segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Falece o Poeta Catarinense Luiz Eduardo Caminha


Luiz Eduardo Caminha (1951 - 2015)
Luiz Eduardo Caminha era médico nascido em Florianópolis em 04 de outubro de 1951, dia de São Francisco de Assis, recebendo o grau de médico, em 1976, pela Universidade Federal de Santa Catarina. Fez Residência Médica em Cirurgia geral e Colo-Proctologia no Rio de Janeiro e Pós Graduação em Londres e Wiesbaden (Ex-Alemanha Ocidental). Em 1982, transferiu-se para Blumenau. Membro da Sociedade de Escritores de Blumenau – SEB e fundador do Capítulo Santa Catarina da SOBRAMES – Sociedade Brasileira de Médicos Escritores.
    Sua paixão por escrever vem dos tempos de Primário, quando ainda se ensinavam aos alunos o que era uma descrição, uma interpretação, uma composição, mas aflorou em 1970 quando da aula magna proferida pelo poeta Lindolf Bell, no Curso de Artes e Comunicação da Universidade Federal de Santa Catarina. Pensava em fazer Jornalismo, mas, com a transferência do Curso para Porto Alegre, desistiu e prestou novo Vestibular para Medicina. Foi Presidente da Associação Médica de Blumenau no biênio 1992/93, Secretário de Saúde de Blumenau entre 1993 e 1996, Presidente do Conselho Estadual de Secretários Municipais de Saúde de 94 a 97 e Vice-Presidente do Conselho Nacional de Secretários Municipais de Saúde de 93 a 97.
    De 1985 a 1989, editou, sozinho, o Jornal “Clarins do Vale”, impresso nas oficinas da Fundação Cultural de Blumenau. De 1989 a 1992 foi produtor e apresentador do Programa Canal Livre no Rádio, na então Rádio União AM, Rede Fronteira de Comunicação de Blumenau. Entre 1999 e 2002 produzia e apresentava o Programa Feliz Cidade, na TV Galega, desta mesma cidade. Desde Abril de 2000 produziu e apresentou o Programa Stammtisch, na mesma emissora. Foi através deste Programa que se iniciou o resgate da tradição dos “stammtische”, em Blumenau e região. Como tal, foi um dos articuladores dos Encontros de Stammtisch (Strassenfest mit Stammtischtreffen).
    Seu conhecimento e pesquisas sobre esta tradição germânica motivaram-lhe lançar um Sítio na Internet denominado “Stammtisch, Confrarias e Patotas” http://www.stmt.com.br, em 23 de Dezembro de 2005. Desde Abril de 2006 tal site situa-se no 1º. Lugar entre todas as referências mundiais para o termo “stammtisch” nos principais sítios de busca do mundo (Google, Yahoo, Cadê, MSN Buscas, entre outros). Só no Google são mais de seis milhões de referências para o termo.
    Seu primeiro livro, de poesias, intitulado “Reflexos”, foi editado em 1995. Em 1997 foi co-autor da Coletânea “Florilégios Poéticos” da SOBRAMES. Em 2005 participou da II Antologia da Sociedade Blumenauense de Escritores.
    Em 2006 teve quatro de seus contos/crônicas e três poesias pré-selecionadas no II Concurso Literário Guemanisse de Contos e Poesias.
    Ainda neste ano teve mais dois contos e duas crônicas selecionados no III Concurso Literário Guemanisse de Contos, Crônicas e Poesias. Recentemente sua crônica “Felicidade”, aqui apresentada, classificada em 2º. lugar no II Concurso Literário da Sociedade de Escritores de Blumenau (Poema, Conto e Crônica) – Edição 2006.
    Participou também da III Antologia da Sociedade Blumenauense de Escritores, em 2006 e da Antologia Asas e Vôos da Editora Guemanisse, Rio de Janeiro, com os autores dos textos selecionados no Concurso Literário Guemanisse de Contos e Poesias. Em Agosto de 2005 passou a integrar a comunidade virtual Novaliteratura.com.
    Desde Julho de 2006 pertenceu ao quadro de Escritores do Portal CEN “Cá Estamos Nós”, da qual participou de seu II Encontro, na cidade do Rio de Janeiro.
    Membro da Academia de Letras do Brasil/Blumenau.
    Faleceu em 29 de Agosto de 2015.

