segunda-feira, 13 de julho de 2009

Uelington Farias Alves (Cruz e Souza: O Dante Negro)

Uelington Farias Alves é um dos mais famosos críticos literários do mundo afro-brasileiro e importante resenhista do "Jornal do Brasil", do Rio de Janeiro. Autor de autor quatro livros sobre Cruz e Souza, o mais importante representante da simbolismo no poesia brasileira, Uelington, ao que tudo indica, resolveu imprimir mais força ao seu ciclo Cruz e Souza. Ele lançou, em dezembro passado, pela Pallas Editora, seu quinto livro sobre o poeta: " Cruz e Souza: Dante negro do Brasil", de 410 páginas, editora Pallas, do Rio de Janeiro, em comemoração aos 110 anos da morte do poeta catarinense, trazendo como sempre documentos e poemas inéditos sobre o festejado poeta, cuja obra é comparada ao trabalho dos representantes da poesia simbólica francesa como Mallarmé. Com este novo trabalho, Uelington se consagra como o maior estudioso da obra do maior poeta do simbolismo brasileiro.

No novo trabalho, o crítico literário negro mexe em alguns mitos. Por exemplo: quem pensa que Cruz e Souza foi um poeta negro que sabia seu lugar entre os literatos da época, está enganado. Segundo o estudioso, Cruz e Souza, filho de escravos, educado por uma família branca catarinense em fins do século XIX, militou a favor da universalização da educação para os brasileiros. Como o jornalista José do Patrocínio, ele foi um abolicionista de mão cheia.

Segundo o autor de " Cruz e Souza: Dante negro do Brasil", Cruz e Souza é um poeta mal compreendido e pouco aceito pelas elites literárias brasileiras. Existe até uma má vontade pelo fato de um negro ser o maior poeta simbolista de todos os tempos e não os literatos brancos.

Cruz e Souza nasceu em Desterro, atual Santa Catarina, em 1861, filho de escravos. Estudou graças ao empenho dos seus pais, que, embora analfabetos, não desejavam o mesmo destino para os filhos. Poeta e tuberculoso, Cruz e Souza faleceu aos 36 anos, em 1898, no Rio de Janeiro, deixando uma grande obra poética.

Seu grande biógrafo, Uelington Farias Alves, é carioca, jornalista, escritor e crítico literário. Publicou cinco livros, entre os quais se destacam " Poemas inéditos com Cruz e Souza" (Prêmio da Academia Brasileira de Letras, de 1991) e "Poemas inéditos de Cruz e Souza"(Destaque da Bienal do Livro de São Paulo, de 1996, segundo a revista "Veja").

No cinema, Uelington foi consultor do longa-metragem "Cruz e Souza: poeta do Desterro", de Sylvio Back. O crítico tem ainda a Medalha de Honra ao Mérito concedida pelo Governo de Santa Catarina pelos seus estudos sobre Cruz e Souza.
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Acompanhe, agora, a entrevista que Uelington concedeu ao site Questões Negras

QN - Você pode nos dar um perfil de sua atuação profissional como crítico literário?

UELINGTON - Sou jornalista profissional e professor de literatura brasileira. Faz algum tempo que me dedico à pesquisa histórico-literária e à crítica de livros, trabalho que venho desenvolvendo desde o final dos anos de 1980, mas que se firmou quando passei a escrever para o "Diário Catarinense", no ano de 1990. Ganhei alguns prêmios importantes em minha carreira de escritor: o Silvio Romero de pesquisa história literária da Academia Brasileira de Letras, em 1991, e duas medalhas de Honra ao Mérito, pelo Governo do Estado de Santa Catarina e pela Câmara Catarinense do Livro.

QN - Você tinha quatro livros sobre Cruz e Souza . Porque resolveu fazer o quinto?

UELINGTON - Os meus livros anteriores, hoje esgotados e encontrados apenas em alguns sebos, sobretudo pelo internet, foram livros construídos com base nos meus primeiros anos de pesquisa histórica. Não me furto a dizer que, no geral, são livros incompletos. Ao escrever este novo livro procurei completar o meu trabalho de pesquisa, dando uma dimensão maior ao trabalho que venho realizando durante tantos anos, buscando sempre fontes ignoradas por estudiosos e biógrafos do poeta negro. Ora, isto me levou a percorrer caminhos novos, trazendo surpresas agradáveis, como revelações sobre sua descendência, o encontro de inéditos, tanto em prosa, quanto em versos, bem como a aproximação do poeta com seu mundo familiar e as questões do seu tempo, como o abolicionismo e a república.

QN - Que novidade traz neste novo livro?

UELINGTON - Algumas importantes do ponto de vista racial e histórico-literário. Primeiro: o relacionamento do poeta com seus pais. Numa determinada passagem, vamos descobrir que Cruz e Sousa foi educado em função da dedicação dos pais, não dos seus senhores, como a história gosta de contar. Um documento da época demonstra perfeitamente o esforço de Mestre Guilherme pela educação dos filhos (Cruz e Sousa tinha um irmão), buscando na brecha da lei meios para dar educação aos seus, embora "pobre jornaleiro, que tudo sacrifica" pela educação dos meninos (como está textualmente num documento datado da década de 1870). Outra descoberta importante é referente à comunidade negra do Desterro, que ele freqüentava e junto a ela fazia ouvir ao piano. Músico e poeta, Cruz e Sousa também foi autor teatral, algo ignorado pelos biógrafos, igualmente o fato de ter deixado um romance inicialmente publicado na imprensa, do qual se conhece apenas, e infelizmente, três capítulos. Tudo isso está detalhado no meu trabalho.

QN - Você acha que a obra de Cruz e Souza é mal divulgada no Brasil?

UELINGTON - Não só de Cruz e Sousa, mas especialmente as obras dos poetas. Cruz e Sousa é, como os demais, mais uma vítima do preconceito com os poetas e os sonhadores. Eu diria que, apesar de tudo, Cruz e Sousa foi alvo de quatro biografias ou perfis biográficos: a de Nestor Vítor, escrita em 1896, ainda em vida do homenageado, a de Aberlado F. Montenegro, "Cruz e Sousa e o movimento simbolista brasileira", (de 1954, cuja terceira edição é de 1998), a de Raimundo Magalhães Júnior, "Poesia e Vida de Cruz e Sousa", (de 1961, cuja terceira edição é de 1975), e a minha, "Cruz e Sousa: Dante Negro do Brasil", (Pallas Editora, 2008). Existem ainda centenas de artigos, ensaios, teses e dissertações de mestrados a respeito do poeta, além do que se produziu sobre ele no exterior. Portanto, eu não diria que ele é tão mal divulgado; é talvez, por ser negro, é mal compreendido e pessimamente aceito pela elite branca, que é a que domina os estudos acadêmicos, que são, de longa data, os mais divulgados no Brasil.

