terça-feira, 8 de agosto de 2017

A Glosa


Glosa é uma forma de poema utilizada que foi primeiramente registrada em Português no "Cancioneiro Geral" de Garcia Resende (1536) que colecionou 880 poemas. Um dos formatos é a cantiga, com um mote de quatro ou cinco versos e uma glosa de oito ou dez.

    Composição poética de origem peninsular, constituída por uma estrofe inicial, onde é apresentado o tema (mote), seguida por tantas estrofes quantos os versos apresentados na estrofe inicial e devendo ser estes incluídos sucessivamente, um a um, no final de cada estrofe, para desenvolvimento do tema da composição, que é sobretudo amoroso.

    Lembre-se que o termo glosa é sinônimo de volta e que este possui três acepções diferentes: ora de composição poética; ora de verso, que se repete no final das estrofes que glosam o mote; ora, já numa extensão de sentido, de estrofes, que desenvolvem o tema do mote nas cantigas e nos vilancetes.

    A glosa tem grande representatividade, a partir do século XV, nos cancioneiros hispânico e português, dos quais se destaca o Cancioneiro Geral (1516) de Garcia de Resende, sendo sobretudo desenvolvida por poetas palacianos.

    Também pode ser referência a uma forma usada pelos poetas do Nordeste do Brasil, principalmente os cantadores, em forma de uma ou mais décimas (estrofe de 10 versos) que respondem a um desafio, expresso em forma de mote. O mote é, geralmente, um dístico, ou seja, composto por dois versos. Esses versos se apresentam na glosa de duas formas mais comuns:

    Os dois versos aparecem no fim da estrofe, compondo a rima, que, na maioria das vezes, segue o esquema ABBAACCDDC.

    Um verso do mote aparece como quarto verso da glosa, e o outro verso na última posição. O esquema rímico é semelhante.

    O poeta Paulo Camelo criou e apresentou o que ele denominou Glosa com mote migrante, um poema com mais de uma estrofe (de duas a cinco), onde o mote, em dístico, aparece em posições diferentes, ascendendo nas estrofes das últimas para as primeiras posições.

MOTE NO FINAL
MOTE
"Devagar, como fogo de monturo,
a saudade invadiu meu coração".

GLOSA
Na fazenda, nasci e me criei,
peraltava e fazia escaramuça,
morcegava, no campo, a besta ruça,
jararaca até mesmo já matei.
Não me lembro da vez em que acordei
assombrado com tiros de trovão,
pinotava da rede para o chão
e saía correndo pelo escuro.
Devagar, como fogo de monturo,
a saudade invadiu meu coração".
(Carlos Severiano Cavalcanti)

MOTE EM VERSOS SEPARADOS

MOTE
"Por esses caminhos venho
pedaços de mim deixando".

GLOSA
Nem juntos arte e engenho
de Camões podem cantar
como em vão a tropeçar
por esses caminhos venho.
O amor para mim é lenho
que em meio aos lobos em bando,
aos trancos vou carregando
e a cada mulher que passa
sou tragado na fumaça,
pedaços de mim deixando
(Zé Barreto)

    Há ainda as glosas feitas a partir de trovas, sendo atualmente a mestra no gênero, a trovadora gaúcha Gislaine Canales. Neste gênero, o mote é uma trova inteira (4 versos setesilábicos), geralmente de outro trovador, e a partir dele a glosa é feita com 4 trovas, sendo que cada verso do mote é colocado individualmente em cada trova, na posição correspondente. Isto é, o 1o verso do mote é o 1o da primeira trova da glosa, o 2o é o 2o verso da segunda trova e assim sucessivamente, como demonstramos no exemplo abaixo:

Gislaine Canales
Glosando Izo Goldman


SAUDADE BOÊMIA...

MOTE:
Pelas noites, na cidade,
busco esquecer-te, porém,
o meu drama é que a saudade
é uma boêmia também...
(Izo Goldman)


GLOSA
Pelas noites, na cidade,
eu ando de bar em bar
e a tristeza que me invade
de tão grande, não tem par!

Ouço uma bela canção!
Busco esquecer-te, porém,
a dor do meu coração,
vai muito além, muito além!

Enfrento a realidade:
Eu nunca vou te esquecer,
o meu drama é que a saudade
veio comigo viver!

E nessa angústia sem fim
me ajudar, não pode alguém!
A saudade está em mim,
é uma boêmia também...

Fonte Principal: Wikipedia

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