sábado, 18 de fevereiro de 2017

Olivaldo Júnior (Liberdade)

Ulisses era um menino de oito anos e meio que morava perto de casa. Cabelo nos olhos, sorriso nos lábios e pés firmes no chão, aprontava com os meninos da rua. Era um menino mágico, livre, que queria voar. Não voava, mas pensava que, se corresse muito, mas muito mesmo, nasceriam asas em suas costas e ele veria o mundo de outra forma. Ora, ele sonhava! Sonhar é voar?

Acontece que, em nossa rua, tinha um velho que não me lembro o nome, bem turrão, criador de passarinhos. "Um dia solto todos eles!", dizia para si mesmo o garoto com nome heroico, tão forte quanto os sonhos que ele tinha. Sonhar é para os fortes. Ouça.

O velho tinha treze gaiolas no quintal caipira, coberto de flores e de ervas daninhas, que ele não fazia separação entre as plantas. Não era um mau homem, mas tinha o mau hábito de cerrar os passarinhos em prisões, gaiolas que luziam o triste olhar de Ulisses assim que ele passava em frente à casa do velho. Ah, por que não se deixava livre um ser de asas, um sol a pino, um céu aberto?

Eram quase seis horas da tarde. Tinha chovido. A rua brilhava com as poças d'água que o choro da chuva formara. Os meninos estavam em casa. Menos um. Sabendo que o velho tinha saído, Ulisses, pé ante pé, pulou o muro da casa das aves e, com as mãos em fúria de quem toca os sonhos, soltou os pássaros ao céu azul, amarelo e rosa de um fim de tarde imenso, intenso, quase tão grande quanto a alma daquele "El Niño" que, radiante, em suas costas sentia o nascer das asas com que sempre sonhou. Um a um, ganhavam o mundo, pedindo licença para ser o que um dia foram: livres. Ulisses, um menino de oito anos e meio, voava com eles, partia com os pássaros rumo ao sem-fim! Libertava alguém e se libertava também, pode haver coisa melhor que aquela? Pulando em volta das grades, cabelo nos olhos, sorriso nos lábios e pés livres do chão, aprontava sua maior travessura. Era um menino mágico, livre e que fazia voar.

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