QN - Como ocorreu seu interesse pela obra de Cruz e Souza?

UELINGTON - Vem, talvez, da infância, quando vi uma poesia e uma foto ou imagem dele numa dessas enciclopédias que meu pai, Enes de Oliveira Alves, comprava na porta de casa. Numa visita às páginas de uma dessas enciclopédias (eram muitas, ele comprava todas as que apareciam, o vendedor era esperto), li sobre a história daquele poeta, filho de escravos, com uma vida triste e um poema melancólico, que era o soneto "Alma ferida". Perguntei a minha mãe se tinha um poeta negro, e ela, com aquela simplicidade exemplar, que só a Dona Flora tem até hoje, me disse: Meu filho, se tá aí no livro é porque tem. E ponto final. Mas tarde, na escola secundária, aprofundei meus contatos sobre literatura, e o Cruz e Sousa foi uma chave que me ligou indelevelmente ao mundo.

QN - Cite poemas dele que você mais gosta.

UELINGTON - São vários os poemas e textos em prosa que admiro em Cruz e Sousa, publicados em livros como "Tropos e fantasias", "Broqueis", "Faróis", "Últimos sonetos", "Missal" e "Evocações". Têm os poemas "Crianças negras", "25 de Março", "Vida interior", "Ser livre", "Violões que choram...," "Assim seja", "Caminho da glória", "Sorriso interior", "Assinalado", "Cavador do infinito", "Ironia das lágrimas", "Ressureição", "Esquecimento", "Foederis Arca", "Consciência tranqüila", "Emparedado", entre muitos outros.

QN - Cruz e Souza teve algum desempenho social-militante em sua vida?

UELINGTON - Cruz e Sousa, como mostro no meu novo livro, foi um homem de avançadas idéias socialistas, preocupadas, sobretudo, com a educação do povo. Descobri um artigo seu inédito em livro onde ele prega a universalização da educação. Outra bandeira importante foi sobre o abolicionismo. Textos inéditos demonstram que ele combateu com todas as suas forças o regime escravista, o que resultou no início do processo de forte discriminação contra ele e sua família, como há relatos de sua mãe, Carolina de Sousa.

QN - Você poderia fazer uma comparação entre as trajetórias de José do Patrocínio, Cruz e Souza e Machado de Assis?

UELINGTON - São trajetórias de negros bastante diferentes. José do Patrocínio foi um negro que ascendeu na sociedade dos brancos, chegou a casar com uma mulher branca, sua ex-aluna, cuja família tinha posições na sociedade da época. Foi, sobretudo, dono de jornal, chegou a ser remedianamente rico, mas, no fundo, foi um jornalista e intelectual. Sua obra de ficção está por ser estudada. Machado de Assis foi essencialmente um romancista e poeta. Seu propalado distanciamento da questão racial é uma estratégia de sobrevivência num meio hostil a homens mulatos que professavam tais pensamentos. Mesmo assim não foi indiferente, e o professor Eduardo de Assis já provou isso em obra importante que foi o seu " Machado de Assis afrodescendente" (Pallas Editora). Cruz e Sousa sofreu por estar no lugar errado na hora errada. Sem meios e com um orgulho bastante elevado, se distanciou de todos, assim que passou a sofrer os primeiros reveses dos literatos da época. Os enfrentou a seu modo e perdeu: a pobreza e a doença os fez ver isso.

QN - Você vai fazer o lançamento do livro em Santa Catarina?

UELINGTON - Provavelmente a Pallas Editora, através da Cristina Warth, deve organizar um lançamento na terra natal do poeta biografado. Já há solicitações das academias de letras locais, de professores ligados as universidades, nesse sentido. Penso que não seria justo não haver lançamento lá, mas fica a critério da editora resolver e decidir sobre esta questão, indo não só a Santa Catarina, mas em outros estados, como em Pernambuco, Rio Grande do Sul, Bahia, São Paulo e Minas Gerais, que têm um histórico de aceitação sobre o que o poeta produziu.

QN - Existe ainda parentes de Cruz e Souza vivos ? Como eles vêm seu trabalho?

UELINGTON - Parte da descendência de Cruz e Sousa mora no Realengo, outra parte em outros bairros da Zona Oeste. Já tive muito contato com a família, ao tempo que a matriarca Erci Cruz e Sousa era viva. Depois, este contato se perdeu um pouco. Não sei como eles hoje vêem o meu trabalho, mas espero que vejam.

QN - Além de você, existem mais críticos literários negros no Brasil? Se existem, quais? São ligados à causa negra?

UELINGTON - Não tenho conhecimento se existem outros críticos literários negros no Brasil. É bom que se diga que a crítica literária é um atividade regular, que requer dedicação e necessita de seriedade e desprendimento. Penso mesmo que a crítica não é um trabalho de aventura, de quem escreve algo sobre um livro e se acha crítico da noite para o dia. A crítica carrega em si uma metodologia de concepção, que vai muito mais além da leitura de um livro; chega a ser a abordagem de uma obra num aspecto que, muitas vezes, nem o seu autor chegou a perceber.

QN - Como você analisa seu papel de crítico literário do "Jornal do Brasil"?

UELINGTON - Penso que não chego a ter um papel de crítico literário no "Jornal do Brasil", quando escrevo para o caderno " Idéias". O "JB" me permite um espaço onde tenho liberdade de expressar o que quero, sem o comprometimento com livrarias, editoras e autores tais. Certa vez, fiz a crítica tão dura de um livro de um determinado autor e pensei comigo: esse cara vai me matar. O caso é que o autor, que era baiano e estava de passagem pelo Rio quando leu o meu texto, teve uma atitude completamente diferente. Ele achou que fui sincero; e gostou da crítica.

