sexta-feira, 26 de abril de 2013

Elisabeth Souza Cruz (Caderno de Trovas)

A minha luz se consagre
nos momentos de tristeza...
Não peço a Deus um milagre...
peço apenas... fortaleza!

Bebo lembranças em tragos,
ao ponto da embriaguez,
para curar os estragos
que a tua ausência me fez!

Cabelo é um negócio louco...
Há divergências fatais:
- Na cabeça, um fio é pouco;
mas... na sopa... ele é demais!!!

Declarar-me não me atrevo,
com palavras mais ousadas...
E assim os versos que escrevo
são propostas camufladas!...

Deixo a roça na estação,
trouxe os sonhos na bagagem,
mas a cidade é a impressão
de que eu perdi a viagem!

Do nosso amor resta o embate
neste deserto onde eu morro,
pois teu regresso é o resgate
que não chega em meu socorro!

Essa renúncia inimiga
que diz não, se eu quero sim,
é uma voz fazendo intriga
quando responde por mim!

É surpresa repetida,
surpresa mesmo... e bendigo
cada instante em minha vida
me repetindo contigo!

Eu não me prendo à verdade
e à razão sempre me imponho,
porque toda a realidade
antes de tudo foi sonho!

Eu não temo o breu da estrada
 se a tristeza não transponho,
 porque há sempre uma alvorada
 na alegria do meu sonho!

Feito internauta voraz,
tu clicas minha paixão,
e eu não sou sequer capaz
de deletar a intenção!

Lá na praça do Suspiro,
o vovô, todo em genérico:
-Eu tento, assanho e transpiro,
mas quem sobe é o Teleférico!

Na angústia que me consome
neste amor de insanidade,
a minha pressa tem nome
e ela se chama...saudade!

Não quero fama nem glória,
dispenso os bens de valor,
para ter na minha história
o prêmio do teu amor!

Nem mesmo a ilusão remenda,
com seus fios de saudade,
os velhos sonhos de renda
que eu teci na mocidade!

No desfile à fantasia,
de um carnaval de ilusão,
a saudade é a alegoria
que enfeita meu coração!

Nosso amor chegou no estágio
 de pouca briga e... eu pressinto
 que esse marasmo é presságio
 de amor... que está quase extinto!

Num recanto bem singelo,
 sem luxo ou bens de valor,
 meu rancho vira um castelo
 quando reina o teu amor!

Orgulho bobo... vaidade,
capricho do amor sobejo...
Eu morrendo de saudade,
fingir que não te desejo!

O trânsito interrompido,
muitas frutas pelo chão...
E o bebum, ao ser punido:
-“Foi batida de limão!”

Por mais que eu seja refém
da pressa do teu abraço,
meu sonho não vai além
da pequenez do meu passo!

Pouco importa que tu venhas
apressado, em teu fulgor,
pois trazes contigo as senhas
para os feitiços do amor!

Qualquer que seja o motivo
que a razão nos tente impor,
não se passa o corretivo
quando um erro é por amor!

Quando o orgulho é o timoneiro
 das viagens da paixão,
 qualquer que seja o roteiro,
 não encontra a direção!

Saudade, velho retrós,
 guarda os fios, dia a dia...
 Quando quer soltar a voz,
 desenrola a nostalgia!

Sendo a voz de toda gente,
a Imprensa firme não cala
e quanto mais coerente
bem mais forte é a sua fala!

Se o teu amor foi miragem
no deserto da paixão,
que importa... me deu passagem
para o oásis da ilusão.

Tu me propões cessar fogo
e eu te proponho atiçar,
porque o nosso amor é um jogo
que é fogo de se apagar!

Vivo em constante conflito
entre o delírio e a razão:
- Meu sonho alcança o infinito,
meus pés... tropeçam no chão!

Fontes:
José Feldman (org.). Rio de Janeiro Trovadoresco. Coleção Memória Viva.
Resultados de Concursos.

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