terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Paulo Walbach Prestes (A Mulher e o Diamante...)


CENTRO PARANAENSE FEMININO DE CULTURA

Garimpando, numa enciclopédia, encontrei a mais brilhante de todas as pedras preciosas que o homem tem conhecimento, e, por sorte, era a que eu tanto buscava para incrustar no meu trabalho.

Minha mente, tão logo, embarcou numa nave de sonhos e fez-me flutuar, num local bastante ensolarado. Parecia eu estar com uma velha bateia, e, nela, uma multidão de cascalhos, negros e toscos cascalhos, trepidando, pelo balançar fremente de minhas mãos, de repente, ali, frente àquele rudimentar berço de esperanças, apenas nós dois, eu e o dia, a vislumbrarmos um minúsculo ponto de luz...

Na plateia, um gáudio clima de expectativa. Os lugares quase tomados. A maioria eram mulheres a dar vida àquela tarde festiva. Todas elegantemente vestidas. Em seus andares irrequietos, teciam os felizes reencontros.

No palco, um piano de cauda, negro como o carbono, contrastando com suas teclas alvacentas; no silêncio de suas cordas, apenas o murmúrio das vozes; ao centro, uma mesa coberta por uma toalha de cerimônias, sob um microfone e uma jarra de água, ambos, à espera da presidente da instituição. Um arranjo de flores oferecia um toque de distinção e alegria ao ambiente.

A plateia, na penumbra - o palco, iluminado, A cerimônia iniciara com a apresentação das personalidades culturais da cidade. A sobriedade da anunciante contrastava com a ansiedade dos convidados.

Uma senhora impecavelmente vestida, chegava à mesa diretora, na expectativa de principiar a leitura central do programa. Num segundo, sua face empalidecera, deixando-a, levemente, com ar de preocupação, pois, ali, percebera, em silêncio, que a última página do que deveria ler lhe escapara. Era o desfecho de sua mensagem que havia escrito na noite anterior. Talvez um zéfiro brincalhão e fugidio tivesse levado a última folha para o infinito. Iria, provavelmente, ler no céu, junto a outras estrelas, que, certamente, não estavam ali... Restou-lhe um ínfimo ponto de angústia que, rapidamente, se desfez. Ninguém havia observado tal fato. O sorriso daquela mulher marcava, levemente, a alegria e a felicidade de estar ali, contando um pouco de uma grande história. Parecia deslizar em palavras, uma verdadeira epopeia. Um pincelar da trajetória daquela entidade que comemora, neste ano, o seu septuagésimo quinto aniversário.

Iniciou a sua fala com a leitura e encerrou, com muita dignidade e competência, o que o papel lhe havia ocultado, sem demarcar alguma diferença entre a leitura pré-estabelecida e a fala improvisada. Havia, nela, um certo brilho. Havia algo de espiritual, iluminando aquele momento. Parecia que centelhas dos céus estavam ali a aplaudir o que acontecia.

"Saudade! Deixa um pouco de si.., leva um pouco de nós..."
Odete Naufall Fruet


A pedra que tanto procurava, estava registrada como um precioso mineral de profundo brilho, formado por carbono puro cristalizado. Recebeu o nome de diamante, por conta do grego, adámas - antos: inflexível – indomável, considerado imperecível, justamente por não haver nada comparável a sua dureza. Da sua beleza e raridade provém ser a mais cobiçada e estimada de todas as pedras, O lançamento do livro fora anunciado e, também solicitada a presença da competente escritora e coordenadora da obra. Outra dama aparece; dessa vez, Vera Buck, uma verdadeira esmeralda a receber o primeiro exemplar. Na página em que a presidente da casa, Chloris Casagrande Justen, faz a apresentação do livro, alguma coisa me sugere a continuar o meu garimpo:

"O livro aqui está, a jóia que todos esperavam:
Na sensibilidade do olhar, na versatilidade das palavras,
nos múltiplos dons que enriquecem o espírito,
a essência da vida e dos tempos,
a jornada inteira do Centro Feminino".