Fonte:
Questões Negras

Adonias Filho (História de Emílio)

Pintura de Van Gogh
Paulino Duarte sabia, desde que Miguel Duarte morrera, ele sabia que, bem no abismo da sua alma, havia um grande medo inexplicável. Uma coisa inexprimível, irreversível, estagnante, que o fazia ouvir vozes, particularmente aquela voz vazia que pronunciava o nome de Lica. Era como alguém que endoidecia, vagando pela casa fechada, trêmulo, escutando alarido do vento nas palmeiras do quintal. Os ratos corriam na despensa, calafetava os buracos das paredes com canhamaço. As vozes, porém, continuavam, fracas como um bocejo. Pálido, da sala, só encontrava sossego quando abria a porta e chamava os cães aos berros. Entre eles, as pulgas mordendo, sentia-se calmo e adormecia. No entanto, na noite seguinte o mesmo martírio, a mesma tortura. Algumas vezes, no reflexo da luz, distinguia o rosto do pai bêbado, a barba falhada de Juca Pinheiro. Foi em uma dessas noites, pouco tempo após a morte de Miguel Duarte, que ouviu, dentre o ruído da chuva, fortes pancadas na porta da cozinha. Acorreu, empunhando o facão, e abriu a porta com um grito: “Quem está batendo aí?” E, encontrando um homem, quase despido, inteiramente molhado, perguntou: “A quem você procura?” O homem respondeu: “Miguel Duarte.” Deteve-se, o coração aos saltos, e respondeu: “Miguel Duarte! Miguel Duarte morreu!” O homem apertou as mãos, uma na outra, como se estivesse com frio, e disse: “Eu preciso falar com Miguel Duarte, a minha conversa é sobre Ubaldo, que está morto e bem morto.” Paulino Duarte recuou, exaltado: “E foi você quem matou Ubaldo? Ubaldo... Mas, quem é você? Que tem a ver meu pai com esse Ubaldo?” O homem fitou-o de relance, respondendo: “Lica, sabe. Faze anos, muitos anos... Ah! O meu nome? Emílio, sim senhor, Emílio.” Entrou na cozinha, os olhos nas panelas, dando a entender que estava faminto.

Comera fartamente, a corcunda deformando o dorso. Depois, sentando-se, acendeu o cachimbo. Disse, a voz pairando no ar como uma lástima: “Eu não posso sair, ficarei aqui durante muitos anos.” Calou-se, sacudindo a cabeça como um tonteado, embuçado no solilóquio que se revelava pelo cochicho dos lábios. Paulino Duarte, alegre por encontrar alguém que lhe fizesse companhia, ouvindo o latejar das próprias têmporas, julgou fosse ele um pouco doido. Perguntou-lhe: “Mas, como foi isso? De onde vem seu conhecimento com meu pai? Por que Juca Pinheiro nunca me falou nisso?” Ele interrompeu: “Espere, espere, eu conto.” E, já na sala, trajando uma roupa enxuta que Paulino Duarte lhe emprestara, a luz empalidecendo o seu rosto como se fosse de cera e um escultor o houvesse feito naquela hora , começou a narrar a sua história. Paulino Duarte não o interrompeu uma única vez.

- Coisas existem, na nossa vida, infalíveis como a própria morte. Tarde ou cedo, acabam por chegar um dia. Precisamos aguardá-las com insensibilidade, quase com desprezo, para vencê-las ou por elas sermos vencidos. A desgraça que me esperava era uma coisa assim. Eu sabia que ela chegaria. Juro, pela minha honra, que sabia. Aguardei-a, prevenido, dizendo a mim mesmo, aconselhando-me naqueles ermos de Duas Barras: “O difícil, Emílio velho, não é vencer, o difícil é saber fracassar.” E esperava, hora a hora, que viesse, e me agarrasse impiedosamente, transformando-me nisso, neste homem acuado que agora sou. Antes - faz tantos anos , apesar de doente, sempre fora uma criatura mais ou menos feliz. Meu pai, que Deus o tenha no céu, morrendo, deixou-me a sua pequena fazenda. Vivia deslumbrado, sem nenhum amargor, amigo de todo mundo. Ali, esquecido naqueles ermos, aprendi a esmiuçar as coisas, decifrar os mistérios, o campo me ensinava, ajudava-me a compreender a vida. Tudo possuía um aspecto de alegria eterna, o sol ou o vento, a noite ou a água. Gostava de ficar deitado sobre a “barcaça” aberta, sonhando, contando indefinidamente as estrelas do céu. Idealizava, naquelas noites de solidão, o céu nos meus olhos como um desenho mágico, idealizava grandes aventuras, exóticas histórias de amor e guerra. Sentia-me inocente como a ave de ninho feito na cumeeira da casa. Assim - como é triste lembrar! - decorreram anos, muitos anos da minha vida. Uma tarde, porém, voltando do rio, encontrei um homem, uma pessoa estranha. Chamava-se Manuel Pedro.
Quer saber quem era Manuel Pedro? Como era Manuel Pedro? Olhos vivos de gato em uma fisionomia parada de estátua. Dir-se-ia não haver sangue, sangue e nervos, no rosto chato. Apenas um bloco de carne, sem pêlos, nariz acurvado como bico, testa ampla, boca pequena, sempre fechada, escondendo os dentes de animal carnívoro.

Fonte:
Academia Brasileira de Letras

Adonias Filho (1915 – 1990)



Adonias Aguiar Filho (Itajuípe, 27 de novembro de 1915 — Ilhéus, 2 de agosto de 1990) foi um integralista, jornalista, crítico literário, ensaísta e romancista brasileiro, membro da Academia Brasileira de Letras.
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Era filho de Adonias Aguiar e de Raquel Bastos de Aguiar.

Em 1936, dois anos após ter concluído seu curso secundário em Salvador, mudou-se para o Rio de Janeiro, na época capital do Brasil, onde retomou a carreira jornalística, iniciada em Salvador. Colaborou com o jornal Correio da Manhã e atuou como crítico literário nos Cadernos da "Hora Presente", de São Paulo em 1937, no "A Manhã", nos anos de 1944 e 1945 além do "Jornal de Letras" (1955 a 1960) e do "Diário de Notícias" (1958 a 1960). Em São Paulo, colaborou também com o O Estado de S. Paulo e "Folha da Manhã".

