quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Patrícia Engel Secco (Paradoxos)

A vida parecia cada vez mais complicada para Alberto. Não ruim, pelo contrário, mas cada vez mais difícil.

Há alguns anos, ele não tinha com o que se preocupar... Bastava se entregar aos estudos e às descobertas. Ah! Como ele estava seguro em meio aos seres invertebrados, aos redemoinhos, às constelações, aos tubos de ensaio e aos elementos químicos...

A cada dia que passava, Alberto compreendia mais e mais as razões e o funcionamento de tudo no mundo. Tudo.

A formação do Universo, estrelas anãs e gigantes brancas, buracos negros, novos planetas e até mesmo um novo anel em algum planeta conhecido... Nada passava despercebido para Alberto, que, sem ter muito tempo para atividades que não levassem a alguma conclusão científica, não participava dos jogos do recreio e não usava, de maneira nenhuma, a internet para o lazer e para o diletantismo, atitude que ele considerava simplesmente ultrajante!

Então por que dentre todos os jovens da escola justamente ele tinha sido o escolhido pela mais linda e encantadora menina do grupo?

A vida parecia, sim, mais estranha para Alberto, que, sem entender o porquê de seu comportamento, ficou quase duas horas tentando montar uma imagem real da atmosfera de Saturno, que, recentemente, descobriram ser colorida devido aos gases que a compõem. Uma imagem bela o suficiente para tocar o coração de qualquer menina!

Duas horas perdidas tentando montar uma foto enquanto o mundo científico estava em polvorosa com o registro de uma colisão de galáxias! E ele ainda assim tinha certeza de que o tempo perdido tinha valido a pena!

Alberto guardou com carinho a fotografia em uma pasta e seguiu o caminho da escola, pensando em uma deliciosa frase de seu ídolo maior, Einstein, que naquele momento lhe servia de consolo:

"A verdade científica é sempre um paradoxo se julgada pela experiência cotidiana, que se agarra à aparência efêmera das coisas".

De acordo com Einstein, são paradoxos a Terra se mover em torno do Sol e a água ser constituída por dois gases altamente inflamáveis...

Quem sabe paradoxos tão grandes como este que ele agora está vivenciando: saber que tudo o que lhe interessa na vida são as explicações científicas e que não existe explicação científica para o que mais lhe interessa neste momento, o amor.

Fonte:
Revista Nova Escola: Contos

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