Fonte:
http://www.avspe.eti.br/

Luiz Eduardo Caminha (Caderno de Poemas)

https://nuhtaradahab.files.wordpress.com/2013/09/7bbfc-luizeduardocaminha.jpg 
LIBERDADE, LIBERDADE!

Um caniço na beira do lago, uma voz no deserto, um uivo na escuridão, sei lá, não importa. Não me curvo com o vento, o deserto não me cala (mesmo que ninguém me ouça!), as trevas não me amedrontam. Então: brademos!!!
Liberdade, liberdade!

Não me ponhas normas,
Preceitos, nem regra.
Depois de tanta refrega,
Não hei de obedecer!

Não me imponhas grades,
Grilhões, nem cadeia.
Depois de tanta peleia,
Não hei de me prender!

Não me coloques canga
Ferros, nem algema.
Depois de tanta pena,
Não hei de fenecer!

Não me cales, enfim,
Nem queiras qu’eu fique mudo.
O que sobra do meu mundo imundo,
É o meu jeito de dizer!

Liberdade, liberdade,
Ainda que seja tarde.
Ainda que duvidoso,
O porvir, o alvorecer!

Minha voz é filha do silêncio,
Minha escrita, enteada do vento,
Minha vida é um curso d’água,
Minha vocação, um oceano!


VELEJADOR

Um barco.
Uma vela (branca).
Uma aragem.
Oceano.

Lá se vai,
o poeta velejador!

Um lápis.
Uma folha (em branco).
Um sopro.
Pensamento.

Lá se vai,
velejando o poeta!

Mar.
Vela.
Folha.
Versos.
Tudo se lhe assemelha!

Um remo.
Um lápis.
Um, quase nada.
Outro, quase tudo.


OUTONO

O compasso da vida
Me abre os olhos,
A bruma cobre,
Densa, silente,
O leito do rio,
A roupagem da mata.

A brisa fresca da manhã,
Faz a pele aquecida,
Contrastar com a natureza,
O calor do corpo, da noite.

A vida,
Parte deste ar outonal,
Desperta alegre,
Aos primeiros raios,
Do astro rei.

Num cochilo do tempo,
De repente,
Como se um hiato houvesse,
A névoa some,
A mata descortina seu verde,
É manhã.

O céu azul límpido,
Perpassa à bicharada,
A onda cálida,
Do novo dia.

A sinfônica dos pássaros,
A voz dos bichos,
A melodia das águas,
Serpenteando a corrida do rio,
Misturam-se ao som,
Barulho da cidade.

O tempo passa,
A tribo humana,
Segue seu passo.
A natureza aguarda,
Como mágica,
A volta do crepúsculo,
O sumir do novo dia.


AMIZADE

Uma estrada que acaba,
Num ponto do horizonte.
Um cais que finda, no infinito
Que é mar,
Um feixe doirado refletido. Do sol.
No oceano sem fim,
Uma canoa, um pescador. Solitários,
Solidários navegam.

Como guia o feixe prateado.
Da lua,
O luar.

Tudo, tudo é infinitude,
Tudo, tudo leva. (Todos).
A algum ponto. Distante.
Horizonte de esperança.

Um fio, como se fosse de espada,
Conduz, passo a passo.
Qual equilibrista,
Na corda de arame.

Certeza mesmo, uma só.
Haverá lá no fim,
Alguém.
Um amigo,
Um abraço,
Um ombro,
Um teto a nos colher.

Amizade.
Um meio?

Um fim.

NATAL MENDIGO

Natal lembra um novo rebento,
Esperança que o mendigo sente
Triste alegria que se faz semente
Fé convertida, novo advento.

Natal estrela que lhe alumia
Por mais que lhe sofra a dor parida
Molhe o rosto a lágrima furtiva.
É menino, caminho que nos guia.

Natal é partilha do pão dormido
Que aplaca a fome do desvalido.
É felicidade quase certa.

Até que soe o sino da manhã,
Que volva mendaz a esperança vã.
Sonho vai. O mendigo desperta.


RAÍZES

Que seja ela,
A poesia,
Firme como a árvore.
Embora estática
Finca raízes,
Suga da terra…

E mostra, um dia
Nas folhas e frutos,
A razão que a move.

Que exprima ela,
A poesia,
Como a árvore,
Da seiva, o fruto.
Rabiscos de letras,
Amores e paixões,
No leito virgem, papel,
O seu doce cantar.

