terça-feira, 29 de março de 2016

Olivaldo Júnior (Um Homem na Rua )

A pequena crônica que lhe escrevo abaixo realmente aconteceu. A vida é uma crônica dividida em muitas.________________________

Outro dia, vi um homem na rua. Na verdade, esse homem estava no hall de entrada do único shopping que existe em nossa cidade. Era na faixa do meio-dia, e estava um sol de rachar. Eu entrei no prédio e, de repente, lá estava ele, com um bebê, o seu filho, nos braços. Como sei que era seu filho? Porque eu conheço aquele homem.

Foi rápido, mas o carinho com que ele embalava o menino era bonito, beijando os cabelinhos do filho enquanto rodeava o balcão para, talvez, pedir comida em um dos restaurantes de lá. Não, não parei para cumprimentá-lo. Em vez disso, apertei o passo, nem parei para pensar. Por que fiz isso? É uma longa história... Mas foi mais por vergonha, inibição, timidez. Há cenas que não podem ser interrompidas. Além do mais, nem tive tempo para pensar a respeito. Quando vi, com medo de ser visto por ele, meus pés já me levavam para o meio do shopping, para a frente das lojas, que, em tempos de crise, ficam ainda mais sedutoras, convidativas, aliciadoras, em busca de possíveis clientes, time is money, my honey...

Aquele homem, tempos idos, era alguém que, de vez em quando, ia a minha casa e, mesmo tendo estado poucas vezes com ele, pressentia o quanto ele ficaria feliz se tivesse um pequeno herdeiro nos braços. Dito e feito: ele estava feliz. Uma onda de carinho paterno irradiava dele e preenchia o menino de amor. Foi rápido, mas eu vi.

Não vejo mais o pai daquele bebê, a não ser em casos muito especiais. Queria que tivéssemos sido amigos. Queria ter pelo menos um amigo, mas quero sempre demais. Nem tudo é para todos, eu já o disse.

Outro dia, vi um homem na rua, e aquele homem, para mim, teria sido meu melhor amigo.

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O Autor

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