terça-feira, 1 de outubro de 2013

Clevane Pessoa (Parábola em Versos: A Flor Dourada e o Pássaro Verde)

Passava um pássaro verdíssimo por um vergel variado ,
quando viu lá em baixo, o glitter de uma flor aberta,
cor de ouro fosco, calma , a aromatizar seu entorno.
Chamou-a. Perguntou-lhe mil perguntas e ela as respondeu.
Ela indagou daqueles voos, a ela desconhecidos e ele falou
de tudo que o preocupava, de seus sonhos, desejos , im/possibilidades.

De longe, dialogavam , ela fremia, a escutar encantada,
a tatalar asas de ternuras, carente e cansado de voar sozinho.
Flor, abriu pétalas e recebeu eflúvios, dialogaram solidões
e ensaiaram alegrias, a esperança derramou todos os tons
de seus verdes mais belos, nas penas dele, nas sépalas e folhas dela.
Por um tempinho, acreditaram ser possível semear felicidade perene,
nem sequer pensaram que tudo não passava de um sentimento fugaz,
de cristal puríssimo, embora, mas que poderia quebrar-se ...

Ouviu o canto da ave que prometia em breve, achegar-se
para melhor sentir-lhe aroma e formas, e desejou-lhe felicidades
na jornada ensaiada e que ele esperava cumprir.

As luas passavam, ciclicamente , pela flor saudosa,
seu tempo se encurtava , mas ela olhava para o alto
crendo que o pássaro verde retornaria para os ósculos sonhados.

Até que um dia, insone, numa noite linda e fresca,
relembrava as promessas trocadas , enganosas sem ser falsas.
Quando ouviu chamá-la a velha coruja guardiã dos corações feridos
que lhe disse:-“ Valeu, enquanto durou , enquanto acredistaste...
Valeu porque tuas palavras foram bálsamo e o curaram...
Agora, sê forte e ouve, acabo de saber por uma viajante mariposa ,
que teu amado platônico , viaja agora com uma bela pássara
- e buscam o melhor espaço ,para fazer seu ninho...”

A doce flor estremeceu , magoada e triste, mas não surpresa:
“Eu já sabia “, murmurou à coruja sábia , que girando a cabeça para melhor
olhá-la, retorquiu:-“Não, florzinha, não sabias, apenas adivinhavas
que o amor precisa de zelo e de presença, que até pode sobreviver
à distância, mas quando já está argamassado num espaço de tempo
ideal para ser forte e perene, quando houve um cotidiano a imprimir
rememórias e saudade de cousas vividas , experenciadas com o néctar
da boa convivência. Acorda, vê outras plantas a teu redor, acorda para o real.”

A flor dourada entendeu a mensagem, mas a dor rasgou-a de angústia
e ela desprendeu-se das sépalas, caiu ao solo, e preparou-se para fertilizar
a terra daquele jardim tão grande, e renascer um dia, sem nenhum pesar...

Fonte:
A Autora

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