domingo, 30 de dezembro de 2012

J. G. de Araújo Jorge ("Os Mais Belos Sonetos que o Amor Inspirou") Parte 11

Barreto Filho (“Barretinho”)
José Barreto Filho
Aracaju/SE, 27 janeiro 1908 – 17 dezembro 1983)
sobrinho do poeta Tobias Barreto.

" SONETO "


Ama na vida tudo o que puderes:
a garça, o mar, o cisne de alva pluma...
Vive do amor de todas as mulheres
que hás de morrer do fero amor de alguma.

Perdoa sempre... Esfolha de uma em uma
as pétalas fatais dos malmequeres,
deixando, assim, que a vida se resuma
no brilho do destino que tiveres.

A vida é um galho cujos dons se almejam,
árvore boa que eu, cantando, exalto,
coroada de frutos e de ninhos.

Recolhe os frutos que mais perto estejam.
Para alcançares o que vês mais alto,
hás de ferir a mão pelos espinhos.
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Bastos Portela
[Gentil Bastos Portela]
(Recife/PE, 1894 – ?)

" JÓIA FALSA "


Amor...Mas, ora o amor! O amor, na vida,
não é, de certo, esta perfídia...Não!
- Primeiro, uma palavra enternecida;
depois, um beijo: após, uma traição...

...Não te digas, porém, arrependida,
nem me prometas mais o teu perdão!
Pois se foste, por vezes, iludida,
também me envenenaste o coração...

Não houve afeto entre nós dois... Havia
um doce enlevo, uma ilusão de amor,
- e um pouco de maldade e de ironia...

Enganei-me. Inda bem que o reconheço...
- És uma simples jóia sem valor,
e eu te comprei pelo mais alto preço!
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Bastos Tigre
[Manuel Bastos Tigre]
(Recife/PE, 12 março 1882 – Rio de Janeiro, 2 agosto 1957)

" IMUTÁBILIS AMOR "


Amor é sempre amor por mais que viva.
Será maior, menor, mas sempre amor;
não muda a sua essência primitiva,
embora mude a forma ou mude a côr.

Se nas reações da química afetiva
pode haver mais calor, menos calor,
de nada nem se acresce nem se priva
a incorpórea molécula do amor.

Não muda o que era amor para amizade;
- porque apresente a prata áureo fulgor
vai que, de ouro, ela seja variedade ?

Fanada a flor, é sempre a mesma flor,
murche de velho, em lama se degrade,
se avilte em sangue... amor é sempre amor!

" DEFINIÇÃO "

Amor é mal, é mal que não tem cura;
mas, sendo mal, sofre-lo nos faz bem . . .
Chora o amante, se o amor lhe dá ventura,
e ri da dor, se dele a dor lhe vem.

O amor é vida e leva a sepultura;
é doce filtro, o amor, e fel contém.
É luz, mas, entretanto, em noite escura
vive, às cegas, o alguém que ama outro alguém.

O amor é cego, e vê todo o invisível;
sendo imutável, quase sempre é vário,
é deus, e faz de um Santo um pecador !

Fraco a indefeso, é força irresistível;
sendo, pois, a si próprio tão contrário,
quem é que pode definir o amor?
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Beatrix dos Reis Carvalho
(Rio de Janeiro/GB)
sem dados biográficos.

" CONTRIÇÃO "


Meu Deus, eu sei. Eu sei, não merecia
esse bem que me das em profusão.
Sofrer é justo como a luz do dia,
mas ser feliz é prêmio, é galardão!

Quase me acostumara à tirania
da vida que castiga sem razão.
E, para mim, o amor como eu queria
era uma estrela, longe, na amplidão;

nao devia existir e, se existisse,
querê-la era loucura, era tolice,
que as estrelas não vem a nossa mão. . .

Meu Deus! Puseste a estrela em meu caminho!
Por esse amor que é todo o meu carinho,
perdão se duvidei, perdão, perdão!
===============
Belmiro Braga
[Belmiro Belarmino de Barros Braga]
(Vargem Grande/MG, 7 janeiro 1872 – Juiz de Fora/MG, 31 março 1937)

" DESPEDIDA "


E partes amanhã! . . . E, triste, eu penso
no que há de ser de mim, meu doce encanto . . .
E sinto os olhos úmidos de pranto
e na alma a angústia de um pesar imenso . . .

Eu tenho agora o coração suspenso,
nos lábios a mudez, no olhar o espanto:
- feiticeira, puseste-me quebranto,
tu és dona de mim, eu te pertenço. . .

E partes amanhã, meu bem querido,
sem que eu possa, ditoso e comovido,
beijar a tua fronte e os olhos teus. . .

Sem que eu possa, feliz, numa ânsia louca,
com meus lábios gravar na tua boca
as cinco letras da palavra - Adeus! . . .

" DE DUAS, UMA ! "

Eu por uma mulher pensando vivo,
por mim outra mulher vive pensando;
aquela de mim sempre se esquivando,
esta sempre a buscar-me, e eu sempre esquivo...

E o amor, contraditório e miserando,
de eu morrer e matar, sendo o motivo,
nem desta pelo amor me faz cativo,
nem daquela me torna o amor mais brando.

Se devo por fim ao meu desgosto,
que me importa que o mundo ande composto
de bem-me-queres e de mal-me-queres? . . .

É necessário, pois, que o Amor me acuda:
- de duas, uma! O coração me muda,
ou muda os corações dessas mulheres!
Fonte:
– J.G . de Araujo Jorge . "Os Mais Belos Sonetos que o Amor Inspirou". 1a ed. 1963

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