Os pensamentos viajam. A mente voa. O local é a escadaria da Catedral de nossa Curitiba, ainda com sombras de cidade provinciana, em que a mulher ainda deveria ficar no âmbito doméstico, apenas gerenciando a casa.

"Na penumbra da ribalta, vultos se encontram no retecer de uma história".
Ceres De Ferrante


Três jovens moças, com ideias voltadas para o alto e para o futuro, decidem abrir clareiras para tornar os caminhos da mulher mais justos e humanos, e fazer delas, mais um importante instrumento social e cultural, paralelo ao trabalho do homem.

"... a saudade não é acorrentadora e sim um sentimento de uma beleza infinita porque é a evidência de que amamos e fomos amados".
Flora Camargo Munhoz da Rocha


O ano de 1933 foi realmente inspirador. O Centro Paranaense Feminino de Cultura é fundado, abrindo suas portas, ainda numa modesta casa. E na escuridão da caverna do tempo, um clarão de luz. A gestação, a descoberta, a lapidação contínua. As pedras ainda dormiam na brutalidade de seu ser. Sem forma, bruta e espetacularmente negra, tal como a noite, quiçá, salpicada de pontos luzentes. Muitas pedras Jaziam nos caminhos, outras acordavam, nas delicadas mãos dessas três jovens idealistas. As dificuldades escondiam-se entre pedras e cascalhos, A perseverança e o porvir de suas mentes desobstruíam os caminhos, para passar a esperança. A alma sofrida pelas diferenças sociais, iluminava-se com o espírito de luta e determinação.

''Do longo sono secreto na entranha escura da terra, o carbono acorda, diamante!"   
Helena Kolody


O tempo correu. Correu, carregando, no ventre prolífero, muita energia e determinação; pelas veias, corriam a adrenalina de seus ideais, em cada gesto de cansaço, pelas noites mal dormidas, a abertura do sorriso a cada amanhecer; o suor da perseverante luta passou a ser o bálsamo da vontade, da união, da sensibilidade dessas mulheres fortes e gentis, que, sutilmente, traçavam objetivos fiéis aos seus sonhos. Não eram mais três. Eram muitas mulheres, unidas pelo encalço de um futuro promissor.

Os sonhos voaram. As sementes foram suavemente plantadas pelas delicadas mãos e pelos desafios planejados. A colheita tornou-se realidade. Incontáveis aquelas que seguiram seus rastros, na fragrância das flores que orlavam seus caminhos. Muitas pedras toscas serviram de degraus para a íngreme caminhada. Todas essas deusas humanas, uma a uma emprestaram suas forças, incontinente, sem pedir ao tempo uma espera. Todas prestaram seus serviços para a construção dessa verdadeira jóia cultural e social.

"Enfrentou perigos, carregou pesados fardos, correu, recolheu as pedras, vitórias festejou".
Dária Farion

Hoje, estende-se, à história desse templo de cultura, um valioso colar humano; humano e feminino, resistente e insuperável, que atravessou o tempo, através de um trabalho árduo e persistente de verdadeiras garimpeiras, frágeis no aspecto, bravias, corajosas e fiéis nas atitudes.

Cada pedra, uma lapidação - cada sonho, uma canção - cada noite em claro, a luz de um novo dia a iluminar novos caminhos - a cada pranto de impossibilidades, a força e o sorriso das vitórias; mãos calejadas por empunharem a força sobre esmeril - um árduo trabalho realizado; no gáudio de cada conquista, o luzir de cada lágrima a rolar num rio fecundo e transbordante.

"A própria água tem memória; jamais se apaga uma história".
Kathleen Muller

O que nos sugerem estes nomes que formam o desenho abaixo? O que essas palavras interligadas querem retratar no contexto?
-

HOPE
DRESDEM
CULLINAN 1
ESTRELA DO SUL
KOHL I NOOR
FLORENTINO
HOPE
 
-
Existe um paralelo e muita simbologia, num trabalho quase artesanal, incrustando no texto, uma ideia diferente de montar esta crônica. Quase a mesma coisa, seria enumerar aqui todos os nomes enfileirados, no decorrer de todos esses anos, para homenagear a cada uma, assim como, contar pedra por pedra que cobre e veste essa vereda...

Rosy Pinheiro Lima
llnah Secundino
Deloé Scalco -

Além dessas primeiras, outras, igualmente, fizeram brilhares caminhos tortuosos, como Presidentes e administradoras do Centro, assim como todas as mulheres que compõem o Livro dos 75 anos; a cada página, um retrato e uma história fulgurante de um trabalho da brilhante trajetória, desse templo de glórias, que se transformou numa verdadeira preciosidade, que deve servir de exemplo para as gerações seguintes.

As palavras estranhas acima, sugeriam também colocarmos nesta mensagem os muitos nomes que iluminaram e iluminam esse Templo Cultural, mas seria injusto se, porventura, omitíssemos algum deles,..

Então, todas sintam-se abrilhantadas e identificadas, nas entrelinhas desta crônica, já que a maioria reluz, no livro alusivo ao Jubileu de Diamante. Àquelas que, por razões diversas, não constam do Livro, cintilam nos anais da historia heróica deste Centro.

É apenas uma singela homenagem do Centro de Letras do Paraná, através de sua Revista, ao Centro Paranaense Feminino de Cultura, pela glória de galgar um importante espaço, na sociedade cultural paranaense, e alcançar, com méritos, tal tempo de vida, e, sem sombras de dúvida, há, ainda, muito espaço a seguir, muita saúde e, disposição, muito espírito de luta, para poder transpor as tantas caminhadas e batalhas, nos infindáveis anos de vida que hão de vir e porvir pela frente, lembrando que, muitas empresas comerciais, com situações vantajosas e privilegiadas dentro do Estado, com o poder nas mãos e com nomes importantes, feneceram, no meio de seus caminhos, cujos dossiês nos contaram, ter sido, entre tantos fatores, a falta de união, a ganância e a incompetência, sinais que sublinhamos com brilho, às equipes desse Centro.

Assim, ao compormos esta ideia, tecemos um paralelo verdadeiro entre linhas, medidas, pesos, quilates, qualidades, fatores, sonhos, sentidos, ideais e sentimentos, e pudemos definir o valor existente entre o ser matéria e o ser humano, que, simbolicamente, registra este encontro.

"Amizade, troca muda de bem querer, calor humano, mão que se estende, afaga e apoia".
Juril De Plácido e Silva Carnasciali


Desta feita, podemos concordar que o ser humano consegue lançar, com coragem, o seu coração, na igual velocidade de sua mente, onde há respeito, determinação, amor, união, liberdade de expressão e visão. Assim, pode agitar a sua bateia, esmerilhar tantas quantas pedras forem preciso, para transpor seus caminhos; sulcar a profunda rocha e defender todos os anseios, na busca de seus ideais, não importando as demais condições humanas, como cor, raça, idade, sexo...

E assim, o Centro Paranaense Feminino de Cultura, a primeira entidade feminina a desfraldar a bandeira da liberdade de trabalho, de escolha e de luta, pelos anelos de uma melhor e mais justa sociedade cultural, conseguindo incrustar na História do Paraná, em especial, de Curitiba, o brilho incalculável, pela dureza do caráter e pela imperecível vontade de lutar, em favor do bem.

