domingo, 15 de outubro de 2017

João Batista Xavier Oliveira (Trovas de quem entende de trovas) II


A fugir da hipocrisia
na discrição eu me calo,
pois quem fala em demasia
cumprimenta até cavalo.

Alvo de risos e palmas
embutido em seu disfarce
o palhaço lava as almas
querendo da dor vingar-se.

Bate à porta a primavera;
vem ungir o meu jardim
com as cores de quimera,
lantejoulas e cetim.

Bem no meio da floresta
a terra respira fundo...
Aproveita o que lhe resta
arejando mais o mundo.

Das mãos limpas que me valho
são exemplos dos meus pais:
honestidade e trabalho,
ganância... inveja... jamais!

Dinheiro não cai do céu
e de pedra não sai leite;
quem espera sempre ao léu
não passa de um mero enfeite.

Dos meus olhos são colírios
os campos, linda morada,
por onde dançam os lírios
ao canto da passarada.

Escondida tua foto
no armário, tenho a impressão
que nossa distância noto
não estar no coração!

Humildade, dom Divino
vivendo no coração
pois é simplesmente um sino
a chamar-nos à união.

Inspiração mais prospera
no âmago do poeta
ao deparar primavera
por ser sonhador e esteta.

Não existe lei que impeça
um pensamento funesto
de quem semeia promessa
quando não quer ser honesto.

O presente desatina
quem cai no conto falaz:
- trocar voto por botina
leva sempre um pé por trás.

Para "gregos e troianos"
beberem da mesma taça...
se for preciso mil anos
de entendimento...que o faça!

Pelas flores que plantei
entre espinhos... muito fiz 
que um grande jardim ganhei:
minha sina é ser feliz.

Pergunto ao tempo até quando
a falsa paixão se esconde...
e ele passando... passando...
simplesmente já responde.

Qual anúncio a nova era
revelando tempos novos
eis a luz de primavera
doando flores aos povos.

Quantas pedras removidas
e quantas por remover...
Provações em nossas vidas
que só nos fazem crescer!

Querer ser poeta... não!
Quem é não é por querer;
escrever do coração
não precisa saber ler.

Quisera uma flor apenas
no meu portal de esperanças;
suas pétalas pequenas
são sorrisos de crianças!

Saudade, flor que a distância
seu perfume não desfaz...
jardim onde nossa infância
dança ciranda de paz!

Se cuidarmos bem da fonte
a natureza eterniza
os vislumbres do horizonte
com as promessas da brisa.

Seu eu ficasse aquele dia
sem aceno na estação...
hoje a cena não teria
cicatriz no coração.

Solidão é uma procura
além dos nossos sentidos.
Sem tempo, longe, a ternura
se perde nos alaridos.

Teus olhos, duas nascentes
que brilham a natureza
dos meus versos tão carentes
de rimas para a beleza.

Uma lágrima sincera
o poeta externa em canto
ao vislumbrar a primavera
luzidia em seu encanto.

Uma mulher, na verdade,
simplesmente poderosa,
vence os espinhos da idade;
ganha os encantos da rosa.

Vinte e oito pinceladas
e um quadro estampa tua arte
de refletir, ampliadas,
as emoções ao pintar-te.

Fonte: O Autor

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