Entre os anos de 1946 e 1950, dirigiu a Editora "A Noite". Foi diretor do Serviço Nacional de Teatro, em 1954 e diretor da Biblioteca Nacional nos anos de 1961 a 1971. Ainda como diretor, trabalhou na Agência Nacional do Ministério da Justiça.

Adonias Filho foi consagrado com o título de imortal pela Academia Brasileira de Letras em 14 de janeiro de 1965. Recebeu em 23 de maio de 1969 a posse da cadeira número 21 da Academia Brasileira de Letras pelas mãos do acadêmico Jorge Amado.

No ano de 1966 foi eleito vice-presidente da Associação Brasileira de Imprensa e no ano seguinte, membro do Conselho Federal de Cultura sendo reconduzido em 1969, 1971 e 1973. Foi presidente da Associação Brasileira de Imprensa em 1972 e presidente do Conselho Federal de Cultura de 1977 até 1990, ano de sua morte.

Adonias Filho, como escritor, buscou inspiração para as suas obras de ficção na zona cacaueira próxima a Ilhéus, interior da Bahia, local onde nasceu e passou sua infância. Esse ambiente é notado logo no seu romance de estréia, "Os servos da morte", publicado em 1946. No romance, aquela realidade serviu-lhe apenas para recriar um mundo carregado de simbolismo, nos episódios e nos personagens, encarnando um sentido trágico da vida e do mundo. Foi ligado ao grupo Festa.

A utilização de recursos altamente originais e requintados, adaptados à violência interior de seus personagens, faz de Adonias Filho um integrante do grupo de escritores que, a partir de 1945, a terceira fase do Modernismo, se inclinaram para um retorno a certas disciplinas formais, preocupados em realizar a sua obra, por um lado, mediante uma redução à pesquisa formal e de linguagem e, por outro, em ampliar sua significação do regional para o universal. Seus romances e novelas serão sempre destaque na literatura de ficção brasileira contemporânea.

Suas obras foram traduzidas para o inglês, o alemão, o espanhol, o francês e o eslovaco.

Faleceu sua fazenda Aliança, em Inema (sul da Bahia), logo depois de perder sua amada esposa.

Prêmios
Prêmio Paula Brito de crítica literária (Guanabara, 1968), com o livro "Léguas da promissão",
Golfinho de Ouro de Literatura (1968),
Prêmio PEN Clube do Brasil,
Prêmio da Fundação Educacional do Paraná (FUNDEPAR)
Prêmio do Instituto Nacional do Livro (1968-1969)
Prêmio Brasília de Literatura (1973), da Fundação Cultural do Distrito Federal.
Prêmio Nacional de Literatura (1975), do Instituto Nacional do Livro, na categoria de obra publicada (1974-1975), com o romance As velhas, e Prêmio Jabuti na categoria romance.
Título de Doutor Honoris Causa pela Universidade Federal da Bahia, em 1983.

Obras

Renascimento do homem - ensaio (1937)
Tasso da Silveira e o tema da poesia eterna - ensaio (1940)
Memórias de Lázaro - romance (1952)
Jornal de um escritor (1954)
Modernos ficcionistas brasileiros - ensaio (1958)
Cornélio Pena - crítica (1960)
Corpo vivo - romance (1962)
História da Bahia - ensaio (1963)
O bloqueio cultural - ensaio (1964)
O forte, romance (1965)
Léguas da promissão - novela (1968)
O romance brasileiro de crítica - crítica (1969)
Luanda Beira Bahia - romance (1971)
O romance brasileiro de 30 - crítica (1973)
Uma nota de cem - literatura infantil (1973)
As velhas - romance (1975)
Fora da pista - literatura infantil (1978)
O Largo da Palma - novela (1981)
Auto de Ilhéus - teatro (1981)
Noites sem madrugada - romance (1983).

Fonte:
Wikipedia

Aluísio de Azevedo (Hamleto)



Todo o homem inteligente, que tenha lido durante a vida mais de dez livros de literatura, sente um delicado abalo e um ligeiro frêmito nervoso agitarem-lhe o coração, todas as vezes que vê anunciado, por um ator de nome, o inabalável Hamleto de Shakespeare.

E só com o Hamleto acontece isto. Donde lhe virá tão transcendente privilégio? Qual o segredo da magia dessa misteriosa obra de arte, que assim acorda ao mesmo tempo mil impressões, sem que destas nenhuma entretanto se definisse até hoje claramente?

Todos conhecem Hamleto; muitos o discutem; ninguém e nega; todos o aceitam; todos o desejam; todos o amam doidamente; mas ninguém o explica; ninguém o define, porque o próprio Hamleto não se explica, nem se define a si mesmo. Não se define, porque ele próprio é a mesma dúvida; é a mesma contradição; ele é o indefinido afeiçoado por um poeta de gênio.

Anunciado o Hamleto, correm todos a vê-lo inda uma vez; mas, por melhor que seja a interpretação que lhe dê o artista ninguém até hoje saiu do teatro amplamente satisfeito por ter visto mover-se em cena o Hamleto sonhado pelo seu coração e pela sua inteligência.

Nenhum trágico deu jamais ou será capaz de dar ao vivo esse tipo-enigma, esse idolatrado mito, que vive na imaginação de todos, porque fia Hamleto, posto que muito humano, não é homem.

Não é um personagem em arte, é um símbolo. É a dúvida, intangível e incorporável como o indefinido. E nisso está o seu valor. Todos o compreendem, mas ninguém o define em crítica, nem o traduz em cena satisfatoriamente.

Todos o sentem; todos o compreendem; todos o conhecem, como a um íntimo e querido companheiro da sua própria alma e da sua própria incerteza. Pelo espírito de todo o homem inteligente, por mais curta, mais longa, mais tranqüila ou agitada que seja a sua vida, já pelo menos uma vez, atravessou essa misteriosa sombra, com O seu olhar estranho, embaciado pela indefinida tristeza da dúvida. E essa sombra nunca mais se apagou desse espírito.

Por todo o cérebro, iluminado pelo menos por uma idéia, já algum dia se arrastou gemendo a desvairada melancolia de Hamleto, perguntando à dor da sua própria dúvida, o irrespondível “ser ou não ser”? E o eco desse gemido sem resposta aí ficou gravado para sempre, como a saudade de um amor, ou como o remorso de um crime.