Sobretudo,
Que seja ela,
A poesia,
Como a água
Que se move
Corredeira abaixo.
Busca mar oceano,
Onde singram velas,
Horizontes sem fim…

FONTES

Lua cheia,
Estrelas que faíscam,

Sol nascente,
Poente eterno,

Fontes inspiram,
Respiram,
Poesias.


SONHOS

Estás louco poeta?
Queres tu imaginar,
Que o imponderável
Acontece?

Sonha, sonha, oh! Poeta.
Ainda bem que dormes,
Melhor: existes.

E sonhas…
Poesias!

PRENÚNCIO DE VERÃO
Que os ventos de Agosto,
Tão frios cá no Sul,
Tragam breve, a gosto,
O céu de Primavera, azul.

Pássaros a cantar,
Ninhos a fazer, então,
Amores a desbravar,
Prenúncio de verão.


POEMÍNIMO
 

no
sul
é

frio
que


quiçá
saudade
do
verão

é
tão
frio
que
não

pra
mim
mas

um
bom
surf
prá
pinguim

RODA DE VIOLA

O som,
Enche de romantismo,
O ambiente cálido
Da cantina acolhedora.

Lá está ele,
Cinquenta anos após,
A dedilhar as notas
Que lhe mandam o coração.

Olhos cerrados,
Cabeça inclinada,
Violeiro e Violão,
Misturam-se ao transe,
Da plateia; apoteose.

As mãos,
Aquelas mãos cheias de rugas,
Dedos finos,
Mostram um movimento frenético.

O toque suave,
Compasso a compasso
Sobre as cordas do violão,
Embaraçam solos e harpejos,
Maviosa sinfonia.

A seu lado,
Um copo de cerveja,
Um bandolim afinado,
Uma mesa vazia.

A plateia delira,
Canta contente :
Naquela mesa,
Eles sentavam sempre…


P.S.: Homenagem aos anônimos boêmios, a Jacó do Bandolim e a Velha Guarda, que fizeram da música brasileira, o romantismo, que até hoje, embalou tantas décadas.

REFLEXÕES POÉTICAS OU NADA POÉTICAS SOBRE O INVERNO

Inverno 1


Cruel,
Sisudo,
Padrasto.

De mim?

Carrancudo,
Casmurro,
Sofrido.

Teu corpo?

Se amolda,
Me aquece,
Me envolve,
Me cobre.

Só tu,
Mulher,
Podes ser
Meu Sol!


Inverno 2

Frio intenso.

Na estepe
De minha mente
Nada cresce.

Nem mesmo
Um poema –
Que me aquece –
Que me aqueça!!!

Porventura…

Inverno?
Não rima
Com estéril?

Deveria!

É isto
Qu’ele faz:

Até a mente
Tolda,
Congela,
Nada produz!


MÍNIMO

Tu és,
Mulher,
No
Inverno,
Meu
Sol.
Meu
Verão.


AMENIDADES

Coisas boas do Inverno:
Uma cama bem quentinha,
Um ar quente no máximo,
Um café de pelar a boca


Só prá continuar
Debaixo dos cobertores.

Nada disto é melhor
Que a areia leito de uma praia,
Um Sol de verão,
Uma água de coco bem gelada,
De doer os dentes.


Quem gosta de frio e neve
É pinguim, urso polar e esquimó!


LUA INVERNAL
 
Até a lua,
Amante dos boêmios,
Companheira dos notívagos,
Se acoberta;
Agasalha-se de nuvens,
Névoa,
Neblina;
Esconde-se
Do frio gelado.
Mas está lá!
Pronta, à espera,
O poeta sabe.

ORFANDADE

Eu não imaginava
Ficar órfão tão cedo.
Aliás, eu nunca
Imaginei-me um órfão.

Estou nos cinquenta e oito,
Quase cinquenta e nove,
Primeiro meu pai,
Tristeza, melancolia.
Depois um irmão,
Dor, sentimento.
Mas ainda tinha uma mãe.
O fel da dor compensava!

Daí… ela resolveu partir,
Bateu asas
Como um pássaro,
Uma borboleta
Foi ao encontro dos seus,
Do outro lado.

O velho útero,
Sacrário dos filhos,
Já não vivia.
O cordão umbilical
Definitivamente se partira.
Um silêncio ensurdecedor,
Eco de uma ausência.

Foi aí que senti a orfandade.
Ficou fácil entender saudade.
Tão fácil! Tão amarga!
Sem graça, senti-la!

