domingo, 22 de abril de 2018

Lourdes Gutbrod (Trovas Seletas)


1
Amor que não se revela,
aprisionando carinhos,
é como a rosa, tão bela,
mas guardada por espinhos!
2
A vida - sempre tão cheia
de labutas e batalhas -
para alguns é bela ceia,
para muitos... só migalhas!...
3
Como noiva prometida,
lírios na fronte e na mão,
eu te esperei toda a vida
no altar da minha ilusão!...
4
Com teu ar de indiferença
foste um vento, em minha vida,
que entrou sem pedir licença
e saiu sem despedida!...
5
Coragem!... Se Deus nos testa,
também nos cura as mazelas,
e a Vida é linda seresta
para quem abre as janelas!!!
6
Ele a “embroma”: nova data!...
E o casamento é adiado.
Vão fazer bodas de prata
pelo tempo de noivado!
7
Em cada vã tentativa
de arrancar-te da memória,
tua imagem mais se aviva
nas cenas da minha história!... 
8
É quando tu ficas mudo,
e assumes um ar lascivo,
que teu corpo fala tudo
do modo mais expressivo...
9
Felizes os que despendem
seu tempo com a educação:
esculpem almas e acendem
luzeiros na escuridão!
10
Gostava desta ousadia:
amar sem rédeas nem laços.
E acabei, por ironia,
prisioneira, nos teus braços… 
11
Grite, revele o que pensa,
com ira ou mesmo agressão!
Suporto a mais dura ofensa,
mas esse desprezo... não!
12
Já fui tua… foste meu…
Não faz mal se hoje padeço:
– Quem um grande amor viveu
acha justo qualquer preço.
13
Juras de amor… Uma rosa…
Recomeça tudo, enfim!
E, nessa hora venturosa,
já não sou dona de mim!…
14
Liberdade!... Infelizmente
muitos a buscam no vício,
forjando a própria corrente
que os arrasta ao precipício!
15
Mentir era tão frequente
- por brincadeira, vaidade… -
que a mentira, finalmente,
tornou-se a minha verdade.
16
Na minha vida sombria,
que só conhece empecilhos,
sou um trem sem serventia,
parado... fora dos trilhos!...
17
Não julgue, ao perder a calma,
que o mundo é uma grande arena
e, abrindo as janelas d’alma,
diga à vida: - Vale a pena!
18
Não sabes... não adivinhas,
lendo as cartas que te escrevo,
que digo, nas entrelinhas,
tudo aquilo que não devo...
19
Nas vãs promessas que fazes
não suponhas que acredito:
Queres prazeres fugazes...
e eu busco amor infinito!
20
Navegante sem destino,
ante um naufrágio medonho,
eu me agarro, em desatino,
aos destroços do meu sonho!...
21
No espaço, além, fui buscar-Te
sem que, ó Deus, Te revelasses...
e estavas em toda parte
sob as mais diversas faces.
22
Passam céleres as horas,
tudo é mutável e obscuro...
O tempo engole os agoras
e tem fome de futuro!
23
Passo momentos felizes
vivendo só de ilusão,
pois as mentiras que dizes
são, na verdade, meu pão.
24
Pedes perdão... e eu, vencida,
com teus beijos me deleito,
e ouço a música da vida
tocar de novo em meu peito!
25
Qual de nós dois nesta trama
é mais falso ou desonesto:
– Você... ao dizer que me ama?
Eu... ao gritar que o detesto?
26
Quando a volúpia me invade,
eu me entrego em cada gesto...
Perco o nome, a identidade.
Sou tua! Que importa o resto?...
27
Quando eu partir, não precisa
louvar-me... expor-me em retratos:
lembre, só, que fui poetisa
e apaixonada por gatos!!!
28
Quando voltas, não te acanhas:
pedes desculpa e me agradas...
E eu me rendo às artimanhas
dessas conversas fiadas!...
29
Quantas cenas de ternura,
se estamos juntos, a sós!
Sem timidez nem censura,
em nosso palco... só nós!
30
Que importa se me sorrís,
às vezes, por compaixão?
Prêmios me fazem feliz,
mesmo os de consolação.
31
Quem conhece o desencanto
e os desgostos por que morro
percebe sempre, em meu canto,
muitos gritos de socorro!
32
Quem diz ter sabedoria
e os seus talentos exalta,
revela, por ironia,
justamente o que lhe falta!
33
Quis arrancar brutalmente
do meu passado as raízes,
mas você está presente
mesmo em minhas cicatrizes!...
34
Se aos infelizes dás sobras
com desdém, indiferença,
há, decerto, nessas obras,
não bondade... mas ofensa.
35
Sem me curvar à derrota,
nenhum desalento esboço.
E à esperança mais remota
respondo bem alto: Eu posso!!!
36
Se o homem romper a grade
que o fecha em seu egoísmo,
será a Fraternidade
uma ponte sobre o abismo.
37
Sou um verbo transitivo
que nunca encontrou objeto,
condenado, sem motivo,
a ser assim: incompleto...
38
Tamanha paixão eu tinha,
e há tanto que te aguardava
que, ao me elegeres raínha,
eu me entreguei como escrava!
39
Tu chegas...e, em vez de paz,
trazes dúvida e aflição,
pois sei que é o pouso fugaz
de uma ave de arribação...
40
Tu chegaste sem rodeio,
fingindo paixão por mim...
E eu apenas fui um meio
para atingires teu fim.
41
Tu vens, ardoroso e amante...
e sempre partes, ligeiro.
Qual relâmpago, és vibrante,
mas de fulgor passageiro.
42
Um mundo humano e decente
eu sempre buscava a esmo...
até saber que era urgente
mudar, primeiro, a mim mesmo!
43
Usas, para conquistar-me,
fogoso e avassalador,
uma máscara de charme
e os ardis de um sedutor!
44
Vendo-te à luz da Razão,
com a máscara caída,
descubro o grande vilão
que encarnaste em minha vida!
45
Voltar para mim?… Não tente,
tudo está morto e enterrado.
Rompi, de vez, a corrente
que me prendia ao Passado!…
46
Voltas… e, ouvindo os teus passos,
cheia de amor e esperança,
eu, de novo, te abro os braços,
sem condições nem cobrança!

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