Shakespeare, que formou genialmente os seus tipos com a intensidade das próprias paixões que eles sintetizam; ele que criou o Ciúme com o próprio ciúme; a Loucura com a própria loucura; a Avidez com a própria avidez e o Amor com o próprio amor – fez o Indefinido com o próprio indefinido.

Se Hamleto não fosse contraditório; se fosse explicável e coerente, seria incoerente e contraditório, e nunca seria Dúvida.

Ele é todo feito de contradições; é enérgico e vacilante; indiferente e apaixonado; vingativo e carinhoso; louco e sensato; hipócrita e sincero; paciente e desensofrido; prudente e arrebatado; generoso e pérfido; é bom e é cruel; é bom filho, e é mau filho. As suas lágrimas são escarninhas e o seu sorriso dói. O seu amor é uma queixa contra o seu próprio amor, e o seu ódio é a seiva e é a vida do seu coração. Ele é a Dúvida, que só se define pela dúvida. Ele é a Contradição, que só se afirma pela contradição. Ele é enfim o indefinido.

Ele é o Indefinido quando diz a Ofélia que nunca a amou, mas que a ama agora, contanto que ela nada espere desse amor e se recolha a um convento. Ele é Contradição quando diz que todos os homens, sem excetuar nenhum, nem ele próprio, suo miseráveis, tendo afirmado que seu pai, o rei da Dinamarca, era tão belo modelo de valor e virtudes que só aos deuses podia ser comparado. Ele é contradição no seu extremoso amor filial, porque ele é o carrasco de sua própria mãe. Ele é Contradição quando, tendo já se encontrado e entendido com o espetro de seu pai, que lhe faz revelações imprevistas, vem depois, no célebre monólogo do terceiro ato, falar-nos dessa outra margem oposta à da vida, a morte, donde, afirma ele, nunca ninguém voltou ao mundo que habitamos. Ele é Contradição quando, tendo friamente assassinado Ofélia com a sua cruel indiferença, lança-se diante do cadáver dela, desafiando a quem na terra a possa amar mais do que ele.

Toda essa contradição é a Dúvida.

E porque Hamleto é a Contradição, Hamleto é inexplicável, é vago, é sombra que escapa à grosseira vista dos sentidos, e só pode ser bem julgada e compreendida pelo espírito e pelo coração. Ele, só dentro de nós mesmos, existe real e perfeito; desde que qualquer arte plástica pretenda dar-lhe forma, as suas fantásticas proporções logo se amesquinham, e Hamleto deixa de ser Hamleto como todos o conhecem.

Hamleto fora da nossa imaginação é um polvo fora d’água.

Ele pertence a todos e pertence a cada um em particular. O abalo que se experimenta ao ouvir o seu nome mágico parece a cada indivíduo um caso privado de simpatia. É que Hamleto é a misteriosa expressão da dúvida de cada um de nós. Todos nos embriagamos com esse doloroso e eternal idílio entre o conhecido e o desconhecido.

Pensar em Hamleto é pensar em Ofélia. Menos ideal do que ele, mais terrena, mais sensual, ela é também ainda assim uma visão intangível. Ofélia, toda branca, toda loura, toda amorosa, esbate-se como sombra abraçada à sombra de Hamleto; mas a loucura que nele é sonho e embriaga, nela é realidade e dói.

Só um instante ela é mulher. A sua carne de virgem desaparece desde que ela inclina a dourada fronte, vencida n’alma pela irresistível dúvida do seu príncipe incompreensível, e a pensativa sombra de Hamleto arrasta-a para o indefinido.

Ofélia é triste e contraditória estrela, que se acende à luz do dia e desmaia à sombra da noite. E’ uma estrela afogada na noite da Dúvida.

O seu diálogo com Hamleto é o melancólico idílio de uma luz que morre e suspira com a treva que geme e arqueja.

Há por entre as suas frases doloridas todos os soluços da miséria humana, como entre as de Hamleto há toda a velha agonia da dúvida em que nos arrastamos na vida.

- Eu te amei… Outrora…

- Assim o supus…

- Não devias acreditar… Eu nunca te amei…

- Ai!…

- Entra para um convento… não queiras ser mãe de pecadores. Nós somos todos miseráveis… Fecha-te num claustro…

- Os mimos de amor que me destes aqui os tendes, levai-os… já não têm perfume… o coração que mos deu já me não ama…

- Ah! Ah! és virtuosa?…

- Senhor…

- És… bela?

- Meu senhor…

- Bela e virtuosa. Separa a tua formosura da tua virtude, porque a beleza tem garras fortes e a virtude fraca defesa…

- Meu senhor…

- Entra para um convento… Eu supunha que te amava dantes… Só agora é que te… Faze-te freira…

E a estrela apaga-se de todo e a treva fecha-se na treva, deixando para sempre no espírito de quem escutou o seu idílio a saudade de unia música indefinida, feita de suspiros e de soluços.

* * *

E, pois, quinta-feira passada corri ao teatro Lírico. E o Sr. Novelli disse-me do palco, não sei em nome de quem, que Hamleto era “Histrião por vingança”.

E, com efeito, um calculado doido começou com a sua calculada loucura a intrigar, nem só todos os outros personagens da peça que se representava, como a mim próprio e aos outros espectadores que o ouviam.

Desconheci a tragédia. No fim de algum tempo perguntava a mim mesmo quem seria aquele violento intrigante, aquele sensual dinamarquês que vociferava contra os seus companheiros de cena.

E, â proporção que o Sr. Novelli refundia Shakespeare, Hamleto, a misteriosa sombra que persiste dentro de todo o homem que já leu dez livros literários, ia-se a pouco e pouco afastando de mim, até que, ao terminar o espetáculo, quando o falso doido estica-se e morre, já o meu querido e misterioso Príncipe da Dúvida, que nunca me abandonara o espírito desde que o conheci, tinha de todo me fugido; e eu comecei a sentir-me só, frio, abandonado moralmente, viúvo de um velho companheiro espiritual.

Tive vontade de chorar.

E então apoderou-se de mim um desejo forte, desensofrido de ver Hamleto, de ouvi-lo para matar saudades, de senti-lo vivo, para me convencer de que o Sr Novelli não o tinha assassinado para sempre.

Corri a casa e reli avidamente o divino poema da Dúvida.

