sábado, 7 de abril de 2018

Zelinda Slomp (40 Trovas Seletas)


1
A água move o moinho,
o moinho mói o grão...
Do grão moído, fininho,
sai farinha para o pão.
2
A energia das mãos dadas,
numa devota oração,
sempre abre portas fechadas
e conquista o coração.
3
A mãe natureza oferta
florestas, a água e o ar.
Elementos, que na certa,
precisamos preservar.
4
À sombra da Catedral
está o velho campanário
chamando todo pessoal
para rezar o rosário...
5
Cheia de nós pelas costas
e a língua muito ferina,
tem sempre pronta as respostas
a irrequieta menina!
6
De mãos dadas e beijinho,
arrulhos no roseiral.
Cenas de amor e carinho
do apaixonado casal.
7
Diga com toda franqueza:
Oh! Espelho, espelho meu!
Onde está toda beleza
que a natureza me deu?
8
Do primeiro namorado,
guardo sempre na lembrança
um doce beijo roubado...
Brincadeira de criança...
9
Eu te exalto, verde e ouro
como exalto o branco e o anil.
São símbolos do tesouro
que é o nosso imenso Brasil.
10
Harpas, violinos e banjos,
em suave melodia,
embalam cantos de anjos
ao chegar um novo dia.
11
Homem de boca pintada,
mulher de basto bigode:
é correr em disparada,
pois com eles ninguém pode!
12
Maria Mãe de jesus,
da catedral padroeira,
seu exemplo nos conduz
a uma fé mais verdadeira.
13
Milhões de luzes brilhantes
no universo das estrelas
são como joias distantes,
só vejo, não posso tê-las!
14
Não fiques aí na gare
olhando o trem que passou.
Corra, lute, não pare,
que a vida o vento levou.
15
Não há no mundo uma herança
mais rica e mais valiosa
do que uma bela lembrança
escrita em verso ou e prosa...
16
No começo deste dia,
a minha bela oração:
peço a Jesus e Maria,
dos males - libertação.
17
No grande palco da vida
há um cenário iluminado
por uma estrela perdida
que espera a volta do amado.
18
O enorme brilho da lua
faz aumentar o meu desejo
de tocar tua pele nua
com o calor do meu beijo.
19
O poder da minha fé
está sempre na oração:
peço a Maria e José,
ajuda e consolação.
20
O povo na Catedral,
numa sublime oração,
louva o Cordeiro Pascal
com amor e devoção!
21
Para vidas estressadas,
existe uma solução,
se estivermos de mãos dadas,
"Coração a coração"!
22
Por lugares bem risonhos
viaja o meu pensamento...
Vai transformando os meus sonhos
em ânsias soltas ao vento.
23
Por um ato de bravura,
por um ato de grandeza,
abolindo a escravatura,
perdeu seu trono a princesa.
24
Quando fenece o vigor,
com as águas já passadas,
restará amizade e amor
caminhando de mãos dadas.
25
Quem na lisura não medra,
deve agir devagarinho,
evitando jogar pedra
no telhado do vizinho.
26
Quem na vida pede tralhas
não lamente o que perdeu,
pois as tralhas são migalhas
de tudo o que Deus lhe deu!
27
Quem tem força, garra e raça,
e faz tudo com amor,
vai em frente, enfrenta, abraça...
Será sempre um vencedor!
28
Quem na vida tem vontade
de galgar os altos cumes
tenha ao seu lado a bondade,
e de nada tenha ciúmes.
29
Saint-Exupéry criou
um príncipe de alma pura
que toda jovem buscou
como fonte de cultura.
30
Se adormecer o vigor
com as águas já passadas,
haverá amizade e amor
caminhando nas calçadas.
31
Se é amor a primeira vista,
não perca a oportunidade:
vá em frente, não desista,
abrace a felicidade.
32
Sejam Maria ou Teresa
a musa do eterno amante,
é na língua portuguesa
que o verso aflora vibrante.
33
Somente tendo vontade
não se criam boas trovas.
É preciso, na verdade,
buscar sempre ideias novas!
34
Se perguntar não é ofensa,
digo então para a comadre:
Tens barriga de nascença?
Ou é obra do compadre?
35
Tem um fantasma escondido
nas brumas do meu passado,
lembrança do amor partido
do primeiro namorado!
36
Tenho sempre na lembrança
aquele amor que perdi.
E por simples vingança,
só sublimei, não vivi.
37
Toda luz que nos aquece
emana, sempre, de Deus;
nosso Pai jamais esquece
dos amados filhos seus!
38
Todos no palco da vida,
representam seu papel:
para uns, difícil lida...
para outros, só favos de mel.
39
Velho, levante a cabeça!
Não mire apenas o chão!
Deixe que o mundo conheça
em seu olhar... a paixão!
40
Zás-trás! É num só segundo
aciono um simples botão.
Abro a janela do mundo,
recebo a Televisão.

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Zelinda Cecília Regla Slomp nasceu em Carlos Barbosa/RS, em 1931. Mudou-se para Caxias do Sul ainda jovem. Licenciada em História pela Faculdade de Filosofia e Letras da Universidade de Caxias do Sul (UCS), formou-se em 1964.

Sempre gostou muito de escrever. Conheceu a poetisa e trovadora Eloy M. de Oliveira Fardo da qual se tornou amiga, as quais junto a outros apreciadores da boa poesia, passou a fazer parte da União Brasileira de Trovadores, Seção Caxias do Sul. Zelinda, em 1996 recebeu Menção Honrosa no Concurso Estadual de Trovas e, em 1997 foi Vencedora no Concurso Municipal de Caxias do Sul . Em 2000 participou da Antologia "A Trova Literária em Caxias do Sul". Era sócia efetiva do Clube da Simpatia de Olhão, de Algarve, Portugal.

Zelinda teve textos publicados em diferentes livros e escreveu, em Porto Alegre, o livro de trovas “Só Trovas” e em 2002, o obra “A Aurora da Minha Vida”. Finalizou a publicação com a trova:

“Não fiques aí na gare
olhando o trem que passou.
Corra, lute, não pare,
que a vida o vento levou.”

Zelinda morreu aos 83 anos, em Porto Alegre, vítima de complicações do Parkinson.

Fontes:
Jornal de Santa Catarina – Seção Obituário
– União Brasileira de Trovadores de Porto Alegre. Milton S. De Souza (editor). Livro de Trovas de Zélia de Nardi e Zelinda Slomp. Coleção Terra e Céu vol. XCIX. Porto Alegre/RS: Textocerto, 2016.
– União Brasileira de Trovadores de Porto Alegre. Calêndula Literária.

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