A Hamilton e Edy, meus pais, 1 ano depois que ela partiu para encontra-lo e reverem, juntos, meu irmão!

ESPECTRO

Foto noturna,
Riscos de luzes,
Rasgos melancólicos,
Soturnas lembranças.

Lúgubres sombras,
Espectros famélicos,
Andanças perdidas,
Descoloridas!

Uma tela disforme
Retrata a fome.
Miséria cansada
Da exclusão.

Quem vai parir o amanhã?
Quem vai colorir a vida?
A Esperança? Último grito de Pandora?
Ou a certeza? Dum triste futuro possível?

A argamassa, massa dos pobres,
Pão amanhecido, amolecido
Pelo suor diário de desatinos.
Faina diuturna, sede insaciável
De Justiça… e Paz, enfim!

Um Sepulcro futuro e garantido,
Repleto de sonhos, sussurros,
(Caiado pela hipocrisia)
Resta como digno descanso!


Fonte:
http://caminhapoetando.blogspot.com.br/search/label/meus%20poemas

Guilherme de Almeida (1890 - 1969)


Guilherme de Almeida (G. de Andrade e A.), poeta e ensaísta, nasceu em Campinas, SP, em 24 de julho de 1890, e faleceu em São Paulo, SP, em 11 de julho de 1969. Filho do jurista e professor de Direito Estevam de Almeida, estudou nos ginásios Culto à Ciência, de Campinas, e São Bento e N. Sra. do Carmo, de São Paulo. Cursou a Faculdade de Direito de São Paulo, onde colou grau de bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais, em 1912. Dedicou-se à advocacia e à imprensa em São Paulo e no Rio de Janeiro. Foi redator de O Estado de São Paulo, diretor da Folha da Manhã e da Folha da Noite, fundador do Jornal de São Paulo e redator do Diário de São Paulo. A publicação do livro de poesias Nós (1917), iniciando sua carreira literária, e dos que se seguiram, até 1922, de inspiração romântica, colocou-o entre os maiores líricos brasileiros. Em 1922, participou da Semana de Arte Moderna, fundando depois a revista Klaxon. Percorreu o Brasil, difundindo as ideias da renovação artística e literária, através de conferências e artigos, adotando a linha nacionalista do Modernismo, segundo a tese de que a poesia brasileira “deve ser de exportação e não de importação”. Os seus livros Meu e Raça (1925) exprimem essa orientação fiel à temática brasileira.

            A essência de sua poesia é o ritmo “no sentir, no pensar, no dizer”. Dominou amplamente os processos rímicos, rítmicos e verbais, bem como o verso livre, explorando os recursos da língua, a onomatopéia, as assonâncias e aliterações. Na época heróica da campanha modernista, soube seguir diretrizes muito nítidas e conscientes, sem se deixar possuir pela tendência à exaltação nacionalista. Nos poemas de Simplicidade, publicado em 1929, retornou às suas matrizes iniciais, à perfeição formal desprezada pelos outros, mas não recaiu no Parnasianismo, porque continuou privilegiando a renovação de temas e linguagem. Sobressaiu sempre o artista do verso, que Manuel Bandeira considerou o maior em língua portuguesa. A sua entrada na Casa de Machado de Assis significou a abertura das portas aos modernistas. Formou, com Cassiano Ricardo, Manuel Bandeira, Menotti del Picchia e Alceu Amoroso Lima, o grupo dos que lideraram a renovação da Academia.
            Em 1932 participou da Revolução Constitucionalista de São Paulo e esteve exilado em Portugal. Distinguiu-se também com heraldista. É autor dos brasões-de-armas das seguintes cidades: São Paulo (SP), Petrópolis (RJ), Volta Redonda (RJ), Londrina (PR), Brasília (DF), Guaxupé (MG), Caconde, Iacanga e Embu (SP). Compôs um hino a Brasília, quando da inauguração da cidade.
            Em concurso organizado pelo Correio da Manhã foi eleito, 16 de setembro de 1959, “Príncipe dos Poetas Brasileiros” (4o do título).
            Era membro da Academia Paulista de Letras; do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo; do Seminário de Estudos Galegos, de Santiago de Compostela; e do Instituto de Coimbra.
            Faleceu em 11 de julho de 1969, em São Paulo/SP.
Obras:
Nós, poesia (1917); A dança das horas, poesia (1919); Messidor, poesia (1919); Livro de horas de Soror Dolorosa, poesia (1920); A flor que foi um homem: Narciso (1921); Era uma vez…, poesia (1922); Natalika (1924); A flauta que eu perdi, poesia (1924); Meu, poesia (1925); Raça, poesia (1925); Encantamento, poesia (1925); Do sentimento nacionalista na poesia brasileira, ensaio (1926); Ritmo, elemento de expressão, ensaio (1926); Simplicidade, poesia (1929); Gente de cinema (1929); Carta à minha noiva (1931); Você, poesia (1931); Poemas escolhidos (1931); Cartas que eu não mandei (1931); Hino paulista (1932); Nova bandeira (1932); O meu Portugal (1933);A casa (1935); Acaso, poesia (1938); Cartas do meu amor (1941); Estudante poeta (1943); Tempo (1944); Poesia vária (1947); Gonçalves Dias e o romantismo (1948); Joca (1948); Histórias talvez (1949); O anjo de sal (1951); Toda poesia (1952); Acalanto de Bartira (1954); Camomiana (1956); Pequeno romanceiro (1957); A rua (1961); Cosmópolis (1962); Rosamor (1966); Os sonetos de G. A (1968); O sonho de Marina (s.d.).
Fonte:
Academia Brasileira de Letras

