sábado, 28 de maio de 2016

Samuel da Costa (Poemas Escolhidos)



O POETA E A MUSA
(a beleza na escuridão)
Para Fá Butler

É o poeta que sofre e chora...
Todas as dores do mundo!

Em algum lugar existe
Um místico e nevoento vergel
Orvalhado pela noite outonal eviterna

É o poeta que sangra e chora
Pela virginal musa etérea
Em um voo noturno!

É o bardo perdido em...
Um jardim encantado
Habitado por grandes,
Perdidos e secretos amores

Para o aedo...
Um simples eu te amo não basta!
Ele prefere apreciar...
A beleza eterna
Na escuridão infinda...
Sangrar e morrer por platônicos amores!
Sagrar em odes imortais
A divinal musa vaporosa
Em horas improprias!

Pois um simples eu te amo...
Para menestrel não basta!
MAR AZUL CÉU AZUL

Mar azul
Céu azul
Navego sozinho pelo mar da tranquilidade
Cheio de esperanças

Tenho pensamentos probos
Tenho pensamentos bons
Pois sei que tenho
Um longo caminho a percorrer

Mar azul
Céu azul
A minha negra arte não conhece limites
Criou asas
Voo para além do infinito

Mar azul
Céu azul
Tenho um longo e tortuoso caminho
Pela frente
Mas sei que ela vai estar lá
A minha espera
Tão linda como só ela sabe ser

Mar azul
Céu azul
Já não dói mais...
A minha negra arte tão carregada
De dor e sofrimento
Não existe mais
A minha negra dor se foi
Dobrou a esquina e desapareceu
Por completo

Mar azul
Céu azul
O crepúsculo eviterno
Já não cega mais meus quasímodos olhos
Não temo a negra noite eterna
Com seus mistérios infindos

Mar azul
Céu azul
Tenho o sono tranquilo
Pois sei que ela estará
Ao meu lado
Quando eu acordar pela manhã

BLACK-FACE

A minha poesia é letra morta
Está descalça.
Está ferida...
Está magoada!
Que pede licença para Tupã.
Embrenha-se mata virgem!
E evanesce!
Em ouvidos surdos.

As minhas entoadas!
São belas-letras sideradas...
Aceleradas!
Que foge do capitão-do-mato!
Baladas dos loucos.
Tortas e abstratas!

A minha écloga ouve o ladrar...
Dos cães selvagens!
E vai se abrigar no Quilombo.

Não! Não minha Deusa de Ébano
Minha sacrossanta virgem vaporosa
Não falaremos do nosso ontem
Nem do nosso amanhã
Muito menos do nosso hoje
Ficamos nos dois deitados
Mudos!
Calados
Inertes!

Ainda vejo a tua carne nua!
Carne trêmula...
Extrema...
O teu corpo incorpóreo

Não me fale do teu ontem.
Nem do teu amanhã
Ficamos nos dois mudos
Abrigados no silêncio eviterno
Para todo o sempre

POEMA PEDRA E A REALIDADE LIQUEFEITA
Para Roberto Lamim

Preciso compor um poema!
Com a urgência...
Escrever com poesia.
Palavras lançadas ao vento!
Sem regras e sem lógicas...
Sem rimas!
Sem dores!
Sem choros e sem lágrimas.
Sem velas.

Preciso esculpir na pedra-sabão.
Um poema com pretéritos...
Mais que perfeitos!!!
Sem deméritos.
Para me recompor...
Com o mundo líquido!
Com a realidade mutável...
Re-produzir a vida sem regras.
Sem rumos...
Onde reina as incertezas...

Mais que preciso...
Tenho que re-escrever!
A vida pós-moderna!
Sem crases...
Sem vírgulas...
Sem métricas...
E sem um ponto final.

Preciso com toda a emergência...
Escrever poemas na areia da praia...
Com verbos mais que perfeitos.
Com poética!

Peças soltas do mais...
Puro platonismo démodé...
Milimetricamente imperfeitos!
Em uma mimese...
Que não imita coisa alguma
Peças ocas liquefeitas
Que nada valem
Que não duraram nano-segundos!
Poemas sintéticos...
Para a Deusa de Ébano!

Re-produzir o deserto dentro de mim!
Re-produzir as belas-artes...
Em pedra-sabão,
Sem gritos sintéticos de dor!
Sem sustos...
Soluços...
E sem ponto final

Quero esculpir a minha negra poesia
Na dita pós-modernidade!
Virar as páginas em branco.
Sair do mundo virtual...
Ganhar as ruas...
Dobrar as esquinas...
Voar e voar leve como uma pluma
Ganhar os céus sem nuvens...
Abraçar os astros.
E se perder no cosmo infindo!
Ser livre afinal!
De todas as dores
E de todos os amores

Fonte:
O Autor

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