quinta-feira, 26 de maio de 2016

Olivaldo Júnior (Conto para os que amam ou @AmorPraSempre)

No ano de 2046, o amor tinha virado peça de museu. Eu explico: a rapidez da comunicação virtual tinha suplantado a comunicação real de um tal modo que as pessoas sequer falavam umas com as outras. Tudo era na base da transmissão energético-magnética, e os homens eram cada vez mais impelidos a se comunicar sem palavras. E, sem elas, o toque foi ficando ausente das relações sociais, e o mundo intensamente high-tech cobrava seu preço dos tão maravilhados usuários de redes sociais e afins, que dominaram a cabeça, o corpo e a alma da gente. Onde entra o amor nessa história? No caso de amor entre um moço e uma moça do futuro que estão ali...

Ele, recostado na parede de um shopping ultra, super, hiper, mega moderno, mal pode esperar por ela, que já mandou telepaticamente uma mensagem para ele, com o ícone de um coração. Palavras? Elas tinham cedido lugar aos desenhos, e todo o mundo se comunicava mais por símbolos que pela fala, ou pela escrita. Tudo era um símbolo. O do amor, claro, era um doce coração, que variava entre um e outro, de acordo com o humor. O daquele casal adolescente era um coração cercado de estrelas, cada uma representando uma semana de namoro. Relações duráveis? O que era durável para um povo que já falava com o outro através do pensamento e, daqui a pouco, quem sabe, se locomoveria pelas dimensões no Expresso Quântico, que já era uma tendência em países mais adiantados que o nosso. Viajar no tempo? Isso não era coisa de cinema, mas do dia a dia. E você? Para onde quereria ir, hein?

Voltemos ao jovem esperando a namorada. Quando ela chegou, enviou para ele um beijinho metafórico, que foi prontamente respondido com outro, um pouco mais afoito, que mereceu repreensão. Certas coisas nunca mudam... O shopping, aliás, era um ambiente bem parecido com o que temos agora, mas os produtos não ficavam mais expostos. Tudo era visto e sentido em hologramas sensoriais. O que se queria era mentalmente pedido em forma de compra que, em questão de minutos, era materializado na frente do pensador, digo, comprador. Onde o romantismo de se escolher a mercadoria, pedir para entregá-la, enfim, todo o trâmite da compra? Não havia mais. Assim como o amor. Ficava-se junto porque se ficava. O amor, como questão de posse, pertença a outra pessoa, era coisa do passado, da vovó... Gostar de alguém era um luxo. Aqueles jovens passeando pelo shopping era um luxo.

Ao fim do passeio, nada de beijos. A moça percebeu uma intenção mais quente no moço e, pra fim de conversa, "blindou" sua mente, e ele ficou sem poder se comunicar com ela por quase um mês. Foi um gelo cibernético, sabe? Depois, passaram a conversar pelo WhatsApp versão 5005, que nem consigo descrever do que era capaz. Mais uma coisa não tinha mudado: a sensação de saber que era possível burlar as regras e fazer diferente dos demais contemporâneos. Marcando encontro com ela, tirou seu chip do encaixe atrás da orelha direita e pediu a ela que também fizesse o mesmo. Assim, quando se encontrassem, seriam puros, naturais. E assim se deu. Tiraram a tecnologia excessiva, a pedra, do meio do caminho, e, tão soltos quanto um verso bem livre, beijaram-se muito quando se viram.

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Fontes:
O Autor
Imagem = http://www.noticiasdeitauna.com.br

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