sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Orlando Woczikosky



Entrevista realizada pela Revista “Falando de Trovas e de Trovadores” , do Portal CEN,  pelo trovador delegado de Pinhalão/PR,  Lairton Trovão de Andrade.

 O grande poeta e trovador Orlando Woczikosky, Príncipe dos Trovadores do Paraná, o único remanescente vivo dos fundadores da UBT-Paraná (União Brasileira de Trovadores do Paraná), e por sua vasta obra trovadoresca, faz-lhe homenagem com o título singular de “O Mais Ilustre Membro da UBT-Paraná da Atualidade”.

Lairton: Qual o seu nome completo? Onde e quando nasceu? Reside em que cidade?

Orlando: Meu nome completo é Orlando Woczikosky. Nasci no bairro Xaxim, em Curitiba, a 08 de maio de 1927, onde resido.

Lairton: Voltando aos tempos da adolescência, como era a sua cidade natal?

Orlando: Curitiba era pequena, com 110 mil habitantes.

 Lairton: Qual a sua formação profissional?

Orlando: Ginásio Industrial e Técnico Industrial, pela Escola Técnica de Curitiba; Faculdade de Educação da Universidade Federal do Paraná; C.P.O.R. de Curitiba; etc..

Lairton: O Senhor foi, com certeza, um professor bem sucedido, hoje merecidamente aposentado. Em que estabelecimentos de ensino lecionou e que boas lembranças tem das suas atividades docentes?

Orlando: Minha principal atividade foi lecionar Desenho no Senai de Curitiba, por mais de 30 anos. Na Escola Técnica de Comércio de Plácido e Silva, lecionei Desenho e Caligrafia. No Colégio Parthenon, lecionei Desenho e Educação Artística. No Ministério do trabalho, lecionei Leitura e Interpretação de Desenho no Curso de Segurança do Trabalho.

Lairton: Sabemos que é poeta e trovador de méritos inquestionáveis. Como foi seu início na arte de fazer trovas?

Orlando: Minha mãe ao se casar ficou morando com meus avós maternos, onde nasci. Minha avó, Carolina Krumann, gostava muito de quadras populares, declamando-as e me ensinando a declamá-las, nos meus primeiros anos, antes de nos mudar da casa dela.

Quando tive os primeiros contactos com a poesia, principalmente as de versos setissilábicos, notei a grande facilidade em compor meus primeiros versos, mesmo desconhecendo as regras da metrificação.

Em 06 de junho de 1948, escalando o Pico do Marumbi, na Serra do Mar, diante de tal beleza, escrevi a minha primeira poesia de algum valor: Marumbi. Dias depois, mostrando essa poesia ao meu professor de Português, Rosário Farani Mansur Guérios, quando ele me perguntou se eu havia estudado metrificação, respondi-lhe que nunca ouvi falar em metrificação. Ele, veementemente, me disse: “Ou você é mentiroso, ou nasceu Poeta!” Mandou-me procurar o livro Tratado de Versificação, de Olavo Bilac e Guimarães Passos, por meio do qual aprendi outros metros da poesia acadêmica.

Diante do que me disse o saudoso Professor Mansur Guérios, eu deduzi que não era mentiroso nem nasci poeta, escrevi pela cadência dos versos que aprendi com as quadrinhas ensinadas pela minha avó e que ficaram no meu subconsciente.

Após me casar, deixei de escrever por catorze anos.

Numa festa de fim de ano, meu colega de escola e de caçadas na Serra do Mar, o Professor Oswaldo Ormianin, a quem eu havia declamado muitas das minhas poesias do passado, solicitado a falar, declinou do convite, indicando-me para, em vez de discurso, declamar o “Marumbi”.

Para não decepcioná-lo, o fiz, para espanto de todos que não me sabiam poeta. O Diretor Regional do Senai do Paraná, Dr. Antonio Theolindo Trevizan, incumbiu o Professor Aluízio Plombon, Diretor da Escola de Curitiba, a me solicitar todas as minhas poesias para publicar um livro pelo Senai.

Como eu não escrevia há muito tempo, mas sabia muitas, ainda de cor, fui obrigado a escrever novas poesias, que foram enfeixadas no meu primeiro livro, “Crepúsculo da Minha Aurora”.

