domingo, 17 de janeiro de 2016

Olivaldo Júnior (Papel de pão)

O presente vinha embrulhado num papel de pão. Ao lado dele, um menino, do alto de seus oito anos, aguardava o pai, que entrou na venda do Nhô Chico, voltar com as compras.

A família de Toquito, o menino ao lado do presente, era pobre e morava num casebre à beira da estrada que ligava Serrania com Adonai, duas cidades vizinhas. Família de respeito.

"Não abre o presente, Toco!", disse o pai ao menino um pouco antes de ir à venda. Ai, a curiosidade infantil lhe comia as pontas dos dedos, que formigavam para abrir o pacote pardo!

Toquito fora sempre um bom menino. Já sabia ler e escrever que era uma coisa! O pai e a mãe, analfabetos, sem letras na mão, mal podiam crer que o filho realmente aprendera a ler.

Hum... E se Toquito espiasse o presente pelas dobras mal feitas do pacote sem técnica de embrulho? Ninguém saberia. Mas seu anjo da guarda, que usava chapéu e tudo, estava lá.

O pai demorava muito. Meu Deus, que presente era aquele? O que seu pai comprara que precisou ser embrulhado em papel de pão? Seria pão mesmo? Mas pão era um presente?

Aquele menino sonhava em ter um mero relógio de pulso. Achava lindo ter as horas no corpo e, fazendo pose, como se tivesse mesmo um relógio, dava as horas para os porcos afinal.

Uma vez, com a caneta que a professora emprestou à turma para a aula de Arte, pintou um relógio no pulso e, na hora do banho, noites e noites, não o lavava bem, para não sair.

Finalmente o pai saiu da venda. Pedindo ajuda para o filho, quase se esquecera do presente devidamente embrulhado em papel de pão. Não lhe daria o presente mais não? Ora!…

Chegando à velha casa, pacote na mesa, o pai pediu, Toquito atendeu. Desembrulhava o presente com afoita avidez, como quem quer a fruta mais doce do galho mais alto e sadio.

Papel de pão já no chão, sem serventia, e, na caixa, o presente: um caderno com pauta, um lápis com ponta e a branca borracha. O pai pediu a ele que escrevesse o que pensou durante toda a tarde sobre o que seria o presente que vinha embrulhado num papel de pão, corriqueiro papel. Oh, escrevinhador!
 
Fontes:
O Autor
Imagem = www.maggnificas.com.br

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