quarta-feira, 12 de março de 2014

Débora Novaes de Castro (Livro de Poemas)

MARIAS
 

Ó Maria,
cheia de graça,
não a divina, mas
Maria, da praça.

De tardezinha,
faces rosadas,
Marias na praça.

Maria, Maria,
não Santa Maria,
mas a doce Maria
tão rica de encantos,
nos volteios
da praça!

FRUTA-PÃO

Fruta, cipó,
índio, tacape,
pajé, pajelança,
oca, maloca,
milho... biju...
mandioca...

fogo, tição,
verde da folha,
tanga sem canga,
ponta de flecha,
indio que pesca
peixes com
lança...

caça, cocar
tupi-guarani,
mata, machado,
serra que mata,
menino acuado,
água... cipó...
fruta-pão?

MENINA DE TRANÇAS...
(Hom. ao Dia da Mulher)

Menina formosa,
dize teu nome:
Maria, Rosa, Isabela,
Ana, Rosani, Mariana...
mas dize-o agora,
menina feitiço
dos laços e fitas,
Dináura, Soraya,
Daniella?

Menina de tranças,
menina dengosa,
dize teu nome:
Delma, Ana Paula,
Neusa, Taís, Manuela,
 dize-o depressa
que o tempo tem pressa
e enreda teus sonhos,
sonhos de amor.

Menina de agora,
amanhã flor donzela,
se por capricho
ou mimos de flor
não dizes teu nome
de flor batizada,
na natureza,
teu nome é
M u l h e r!

SETEMBRO...

Quando Setembro vier,
em sua nave colorida
e perfumada,

serei mais espanto que luz,
mais esperança que o verde,
mais doce que o mel,
mais feliz que o rosal,

verei, deslumbrada,
os vitrais da catedral

e, de asas quebradas,
verei a Primavera partir
para recompor, noutros ares,
nova orquestração
de amores!

PREÇO DO SONHO

Se sonho
fosse mercadoria,
talvez se procedesse
assim:

Hei, você.
Quanto custa o sonho?

Não custa nada.
Pode sonhar.
mas não esqueça
a conta...

sonhos,
não custam nada.
O que se paga
é consultar.

SIGNO DO SOL

Enquanto
houver estrelas
nos olhos das crianças

o chão embrutecido
florescerá sob o signo
do sol, e haverá
esperança!

MORRE UM POEMA

A febre de escrever,
escalda-me a face...

ardo no silêncio,
crucificada no tempo,
de que nem sempre disponho
naquele justo momento...

e mais um poema se perde
na pedra sacrificial
da lágrima não
derramada!

RELÓGIO DE AREIAS

Pela janela aberta
vejo passar os sonhos.
São belos frutos maduros
polpudos...suculentos
tentando do lado de fora.

São lépidos, trigueiros,
brejeiros sonhos-romãs.
São alvas mãos pequeninas
tecendo coroas de virgens
pra festa de casamento.

Pela janela aberta
vejo passar os anos.
Eles fluem tão depressa
como um relógio de areias,
como um final de oração.

Fecho então a janela.
O sono é minha unção.

ANDARILHA

Caminho
dentro de mim...

Palmilho
o labirinto usual
de todos os momentos
possíveis e impossíveis
na descoberta da pedra
sofismal da vida.

Ao pensar
tê-la encontrado,
fantasmagórica miragem.
Desvencilho-me do espanto
retomo a caminhada.

Fonte:
Recanto das Letras

Um comentário:

Débora Novaes de Castro disse...

Maravilhei-me com a arte contendo poemas de Débora Novaes de Castro!
Obrigada, é muito pouco para tanto zêlo e carinho na divulgação dessa ricolta de versos de minha autoria.Amei todos eles, recordando quando de sua criação e publicação em livro.
Meus cumprimentos e agradecimento ao PAVILHÃO LITERÁRIO CULTURAL "SINGRANDO HORIZONTES.
Débora Novaes de Castro
www.deboranovaesdecastro.com.br
e-mail: debora_nc@uol.com.br