domingo, 27 de janeiro de 2013

Conto do Folclore Brasileiro (História da Coca)


Uma vez um menino foi passear no mato e apanhou uma coca; chegando em casa, deu-a de presente à avó, que a preparou e comeu.

 Mais tarde, sentiu o menino fome e voltou para buscar a coca, cantando:

 Minha vó, me dê minha coca
 Coca que o mato me deu
 Minha vó comeu minha coca
 Coca recoca que o mato me deu

 A avó, que já havia comido a coca, deu-lhe um pouco de angu.

 O menino ficou com raiva, jogou o angu na parede e saiu. Mais tarde, arrependeu-se e voltou, cantando:

 Parede, me dê meu angu
 Angu que minha vó me deu
 Minha vó comeu minha coca
 Coca recoca que o mato me deu

 A parede, não tendo mais o angu, deu-lhe um pedaço de sabão.

 O menino andou, andou, encontrou uma lavadeira lavando roupa sem sabão e disse-lhe: — Você lavando roupa sem sabão, lavadeira? Tome este pra você.

 Dias depois, vendo que a sua roupa estava suja, voltou para tomar o sabão, cantando:

 Lavadeira, me dê meu sabão
 Sabão que a parede me deu
 Parede comeu meu angu
 Angu que minha vó me deu
 Minha vó comeu minha coca
 Coca recoca que o mato me deu

 A lavdeira já havia gasto o sabão: deu-lhe então uma navalha.

 Adiante, encontrando um cesteiro cortando o cipó com os dentes. Disse-lhe: — Você cortando o cipó com os dentes?... Tome esta navalha.

 O cesteiro ficou muito contente e aceitou a navalha.

 No dia seguinte, sentindo o menino a barba grande, arrependeu-se de ter dado a navalha (ele sempre se arrependia de dar as coisas) e voltou para buscá-la, cantando:

 Cesteiro me dê minha navalha
 Navalha que lavadeira me deu
 Lavadeira gastou meu sabão
 Sabão que parede me deu
 Minha vó comeu minha coca
 Coca recoca que o mato me deu

 O cesteiro, tendo quebrado a navalha, deu-lhe, em paga um cesto. 

 Recebeu o cesto e saiu dizendo consigo: — Que é que eu vou fazer com este cesto?

 No caminho, encontrando um padeiro fazendo pão e colocando-o no chão, deu-lhe o cesto. Mais tarde, precisou do cesto e voltou para buscá-lo com a mesma cantiga.

 Padeiro me dê meu cesto
 Cesto que o cesteiro me deu
 O cesteiro quebrou minha navalha
 Navalha que a lavadeira me deu
 Lavadeira gastou meu sabão
 Sabão que parede me deu
 Minha vó comeu minha coca
 Coca recoca que o mato me deu

 O padeiro, que tinha vendido o pão com o cesto, deu-lhe um pão.

 Saiu o menino com o pão, e, depois de muito andar, não estando com fome, deu o pão a uma moça, que encontrou tomando café puro.

 Depois, sentindo fome, voltou para pedir o pão à moça e canta:

 Moça me dê meu pão
 Pão que o padeiro me deu
 O padeiro vendeu meu cesto
 Cesto que cesteiro me deu
 O cesteiro quebrou minha navalha
 Navalha que a lavadeira me deu
 Lavadeira gastou meu sabão
 Sabão que parede me deu
 Minha vó comeu minha coca
 Coca recoca que o mato me deu

 A moça havia comido o pão; não tendo outra coisa para lhe dar, deu-lhe uma viola.

 O menino ficou contentíssimo; subiu com a viola numa árvore e se pôs a cantar:

 De uma coca fiz angu
 De angu fiz sabão
 De sabão fiz uma navalha
 Duma navalha fiz um cesto
 De um cesto fiz um pão
 De um pão fiz uma viola
 Dinguelingue que eu vou para Angola

Fonte:
Jangada Brasil. Setembro 2010. Ano XII - nº 140. Edição Especial de Aniversário.

Nenhum comentário: