domingo, 19 de janeiro de 2014

Nilto Maciel (Contistas do Ceará) Beatriz Alcântara

Maria Beatriz Rosário de Alcântara nasceu em Fortaleza, Ceará. Filha de pais portugueses, passou a adolescência em Portugal. Licenciada em Letras pela Universidade Federal do Ceará e Mestra em Literatura pela Universidade de Brasília. Professora da Universidade Estadual do Ceará. Integrou o Grupo Seara de Literatura e pertence ao Grupo Espiral. Membro da Academia Cearense de Letras, Academia Fortalezense de Letras e da Academia de Letra e Artes do Nordeste Brasileiro. Poeta, ensaísta e contista. Publicou, de poesia e ensaios, os livros La Revolte Positive de Simone Beauvoir (1973); Fernando Pessoa e o Movimento Futurista de Álvaro de Campos (1985); La Parure; A Academia Brasílica dos Esquecidos (1993); Água da Pedra; O Portal e a Passagem; Raízes do Tempo; Folha de Prata e Livre Sinfonia; além do livro de contos Daquém e Dalém-Mar (1993). Participa também de diversas coletâneas, como da Revista Seara, Revista Espiral, O Livro da Ajebiana, Contos Correntes e Antologia do Conto Cearense, dentre outras.

                Daquém e dalém-mar é o livro de estreia de Beatriz Alcântara no gênero conto. Para Moreira Campos, prefaciador do volume, “impõe-se a obra, de logo, pela linguagem trabalhada, limpa, corrente e pelos vários temas de que se vale (são 16 contos, ao todo, 4 portugueses e 12 brasileiros), o que testemunha a imaginação fértil da autora”. Em “Mito rei” o leitor testemunha o velório da jovem Abigail, que “morreu daquela queda besta na calçada quando saltou do lotação” e “bateu com a cabeça no meio-fio”. Trata-se, na verdade, de conto de duplo enredo. A morte e o velório da moça seriam meros artifícios para a entrada em cena de outro personagem, cuja história se vai contanto (pelo narrador onisciente), enquanto se desenvolve o diálogo entre mãe e filha (prima da morta). A chegada do desconhecido instaura o mistério na sala (e no conto). Aliás, o mistério é uma constante neste livro. “Cortejos e avisos” é um conto misterioso, elaborado a partir de sonhos, pesadelos e premonições da narradora.

                Segundo Moreira Campos, “são múltiplos os caminhos da autora. Ora se envereda por experiências filosóficas, como no conto Monólogo da Coisa, ou não esquece o fantástico, o extraordinário, particularmente no conto Cortejos e Avisos. Ora se faz hermética, submersa, irrevelada, deixa ao leitor capaz a tarefa de preencher vazios. Um outro elemento de modernidade em Beatriz Alcântara é o conto curto, breve, um “flash”, mancha”. Uma das peças é constituída somente de diálogos; outra é um monólogo, espécie de apólogo.

                É forte a presença feminina nos contos de Beatriz. A protagonista Potyrama de “No divã” inverte os papéis de paciente e analista, ao “analisar” o psicanalista. Maria, da história que leva o seu nome, é outra personagem interessante, embora de feitio diferente de Potyrama. Enigmática, chega ao vilarejo da Taiba (litoral do Ceará), encosta “seus poucos pertences em cima da gruta, debaixo de um coqueiral”, e ali vai vivendo.

Fonte:
MACIEL, Nilto. Contistas do Ceará: D’A Quinzena ao Caos Portátil. Fortaleza/CE: Imprece, 2008.

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