sábado, 1 de março de 2014

Teófilo Braga (A Paraboinha de Ouro)

Recolhido no Algarve

Era de uma vez três irmãs, que viviam juntas; a mais nova punha à janela uma bacia com água e ali vinha espanejar-se um passarinho, que era um príncipe encantado, que falava com ela.

As irmãs tomaram-lhe grande inveja, e procuraram jeito de acabar com as conversas; espreitaram e viram o príncipe, e meteram na bacia de água muitas navalhas de barba.

Quando ao outro dia veio o passarinho lavar-se, cortou-se e foi-se embora; a pequena veio à hora do costume, e o passarinho não aparecia; só quando olhou para a água e a achou cheia de sangue e com as navalhas de barba, é que compreendeu a traição das irmãs.

Foi por esse mundo além, perguntando se alguém sabia onde estava o príncipe encantado; até que chegou a casa da Lua. A mãe da Lua disse-lhe:

– Ai menina, que vem aqui fazer? Se o meu filho a acha cá… Olhe que ele tem uma cara muito zangada.

A menina sempre lhe contou o que queria, e a velha escondeu-a e disse-lhe que havia de perguntar ao filho, onde é que estava o príncipe. Por fim entra a Lua, muito zangada, dizendo:

– Cheira-me aqui a fôlego vivo.

A velha lá sossegou a Lua, e perguntou o que a menina queria; respondeu a Lua:

– Eu sei lá dele! Todos os que estão doentes me fecham as janelas assim que anoitece! O Vento é que há de saber.
   

A mãe da Lua deu à menina uma paraboinha de ouro, e ela foi ter à casa do Vento. A mãe do Vento também perguntou ao filho, e ele disse:

– O príncipe está muito longe e eu já lá cheguei, mas como está doente fecharam-me todas as janelas. O Sol é que sabe onde é que o príncipe está.

A menina foi-se embora, e a mãe do Vento deu-lhe uma roca de ouro cravejada de diamantes. Até que chegou à casa do Sol; a mãe tratou-a muito bem, e nisto entrou o Sol muito radiante e alegre, e disse onde é que estava o príncipe, e ensinou-lhe o caminho. A mãe do Sol deu-lhe um fuso de ouro.

A menina chegou defronte do palácio e sentou-se, mas estava tudo fechado. Puxou da sua paraboinha e pôs-se a enrolar. As criadas do palácio viram aquilo e foram-no dizer à rainha, que lhe mandou dizer que queria comprar aquela paraboinha. Ela respondeu:

– Só se me deixarem entrar no quarto do príncipe.

E pôs para o lado a paraboinha, e começou a fiar na roca de ouro cravejada de diamantes. Foram dizê-lo à rainha, e ela tornou a mandar-lhe pedir que lhe vendesse a roca e a paraboinha; a menina respondeu, que só se a deixassem entrar no quarto do príncipe.

A rainha quis, e a menina foi ter ao quarto aonde estava o príncipe doente e cheio de feridas. A menina chegou-se ao pé da cama, falou-lhe, e ele conheceu-a; contou-lhe então a traição que as irmãs lhe fizeram com inveja.

O príncipe ficou muito contente com a verdade e melhorou de repente, contou tudo à rainha e casou e viveram ambos muito felizes.
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Paraboinha =Aparelho em forma de carretel para enrolar fios.


Fonte:
Contos Tradicionais do Povo Português

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