quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Jandira Mello de Almeida Cahet (Cristais Poéticos)


UM GRITO DE AMOR

Docemente imersa e submersa
na doçura do seu olhar
ardendo em chamas secretas
numa louca sinfonia
  
Vem com o encanto do momento
florido com a luz da lua
com desejo de ser amado
 nos encantando de prazer
  
Seu amor desarrumou meu coração,
mas arrumou minh'alma solitária
há uma primavera agora nos meus dias
perdida na imensidão de tanto querer
  
Alguém modula no teclado
um belo noturno raro
que nos acompanha na noite em flor
partitura que embalamos
para dar forma ao nosso amor
  
Tem um canto de doçura 
na flor que abre no meu peito
nas suas palavras nasce a loucura
do sonoro mar quando me deito

NOTURNO DA DESOLAÇÃO

Em triste sussurrante refúgio de agonia
após noite indormida debaixo da ponte,
resignado, só o abandono lhe assedia
tremulando de ternura e sem horizonte

Sob um tíbio luar quase adormecido
com fragmento que escora sua ruína
traz lampejo de um cometa envelhecido
só a morte neste mundo lhe fascina

Seqüela de solidão na aparência
descobre que esperar não pode mais
pela vida que o excluiu com negligência
e pelos seres irmãos por diferenças sociais

Nenhum tempo de júbilo para os que caminham
denegando a dúbia forma de desesperança
sob fortes sinas que advinham
como vozes que fenecem sem lembranças

Na súplica da última anunciação
galga a escada dos martírios
paira nos céus da consolação
submerso no mundo dos delírios.

RE - ENCONTROS

E nos dizem as predições:
Interregno fez-se magia,
Pois falaram alto as emoções
Dos encontros com alegria.

Consta nos astros a alquimia
Existente entre afetos
Psicanálise e poesia
passam por filhos e netos

Tempos idos sofreguidão
Tempos lindos alvorecer
O final da abstração
Início d'um renascer.

Consta na vida a empatia
Dores doídas, regressões
Trocamos saber, catexia
Como queria a ilusão

Urge o tempo e nosso vinho
Sonhos sonhados, traçador
Entrelaçados de carinho
Do silêncio tecedor.

DISSONÂNCIA

Na favela a miséria disfarça a fome
e a vida não se revela
boca sem dentes:  não se come
sequer a solidão floresce amarela

 A favela encobre a miséria;
 casebres, fendas, emendas
 alastram e consomem a matéria
e a fome traz torturas horrendas

Na favela as crianças pulsam no espaço
- sussurro de lamentação materna -
 o silêncio é escasso,
pois a lei do burguês  governa

As unhas de encardidas mãos
num clamor de súplica, dos desesperados,
aquele que vivia em vão
e os que estão vivos agonizados

Vivem para além do desespero e da esperança
na ignorância e no saber dos abandonados
o efeito de ser ferido que transmuta em vingança
o crepúsculo de nascer e morrer dos renegados.

SONATA AO LUAR

Acordei como flores sorrindo
os rios estavam cantando
todo meu ser vive florindo
 com os humores trocando

Quando a natureza canta
fico em cima de um oiteiro
meu pensamento se encontra
voando para o Rio de Janeiro

Ah! é o teu canto que aparece
que pousa um momento em mim
é um encanto o que me acontece
no verso quando sonho com jasmim

Longe de mim a vida não existe
se estás longe corro e me procuro
 sombra é o movimento que consiste
na eterna felicidade que mensuro

a lua quando desce a terra 
piso nos astros distraída
sua luz perfeita encerra
toda doçura desta vida

A VIDA

A vida é como certa chuva,
 ergue-se do mar ao encontro das nuvens
 A grinalda enfeitada de uva
 e de angúnstias perde-se os bens.

 Ninfas cantam Euterpa a Alegria,
 jasmins bailam no paraíso,
 a beleza persegue Afrodite com euforia 
 e Eco embala o amor de Narciso.

 Ouço sonho de velhos companheiros
 rodopiando em torno da silente vida
 com temores de pássaros faceiros
 que o tempo não elucida.

 Chove cá embaixo nas horas incertas
 Sócrates faz parir idéias pela maiêutica,
 o nirvana é a paz para o humano,
 para o texto sagrado a hermenêutica 
 e a vida dos mortais um engano

CANTO DO AMOR PERDIDO

 Entre as estrelas mais perfumadas
 floresceu um amor como o arco-íris
 por um segundo pensei encontrar-me sonhando
 e neste tempo minh'alma se encantou

 Ao cantar do melro tagarela
 comecei a fazer versos tão amados
 o amor me pegou desprevenida
 e no descompasso do meu coração
 comecei a viver esta ilusão

 Doces beijos e carícias tresloucadas
 me despertavam a todo instante
 o céu me parecia mais azulado
 meu ser cantava em euforia

 Nos lençóis macios do amanhecer
 me encontrei a sorrir despreocupada
 seria a felicidade acontecendo
 ou mais uma ilusão dos apaixonados?

PERFUME DE MULHER

 Acordei como flores sorrindo
 Os rios estavam cantando
 Todo meu ser vive dormindo
 E com os humores trocando

 Pois quando a natureza canta
 Fico no cimo de um oiteiro
 Meu pensamento se encontra
 Voando para o Rio de Janeiro

 Não, não é o teu canto que aparece
 Que pousa um momento em mim
 mas o fantasma que acontece
 No verso com cheiro jasmim

 Longe de mim, só em mim existe
 Depois do teu amor violáceo
 E o olor que persiste
 É açucena verbenáceo

 A lua quando desce a terra 
 Pisa nos astros distraída
 Sua luz perfeita encerra
 Toda doçura desta vida.

Fontes:
http://www.teiadosamigos.com.br/Nossos_Poetas/jandira.html
http://www.avspe.eti.br/poetas1/jandira.htm 

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