Trovador Homenageado: Alfredo Alisson Elian Valadares

A minha casa aparenta

o quartel de um batalhão:

- quanto mais a “tropa” aumenta,

mais aumenta a “prontidão”.



A minha vida hoje é feia,

neste exílio que me imponho.

Porém minha alma vagueia

pelas veredas do sonho…



Aquele fantasma, quando

o sono demora a vir,

combate a insônia contando

caveiras para dormir.



A solteirona não nega

a sua satisfação

ao ver que, na Noruega,

'coroa" tem cotação.



Cai a velha na lagoa

sendo a custo resgatada,

mas seu genro não perdoa:

– tanto barulho por nada?!!!             



Em meio às paixões fictícias

de minha vida agitada,

comprei milhões de carícias

e continuo sem nada.





É o maior dos pesadelos

a afligir nossa nação:

- mãozinhas fazendo apelos

por um pedaço de pão.



Hoje, velhinhos que somos,

são nossos olhos em festa,

um santuário onde pomos

toda a ternura que resta.



Morre a sogra tão amada,

mas não muda a situação;

o fantasma da danada

prossegue a sua missão.



Nas veredas do destino

que trilhei quando rapaz,

sonho grande ou pequenino,

deixei tudo para trás.



Nesta vida o que eu queria

(muito embora não reclame)

era ter a mordomia

de um cachorro de madame.



Neste mar de falsidade,

um sorriso de criança

se assemelha, na verdade,

a uma ilha de esperança.



No cemitério a caveira,

entre suspiros bisonhos,

diz que encontrou, prazenteira,

o fantasma de seus sonhos!



No inferno, o recém-chegado

a lamentar seu fadário:

- Tudo por ter espirrado

quando escondido no armário!



O Bem, que a guerra desfaz,

há de colher às mancheias

quem a semente da paz

planta em searas alheias.



Pela seara que lavras

na vida, entre mil boatos,

não te entristeçam palavras

se desprovidas de fatos.



Quanto mais se torna rara

neste mundo a sensatez,

menos frutos da seara

na mesa do camponês.



Quebrado o grilhão do agravo

o júbilo então me invade.

Porém continuo escravo:

– escravo da liberdade.

Quem nasceu com a desventura

de não ver a luz do dia,

do olhar transfere a ternura

para a mão que acaricia.



Sempre que está de pirraça

a mulher do "seu" Vavá,

o pobre, por mais que faça,

tem que dormir no sofá.



Sofre o carteiro, na mata,

um arranjo repentino.

Muita carta, nessa data,

não chegou ao seu destino...



Só quem amou compreende

este ditado exemplar:

– a mulher que a dois pretende,

a três deseja enganar.



Sou da ilusão jardineiro;

e após mil sonhos desfeitos,

trago no peito um canteiro

de desamores-perfeitos.



Um carteiro dedicado,

em um dia de atropelo,

acabou sendo chamado

de relaxado, sem sê-lo!

