sábado, 14 de setembro de 2013

Aluísio Azevedo (O Coruja) Parte 39

CAPÍTULO XII

A singularíssima posição de Teobaldo, entre a chamada melhor sociedade do seu tempo, vinha pura e simplesmente das graças dele, do seu espírito e de seu talento de saber, como ninguém, dar a cada um indivíduo aquilo que lhe era mais lisonjeiro ou agradável; vinha de conseguir agradar ao gosto de todos, desde o Imperador até ao último dos copeiros, sem aliás desgostar a ninguém, o que é muito difícil. A sua invejável atitude de homem raro e desejado por todos procedia em linha reta da sua excepcional habilidade de transformar-se sem o menor esforço, sem que ninguém desse por isso, e amoldando-se ao gosto da pessoa que tinha defronte de si, como a nuvem que percorre uma cordilheira e vai tomando o feitio de cada montanha que atravessa.

Pândego para os pândegos, homem sério para os homens sérios, ele a todos agradava e com todos se afinava, sem aliás perder uma linha da originalidade do seu tipo e da esquisitice do seu gênero, assim como um pintor de talento conserva o seu estilo próprio em mil diversas fisionomias que lhe saem da palheta. Além dessas, havia uma outra razão, talvez não menos poderosa, e com certeza menos legítima. Era a paternidade que lhe davam (e contra a qual ele protestava muito frouxamente) de uma famosa série de artigos, então publicados em várias revistas científicas e várias folhas diárias.

A história desses artigos é a seguinte: Coruja, havia muito, entregara-se por gosto e por necessidade de sua índole ao estudo sério e acurado de umas tantas matérias a que em geral chamam áridas, e com as quais Teobaldo não seria capaz de entestar.

Sem imaginação, nem talento inventivo e nem arte, André só assim encontrou meio de usar da sua grande atividade intelectual e foi aos poucos se familiarizando com os estudos econômicos e sociológicos. Pode ser que esse apetite fosse ainda uma conseqüência da sua idéia fixa e dominante — a história do Brasil, obra esta a que ele se escravizara desde os seus vinte anos e da qual nunca se distraíra investigando sempre, inalteravelmente, com a calma e a paciência de um sábio velho que se dedica ao trabalho só pelo prazer de trabalhar, sem a menor preocupação de elogio ou glória. Essa obra ainda estava longe de seu termo, mas representava já uma soma enorme de serviço: compilações de todo o gênero e apontamentos de toda a espécie.

— Se eu não conseguir levá-la ao cabo, dizia ele. aí fica bom material para quem o souber aproveitar, dando-lhe a forma literária, que é só o que lhe falta.

E isto que ele dizia a respeito da carcassa da sua obra capital, verificou-se logo com os seus apontamentos sobre questões sociais: um dia Teobaldo fez-lhe algumas perguntas a respeito de elemento servil, locação de serviços e colonização.

Coruja satisfez as perguntas do amigo e declarou que tinha consigo algumas notas tomadas nesse sentido. Os dois subiram ao cubículo de André, e este sacou de uma gaveta de sua velha secretária um grosso pacote, composto de pequenos maços de tiras escritas, sobre cada uma das quais via-se metodicamente lançado um título diverso.

Teobaldo começou a manusear os maços.

Leu o primeiro: "Indústrias", no segundo: "Manufaturas", leu em outro: "Escravidão" e em outro: "Instrução pública". E continuando a percorre-los, foi encontrando: "Pequena lavoura — Nacionalização do comércio a retalho — Nunes Machado e seu tempo — Economia rural, decadência do açúcar, nota sobre o inquérito do governo — Exploração do gado lanígero — Administração dos correios — Legislação territorial — Cultura do bicho-da-seda — Plantação da vinha — Colonização, reflexões sobre as cartas do marquês de Abrantes — Discursos sobre o elemento servil por Bernardo de Vasconcelos, Eusébio de Queiroz e João Maurício Vanderley — Guerra do Rosas."

E assim por diante.

— Que diabo tencionas tu fazer disto? perguntou Teobaldo.