Ah! felizmente, antes de adormecer, já de olhos fechados, achei de novo a querida sombra pensativa; estava defronte de mim, imóvel, a fitar-me com um triste olhar de tédio e de desdém, como se eu tivesse culpa do que. sucedeu quinta–feira no teatro Lírico.

Ela voltou, felizmente, mas do susto de a ter perdido é que já ninguém me livra.

E, agora, juro que o Sr. Novelli não ma roubará outra vez, ainda que por cinco minutos.

Nada, com cousas sérias não se brinca!

(Publicado Originalmente em O Pais, 23 de junho de 1895.)

Fonte:
Biblio

sábado, 11 de julho de 2009

João do Rio (A Menina Amarela)



Havia oito dias, Pedro de Alencar, aquele rapaz tão distinto e com uma posição invejável, ia seguidamente à casa de Flora Berta. Toda a roda estava admirada. Pedro - criatura feita de aristocracias inatas, cultor de elegâncias, encafuado num conventilho da Cidade Nova, entre mulheres de má vida, apaixonado pela Flora Berta, gordinha e vulgar nos seus vinte anos! Parecia impossível! Era decerto um novo vício, mais uma esquisitice moral.

Depois, Flora, curioso ser de instinto, tinha um amante, sujeito forte e carnudo, em casa a noite e o dia; e mais uma tropa de amigos íntimos que se aproveitavam dos esquecimentos da proprietária; para almoçar, jantar, dormir e, sempre que havia ocasião, amar. Não! Era impossível. Entretanto, Pedro de Alencar estava cada vez mais preso, e ao encontrar um dos seus mais acirrados amigos, deu a solução do enigma daquela atração.

- É esplêndido, filho, de inconsciência moral! Não imaginas a atmosfera permanente de animalidade vestida. Há meia dúzia de mulheres que só pensam nos homens, uma caterva de homens a galopar pelos corredores. E tudo, até os móveis, parecem gritar a falta de vergonha. Com um mês de estadia naquela casa, fica-se a perguntar onde está o pudor. Realmente, existe o pudor? Existiu mesmo? Estou de observação, meio alegre e meio triste.

A casa em que Pedro de Alencar estava de observação tinha no quarto da frente Flora Berta, com uma cama quebrada, um sofá servindo de toilete e as fotografias e os cartões postais dos seus apaixonados, pregados a tacha pelas paredes. As paredes estavam cobertas dessa ilustração amorosa e edificante. No quarto pegado, morava a Rosinha da Gruma, uma pobre mulher de boca mole e dentadura postiça, que se fizera especialista em amar meninos. Tinha talvez trinta permanentes, dos treze aos dezoito anos, que lhe levavam os magros vinténs, ardendo de devotamento e choravam quando se viam preteridos pelo mais velho, bela envergadura de atleta, cujo primeiro e único carinho fora a aplicação de uma sova tremenda. Na alcova pegada, morava um tipozinho franzino e pintado, a Formiga, apaixonada por um adolescente belo como o Perseu de Benevenuto, e no quarto da sala de jantar, rebaixada por falta de pagamento, Nina Banez, ex-cantora de café-concerto, subitamente empolada pelas caretas de um cômico jovem chamado Andrade. Ainda para os fundos moravam a velha mãe de Flora, com um tipo valentaço, que lhe batia diariamente, o irmão de Flora, ser ambíguo e serpentino, e a criada - uma criada baiana, sempre envolta num chalé e fumando certo cachimbo tão comprido, que parecia mais um narguilé.

Esse pessoal fazia ponto de reunião na estreita casa de jantar, onde, além da mesa, de um guarda-comida e da bilha de barro, havia uma lousa negra, em que se expunham os nomes das pessoas devedoras. Para passar aos quartos, passava-se por ali. Quartos havia que exigiam mesmo a passagem por outro. De modo que de repente, na conversa animada, havia um silêncio. Era alguém que entrava.

- D. Rosinha está?

Se era conhecido, o silêncio transformava-se em alarido.

- Ora, entra, deixa de partes!

Se era coisa nova, ou havia complicações, uma companheira dizia sempre:

- Vou ver.

Ia apenas prevenir. O que estava, saía por outra porta a vir tomar cerveja, e a Rosinha aparecia calma e sorridente:

- Só agora, seu mau! Estou à espera há tanto tempo!...

As damas estavam sempre em roupão, ou em camisa, os homens à frescata. A noite, assim por volta de uma hora da manhã, quando voltavam do teatro e dos cafés, organizavam-se ceias súbitas. Cada rapaz ia comprar uma coisa. Alguns, quando não tinham dinheiro nem para isso, vestiam as camisas das damas e ordenavam os outros com ares dominadores.

Pedro de Alencar assistia às cenas desenfreadas com um excelente bom humor. A princípio Flora Berta fazia sair o rapaz vigoroso por um dos quartos, para não se encontrarem. Pedro deu com o rapaz um dia à porta...

- O Sr. Francisco?

- As suas ordens.

- Subamos juntos.

- Parece-me...

- Nada mais interessante.

O Sr. Francisco subiu. Foi um acontecimento. Entre Francisco e Pedro, Flora Berta irradiava de orgulho e de prazer. Francisco era a sua satisfação física. Pedro o seu apetite de efeito. O segundo era mostrado como se mostra um colar de preço; o outro era invejado como um jantar sempre quente. E, verdadeiramente repartida, pendida para Pedro, com as mãos para Francisco, parecia felicíssima. De resto, embaixo, o automóvel de Pedro carbunculava na treva, e ela não resistia em ir correr a imensa Avenida do Mangue, um manto apenas sobre as espáduas nuas como Frinéia, só com o seu homem de luxo...

As conversas gerais nunca eram de uma inteira cordialidade. De suscetibilidade grande, essas damas zangavam-se por qualquer coisa, umas com as outras. Um vocabulário assustador surgia, portas batiam, gritos, ameaças de conflito. De vez em quando o ardente sustentador da mãe da dona da casa aparecia alcoolizado, com um punhal formidável, querendo matar toda a gente. As mulheres atiravam-se às janelas, pedindo socorro, e como a delegacia era próxima, minutos depois, soldados de espadagão trepavam escada acima, prestes aprender todos os presentes. Como, porém, o delegado tinha uma especial amizade a Flora Berta, tudo continuava na mesma. E ela vociferava indignada:

- Canalhas! Se não fosse eu, estava tudo preso!