Aparício Fernandes (A Trova no Brasil) 2. Festival Brasileiro de Trovadores, final





Após o Festival, demoramo-nos em Maringá ainda uns dois ou três dias. O poeta, jornalista e trovador A. A. de Assis, nosso caro amigo e principal organizador do 2o. Festival Brasileiro de Trovadores (contou com a valiosa colaboração da jovem Maria Aparecida Lopes e com o apoio do poder municipal, através do Prefeito Adriano Valente e do Dr. Luiz Gabriel Sampaio, Secretário de Educação e Cultura de Maringá) sugeriu-nos que, sendo um dos poetas participantes do Festival, fizessemos umas trovas sobre a festa, para serem entregues ao Governador Paulo Pimentel, que dentro de alguns dias estaria em Maringá, para assistir às festividades comemorativas de mais um aniversário daquela cidade paranaense. Não podíamos declinar da honrosa incumbência e por isso, dando tratos à inspiração, redigi a seguinte reportagem trovadoresca:
Ilustre Governador
do Estado do Paraná,
peço vênia para expor
o que houve em Maringá.
Como o senhor já sabia,
realizou-se um Festival
que foi um hino à Poesia
e à Trova nacional!
Maringá nos recebeu
– e isto não foi novidade -
com os dons que Deus lhe deu:
– carinho e hospitalidade.
Foi pena Vossa Excelência,
por força de outros labores,
não ter visto a convivência
do povo e dos trovadores.
Senão o Governador,
que também é bacharel,
viraria o trovador
Dr. Paulo Pimentel!
Aliás, se sobressaía
esta bossa das mais novas:
O Secretário Fanaya
já está despachando em trovas!
O senhor, que é o mais “pra frente”
dos jovens governadores,
necessita urgentemente
promover os trovadores.
Nosso ideal, asseguro,
– de paz, progresso e bondade -
é o que existe de mais puro
na atual humanidade!
A trova induz todo mundo
a servir sem ser servil.
E prega um amor profundo
por nossa terra: – o Brasil.
Sem pieguices nem mentiras,
num estilo sempre novo,
nós tangemos nossas liras
em sintonia com o povo.
 
Não foi à toa que o povo
de Maringá, certo dia,
inventou um “troço” novo:
– um comício de poesia!
E em frente à biblioteca,
numa apoteose louca,
a trova virou peteca,
correndo de boca em boca!
Não havia oposição
nem se viu demagogia,
pois falava o coração
na linguagem da Poesia!
No recente Festival,
que de trovas foi fecundo,
houve um fato original:
– a melhor missa do mundo!
A missa, rezada em trova,
ficou linda de verdade.
Com esta vantagem nova:
– comunicabilidade.
Graças ao A. A. de Assis
e ao padre que oficiou,
até um ateu, feliz,
dobrou o joelho e rezou.
 
E qual pérola que encanta
e que vem da ostra doente,
viu-se uma lágrima santa
nos olhos do penitente.
Enquanto isto, as crianças
– favoritas do Criador -
coloriam de esperanças
este quadro encantador.
Finda a missa, se acredita,
e o próprio povo alardeia:
– foi a missa mais bonita
desde que houve a Santa Ceia!
E o que mais a gente admira
na festa dos trovadores
é ver o dr. Akira
enchendo tudo de flores!
Falando do Festival,
também é justo que eu cite
um churrasco genial
que houve em Paranacity.
O poeta Antônio Tortato,
que é Prefeito e é Professor,
sendo homem simples de fato,
tinha de ser trovador.
E se o Tortato nas trovas
é legítimo campeão,
de idealismo dá provas,
promovendo a educação.
Depois nós nos despedimos,
certos de que o Paraná,
por tudo aquilo que vimos,
se orgulha de Maringá!
Obrigado ao trovador
Antônio Augusto de Assis,
o grande planejador
desse Festival feliz!
Ao Coral Municipal
que, no momento preciso,
trouxe para o Festival
os cantos do paraíso.
Pela sua mini-blusa
e a sua graça brejeira,
grau dez para a nossa Musa
Helena Victor Pereira.
Ao Valente, à Aparecida
e ao Gabriel – três valores –
a homenagem merecida
de todos os trovadores.
Ver-nos-emos novamente
noutro encontro fraternal;
se Deus quiser, brevemente,
no próximo Festival.
Para o Paulo Pimentel
fica um abraço dos grandes
deste humilde menestrel
que é o APARÍCIO FERNANDES.
Fonte: Aparício Fernandes. A Trova no Brasil: história & antologia.
Rio de Janeiro/GB: Artenova, 1972

