terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Lourenço do Rosário (O Coelho e a Hiena)


O coelho e a hiena eram amigos.

Um dia, a hiena que estava a passear sozinha, passou por uma povoação e viu algumas raparigas a pilar. Entre elas havia uma muito bonita e que se chamava Chipha Dzuwa.

A hiena disse: "Es muito bonita, casa comigo". A rapariga respondeu: "Primeiro tens de falar com os meus pais, traz o teu padrinho. E caso contigo".

Entretanto, o coelho, que pouco depois passou pela mesma povoação, apaixonou-se pela mesma rapariga. "Casa comigo", disse-lhe o coelho. "Não posso, já dei a minha palavra à hiena. Ele vem apresentar-se aos meus pais", respondeu a rapariga. O coelho começou a soltar grandes gritos e a rebolar-se no chão. Riu e zombou da rapariga: "Não compreendo nada. Então tu, tão bonita que és, casas com um qualquer? Não sabes que a hiena é meu serviçal e serve-me de cavalo quando entendo?" "Não acredito, apresenta-me provas", pediu a rapariga, humilhada e espantada.

Quando o coelho se encontrou com a hiena, nada disse. Esta, porém, estava feliz e pediu ao amigo para ser seu padrinho no dia da apresentação aos pais. O coelho fingiu: "Não sei, amigo, é que não ando lá muito bem. Além disso, piquei-me num pé e não consigo caminhar longas distâncias". A hiena ofereceu-se logo cheia de boa vontade: "Não faz mal, eu carrego-te às costas. O que eu quero é que vás apresentar-te aos pais da Chipha Dzuwa". Mas o coelho insistiu: "Tu andas muito depressa, tenho receio que me deixes cair. Só se permitires que eu ate uma corda ao teu pescoço". A hiena estava por tudo naquele momento. Aceitou.

No dia combinado, lá foram os dois, o coelho no dorso do amigo e com as mãos na corda. Quando chegaram à povoação, o coelho começou a fazer manobras como se estivesse montado num cavalo e logo que viu a rapariga, começou a gritar: "Corre depressa, aí está a nossa amiga". A hiena, que não tinha percebido ainda o que o coelho estava a fazer, correu mesmo. Ao chegarem ao pé da rapariga, o coelho saltou para o chão e disse-lhe: "Estás a ver como eu tinha razão? A hiena é ou não o meu servidor fiel?" Esta apercebeu-se então do que estava a passar-se e ficou de tal maneira envergonhada que fugiu para bem longe. E o coelho casou com Chipha Dzuwa.

Fonte:
Lourenço Joaquim da Costa Rosário. Contos moçambicanos do vale do Zambeze. Moçambique: Editora Texto/Leya, 2001.

Nenhum comentário: