quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Contos do Folclore Brasileiro (O Macaco e o Confeito)


 Ilustração: Macé
Macaco guariba foi lavar a casa e achou um vintém. Comprou um vintém de confeito, subiu no pau, e lá ficou comendo. Mas macaco não tem modos, pula daqui, pula dali, acabou derrubando o confeitinho dentro de um oco da árvore. Enfiou a mão, pelejou para tirar, não conseguiu, foi direto dali para o ferreiro e pediu que lhe fizesse um machado, para tirar o confeito do buraco.

 — Sem dinheiro não faço machado nenhum.

 — Faz — gritou o macaco — Vou contar ao rei.

 Foi. Entrou no palácio, dando pulos e fazendo micagens e tropelias.

 — Senhor rei — pediu —, mande o ferreiro fazer um machado, que eu quero cortar o pau para tirar o confeito que caiu no oco.

 O rei, nem como coisa. O macaco foi falar com a rainha:

 — Senhora rainha, mande o rei mandar o ferreiro fazer um machado, que eu quero cortar o pau e tirar meu confeito que caiu no oco.

 — Mas é petulante esse macaco — disse a rainha, e não fez caso dele.

 O macaco foi falar com o rato.

 — Rato, roa a roupa da rainha, para ela mandar o rei mandar o ferreiro fazer um machado, que eu quero cortar o pau e tirar meu confeitinho que caiu no oco.

 — Macaco mais bobo! — comentou o rato. Estava comendo queijo e nem se incomodou.

 O macaco foi falar com o gato.

 — Gato, mande o rato roer a roupa da rainha, para ela mandar o rei mandar o ferreiro fazer um machado, que eu quero cortar o pau e tirar meu confeitinho que caiu no oco.

 — Que besteira! — disse o gato, e nem se mexeu.

 O macaco foi falar com o cachorro.

 — Cachorro, mande o gato mandar o rato roer a roupa da rainha, para ela mandar o rei mandar o ferreiro fazer um machado, que eu quero cortar o pau e tirar o meu confeitinho que caiu no oco.

 O cachorro deu um latido de impaciência e nem se incomodou.

 O macaco foi falar com o cacete.

 — Cacete, mande o cachorro mandar o gato mandar o rato roer a roupa da rainha, para ela mandar o rei mandar o ferreiro fazer um machado, que eu quero cortar o pau e tirar o meu confeito que caiu no oco.

 — Ah! Ah! — fez o cacete.

 O macaco foi falar com o fogo.

 — Fogo, mande o cacete mandar o cachorro mandar o gato mandar o rato roer a roupa da rainha, para ela mandar o rei mandar o ferreiro fazer um machado, que eu quero cortar o pau e tirar o meu confeitinho que caiu no oco.

 — Saia daqui — disse o fogo.

 — O macaco foi falar com a água.

 — Água, mande o fogo mandar o cacete mandar o cachorro mandar o gato mandar o rato roer a roupa da rainha, para ela mandar o rei mandar o ferreiro fazer um machado, que eu quero cortar o pau e tirar o meu confeitinho que caiu no oco.

 — Bicho impertinente! — xingou a água.

 O macaco foi falar com o boi.

 — Boi, mande a água mandar o fogo mandar o cacete mandar o cachorro mandar o gato mandar o rato roer a roupa da rainha, para ela mandar o rei mandar o ferreiro fazer um machado, que eu quero cortar o pau e tirar o meu confeitinho que caiu no oco.

 — Suma da minha vista — disse o boi, e continuou ruminando o seu capim.

 O macaco foi falar com o homem.

 — Homem, mande o boi mandar a água mandar o fogo mandar o cacete mandar o cachorro mandar o gato mandar o rato roer a roupa da rainha, para ela mandar o rei mandar o ferreiro fazer um machado, que eu quero cortar o pau e tirar o meu confeitinho que caiu no oco.

 O homem resmungou:

 — Hum!

 O macaco foi falar com a morte. Lá estava ela no seu trono de ossos, pavorosa.

 — Morte, mande o homem mandar o boi mandar a água mandar o fogo mandar o cacete mandar o cachorro mandar o gato mandar o rato roer a roupa da rainha, para ela mandar o rei mandar o ferreiro fazer um machado, que eu quero cortar o pau e tirar o meu confeitinho que caiu no oco.

 A morte, que não estava de bom humor, pegou a foice e avançou no homem.

 — Não me mate!

 — Então abata o boi!

 O homem foi pra cima do boi.

 — Não me abata, homem!

 — Então beba a água.

 — Não me beba — disse a água.

 — Então apague o fogo.

 — Não me apague — disse o fogo.

 — Então queime o cacete.

 — Não me queime — disse o cacete.

 — Então bata no cachorro.

 — Não me bata — uivou o cachorro.

 — Então morda o gato.

 — Não me morda — miou o gato.

 — Então morda o rato.

 — Não me morda — guinchou o rato.

 — Então roa a roupa da rainha.

 O ratinho subiu no guarda-roupa da rainha e foi no vestido mais bonito: roquerroquerroque…

 A rainha gritou:

 — Não roa a minha roupa!

 — Então mande o rei mandar o ferreiro fazer um machado para o macaco cortar o pau e tirar o confeitinho que caiu no oco.

 A rainha mandou o rei, o rei mandou o ferreiro, o ferreiro fez o machado. O macaco derrubou a árvore, abriu o tronco, achou o confeitinho e foi embora dando pulos e fazendo trejeitos.

Fonte:
Jangada Brasil. Setembro 2010. Ano XII - nº 140. Edição Especial de Aniversário.

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