terça-feira, 13 de agosto de 2013

Isabel Pakes (Poesias Avulsas)

A SÓS

Estendo-me diante de ti
acolhida no leito das tuas mãos serenas.
Neste momento não quero ser apenas poemas,
quero ser também parte da tua essência.

Quero transpor a vidraça dos teus olhos,
mergulhar no rio das tuas veias
e percorrer-te ponta a ponta,
levada pelas ondas das tuas emoções,
flutuar no teu pensamento
e repousar depois,
na alcova do teu peito.

E mesmo que não possa
perdurar-me em tua memória,
eu cantarei a glória de estar a sós contigo
por alguns instantes,
no aconchego do teu coração.

VENHA COMIGO

Venha comigo.
Acomode-se nas asas destes versos sonhadores,
libere seus pensamentos cotidianos
- que se evadam pelas entrelinhas -
e desaperte o cinto do seu coração.
Vamos voar! Voar!
Provar do vento o sabor natural da liberdade!
Singrar o azul... Pairar no ar.
Esculpir nas nuvens sorrisos de crianças
e deixá-los ir céu afora...
E possa a inocência derramar-se sobre os homens.

Voar! Singrar o azul, desfrutar da paz absoluta!
E quando o dia se for, adentrar o portal da noite
e acender as luminárias da Via-Láctea.
Flutuar junto a poeira dos astros e colher estrelas,
miríades de estrelas e agrupá-las num imenso coração -
- Constelação do Amor - Signo da Terra!
Depois, na euforia desse feito criador, bailar!
Bailar com as luzes, bailar!
Bailar no éter, bailar!
Bailar... Bailar... Vertiginosamente!
E, cadentes, nos incandescer para não despertar...

SE VOCÊ QUISER...

Se você quiser,
eu desenho risos nos seus lábios
e salpico estrelas nos seus olhos.

Se você quiser,
eu deponho flores em suas mãos
e acendo luzes no seu pensamento.

Se você quiser,
eu faço festas dentro do seu peito
e embriago de amor o seu coração.
Bailar... Bailar... Vertiginosamente!
E, cadentes, nos incandescer para não despertar...

ENTRELACES


Eu vi a moça na janela,
desbotada, estática,
como que parada no tempo,
como se num retrato antigo.
E ouvi do outro lado da rua
um trinado de pássaros
musicar uma árvore.

A moça tinha o rosto apático
e olhos escuros e frios e opacos,
como se condutores telúricos,
vazassem abismos.
Tentando um alento
armei meu sorriso e lhe disse:
- Bom dia!
Ela desconversou.
Alegou mau humor, fadiga, fastio...
Funesta!

A árvore era linda!
Amante da vida,
proliferava raízes e folhas e folhas
e folhas;
frondosa abria-se aos céus!
Não dava flores nem frutos,
mas dava... pássaros!
Precursores da primavera.

Apiedei-me da moça, eu juro!
mas mudei de calçada
e abracei a árvore.

UM SEM FIM

O tempo traça em meu rosto o seu percurso,
circundante, acentuando os sulcos,
colhendo noites e replantando dias,
sorvendo o orvalho e absorvendo os raios...
Dentro do espelho me agastando.

Porém, porquanto em mim
registre o seu transcurso,
guardo-me eterna em sua razão
e entremeando crepúsculos e auroras,
trespasso o espelho
e me refaço - caminho de transmigração.

Que o tempo em mim é um
sem fim.

ÀS TARDES

Às tardes, o horizonte pintado de sol poente
é o porto onde ancoram meus olhos,
barcos de esperanças.

As nuvens franjadas de ouro, súditas fiéis,
reverenciam o grande rei que é posto.
A primeira estrela aparece prenunciando o luto.
Pesaroso o céu se despe de sua veste azul.
A luz se ausenta.
O dia é morto. Mais um...

Meus olhos, nascidos pranteadores,
envolvidos nesse rito, fazem água.
Náufragos crepusculares, retornam a mim vazios,
porém ávidos de uma nova razão...

E tudo recomeça.
Lá se vão estes barcos contumazes
navegar por entre estrelas,
içar dos sonhos o novo amanhecer.

APATIA

A noite me viu tão triste que chorou estrelas...
E enviou-me a brisa que me sussurrasse um acalanto,
adormecesse em mim tanto quebranto, tanto desejo de não ser...
(Tanta querença e este desencanto!)

Mas o meu ego, surdo e cego, recoberto por escamas,
dessas que a alma tece para abafar as chamas, custava serenar.

Então veio a alvorada!
Adiantou-se em sua hora em meus cuidados,
beijou-me a boca, a fronte, os pés...
Que a luz viesse dissipar-me as brumas,
se infiltrasse em minhas amarguras e me sanasse, enfim.
Minúsculos sóis se pontilharam, às dezenas,
na transparência das gotas orvalhadas e em mim... em mim, nada!
(Tanto ardor e este frio!)

E me encontraram as Onze-Horas ainda recolhida ao desconforto.
Essas florinhas tímidas se me abriram com uma humildade santa
que quase, quase me alentaram,
não fosse em mim a dor maior que a fé, neste instante.
(Tanto néctar e este acre!)

Tanta vida e esta apatia!
Aonde foi a seiva que me vicejava e o mel que me adocicava?
Aonde foi você?

ASCENSÃO

Do horizonte remoto
o ser - cravado - observa
e, serenamente, aguarda
o supremo sopro cósmico.

Restam poucas pedras.
Já os fiéis se aproximam.
Luminárias às mãos se identificam
e se multiplicam ao largo do grande templo
que a seu tempo se conclui.
E à dispersão da noite, se possibilitam
ascender os degraus para o imenso portal!

A escadaria é íngreme, eles sobem...
 O patamar estreito, eles avançam, eles alcançam...
Eles crêem! E, na escalada, um a um, se agigantam!

DESCARTE

Li o teu poema mais recente, sequiosamente!
Cuidava que seria para sempre a tua musa
e vaidosa me encontrar, como de costume,
envolta às carícias de teus versos.
Li com o coração aos pulos, sofregamente
e ao fim...
Salgou-me o riso inda latente o pranto inesperado.
Mas não pude, em meu orgulho,
admitir-me em meios aos teus descartes,
mesmo porque (pensei)
não poderias arquivar-me em teu passado,
simplesmente.
Não a mim, que do amor te preparei a melhor mesa
e ambrosias te servi. Não a mim...
Tranquilizei-me à mão desse argumento
e como quem sai a procurar algo perdido
reli o teu poema, desta vez com mais vagar.
Vasculhei-o palavra por palavra buscando qualquer coisa,
qualquer coisa, mesmo que de leve me lembrasse
e ao fim...
Ao fim se me rompeu o riso represado
num espocar ruidoso e convulsivo.
De um modo bem discreto, quase escondido,
meu nome desfiado iniciava
cada verso que compõe o teu poema,
onde me enalteceste como jamais me pensaria.
Porém nada disseste do amor, nem da saudade,
num jeito bem sutil de me dizer adeus.

AONDE VAI

- Aonde vai, menino?
- Aonde me leva o sonho.

- Aonde vai, rapaz?
- Aonde me leva a ilusão.

- Aonde vai, senhor?
- Aonde me leva o destino?

- Aonde vai, vovô?
- Pegar carona no sonho do menino.

Fontes:
Portal CEN
Blog da Autora.

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