domingo, 8 de maio de 2016

Olivaldo Júnior (Branco)

Pintura de Van Gogh
Era homem, jamais pintaria o cabelo!... Porém, desde que, de repente, como quem vê um fantasma, se deparou com aquele branco fio de cabelo, intruso, na cabeça, não sossegou e, às escondidas, passou a pintar a, outrora, negra cabeleira.

Tentava esconder a passagem do tempo em seus cabelos, mas o tempo também deixa brancos a memória e seu presente, o que vivemos e nem vimos viver. Dizem que o branco reúne em si todas as cores... Ou seria o preto? Ih, me "deu branco"...

Era um homem que tinha vivido pouco, nem saberia nos dizer quantas vezes perdera o bonde da vida e, pé ante pé, palmilhara a escuridão com os olhos brancos, brancos de medo. Se a vida é um cheque em branco, no dele não tinha cifras.

À noite, quando o branco da lua iluminava sua alma, punha palavras negras na folha em branco do computador, sempre ávido por outras sílabas, outras formas de vencer o escuro com a luz, ainda baça, de um texto novo, recém-nascido, nu.

Pintava seu cabelo como se dissesse a si mesmo no espelho que ainda tinha tempo para o azul do existir, o rubro do amor, o verde, a esperança! E o amarelo das fotos, onde ficava? No branco dos olhos, na cinza das horas, tingido, fingido por ele e pelas mãos que ainda almejam ter outras nas suas... Virei (Vixi!), isto é, virou-se o pote de tinta!... Logo viria outro fio. Branco.

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