"A cultura paranaense é pujante... e vai em frente!"
Marita França


E a doce senhora, que à mesa diretora pronunciava o seu discurso, numa mensagem de gratidão a todas aquelas mulheres ali presentes e ausentes, iluminava, de certa forma» aquele momento tão esperado, que se cristalizou na memória de todos, como um ponto de referência, de resistência e de amor, representando as demais, num elo, entre o que passou e o que, virá, transmutando tudo, numa corrente, numa oração, e que iluminada pela razão e pela luz de Deus, parecia ser um verdadeiro diamante:

Chloris Casagrande Justen

Mas ela não estava só - muitos nomes, muitas vidas, algumas vieram antes, outras foram juntando-se ao comboio e se fortalecendo e, a cada gestão, vêm deixando lições para novos pensamentos, novas mentes, outros ciclos, sempre com o espírito de alegria,

"Rir como se fosse eterna primavera... como se eu pudesse adormecer entre flores,.."
Janske Schelenker


E o trabalho e o tempo, em suas vidas, trouxeram o Jubileu de Diamante, marco determinante entre o passado, o hoje e o sempre, graças à força e determinação de todas, somadas aos seus nobres sentimentos, por causas igualmente nobres, justas e humanas, que só engalanam e valorizam a própria causa e todos os nomes que as produziram, numa contínua corrente de elos humanos, como um colar feito pelos diamantes de suas almas e pelo luzir de seus espíritos.

"Valorize a alegria sã que transcende problemas e conquista espaço diante dos revezes da vida"
Leonor Lezan


Assim, valemo-nos da simbologia, numa viagem misteriosa entre a literatura, a poesia, a cultura, o trabalho intuitivo feminino, o trabalho de força braçal masculino, a competência, a inteligência e a sensibilidade de ambos, e todos os mistérios profundamente escondidos no universo mineral, concluindo que, a humanidade pode levar um tempo para colher os frutos de seu trabalho, pode levar segundos também; levando em conta que a natureza tem ciclos diversos, atravessa eras inteiras de transformações, mas a geração de um diamante é milenar...

"É ponto pacífico, o valor literário não tem sexo".
Nilcéa Romanowiski


Abaixo, prestamos informações alusivas aos mais famosos diamantes do mundo, lembrando o desenho em forma de um diamante lapidado, anteriormente disposto e, composto por estas denominações:

Dresden, 41 quilates, de 1700, pertenceu a Augusto, o Forte, Duque da Saxônia e atualmente encontra-se no Hall Verde, em Dresden, Alemanha.

Hope, 44,5 quilates, diamante lapidado que apareceu à venda em 1830,tendo sido adquirido por um banqueiro de nome H.T.Hope. Conta a história que este diamante foi roubado e relapidado e passou por muitas mãos,Hoje, encontra-se no Smithsonian Institution, em Washington.

Cullinan 1,530 quilates, lapidado do maior diamante encontrado pelo homem,da empresa de mineração Thomas Cullinan. Adorna o cetro de Rei Eduardo VII e é chamado também como Estrela da Africa.

Koh-I-Noor, 108 quilates, originalmente uma pedra redonda pertencente a um rajá da índia e adquirido pelo Xá da Pérsia (Irã) em 1739 que o denominou Montanha de Luz, pelo seu intenso brilho, significado do nome. Passou por várias rainhas, daí para a Rainha Eiizabeth e hoje está na Torre de Londres.

Xá, 88 quilates, proveniente da Índia, contendo três inscrições de nomes de monarcas, entre eles, o Xá da Pérsia, oferecido ao Grande Czar da Rússia, hoje guardado no Kremlin, Moscou.

Florentino, 137 quilates. O início de sua história mergulha em lenda. Em 1667, pertenceu à família dos Médicis, de Florença, daí o seu nome. Seu paradeiro é desconhecido, desde a primeira Guerra Mundial.

Estrela do Sul, 50 quilates, o famoso pingente, em forma de coração, que sugeriu o romance da tragédia do Filme Titanic.

Fonte:
Revista do Centro de Letras do Paraná. n.53. Curitiba: Progressiva. agosto 2009.
Imagem = rosto de Chloris Casagrande Justen no Diamante Koh-I-Noor, 108 quilates,

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