— Nada, respondeu André, são notas de considerações, que às vezes acodem e que a gente vai colecionando, para, se algum dia precisar...

— Mas é um tesouro isto que aqui tens!... Deves publicar estas notas!

— Qual! Não despertariam interesse em ninguém; falta-lhes forma literária, não passam de apontamentos; datas, nomes, citações, discursos políticos e nada mais.

— Ora! A forma literária é o menos. Isso arranja-se brincando.

— Pois se quiseres arranjá-la...

— Homem! Está dito! Publicam-se com um pseudônimo. Vais ver o barulhão que isto faz aí!

— Não creio.

— E eu tenho certeza; só com uma vista d’olhos já percebi que tomaste nota de todos os fatos mais curiosos de nossa administração pública nestes últimos tempos.

— Ah! Isso é exato; estas notas foram escritas à proporção que se sucediam os fatos, e cada uma tem ao lado as considerações que a respeito dela fez a imprensa.

— São minhas! Resumiu Teobaldo, guardando na algibeira as notas do Coruja.

Daí a dias surgia em público o primeiro artigo dos de uma longa série que então se publicaram e que estavam destinados a dar ao marido de Branca uma nova reputação, uma reputação que ele ainda não tinha: — A de homem de bom senso prático e econômico.

As conscienciosas notas de André, floreadas pelas lantejoulas da retórica do outro, converteram-se no objeto da curiosidade pública. Foi um verdadeiro sucesso; o jornal que as publicou viu a sua tiragem aumentada e os artigos, uma vez colecionados em volume, deram várias edições. Daí nasceu o prestígio de Teobaldo entre os homens públicos do seu tempo, que desde então começaram a respeitá-lo, se bem que o habilidoso jamais declarasse positivamente ser o autor dos célebres artigos.

Branca, porém, sabia ao certo a quem eles pertenciam de direito e ficou muito seriamente indignada contra o marido uma vez em que este, depois de negar a pé junto que não era o autor dos tais artigos, respondera a um tipo que exigia nesse caso que ele desse a sua palavra de honra.

— Não! Isso não! Afianço que os artigos não são meus, mas, quanto a dar palavras de honra, não dou!

O fato é que ele ficou sendo desde então considerado uma das primeiras ilustrações do Brasil, tendo ao seu dispor o jornalismo em peso e ao seu serviço a proteção dos homens mais influentes na política. Podia enfim alargar os seus horizontes e desejar mais largos apesar do seu espírito ser tão inconstante e a sua ambição tão desnorteada.

Agora já não pensava mais em se fazer dono e redator de um jornal; vivia só para uma idéia: entrar na câmara dos deputados.

Um terrível contratempo veio, porém, alterar-lhe a vida.

Nessa ocasião, em vista dos efeitos da guerra, esperava-se que o preço das libras esterlinas subisse extraordinariamente, e Teobaldo, fiado nisso, empregou a melhor parte do que lhe restava em comprar uma boa porção delas para as revender com lucro fabuloso; eis, porém, que a subida inesperada do partido conservador, firmando o crédito do estado, elevou o papel-moeda, deixando o câmbio quase ao par, depois de verificado o empréstimo do Visconde de Itaboraí, do qual se conservou a popular denominação de "bonde em ouro".

Por conseguinte, o dinheiro arriscado nessa especulação de cambiais não foi recuperado; as libras, que aliás haviam chegado excepcionalmente ao valor de 15$ cada uma, desceram de repente e foram vendidas por muito menos do custo. Teobaldo viu-se perdido. Além de ficar completamente despido de dinheiro, ainda tinha de apresentar seis contos de réis ao seu fornecedor de café em certo dia convencionado, sob pena de perder também o crédito, que era a coisa única com que podia ainda contar para a sua reabilitação.

No entanto só o Coruja, o Aguiar e Branca sabiam da verdade inteira a respeito disso; de todos os mais Teobaldo escondeu a sua crítica situação, convencido de que tudo perdoam aos homens, menos a infelicidade. Este fato de ter de esconder o seu desespero ainda mais o fazia sofrer, enchendo-lhe as horas de amargura e sobressalto.