Mas o agradável eram as tardes e as noites passadas na sua alcova paupérrima. Berta fechava-se por dentro, farta daquela vida, querendo uma casinha com palmeiras e canários. De um lado Francisco, sempre enleado, sorria; de outro, Pedro, muito alegre, fazia-lhe perguntas, e ela deitada, ria a morrer e contava coisas, como desde criança imaginara ser raptada, a fuga aos quatorze anos com o marido, um barbeiro, aliás, meio tolo, o abandono da casa por causa dos ciúmes da mamã, a quem sustentava.

- Afinal, sempre é mãe, não achas?

Depois tinha ternuras de voz:

- Na minha vida, até agora não tinha gostado de ninguém.

- E agora?

- Agora gosto de vocês dois.

E piscava os olhos para o Francisco, se Pedro estava voltado, tendo o cuidado de significar por um sinal qualquer a Pedro a sua preferência. O Sr. Francisco talvez acreditasse. Pedro divertia-se, amando, afinal, como devia amar essa criaturinha, ingênua, apesar de perdidíssima naquele ambiente de crápula. Era dos que se contentam com o que as mulheres dão, achando-as sempre generosas, por piores que elas sejam. E isso dava-lhe em pouco tempo uma enorme vantagem sobre todos os outros.

- Duvido! bradava ele.

- Juro!

- E estes retratos todos?

Ela então contava a história e as particularidades de cada um daqueles cavalheiros, ia buscar as cartas para lerem alto, rindo. Um dia, Pedro propôs o degolamento geral do exército de fotografias.

- Apoiado! fez com uma alegria terrível o Sr. Francisco.

- Não! não! clamava Flora Berta, louca de riso com a idéia do julgamento e da morte dos retratos.

Horas depois as paredes estavam nuas e Pedro sentia aquele misto de contentamento e de tristeza que tem todo o homem moderno, quando irreparavelmente o mundo lhe mostra o vácuo dos sentimentos. Era inacreditável! Não sentiam aqueles seres, não pensavam, não tinham um toque que os díferençasse dos animais, e pareciam felizes e viviam. Talvez fosse melhor não sentir, porque o pudor é a diferenciação do homem, e aqueles sem pudor viviam radiantes. Nenhum deles teria ao menos um laivo de decoro d'alma?

Talvez tivesse, mas tão apagado, tão liquefeito, e com certeza tão extemporâneo! Os homens pareciam ir ali despir a vergonha para estar à vontade; as mulheres nascidas naquele meio desde crianças, ainda impúberes e já com o conhecimento completo das mais tremendas luxúrias, prestando-se a todas as ignomínias, ignoravam mesmo o que fosse o pudor. E a sua dignidade, - porque elas tinham dignidade - era ter muitos amantes e não se zangar quando as outras lhes tomavam alguns.

- Meus restos, criatura...

O ceticismo romântico de Pedro tornava-se de uma análise penetrante, fazia-o um avaliador de algumas frases inconscientes daquela gente que ele tivera a ilusão de julgar um pouco melhor que a roda da diversão e prazer caro. Pois era pior. Pior porque não era imoral. Nem isso. Pior porque era a alma nua espojando-se e mostrando as mazelas. Aquelas mulheres tinham sido virgens, talvez tivessem ignorado a vida. Nenhuma delas, porém, mostrava, na abundante tagarelice, um sentimento perfumado, uma vaga emoção dignificadora, - tropa meio bamba de bacantes permanentes, com instintos selvagens. E, entretanto, Pedro não desanimava. Fazer-se amar pela Flora Berta? Pobrezita! Não. Ver uma daquelas mulheres mostrar subitamente qualquer coisa de nobre? Não. Pedro esperava o terrível, o imprevisto, lugubremente horrível que há sempre a pairar nos transbordamentos banais da luxúria. E naquela casa aberta a toda a gente, onde se praticava a vida animal sem mistério, sem recato, na sarabanda das ceias, nas mais desenfreadas orgias, em diálogos com a velha mãe de Flora, diariamente espancada, forçando a intimidade com o amoroso Francisco, a cada instante parecia-lhe sentir que impalpavelmente a revelação imprevista ia surgir.

Uma vez, Pedro estava só com a Flora, quando bateram à porta:

- É o Francisco.

- Não, ele bate de outro modo. Decerto alguém que vai passar para o quarto da Rosinha.

Deu a volta à chave, abriu. Diante deles estava, com a sua saia suja, o casaco em tiras, o cabelo de estopa por pentear, uma pobre menina.

Era horrível.

Pequena, miúda, magra, o pescoço fino, tremia como se viesse da neve. E parecia que lhe tinham dado por dentro da pele um violento banho de enxofre. Tinha jalde a face, a pele das mãos era amarela, os lábios, sem sangue, laivavam-se de amarelo, e nas olheiras cor-de-perpétua a esclerótica era cor-de-ovo. Lembrava um espectro de pesadelo, um ser irreal, onde só os seios duros e eretos davam uma impressão de vida impetuosa.

Quando viu Pedro, agarrou-se à porta, a face contraída, tremendo.

- Que queres? indagou colérica Flora.

- Foi a senhora sua mãe que mandou. Pensava estar só, balbuciou a petiz.

- Não disse já que não aparecesse aqui?

- Foi sem vontade. Desculpe. Eu não gosto, não, de aparecer.

E foi recuando, pávida. Berta fechou a porta.

- Que bicho é esse?

- Uma rapariguita, que está aí de favor. Ajuda lá na cozinha.

- Não a tinha visto ainda.

- Tem medo, é uma tola. Imagina tu que tem medo aos homens! Por isso não aparece.

- Mau lugar escolheu ela.

Mas de novo arranhavam à porta. E de fora uma voz lívida, voz de medo, de angústia, de pavor, de choro, quase soluçante, dizia:

- Sou eu ainda, minha senhora. Sua mãe manda buscar a bacia...

Prevendo uma violência da encantadora Flora e mais do que tudo cheio de curiosidade, Pedro ergueu-se rápido e tomou abrir a porta.

- Vá, entre.

A pequena hesitou como se fosse atirar-se a um abismo, fechou os olhos, arregalou-os muito, esticou as mãos amarelas, andou um pouco. Tinha os pés nus e sujos e andando arfava como um duende aterrado. Agarrou a bacia, sobraçou-a. Era atroz, assustadoramente atroz.

