domingo, 20 de janeiro de 2013

Pedro DuBois (Poemas Inéditos)


SOBRE A MORTE E SUAS SENSAÇÕES  
A sensação da morte
companheira e amiga
solidária

a intenção da morte
solitária na passagem

a compaixão da morte
na combinação irrecusável
do ser encerrado na extremidade
da corda suspensa sobre o nada

a condição da morte
no sentido trânsfuga
da ilusão do início

a similitude onde a morte
é experimento no corpo
que cede ao cansaço.

REVISÃO

Reescrevo a história
em alterados fatos
desabonadores: desligado
o semáforo permite
o entrelaçamento dos carros
abandonados na oxidação
atmosférica

a vida cobra pelo reingresso
de elementos alegóricos

o caso pelo outro lado
do poliedro: a necessidade da ordem
desarruma o caos desligado
em amanheceres amadurecidos

revejo a história sob camadas
arqueológicas: onde e quando
me desligo das respostas.

O PASSAR DOS ANOS
 
Inúteis horas em pensamentos
menores de sobrevivências e amores
inacabados na falta de propostas:
o insucesso avesso do fracasso
diluído em eflúvios gases
na delicadezas e humores
antagônicos dos esgares.

O mútuo acrescentado dos juros
negados no pagamento revertem
ao capital exaurido o último
rasgo de generosidade
e se depositam
no final dos negares: atrás
do altar sob o pecado inútil
rezam cotovias do absoluto
e dos gritos explodem chamas
de calmarias: a inutilidade
se completa ano após ano
em mesmas histórias.

NASCER
 
Nos nascimentos
natais realizados
tisnam meu corpo
no aleatório desejo
de amor e glória:

deposito minha vida
nas mãos que envolvem
o tempo ao vento

nascer e renascer
na coincidência
do extremo gesto

em que realizo em tintas
o que dos nascimentos pintam.

INTIMAR
 
Intimo o tempo
ao cabo
do trajeto: o escoar
ensandecido da montanha
exclui da intimação
a órbita do satélite
(artificial)

não fico no escasso horizonte
da cidade (nascente) refém
do desconsiderado

coerente ao instante
fugidio da aparência
recolho no tempo
o reclame: sublime
verso de poeta alheio
ao castigo. Soprana
voz implicada no tempo
em retornos.

INÉDITA
 
Faz a música
(inédita)
retirada da vida
na agitação
de hoje em dia

faz a música
(inédita)
renovada
na agitação
de hoje em dia

faz a música e do ineditismo
retira o eco do diariamente:

o telefone toca a irritação
de aguardar a chamada

faz a música
(inédita).

IMAGENS
 
Ao espelho
revolta a imagem
invertida (espelhos
repelem vidros)

inventado
o corpo se aproxima
do limite do encontro
(ao espelho
cabe o outro
lado)

ser na imagem o conforto
confronto
o corpo solto no espaço bipolar
do esforço - aqui em carne e osso
projetado ao espaço inexistente -

ao espelho conforta o tempo
dos homônimos e aos nomes
cabe a mesma imagem.

GERAÇÕES
 
Crê na ressurreição
da alma em outra forma
e formato. Acredita
na interdependência
do homem no corpo
espiritualizado
pelo trabalhar
constante
das ideias.

Cobra dos filhos a inserção
no modelo universalizado
do comportamento: o carinho
o aborrecimento
o desejo
e o tédio.

Vê no crescimento a identificação
em que se reconhece: ser
na continuidade a repetição
da face e do nome.

ENTARDECER
 
Presente ao cair da tarde
noite (o pássaro
se recolhe
em gritos
de medo)

onde me apresento
em norte (o desnorteado
pássaro aninhado)

e não me aguardo
no encontro desigual
entre luz e sombra

(ao pássaro cabe
recuar e prender
em galhos
o ninho).

CRIANÇA
 
Na criança permanecemos adultos
na busca das vozes verdadeiras
das primitivas pinturas

que nos dizem do tempo
utilizado para o aprendizado
permitido pelo medo

ainda hoje: no calor da discussão
acadêmicas somos pronunciamentos
aleatórios de temas desnecessários

tal criança divertida em brincadeiras
nos dizemos brabos
e argutos pesquisadores
das cores em que esquecemos os solos
estampadosnas lanças quebradas

da criança trazemos a infelicidade
das histórias contadas como verdades.

CONQUISTAS
 
Onde a paz aguarda o consenso: reviso a fala
ouvida nos extremos. O discurso guerreia
o anseio e dos lugares
longe e perto
o som trombeteia mortes - na evolução
nos fazemos gente - e nos transporta
ao arremedo da tormenta. Atroz: o medo
se faz ciente do engodo e somos atingido
no apogeu do esquecimento - aos mortos
faltam nomes - para onde vamos
ao morrermos: a paz
se apresenta em esqueceres
de conquistas e permanências.

Fonte:
O Autor
http://pedrodubois.blogspot.com/

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