Foi então que o Aguiar se chegou para ele e disse, batendo-lhe no ombro:

— Ora, se a questão é de seis contos de réis, não tens que te afligir, eu tos empresto; teu crédito não ficará abalado!

Teobaldo abraçou-o, declarando que o Aguiar acabava de lhe salvar a honra.

— És um verdadeiro amigo! Disse-lhe. Se não foras tu, era natural que eu metesse uma bala nos miolos!

Quando Branca se achou a sós com o primo, apertou-lhe a mão muito comovida e repetiu pouco mais ou menos as palavras do esposo.

— Engana-se, respondeu o Aguiar, não foi por ele aquilo, foi simplesmente em honra da senhora.

— Não é então amigo de Teobaldo?

— Eu o detesto.

— Foi nesse caso só por mim que o socorreu?

— Bem sabe que sim.

E chegando-se para ela, acrescentou em voz baixa:

— E que não faria eu por sua causa? Terei porventura alguma outra preocupação que não seja tornar--me aos seus olhos cada vez mais digno? Terei maior ambição do que vê-la satisfeita comigo e perdoando-me o estimá-la mais do que me é permitido... E tanto assim que nada mais lhe peço além de declarar com franqueza o que quer que eu faça; ordene e ver-me-á submisso e escravo a seus pés cumprindo as suas leis.

— Não tenho ordens para lhe dar, nem direito para isso, apenas desejo que meu primo continue a ser meu amigo, e, visto que não está nas mesmas circunstâncias em que eu estou para com Teobaldo, perdoe-lhe as franquezas e as maldades.

— Não! Eu só perdoaria àquele vaidoso se ele a deixasse em paz!

— Não o compreendo e peço licença para retirar-me, sinto-me indisposta; meu marido não tarda aí e far-lhe-á companhia.

Branca afastou-se tranqüilamente, sem se mostrar nem de leve receosa das seduções do primo; ao passo que este, sufocando a sua impaciência, deixou-se ficar imóvel no lugar em que estava, a fitá-la pelas costas com o seu comprido olhar de homem teimoso e vingativo.

Que pensará de mim esta mulher? Interrogou ele intimamente, cruzando os braços no meio da sala. — Que idéia fará da minha vontade e do meu querer? Pois não perceberá ela que eu, odiando o marido, não faria por este o menor sacrifício, se não fora a esperança de saciar o amor que me põe louco? É impossível que Branca, tão inteligente e tão lúcida, não me compreenda e não perceba as minhas intenções! É impossível que ela me suponha tão fácil de contentar que eu só exija de sua pessoa um casto e fraternal reconhecimento! Ah! Mas agora, agora que os tenho seguros por uma dívida de meia dúzia de contos de réis, hei de chegar aos fins a que desejo ou muito terão eles de amargar!

Fazia tais reflexões, quando Teobaldo entrou da rua.

Vinha extremamente pálido e, pelos modos, bastante contrariado.

— Oh! Que tens tu? Perguntou-lhe o outro, indo ao encontro dele. Estás com uma cara! Alguma coisa te contraria ainda?

— Nada!

— Desconheço-te, homem!

— Nada! Não tenho nada! Necessidade de repouso.

— Nesse caso, retiro-me...

— Não. Fica à vontade.

— Julgas que é muito agradável suportar-te neste estado?...

— É exato. Confesso que estou preocupado. Mais tarde saberás por que.

— Bem; não falemos mais nisso e conversemos sobre outra coisa.

Mas, daí a meia hora, dizia o Aguiar:

— Não! Tem paciência! Hoje não posso contigo. Adeus. Voltarei quando estiveres mais admissível.

Teobaldo, mal viu sair o amigo, meteu-se no seu gabinete de trabalho, acendeu o gás, fechou-se por dentro e pôs-se a reler uma carta, que tirara da algibeira.

Era uma carta anônima e dizia o seguinte:

Meu adorável Teobaldo.