Nessa época, apresentado ao Escritor Vasco José Taborda Ribas, pelo seu primo, Dr. Apollo Taborda França, que fora meu colega na Escola Técnica e no C.P.O.R. de Curitiba, o Vasco me convidou para sócio do Grêmio Brasileiro de Trovadores, quando tive os primeiros contactos com a arte de trovar.

Lairton: Suas inspirações poéticas o levaram a escrever mais poesias ou trovas?

Orlando: No ínicio, escrevia só poesias, atualmente, com os movimentos trovadorescos surgidos no Brasil, tenho me dedicado mais às trovas.

Lairton: Muitos trovadores têm preferência sobre determinados temas. Alguns falam mais do amor; outros, do sofrimento; outros preferem motivos religiosos... E o Senhor? Qual foi o tema que mais o levou a trovar?

Orlando: Eu sempre fui saudosista, mas aconteceu um fato curioso na minha vida: Minha filha, com nove anos, na época, ouviu na Rádio Clube Paranaense, a instituição de um concurso de trovas de saudade e me pediu que participasse. Escrevi e enviei algumas trovas, despretensiosamente. Minha filha ouviu, no programa seguinte, que eu havia sido contemplado com vários gêneros alimentícios, oferecidos pelo patrocinador do programa. Quis recusar em receber tais prêmios, mas minha filha argumentou que seria indelicado não recebê-los, então eu fui. Ao receber os prêmios, o Dr. Ubiratã Lustosa, apresentador do programa de saudade e Diretor Superintendente da PRB2, Rádio Clube Paranaense, perguntou-me o nome do livro que eu havia copiado tais trovas, dizendo que conhecia a maior parte das melhores trovas de saudade do Brasil e de Portugal e nunca teria ouvido nenhuma das enviadas por mim. Ao lhe afirmar que eu mesmo as escrevi, ele me pediu que continuasse a colaborar, enviando trovas de saudade, ao que concordei em enviá-las, com a condição de não mais como concorrente, mas como mero colaborador. Tempo depois, o Dr. Ubiratã me chamou, perguntando-me quantas trovas eu já havia enviado ao seu programa. Disse-lhe que mais de duzentas. Sugeriu-me que as publicasse em livros de 100 (cem) trovas, como estavam fazendo no Rio de Janeiro, por muitos trovadores. Então, publiquei uma série de livros de trovas alternando-os em saudade e não saudade. Eis aí o porquê de escrever tantas trovas de saudade e continuar a escrevê-las ainda, embora há vinte e cinco anos não tenha mais publicado livros. O Dr. Ubiratã Lustosa, já aposentado, continua, ainda, apresentando o programa “Revivendo”, na Rádio Educativa AM 630, todos os domingos, das sete às oito horas da manhã, quando declama três trovas minhas, de saudade.

Lairton: Pelo visto, o gosto pela trova é universal. Em sua opinião, o que faz com que a trova seja tão fascinante?

Orlando: Na minha opinião, o que faz com que a trova seja tão fascinante é a sua versatilidade. A trova, pelo seu poder de sintetizar, presta-se, como nenhuma outra forma poética, para exaltar qualquer acontecimento, tais como aniversário, nascimento, formatura, pessoas, falecimento etc.. Um dos melhores exemplos do que afirmo é a “Missa em Trovas”, do grande trovador Antonio Augusto de Assis, nascido em São Fidélis, no Estado do Rio de Janeiro, residente na cidade de Maringá, no Estado do Paraná, onde, com sua brilhante inteligência, enaltece aquela cidade.

Lairton: A UBT - Paraná foi fundada numa época de grande efervescência trovadoresca, e o Senhor é um dos seus fundadores. Cite-nos os outros trovadores que participaram da fundação da UBT- Paraná.

Orlando: A União Brasileira de Trovadores, no Estado do Paraná, foi fundada a 10 de setembro de 1966, com a presença da Embaixatriz da Trova, Magdalena Léia, do Rio de Janeiro. Fomos seus fundadores: Vasco José Taborda Ribas, Vera Vargas, Orlando Woczikosky, Ermírio Barreto Coutinho da Silveira, José Augusto Gumy e Oswaldo Portugal Lobato, dos quais, somente eu ainda vivo.

Lairton: O grande valor de uma instituição encontra-se nas suas finalidades. Quando da sua fundação, quais os objetivos da UBT – Paraná?

