sexta-feira, 29 de julho de 2016

Nei Garcez (O Negrinho do Pastoreio)


Nas campinas do Rio Grande,
sem limites, sem porteiras,
quanto mais o gado expande
mais se afasta das cocheiras.

Entre veados e avestruzes,
a correr, na pradaria,
todo o gado... Nossa, cruzes!
Foge, longe, todo dia!

O estancieiro, um dos donos
de uma xucra criação,
era mau com os colonos
e a ninguém lhe dava a mão.

Seu escravo, um bom Negrinho, 
mas que era maltratado,
com o baio, bem cedinho,
campeava o desgarrado.

O Negrinho, escravizado,
por perder uma parelha,
apanhou, de guasca, atado,
e de relho, em sua orelha.

Sob o sol, na pradaria,
com o lombo todo inchado,
pastoreando a gadaria,
sofreu tanto o desgraçado.

Louco para ir embora,
entre os piados das corujas,
reza pra Nossa Senhora
e se benze com mãos sujas.

Põe-se o sol, dá um vento e chuva,
vem a noite, a fome, e enfim...
Na casinha da saúva,
dormitou sobre o cupim.

Sob o céu noturno, infindo,
atacou-lhe o graxaim,
cortando a guasca, e latindo,
soltou o gado por fim.

Noite adentro, o galo canta,
cerração e um tempo estranho,
o Negrinho, então, se espanta...
Perdeu todo o seu rebanho.

O estancieiro, novamente,
amarrou o bom Negrinho,
lhe batendo fortemente,
com a guasca... Coitadinho!

O Negrinho, em sua sina,
rezando a Nossa Senhora,
foi, de baio, na campina,
juntar o gado lá fora.

Pela centenária lenda,
Simões Lopes Neto, ensina
como encontrar uma Prenda
na vastidão da campina...

"Negrinho do Pastoreio,
com este coto de vela
luzindo a Virgem Madrinha,
peço a você, sem receio,
campeando a moça mais bela,
a encontrar a Prenda Minha!

Foi por aí que perdi...
Foi por aí que perdi..."

(Terceiro Lugar em Concurso Literário, em Porto Alegre, com tema sobre qualquer obra do Poeta João Simões Lopes Neto, em homenagem aos seus 150 anos de nascimento)

Fonte:
Enviado pelo poeta

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