O feitiço vira-se às vezes contra o feiticeiro: tu, que tens destelhado a valer a honra de vários maridos, estás agora com a tua exposta à chuva e aos ventos... Olha que lhe fazem cada rombo, que até da rua a gente os vê!...
E a graça, adorável Teobaldo, é que deves esse obséquio ao teu melhor amigo, ao teu intimo, ao teu unha com carne! Coitado do meu Teobaldo!
Se exiges provas do que dizemos, estamos dispostos a dar-tas quando quiseres.
Assinava — Uma das vítimas dos teus encantos.

CAPÍTULO XIII

Depois da nova leitura da carta anônima, Teobaldo mergulhou mais profundamente na sua preocupação.

— O meu melhor amigo... O meu íntimo!... Repetia ele, como um sonâmbulo. Trata-se por conseguinte do Coruja ou do Aguiar! O Aguiar!... Não! Não é possível!... E contra o outro não me animo sequer a levantar a ponta de uma suspeita!

Mas o seu espírito, como se pactuasse com o autor da covarde denúncia, escapava-se das convicções dele a favor daqueles dois amigos e punha-se na pista das probabilidades do que afirmava a carta.

— Oh! Dizia por dentro da sua experiência. As mulheres são tão dissimuladas, tão vingativas e tão traiçoeiras, que às vezes aquela, que supomos mais anjo e mais virtuosa, é justamente a mais capaz de matar-nos a alfinetadas, se lhe ofendermos o amor-próprio e a vaidade!

E, porque ele julgava de todas as mulheres pelas que até aí tivera por amantes, isto é, pelas fracas, pelas vulgares e gafadas de velho romantismo, seu pensamento ia ainda mais longe e dizia-lhe:

— Ah! São todas as mesmas! Perdoam-nos tudo, as maiores baixezas e as maiores maldades; só o que cada uma de per si não nos perdoa nunca, é não lhe darmos a primazia da nossa ternura e da nossa dedicação! Cada qual quer sempre ser a melhor e a mais digna de amor, e ai daquele que não obedece ou não finge obedecer a esse capricho, quando ligou o seu nome a qualquer dessas egoístas!

E, depois de agarrar-se a este princípio, Teobaldo perguntou a si mesmo:

— Qual dos dois, o Coruja ou o Aguiar, teria Branca preferido para cúmplice de sua vingança contra mim?

— O Aguiar, sem dúvida, porque o outro nada tem de amável.

— Que importa, porém, a ferrenha antipatia do Coruja, se não é o amor que se trata, mas simplesmente de uma vingança? E a vingança com o Coruja seria muito e muito mais completa e mais cruel!

E então, como para explicar esta terrível hipótese, o espírito de Teobaldo começou a fazer desfilar defronte de si todas as esquisitices que se notavam em Branca ultimamente; vieram os caprichos, as transformações de gênio, as excentricidades, que ela, a despeito do seu reconhecido bom senso, apresentava de tempo a essa parte.

— Sim, sim, insistia o pensamento de Teobaldo. Desde aquela célebre noite da entrevista da mulher do conselheiro. Branca já não é a mesma senhora ajuizada e boa dona de casa!... Está completamente transformada, ao ponto de não dar idéia do que fora... Agora tem extravagâncias que parecem de louca; dá para fechar-se no quarto dias inteiros, a ler ou a escrever, sem se importar com o que vai pelo resto do mundo; agora toma-se de simpatias por criaturas, que até aí não podia suportar; agora veste-se mal, um pouco disparatadamente, desleixa-se em questões de asseio, não capricha em trazer a cabeça penteada; falta à mesa nas horas consagradas à refeição e levanta-se à noite, fora de horas, para cear em companhia do velho Caetano...

Esse nome como que o despertou.

— Ah! Disse, e correu a vibrar o tímpano.

Surgiu logo um criado.

— O Caetano que venha aqui, imediatamente! Ordenou.

E já passeava a passos medidos em toda a extensão do gabinete, quando o velho criado lhe apareceu, arrastando os pés, a cabecinha toda branca e vergada para a terra, como se andasse à procura dos oito palmos que esta lhe destinava no seu seio.

