sexta-feira, 21 de agosto de 2015

Aparício Fernandes (A Trova no Brasil) 2o. Festival Brasileiro de Trovadores, parte 1

2o. Festival Brasileiro de Trovadores, realizado em abril de 1970, na cidade de Maringá/PR. Na Catedral de Maringá foi celebrada uma missa originalíssima, onde as orações, após serem ditas na forma tradicional, eram repetidas em trovas (de autoria de A. A. de Assis), com fundo musical e vocalização feita pelo Coral Municipal de Maringá.
     A Igreja lindamente ornamentada com flores oferecidas pelo Dr. Akira Oda, dono de uma das melhores floriculturas brasileiras, estava repleta. No entanto, reinava um silêncio impressionante. Muitos dos presentes tinham lágrimas nos olhos. Irmanadas a poesia e a espiritualidade, o resultado foi simplesmente inesquecível. O que ninguém esperava é que o padre Sidney Zanettini, celebrante do ofício, resolvesse também fazer o seu sermão em… trovas! Ei-lo, na íntegra:
Autoridades presentes,
minhas senhoras senhores,
crianças e adolescentes,
caríssimos trovadores!
Perdão eu lhes pediria
pelo pouquíssimo dote
que tem, para a poesia,
este humilde sacerdote.
Mas se, nesta ocasião,
a Trova aqui se sublima,
eu quero abrir meu sermão
tentando fazê-lo em rima.
Aceitem um forte abraço,
carinhoso e cordial,
na homenagem que lhes faço
em nome da Catedral.
Que São Francisco de Assis,
o trovador pobrezinho,
receba agora, feliz,
nossas preces, com carinho!
E que nossa Padroeira,
Nossa Senhora da Glória,
guie a Trova brasileira
numa feliz trajetória!
E que esta jovem cidade,
que é cidade e que é canção,
implante a felicidade
em todos, no coração!
Cantem, poetas, e encantem
a vida de toda gente.
Mas, quando cantarem, cantem
as coisas belas somente.
Cantem pregando a esperança,
falando de paz e amor,
e da bem-aventurança
que herdamos do Criador.
Haja em seus versos a prova
do que é bom fazer o bem!
Que Deus abençoe a Trova
e os trovadores também!
Desculpem-nos recebê-los
nesta velha Catedral.
No ano que vem, vamos tê-los
na outra, monumental.
Reparem que um novo Templo
vai crescendo ao nosso lado.
É o belo e sublime exemplo
de um povo a Cristo irmanado!
Caríssimos trovadores,
o que, porém, mais importa,
é manter para os senhores
sempre aberta a nossa porta.
Uma alegria sincera
sua presença nos dá,
transformando em primavera
este outono em Maringá.
Que Deus lhes dê nesta vida
felizes inspirações
e uma bênção comovida
por suas lindas canções!
Levem às suas cidades,
às suas terras distantes,
muitas e alegres saudades
destes alegres instantes.
Que aqui, da mesma maneira,
as saudades ficarão,
na alegria alvissareira
que as suas trovas nos dão.
Amigos, muito obrigado
por esta oportunidade
de tê-los ao nosso lado
em nossa comunidade.
Voltem sempre a Maringá,
que a vocês estende a mão
e em nome do Paraná
lhes abre o seu coração.
Cantem a paz, a alegria,
cantem cantigas de amor,
que a verdadeira poesia
agrada a Nosso Senhor!
     A missa foi encerrada ao som do Hino dos Trovadores, cantado pelo Coral Municipal de Maringá, letra e música de Luiz Otávio.
     De Curitiba, o Secretário de Educação e Cultura do Estado do Paraná, sr. Nelson Luís Silva Fanaya, causou sensação quando, despachando em trovas, enviou aos organizadores e participantes do Festival a seguinte mensagem:
Ao poeta, cuja imagem
lembra uma eterna canção,
enviamos a mensagem
da Pasta de Educação.
Por que nós, de alguma forma,
também fazemos poesia.
E o Paraná se transforma,
pois a cultura irradia.
O nosso poema é nobre,
porque é feito da criança
que em cada escola descobre
uma trova de esperança.
O Paraná se engalana,
enchendo-se de alegria.
E aos trovadores se irmana
no Festival da Poesia.
A todos vocês que, unidos,
falam de amor e saudade,
queremos, agradecidos,
trazer a nossa amizade.
Queiram todos, neste dia,
aceitar a saudação
de nossa Secretaria
de Cultura e Educação!

Fonte: Aparício Fernandes. A Trova no Brasil: história & antologia. Rio de Janeiro/GB: Artenova, 1972

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