sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Simone Pedersen (Embriagado de Versos)

VOZ DE GELO

 Quando você diz que me ama,
 Sua voz ecoa no meu vazio.
 É tão seco dentro de mim,
 Que o som rasga minhas entranhas.
 Não quero mais ouvir.
 Houve, sim, tempo em que queria...
 Sonhava com sua melodia.
 Vivia pela nossa harmonia.
 O tempo passou.
 Você passou.
 E como não deixou marcas,
 não faz diferença.

 O CICLONE

 O ciclone se aproximou
 Com imensa força e rapidez
 As nuvens densas
 Escondiam seu interior
 Extasiada com tanta volúpia
 Permiti que se aproximasse
 Dancei em seus ventos
 Rodopiando centro acima
 Subia e subia
 Cada vez mais imersa
 Nessa nova vida
 Distante da terra
 Meus pés flutuavam
 Nada mais existia
 Além do ciclone e eu.

 QUANDO PASSOU

 A calmaria chegou
 Assustada percebi
 Meus pés afundavam
 Em areia movediça
 Abaixo me puxava e puxava
 Até que morri
 Mil vezes seguidas
 Sem ar, sem espaço
 Sem visão, sem movimento
 Meu corpo na terra
 Lama na lama
 Lágrimas marrons
 Até que não mais era.

A BONECA

Pés descalços no chão
Corpo disforme, raquítico
Barriga grande
Dedo sujo na boca

Terra molhada,
Esgoto a céu aberto
Caixas de papelão
Lar dos subumanos

Urubus e capivaras
Animais de estimação
A boneca tão limpinha
Aninhada no coração

A menina cresceu
E cheirou cola
Depois vendeu seu corpo
Assaltou pedestres felizes
E se mudou para a prisão...

Mas a boneca, ah!
Aquela boneca
Sem cabelos
Lavada com lágrimas
Choradas pela dor de fome
A boneca, ah, a boneca!
A menina levou com ela.

ABANDONO
Mandela

 Você partiu sem despedidas nem explicações
 Eu busquei respostas no passado que preenchessem o vazio
 O porta-retrato no lixo eu recuperei
 Um pijama que não será lavado
 Mosaico da tua presença impregna os sentidos
 Lembranças de frases jogadas:
 “Controladora...”
 “Enruga as minhas asas...”
 “Vai: destranca a gaiola...”

 Era um ninho aberto
 Você não sabia?
 Enruguei minhas asas por que quis
 Subi grades imaginárias
 Em minha volta
 Agora
 Não beijarei flores perfumadas ,
 Caminharei por becos imundos, sozinha

 Sem você, não sou borboleta
 Sou lagarta, agarrada, desconfiada

 Do que tenho medo? Não é medo de cair.
 É medo de te ver voejar em outro jardim.

Fontes:
http://www.asesbp.com.br/escritores/escritores51.html
http://sociedadedospoetasamigos.blogspot.com.br/2010/06/simone-pedersen-escritora-e-poeta.html

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