sexta-feira, 27 de setembro de 2013

A. A. de Assis (Poeminhas à moda de haicais) Parte 2, final

51.
Tão miudinha a avenca.
Ao lado um coqueiro enorme
súbito despenca.

52.
Fácil se define:
lá distante uma araponga
tine... tine... tine...

53.
Petit à petit,
pombinhos tecem seus ninhos.
Em Paris e aqui.

54.
Vós que, sobrevivos,
a mais que os demais amais,
uni-vos, uni-vos.

55.
Repicam os sinos.
Os mesmos de nós meninos,
na velha matriz.

56.
Colibri esvoaça.
Tem rosa nova, solteira,
no jardim da praça.

57.
Voa, voa, voa,
faz a cera, faz o mel,
abelhinha boa.

58.
Um cisco no chão.
Ah, não era cisco não.
Era uma esperança.

59.
Menino de rua.
Protege-o, Dindinha Lua,
dá-lhe colo, dá!

60.
Pião da saudade.
De uma era em que era franca
a felicidade.

61.
Um vaso de avenca.
Minimíssima floresta.
Mas é verde, é festa.

62
Chocados os ovos,
há o choque dos seres novos.
E a vida prossegue.

63.
Levantar cedinho.
Mens sana in corpore sano.
Ouvir passarinho.

64.
Curvam-se as roseiras.
Jogam as rosas, felizes,
beijos às raízes.

65.
Rola a Lua, rola.
Os mísseis zumbindo ao lado
e ela nem dá bola.

66.
De amor são seus uis.
As lágrimas que ela chora
devem ser azuis.

67.
Lua na montanha.
Me faz um favor, me faz:
sobe lá e apanha.

68.
Crianças na praça
cantando canções de roda.
Volta a paz à moda.

69.
Leio no jardim.
Idéias há e azaléias
em redor de mim.

70.
É um impasse e tanto:
trabalho, o canto atrapalho.
Nesse caso, canto.

71.
Olá, senhor Sol.
Bem-vindo ao nosso domingo.
Praia e futebol.

72.
Ah, havia o espaço.
Ave havia e havia ação.
Ave... avi...ão.

73.
Contam casos... súbito,
Negrinho do Pastoreio
passa bem no meio.

74.
Onda e sol... Floripa.
Tem lugar para mais a um.
Pega a prancha e... tchum!

75.
Trenzinho da serra...
Pa... Pa-ra-ná... Pa-ra-ná...
pra Paranaguá.

76.
De perder a voz.
Água, água, água, água.
Cataratas – Foz.

77.
Presépio do Sul.
Curitiba dos pinheiros
e da gralha azul.

78.
É chegar e amar.
Ri o Rio o ano inteiro.
Samba, sol e mar.

79.
Dim-dim-dão... dim-dão...
Os sinos de San-del-Rey
sempre em oração.

80
Bahia das festas.
De todos os sábios – tantos.
De todos os santos.

81
Aguinha de coco.
Areia, arara, caju.
Ah... é Aracaju.

82
Jangada ao luar.
Lagosta ao vinho depois.
Fortaleza a dois.

83.
Blem... Belém... blem-blem...
No Círio de Nazaré,
os sinos da fé.

84.
O tempo e a distância.
A festa de São Fidélis.
Transfusão de infância.

85
Armas e barões
muito além da Taprobana
ecoam Camões.

86.
Tela brasileira.
Um sabiá na palmeira
de Gonçalves Dias.

87.
Rosa, Rosa, Rosa,
ó Rosa das rosas ledas!
Dos sertões: veredas.

88.
Releio Pessoa.
Finjo tão completamente,
que a tristeza voa.

89.
Leoni, o poeta
da Petrópolis azul.
Alma azul. Raul.

90.
Luar no sertão.
Ah que falta faz Catulo
com seu violão!

91.
Bem-te-vi, Cecília,
nos ramos da madrugada.
Cantando, encantada.

92.
Mais do que Bandeira,
sobretudo Manuel.
Ou mais: man well.

93.
To you, tuiuiú.
Parabéns para você.
Happy bird are you.

94.
New York, New York,
make love, not work.
Ah, I love you!

95.
Passa a teoria
por debaixo do arco-íris.
Vira poesia.

96.
Pilhas de currículos.
Vencedor: o sabiá.
Sabia cantar.

97.
O sorriso é um dom.
Sorrindo você faz lindo
o seu lado bom.

98.
Aplainai as trilhas,
forrai-as de relva e flor.
Vai chegar o Amor.

99.
Brinquemos, irmãos.
Vamos dar as nossas mãos.
Brinquemos de paz.

100.
De braços abertos,
sobe o pinheiro. Subindo,
deixa o céu
m
a
i
s
l
i
n
d
o

Fonte:
A. A. de Assis. Poeminhas (à moda de haicais). Marinha Grande/Portugal: Biblioteca Virtual "Cá Estamos Nós". Outubro de 2004

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