segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

Antonio Brás Constante (O Céu e o Inferno por Telefone)

No decorrer da história, o homem conseguiu desenvolver ideias maravilhosas, em contrapartida também concebeu outras horríveis. Entre a lista das coisas existentes que odiamos podemos citar: as propagandas políticas, as musiquinhas que os caminhões de gás tocam pelas ruas, a broca do dentista, e é claro: o telemarketing.

O telemarketing é um conceito de comerciais por telefone. Onde ligam para nós geralmente nos momentos em que tudo o que não gostaríamos de fazer era atendê-los. Testando nossa paciência. Pondo em cheque a nossa educação para com o próximo.

Acredito que existam pessoas que já estejam tão influenciadas pelas ligações diárias que vivem recebendo, que caso houvesse uma greve das operadoras de telemarketing, elas acabariam sofrendo uma espécie de crise de abstinência pela falta de suas ligações.

No primeiro dia estranhariam um pouco a calma em seu lar. No segundo dia, começariam a pensar no que teria ocorrido para não ligarem mais. Afinal, eles sempre lhes diziam que eram clientes especiais e de muita sorte, por terem sido escolhidos em meio a milhares de outras pessoas para possuir aquele produto.

Começariam a desconfiar que talvez seu poder econômico tivesse finalmente descido abaixo da linha que separa os possíveis clientes viáveis dos inviáveis. Ou pior, talvez eles soubessem de algo que a pessoa ainda não sabia sobre si mesma. A partir daí, passaria a imaginar teorias da conspiração. A desejar que o telefone tocasse para se desculpar por todos os “não” que já dissera. O telefone enfim toca, a pessoa corre para atendê-lo, e para seu desespero, a ligação era apenas a sua mãe dizendo que estava com saudades.

Pensa em ligar para alguma operadora de cartões e ver o que acontece. Para não parecer que está interessada em adquirir algo, quando atenderem pedirá uma pizza, como se tivesse ligado para o número errado.

Ao se ligar para uma operadora de telemarketing tem-se que ter em mente que ao lhe atenderem, farão uma pergunta que determinará se você será encaminhado ao céu ou ao inferno por telefone. Ou seja, vão lhe perguntar se quer comprar algo ou fazer alguma reclamação.

Caso escolha “comprar”, imediatamente cairá em um grupo de atendentes com vozes melodiosas e sensuais, que irão brigar entre si pela chance de poder atendê-lo. Elas sussurrarão palavras quase hipnóticas em seu ouvido. Para completar, um som de fundo cheio de mensagens subliminares, fará você se sentir à vontade para gastar todo seu dinheiro ali.

Porém, se resolver ir pelos caminhos das almas torturadas que buscam reclamar de algo, caíra em um calvário sem fim. Será jogado de um atendente para outro, todos parecendo o nosso presidente, dizendo que não sabem nada daquele assunto, e que irão encaminhá-lo para outro setor. Possivelmente você sofrerá longos minutos até a ligação cair, sem que seja atendido. Mas o mais provável é que acabe se irritando e desistindo da reclamação.

Enfim o telemarketing existe, para provar que o homem ainda pode ser o pior inimigo do próprio homem, mesmo que lhe diga por telefone que você é um cliente especial.

Fonte: O Autor

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