Enxuto, ágil, sem, contudo, deixar escapar nada de essencial. O encantamento começa com a sonoridade do nome da personagem Obax e se derrama pelas paisagens, pelos elementos da savana, pela rica imaginação da menina, pelas pinturas das casas, pelas costas do elefante Nafisa, pelo forte baobá, pela chuva de flores, pelo poder que tudo tem de se transformar.

 Obax significa flor e Nafisa, pedra preciosa! O livro tem essa aura perfumada e preciosa, do início ao fim, e o leitor pode acompanhar o exercício imaginativo da menina, enquanto vai percebendo que nas entrelinhas, outras coisas se avolumam: a necessidade que todo mundo tem de ser aceito pelo seu grupo; a poesia singela que a natureza oferece, mesmo nos lugares mais áridos; o silêncio revelador; o convívio intenso com uma fauna que não é a mesma do lugar em que vivemos; até mesmo a ironia daqueles que não estão acostumados a imaginar.

 Os elementos das culturas africanas também vão se revelando em tudo isso, principalmente nas cores e grafismos que predominam nas ilustrações, na vegetação do lugar, e também nos birotes da menina. Os penteados africanos são verdadeiras obras de arte, e esse que reúne os cabelos no cocuruto da cabeça, leva o nome de birote ou pitote. Mas o autor avisa: esta não é uma história recontada da tradição oral, é uma história totalmente inventada, com liberdade e conhecimento!

 E então, o tempo dá um salto no final da história e remete o leitor para um futuro indefinido, no qual o sonho é o grande Senhor das histórias, oferecidas mesmo por um majestoso baobá.
 As ilustrações deste livro brincam como se fossem lentes, que aumentam ou focalizam detalhes, recortando partes e pedaços que são importantes de perceber. Os vermelhos e amarelos predominam nas páginas, e em contraste com o branco, produzem um impacto ainda maior. E as figuras de André Neves tão fiéis a seu estilo (afiladas, esculturadas, de olhos puxados) se fundem com perfeição às texturas e às aplicações de colagens.

 O livro acaba de ganhar o prêmio Jabuti, nesta 53ª edição, na categoria Infantil.

Fonte:
http://www.artistasgauchos.com.br/portal/?cid=615

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