quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Gilmar de Carvalho (Composição)

Em off-set os jornais que eu engoli. Esteira em sangue sobre a calçada. As manchetes que eu não consigo decifrar em código morse.

                O espaço vazio e as manchas de uma diagramação estética. Letras que se dilatam num contracampo de centeio e se contraem entre os matizes de ferrugem. No claro escuro os logotipos genéticos de uma explosão erótica e  relojoaria. Tipos móbiles: mãos.

                Os arabescos do portão de ferro gravados em teu rosto como maquilagem fantástica ou longos caminhos percorridos por unhas em carnavais passados.

                Teu sorriso em quatro colunas do templo. As folhas murchas de outono cinzas em camadas ou confetti e o chão das ruas.

                O quarteirão vira folhinha de ano bissexto. O papel parede se descola como cascas de feridas remotas. O  sangue dos crimes lava as almas e expia as nossas fraudes eleitorais. Procuro um amor: você, nos classificados dos tabloides especializados.

                Quero teu dente partido e os eixos cromados da rotação da terra em torno de si mesma ou a presença pendular em ampulhetas mágicas. Os raios e diâmetros de círculos concêntricos como discos ou tampas de panelas. Teus cabelos, all those flowers, e a alternância dos pés no fio de pedra da história.

(Gilmar de Carvalho, Pluralia Tantum)

Fonte:
MACIEL, Nilto. Contistas do Ceará: D’A Quinzena ao Caos Portátil. Fortaleza/CE: Imprece, 2008.

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