Orlando: Um dos principais objetivos da fundação da nossa UBT é cultuar e divulgar a trova, bem como promover e formar novos trovadores, o que se comprova pelo grande número de novos trovadores nas escolas e nas cidades do Paraná.

Lairton: Pelos memoráveis anos de duração da UBT- Paraná, sem dúvida, a Entidade obteve sucessos. Que sucessos foram esses?

Orlando: Um dos maiores sucessos, como disse na resposta anterior, foi o grande número de novos trovadores, de novas seções e novas delegacias. Outros grandes sucessos foram os vários concursos, os jogos florais, em várias cidades, como por exemplo, os Jogos Florais de Curitiba, que neste ano realizou a XIV festa dos seus Jogos Florais.

Lairton: O seu primeiro livro editado de poesia tem o título de “Crepúsculo da Minha Aurora”. Onde encontrou inspiração para este título de excelente sugestão poética?

Orlando: Foi numa tarde, quando vi um maravilhoso pôr-do-sol, aliei esse quadro ao alvorecer e formei essa antítese para nominar o meu primeiro livro.

Lairton: O seu repertório trovadoresco é extenso e consistente. Quantos livros de trovas editou? Pretende editar outros?

Orlando: Dez livros de trovas somente minhas e duas Antologias de Trovadores do Paraná. Uma com 10 trovadores e 100 (cem) trovas e outra, com 25 trovadores com 250 (duzentas e cinqüenta) trovas, ambas em colaboração com o meu grande amigo, o Professor Vasco José Taborda. Todos os meus livros foram editados nas oficinas de Artes Gráficas do Senai, quando eu só pagava as custas do material. Publicar novos livros, já não tenho o mesmo entusiasmo nem condições financeiras para novas publicações.

Lairton: Como se pode concluir, brilhante foi sua participação no mundo da Literatura. Seus poemas e trovas foram lidos por centenas e centenas de pessoas. Fazendo uma retrospectiva, valeu a pena ter sido poeta e, principalmente, trovador?

Orlando: Valeu plenamente, porque ser poeta e trovador, principalmente no fim da vida, é muito mais
gratificantes do que possuir qualquer outro título.

Lairton: Fale-nos a respeito da sua grande descoberta sobre “quem nasceu primeiro: O ovo ou a galinha”?

Orlando: O Vasco Taborda me fez aquela pergunta clássica: “Quem nasceu primeiro, o ovo ou a galinha?” Respondi-lhe de imediato: “Nenhum dos dois! Foi o galo!”

Eu deduzi que não descende o maior do menor e, como analogia, se Deus fez por primeiro o homem, certamente, fez por primeiro o galo.

Alguns dias depois, entreguei ao Vasco minha PROVA CONVINCENTE.

Gente sábia ou adivinha,
me responda bem ligeiro:
Quem foi que nasceu primeiro,
foi o ovo ou foi a galinha?

- Deixa comigo que eu falo:
Pela experiência minha,
não foi ovo nem galinha,
Deus fez por primeiro o galo.

Ao ver o galo sem tanga
botando no mundo a goela,
tirou dele uma costela
fazendo dela uma franga.

Depois de uma conversinha
e de uma boa “cantada”
que o galo deu na coitada,
a franga virou galinha.

Assim o casal distinto
caiu na boca do povo:
nascendo o primeiro ovo
e, do ovo, o primeiro pinto.

Esclareci num repente,
essa polêmica antiga.
Quem não gostou que me diga
se há prova mais convincente!

Lairton: Para finalizar, agradecemos ao Prof. Orlando a honra que nos proporcionou. Esta entrevista será divulgada, através do Portal CEN (Cá Estamos nós), para mais de 23.000 endereços eletrônicos de países do mundo que falam a Língua Portuguesa. O Portal CEN, cujo presidente é o grande escritor português Carlos Leite Ribeiro, representa eficiente ponte literária e cultural entre o Brasil e Portugal, prestando indescritível benefício à nossa Literatura. Diante disso, poderia dizer algumas palavras de apreço ao nosso querido PORTAL CEN?

Orlando:

Não tenho computador,
mas pelo valor que tem,
minha nota ao Portal CEN
é nota cem: Com louvor!

 

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