domingo, 30 de dezembro de 2012

Wagner Rodrigues (Sonetos Escolhidos)

Sem Cais

Neste dia em que meu coração
Aflito, pulsa a dor duma saudade
Rasga no meu peito triste uma vontade
De escrever mil sonetos de paixão!

Quem me dera tamanha inspiração
Capaz de atenuar minha soledade
Esse vazio da fatalidade
Que é te ter como minha adoração!

Mas não consigo nem um só soneto!
Apenas um composto sem quarteto
Feito somente com as iniciais

De DOIS portos que num oceano agitado
Deixaram o barco do Amor naufragado
A poucos metros de UM porto sem cais!

O Vírus do Amor

Disse um dia alguém que o vírus do Amor
- Este, que reside em tese no Beijo -
É a mutação sublime do Desejo
Que antes de ser Desejo foi Calor...

Disse um dia alguém que o vírus do Amor
- Este, que se propaga no cortejo -
No início ele era apenas um Ensejo...
Mas hoje faz deste homem um trovador!

Venha menina, e beije-me em ternura
Faz-me contaminado com esta cura
Faz-me acamado de tanta alegria!

Venha menina que em meu quarto assoma
Quero desfrutar de cada sintoma
Desse vírus que alguém me falou um dia!

Menina dos Olhos

Mas quem és tu!? Como ousas me perscrutar
desta forma? Não é possível crer!
Eu estou assombrado com este poder
Que consegue tão fácil me decifrar!

Incrível quando falas sem titubear
Daquilo que ninguém te fez conhecer...
Sinceramente não posso compreender
Tão singela maneira de sondar!

Como podes ler o meu coração?
Hei de descobrir o seu grande arcano...
- Eu também quero ler teu coração!

Lance de novo o teu olhar, menina
Inda quero usar deste teu plano
Que tão incrivelmente me fascina!

Soneto

O Tempo... Quão refém dele me sinto
Quando vejo que chances preciosas
Passaram e murcharam como rosas...
Flores jogadas num jardim extinto!

Devorou-me este Tempo tão faminto!
Tragou as minhas árvores frondosas
Deixou-me só lembranças vaporosas...
O Tempo... Quão refém dele me sinto!

Triste e impassível com o passar dos anos
Vejo a morte de todos os meus planos
Que agonizaram nas rugas da face...

Em cada movimento do relógio
Eu leio com terror o necrológio
De um Sonho que morreu e não renasce!

Tesouro

Eu levava comigo, bem guardada
A jóia mais bonita deste mundo
Que perdida no mar, bem lá no fundo
Estava pelas rochas ofuscada...

E para ter a jóia cobiçada
Impelido por um querer profundo
Eu mergulhei no mar de um estranho mundo
E enfrentei a torrente mais gelada...

E na fúria de um cristão contra um mouro
Bravamente fiz o que foi preciso
Para conquistar meu grande tesouro...

Mas a Vida atacou-me sem aviso
E fez-me pobre ao levar o meu ouro
E fez-me triste ao levar teu sorriso!

Ode a Tristeza

Tão triste! Mas se no mundo a Tristeza,
tivesse formas assim tão divinas,
glorificar a Dor seria a sina
de todo homem que se curva à Beleza!

Se a Dor é assim, a Dor é a Princesa,
que ao se mostrar num pranto de menina,
faz ver que não há nada que defina
com exatidão tamanha realeza!

Teu olhar, umedecido pelo orvalho
(de um coração aflito e em retalho)
é a coisa mais singela que eu já vi!

E se a Tristeza fosse algo de valor,
esta jóia que escorre em ti, meu amor,
é mais valiosa que a prata, o ouro, e o rubi!

Despedida

Tu, que pensas mais em ti do que em mim
(E tenta convencer-me do contrário)
Não te importas com a dor do meu calvário
Só se importas se pra ti eu digo “sim”.

Veja! Por muito tempo eu rastejo assim
Ajoelhado em teu próprio santuário
Como se eu fosse um fiel sectário
Da seita que crias-te só pra mim.

E assim, fraco, carente de mim mesmo
Fico a andar pela minha vida a esmo
Enquanto vou na estrada da sua vida

Mas agora, temendo a derrocada
Eu vou precisar sair da sua estrada...
Fica em versos a minha despedida!

Na Estrada...

Na estrada que serpenteia o deserto
Que simboliza o coração humano
Lá vai o solitário com o arcano
Que o faz viajar para um rumo incerto!

Ele vai sozinho, sem ninguém por perto
Andando sem rumo, destino, ou plano
Levando o segredo que o torna insano
E buscando AQUILO que está encoberto!

E ele segue... Tal qual Dean, tal qual Sal
Ora sendo bom, ora sendo mau
Num misto de fantasia e loucura...

E arfando nesta estrada de ilusão
Ele oscila entre a orgia e a solidão
Na ávida sede de achar a cura!

Fonte:
http://www.sonetos.com.br/meulivro.php?a=70&x=18&y=5

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