domingo, 30 de agosto de 2015

Trovadora Homenageada: Eliana Dagmar

A certeza que me encanta
e a ti também, certamente,
é saber que a mãe mais santa
será sempre a mãe da gente!
Aplauso é luz de dois gumes...
Cuidado... avisa o teu ego...
O excesso, às vezes, de lumes
transforma o sábio num cego...
As veredas de meu ego
são rotas de um labirinto
que quanto mais eu trafego,
mais perto de mim me sinto!
Chegar longe é quase nada
para aquele que na vida
faz do ponto de chegada
novo ponto de partida.
Com pedrinhas de saudade
uma torre eu construí:
– dentro dela tenho a idade
dos sonhos que já vivi!
Coragem mesmo, de fato,
encontro em cada Maria
que da prole, em raso prato,
mata a fome todo dia!
Da infância ainda guardo viva
a imagem de um lampião:
– era uma estrela exclusiva
num céu tão perto do chão!
De meu pai, desde pirralha,
guardo a lição que hoje entono:
- não há fortuna que valha
a paz que me embala o sono!
Disfarcei, com tal destreza,
minha dor e cicatriz,
que até a própria tristeza
pensou que eu fosse feliz!
Esta certeza me invade
e a vida nunca a distorça:
- Um sorriso de bondade
convence mais do que a força!
Estrela de um brilho régio,
de uma luz que não se esvai;
Luzia - que privilégio!
- foi meu mestre, amigo e pai.
Falso amor, ainda me inspira
tantos versos de saudade...
Que importa se era mentira?
Eu fui feliz de verdade!
Igual penetra faceiro
meu coração sem juízo,
deita e rola por inteiro
na festa do seu sorriso!
Luiz Otávio renova
o perfume que há no verso,
semeando a Rosa da trova
pelos jardins do universo!
Meu reino é coisa tão minha,
é meu lar e onde estiver,
nele sou mais que rainha:
– sou mãe,amiga e mulher!
Meus sonhos tinham outrora
toda a altivez dos pinheiros,
que a serra da vida agora
vem transformando em madeiros...
Meu tesouro é singular,
superlativo e tão pleno...
E, mesmo assim, no meu lar
cabe num berço pequeno!
Nana-nenê... Teus caminhos,
mesmo que excedam meus passos,
ainda cabem todinhos
no aconchego dos meus braços…
Não condenes o delírio
que atiça as paixões humanas;
não perde a pureza o lírio
colhido por mãos profanas...
Não te iluda a fantasia
nem te impressione a bravata:
– há palhaço todo dia
vestindo terno e gravata.
Na solidão da sarjeta,
sob a marquise tão nua,
o sono cobra gorjeta
dessas crianças de rua...
Nem sempre o tamanho ordena
a nobreza de um troféu:
– na manjedoura pequena
coube um Rei maior que o Céu!
No delírio, entre lençóis,
a tua boca encarnada
tem a cor dos arrebóis
invadindo a madrugada...
Olho a estrada percorrida
e reconheço, à distância,
que o respeito pela vida
a gente aprende na infância.
Palavra é força graúda,
mesmo em pequena oratória.
Um bilhete, às vezes, muda
todo o curso de uma história...
Para fugir da saudade
me disfarcei de alegria;
e a danada, por maldade,
pôs a mesma fantasia..
Quanta exceção há na regra
que o adeus, às vezes, constrói:
– pois chegar nem sempre alegra
e partir nem sempre dói...
Senhor Deus, misericórdia,
se, na soma dos meus dias,
tantas vezes fui discórdia
e não a Paz que querias...
Sereno é colcha fluida
que ao cair, abençoada,
cobre a relva adormecida
no berço da madrugada...
Siga, filho, nessa graça
da virtude que o distingue:
– seja o brilho da vidraça,
jamais a mão do estilingue.
Só o amor sabe de cor
esta divina lição:
– nenhuma ofensa é maior
que a grandeza do perdão!
Sou saudade caminhando
pelos pés de uma lembrança,
a todo instante indagando
o porquê de tanta andança...
Torno a vida um fardo leve
porque acredito no amor;
sou palhaço que se atreve
a sorrir da própria dor...
Velhice é a idade de quem
perdeu o brilho do olhar;
é a vida empurrando alguém
que desistiu de sonhar...