terça-feira, 19 de abril de 2016

Trovas sobre o Mar



Quando a terra em seu girar
o dia em trevas reduz,
a lua emerge do mar,
pingando gotas de luz!
Annibal Vitral Monteiro - RJ

Barqueiro dos mil pesares,
acostumado entre escolhos,
tenho a tristeza dos mares
na tristeza dos meus olhos.
Antonieta Borges Alves - SP

Eu penso que nem o mar,
revolto, imenso e profundo,
conseguiria lavar
toda miséria do mundo!
Aparício Fernandes - RJ

Lembra o mar a mão incerta,
que oferece e quer negar:
– avança fazendo oferta,
recua para não dar!
Archimino Lapagesse - RJ

Rendeiras de toda parte,
tecelãs de fina teia,
vinde à praia ver com que arte
o mar faz rendas na areia.
Carlos Guimarães - RJ

Barco perdido entre escolhos,
posso, agora, desvendar,
nos mistérios dos teus olhos,
todo o mistério do mar.
Colbert Rangel Coelho -RJ

No mastro ao longe oscilando,
a vela branca, a passar,
parece um lírio boiando
na superfície do mar.
Dolores Almeida - RJ

Nas incertezas do mar
a velha jangada avança
e a esperança de voltar
fica, às vezes, na esperança.
Durval Mendonça - RJ

Caracóis, conchas redondas,
que o mar guarda, com desvelo,
são roubados, como as ondas,
das ondas do teu cabelo...
Edgard Barcellos Cerqueira - RJ

Beija as areias do mundo
o mar, com as rendas de um véu:
– volúpia que vem do fundo
ou amor que vem do céu?
Eduardo Luiz Gomes Filho - RJ

Que o mundo melhor se faça,
ante o símbolo profundo,
do mar que, eterno, entrelaça
os mil caminhos do mundo.
Fernando Burlamaqui - PE

O mar, que é poeta, em rondas
de amor pela Lua-cheia,
escreve versos com as ondas
no livro branco da areia.
Geralda Ferreira de A. Marques - MG

Mar, mistério, poesia...
Se te pudesse cantar,
quantas coisas eu diria
nestas trovas a rimar...
Hesiodo de Castro Alves - RJ
Velas brancas se afastando,
jangadas, ao sol nascente,
parecem cisnes boiando
num lago fosforescente.
Iraci do Nascimento E Silva - RJ

Fui Ulisses, naveguei
sem temer tufão e escolhos,
mas, ao te ver, naufraguei
no verde mar dos teus olhos!
Isimbardo Peixoto - RJ

A vida é mar inclemente,
amargo, cheio de mágoas,
que põe nos olhos da gente
o gosto das suas águas.
João Rangel Coelho - RJ

A verdade nunca escondas,
planta, na vida, só o Bem.
O mar, que faz tantas ondas,
não faz onda com ninguém!
José Maria Machado de Araújo – RJ

Meus versos - estro de monge -
querem ser luz de luar
e rios que vêm de longe
na trova que faço ao mar.
José Valeriano Rodrigues - MG
Tesouros guarda, avarento,
o mar de vagas inquietas.
Os meus, com vaidade, ostento!
- Mostro ao mundo minhas netas.
Lilinha Fernandes - RJ

Luta sempre e desde cedo,
sem nunca desanimar,
pois o mais duro rochedo
cede à constância do mar...
Luiz Otávio – RJ

As tristezas que te sobram,
crê que as podes suportar...
As águas que o céu transborda
cabem todinhas no mar.
Manita - RJ

Enfrenta o mundo, sem medo -
mas à ofensa não respondas:
– morre de encontro ao rochedo
a fúria insana das ondas!...
Maria de Lourdes Loretti Motta - RJ

As caravelas do sonho
navegam dentro de mim,
- querendo um porto risonho,
- lutando num mar sem fim...
Nilza Castro - RS
O mar, gigante, sereno,
tem a força das marés;
e eu, sendo assim tão pequeno,
o tenho sempre a meus pés.
Nydia Iaggi Martins - RJ

Ao regato pequenino
diz, chorando, o velho mar:
  Quem me dera o teu destino,
sempre a correr e a cantar...
Orlando Brito – MA

Ah! Como é doce escutar,
quando a luz no céu desmaia,
o canto triste do mar,
ninando a areia da praia!
Paulo Emílio Pinto - MG

Sou triste como este mar,
que, num lamento profundo,
parece até represar
todas as mágoas do mundo.
P. de Petrus - RJ

Meu barco da fantasia
naufragou no mar da vida,
pois a carga que trazia
ultrapassava a medida...
Renato Vieira da Silva – RJ
O mar tem alma... Costuma,
em noites de Lua-cheia,
cobrir de rendas de espuma
seus alvos leitos de areia...
Vasco de Castro Lima - RJ

Duas coisas há no mundo,
de grandeza incomparável:
– o amor - mistério profundo,
e o mar - abismo insondável.
Vera Milward de Carvalho - MG

No mar do amor, quando avista
das gaivotas os sinais,
meu peito diz: "terra à vista!"
mas nunca divisa o cais
Walter Gomes Da Silva - RJ

Minha alma - branca jandaia -
que não tem onde pousar,
é como as aves da praia
que morrem sempre no mar.
Zalkind Piatigorsky - RJ

As trovas acima são dos Jogos Florais de Niterói/RJ, 1964

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