segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Antonio Roberto Fernandes (Poemas Escolhidos)


NOSSAS MÃOS

As tuas mãos tão belas, tão formosas.
 As tuas mãos afeitas aos carinhos.
 As minhas mãos tão feias, tão nervosas.
 As minhas mãos expostas aos espinhos.

As tuas mãos me tocam por piedade.
 As minhas mãos te afagam, mas com medo.
 As tuas mãos são mãos pra eternidade.
 As minhas mãos são mãos de morrer cedo.

As tuas mãos nas minhas, que contraste!
 Mas se não fossem elas, que desastre,
 nem sei das minhas mãos o que seria! 

Por isso às tuas mãos eu agradeço
 o carinho que eu sei que não mereço
 e que em outras mãos não acharia!…

LADAINHA

Olhai pra mim, mulher da minha vida!
 Senhora dos meus sonhos, me escutai!
 Minh' alma já não sabe aonde vai,
 neste vale de lágrimas perdida.

Com a luz de vossos olhos me mostrai
 um caminho, uma chance, uma saída,
 Senhora finalmente aparecida,
 meus negros horizontes clareai.

Não tenho vocação para o martírio,
 perdão se é heresia o meu delírio
 mas nestes lábios que têm fogo e mel.

Arrebatai-me agora, ao gozo eterno
 para que eu - que já conheço o inferno -
 possa, convosco, conhecer o céu!.…

FELICIDADE

Quando “eu era feliz e não sabia”,
 - como diz o poeta, na canção – 
 aos meus desejos, sempre, com ironia,
 o meu destino respondia: não. 

 E tudo o que eu sonhava, a cada dia,
 sempre ficava além da minha mão.
 Se era feliz quem tinha o que queria
 eu nunca pude ser feliz, então.

 Hoje, afogado na realidade,
 relembro a minha infância, com saudade,
 não por ter sido um tempo em que eu sonhei, 

 mas porque, ainda envolto em fantasia,
 eu não era feliz e não sabia,
 como hoje não sou...mas hoje eu sei.

OS PRATOS DE VOVÓ

A minha avó guardava, com alegria,
 muitos pratos, lindíssimos, de louça
 que ganhou de presente, quando moça,
 e que esperava usar – quem sabe? – um dia.

 Mas a vida passando tão insossa
 e nada de importante acontecia
 e ninguém pra jantar aparecia
 que compensasse abrir o guarda-louça.

 Vovó morreu. Dos pratos coloridos
 que hoje estão quebrados e perdidos
 ela jamais usou sequer um só.

Assim também meus sonhos, tão guardados,
 terão, por nunca serem realizados,
 o mesmo fim dos pratos de vovó.

POEMA DA MINHA TERNURA

A minha amada é pura como o orvalho
 que beija as flores pela madrugada.
 As suas mãos são feitas de veludo.
 Juntinho dela sou maior que tudo
 e longe dela sou menor que nada

 A minha amada mostra nos olhinhos
 a luminosidade da manhã.
 A sua voz perfuma a natureza.
 Juntinho dela a vida é uma certeza
 e longe dela uma esperança vã.

 A minha amada tem nos lábios rubros
 uma doçura sem definição.
 Ao seu sorriso desabrocham flores.
 Juntinho dela o mundo é luz e cores
 e longe dela negra solidão.

 A minha amada fala tão bonito
 que até me surpreende, até me assusta.
 Tem das rainhas o semblante e a graça.
 Juntinho dela como o tempo passa
 e longe dela como o tempo custa.

 A minha amada é minha há  mil milênios
 e eu dela sempre fui, antes de mim.
 O nosso amor respira eternidade.
 Juntinho dela é pouco a imensidade
 e longe dela o nada não tem fim. 

 A minha amada é pura como o orvalho
 que beija as flores pela madrugada,
 As suas mãos são feitas de veludo.
 Juntinho dela sou maior que tudo
 e longe dela sou menor que nada.

EMOÇÃO

Quando não há mais nada a ser falado,
 quando os olhares não se cruzam mais,
 é hora de se ver que há algo errado
 nos relacionamentos conjugais.

 Já não importa aí quem é culpado,
 nada resolvem cenas passionais
 nem simpatias contra o mau-olhado
 ou conselheiros matrimoniais. 

 É o fim. Pronto. Acabou. Não tem mais jeito.
 Se, de emoção, um dia ardeu o peito
 que dela reste uma lembrança boa.

 Não se deve é fechar-se numa esfera,
 sem ver que pode estar à nossa espera
 outra emoção no olhar de outra pessoa.

AINDA

Espero que você me ame ainda
 no dia em que bater à sua porta
 e lhe dizer que, agora, só me importa
 livrar-me, enfim, desta saudade infinda.

 E ver no seu olhar que me conforta
 e ouvir de sua boca doce e linda
 que esta minha presença foi bem-vinda,
 que sua casa ainda me comporta.

 Aí, então, num demorado beijo,
 terei pena de quem tem por desejo
 conquistar o dinheiro, a sorte, a fama,

 Pois nada terá tal encantamento
 do que, depois de tanto sofrimento,
 ouvir você dizer que ainda me ama.

RISCO E PETISCO

Minha avó sempre falava:
 - Só petisca quem arrisca.
 E eu, de inicio, perguntava:
 - Vovó, o que é petisca? 

 Ela, então, me respondia:
 - Petisca é de petiscar,
 conseguir alguma coisa
 que se sonhava ganhar. 

 E pra isso precisamos
 arriscar nosso pescoço,
 se não outros comem carne
 e nós roemos o osso.

 O mundo tem muita gente
 e a vida é um constante risco
 pra quem quer chegar na frente
 e conseguir um petisco.

 E o que seria um petisco?
 - Petisco é uma coisa boa,
 um filezinho de peixe,
 um lombinho de leitoa...

 Também pode ser um prêmio,
 pode ser até um beijo
 de alguém por quem se soluça
 e se mata de desejo.

 Vovó sabia das coisas,
 mas as coisas também mudam
 e as suas filosofias
 agora não mais me ajudam,

 pois o petisco que eu busco
 - com tanto risco a buscá-lo -
 não é lombinho de porco
 e nem filé de robalo,

 nem licor de jenipapo,
 nem goiabada ou chuvisco,
 é o petisco mais gostoso
 que compensa qualquer risco.

 Mais que lucro, mais que prêmio,
 é sentir, na ânsia louca,
 o sabor salgado e doce
 que mora na tua boca.

SEM MEDIDA

Quem diz que ama muito ou pouco, mente
 ou não conhece o amor, na realidade,
 pois não se mede o amor em quantidade,
 se ama ou não se ama, simplesmente.

Quem ama, embora sonhe com a eternidade,
 ainda assim não sonha o suficiente
 e em nada modifica o amor que se sente,
 seja na dor ou na felicidade.

Não há um meio olhar ou um meio beijo.
 Ninguém tem dez por cento de um desejo
 nem existe carícia desmedida.

 E o amor, sem ter tamanho, é tão profundo
 que podemos achá-lo num segundo
 ou procurá-lo, em vão, por toda vida.

Fonte:
Site Alma de Poeta (Antonio Manoel Abreu Sardenberg). Poesias de Amigos.

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