— Velho amigo! Disse-lhe o amo, passando-lhe o braço pelo ombro. Sabes para que te chamei? Foi para que me relatasse minuciosamente tudo o que tens visto fazer minha mulher nestes últimos tempos.

— Nunca a espreitei... respondeu Caetano, franzindo as sobrancelhas.

— Bem sei, replicou o amo, e não te perdoaria se o fizeras; quero, porém, que me contes minuciosamente como Branca tem vivido, quais são agora os seus hábitos, os seus gostos e as suas propensões.

— Ah! Muito mudada de gênio, coitadinha! Principiou o criado; não lembra quem era! Está triste, frenética e caprichosa, que mete dó! Já não cuida das suas flores; mandou retirar da sala os passarinhos que ela tanto estimava dantes e parece disposta a não conservar nenhum dos hábitos antigos; já não se deita, nem se levanta dois dias seguidos à mesma hora; nega-se às visitas que recebia com mais prazer e só se mostra deveras entretida quando ouve a leitura do Sr. André.

— Do Coruja! Ah! Explica-me isso!

— O Sr. André, quase todas as noites e aos domingos durante algumas horas do dia, desce à sala de jantar, assenta-se ao lado dela e põe-se a ler. A senhora o ouve com toda a atenção e parece tomar nisso grande interesse porque às vezes, quando ele termina a leitura, ela tem os olhos cheios d’água e suspira.

— E o que mais tens observado entre os dois?

— Mais nada. O Sr. André, termina a leitura, conversa ainda um pouco com a Sra. D. Branca e retira-se depois para o seu quarto.

— E ela?

— Ela nunca faz o que fez na véspera e sim o que lhe vem à fantasia.

— Sim, mas explica o que é!

— Oh! Mas são tantas as coisas... Uma vez, por exemplo, quando toda a casa já estava recolhida, ela mandou-me chamar, fez preparar o carro e saímos a passeio.

— Onde foram?

— À toa. A Sra. D. Branca disse ao cocheiro que desse algumas voltas até o Catete.

— E foi só essa vez que passeou?

— Não, senhor: fez o mesmo várias vezes...

— E sempre em tua companhia?

— Creio que sim, senhor.

E o Coruja nunca os acompanhou?

Não, senhor; se bem que a Sra. D. Branca o convidasse mais de uma vez.

— Ah!

— O Sr. André apenas a acompanhou uma ocasião em que a Sra. D. Branca foi à missa à igreja de S. João Batista.

— Há muito tempo?

— Há coisa de dois meses.

— E o outro, o Aguiar, tem vindo aqui muitas vezes?

— Tem sim, senhor; mas a Sra. D. Branca parece não estimar tanto a companhia do Sr. Aguiar como estima a do Sr. André, visto que às vezes deixa-se ficar no quarto e não lhe aparece, e de outras retira-se da sala antes que ele se tenha ido embora.

— E o Aguiar trata-a com muita amabilidade?

— Muita; e parece respeitá-la extraordinariamente.

— Bem. E quem mais aparece?

— Nestes últimos tempos, quase que ninguém a não ser o Sr. Aguiar, porque há muito que a Sra. D. Branca não se quer mostrar a pessoa alguma. Quem muita vez passa o dia aqui e parece distrair muito a Sra. D. Branca é o filhinho da costureira, um pequeno de uns cinco anos. A Sra. D. Branca mostra certa estima por ele, faz-lhe roupas, leva-o consigo dentro do carro, compra-lhe brinquedos, sapatos, chapéus e às vezes passa horas esquecidas ao lado do menino.

Teobaldo fez ainda várias perguntas ao velho Caetano, intimamente envergonhado por não saber o que ia por sua própria casa e mais ou menos aturdido pela dúvida e pela desconfiança em que se achava contra a esposa e os dois únicos homens a quem tinha por amigos verdadeiros.

Disse ao criado que se retirasse. Depois foi à gaveta da secretária buscar um revólver que lá estava.

— Hei de descobrir, pensou ele, o que há de verdade em tudo isto, e juro que meterei uma bala na cabeça do miserável que me atraiçoa!
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continua…

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