- Vem cá. Como se chama você?

- Fala, menina, não tremas. Este senhor não te faz mal. É isso. Vê homem, começa a tremer! Ó Maria, como te chamas? Conta como foi, rapariga, vem cá...

A pequena amarela olhou-os um instante mais, convulsionou-se num soluço que lhe esbugalhava o olhar e deitou a correr pelo corredor. Houve um silêncio, logo interrompido pelo riso de Flora Berta.

- Está há muito tempo contigo?

- Três meses. Foi o pai que a colocou aqui. Tem doze anos e já com aqueles seios...

- Mas está doente, filha. Nunca vi na minha vida uma criatura tão amarela.

Flora voltou-se no leito. Estava linda com a sua carne de leite e rosa.

- Não. Aquilo foi de repente. Há quatro meses um carroceiro, amigo do pai, agarrou-a de noite, à força. No outro dia foram encontrá-la assim, a soluçar, não podendo olhar os homens sem tremer, sem fugir. Nem mesmo o pai. E amarela, toda amarela, filho. O médico disse que foi de horror...

No dia seguinte os hóspedes alegres da casa de Flora Berta verificaram com mágoa que Pedro de Alencar, aquele rapaz tão distinto e com uma posição invejável, deixava de aparecer.

Fontes:
RIO, João. A mulher e os espelhos. Rio de Janeiro, Departamento Geral de Documentação e Informação Cultural, 1990.
– Imagem = http://tresequinze.blogspot.com

Dicionário do Folclore (Letra R)



. A rã, como acontece também com o sapo, é tida como a protetora das nascentes d’água. As rãs, quando coaxam, estão chamando chuva, razão pela qual os índios chamam-na de mãe da chuva.

RABADA. É um prato da culinária nordestina, bastante apreciado. A carne da rabada do boi ou da vaca, cozida com temperos convencionais, é servida com o pirão feito do próprio caldo, com molho de pimenta.

RABECA. É um tipo de violino de timbre mais baixo, com quatro cordas de tripa, afinadas por quintas, sol-ré-lá-mi, que são friccionadas por um arco de crina untado com breu. A rebeca é uma espécie de violino popular. Seu som é fanhoso e triste. A rebeca é um instrumento universal e tocada nos bailes matutos do sertão.

RABICHO-DA-GERALDA. É o mais antigo modelo da gesta do gado que se conhece, poesia contando as proezas de um boi do Ceará que, durante nove anos, resistiu aos vaqueiros da região que saíam em sua perseguição sem êxito. A poesia é em quadras ABCB. O rabicho da geralda foi abatido a tiros de bacamarte.

RABO-DE-GALO. É a tradução do cock-tail. Mistura de bebidas alcoólicas. Rabo-de-galo, em São Paulo, é a mistura de vermute e cachaça; já no Recife é a mistura de conhaque, vermute e gim ou conhaque e vermute.

RAFAEL. No Rio Grande do Sul Rafael é sinônimo de apetite, de fome, na linguagem popular. Lá, a expressão chegou-o-rafael, significa que está na hora do almoço ou do jantar.

RAINHA-DO-MAR. Veja IEMANJÁ.

RAIO. A maioria das crendices referentes ao raios foi trazida pelos colonizadores portugueses. Para evitar a morte pela fulminação dos raios é bom queimar as palhas secas de coqueiro guardadas do Domingo de Ramos, fazendo-se, também, cruzes com a mesmas palha, cruzes que devem ser pregadas na porta de entrada da casa. Os santos que protegem as casas contra os raios são Santa Bárbara e São Jerônimo. Algumas famílias, nos dias de tempestade, costumam cobrir os espelhos.

RAIVA. É um bolinho feito com farinha de trigo, ovos e açúcar, em Portugal. No Brasil, a farinha de trigo é substituída pela goma de mandioca; assim, a raiva fica mais gostosa.

RAIZEIRO. Nome que se dá às pessoas que lidam com plantas medicinais, sabendo prepará-las e usá-las para curar doenças diversas. Também conhecido como Doutor-Raiz, tipo encontradiço nas feiras do Nordeste.

RALA-BUCHO. É a dança popular, o forró.

RAMALHÃO. É o nome que se dá a uma dança popular paulista, com a finalidade de serem pagas as promessas feitas a São Gonçalo. Consiste a dança em uma fileira de homens e outra de mulheres, frente a frente, fazendo evoluções, permutando os lugares ao som da viola. Os versos que cantam às vezes são improvisados.

RAMO. É doença, enfermidade veiculada pelo ar, de natureza infecciosa. Várias são as modalidades de Ramo: Ramo do Ar, Ramo Ruim, congestão cerebral, estupor, paralisia, gota serena.

RANCHO. 1. No Nordeste é uma casinha rústica, pousada, hospedaria, onde os vaqueiros, que conduzem boiadas, param para dormir, descansar. 2. Na Bahia e no Sul, é um grupo festeiro das solenidades populares do Natal, cantando e dançando. Também é conhecido como reisado.

RAPADURA ou RASPADURA. É um tijolo de açúcar mascavado e constitui uma gulodice no Norte do Brasil. Várias são as espécies de rapadura: as de açúcar branco, rapadura de laranja, confeitadas com cravo e castanha de caju. As conhecidas são as rapaduras do Cariri que não têm forma de tijolo e são envolvidas por palha seca de bananeira e são conhecidas como rapadura batida, mais moles, macias e de gosto um pouco diferente por conta do cravo.

RASGA-MORTALHA. É uma pequena coruja alvacenta, de vôo pesado e baixo. O atrito de suas asas produz o som de um pano que está sendo rasgado. Quando ela passa sobre uma casa onde alguma pessoa está doente, o povo acredita que ela esteja rasgando mortalha do doente, prestes, assim, a morrer. Veja CORUJA.

RASOURA. É o nome dado às procissões de curto percurso, geralmente em torno da igreja.

RASPA-RASPA. É uma mistura de gelo raspado com xarope de fruta muito vendido nas feiras, nas praias, na entrada dos campos de futebol e nas ruas das cidades do Nordeste.

RASPADOR. É o nome dado ao reco-reco na Folia de São Benedito do Amazonas. É feito com um pedaço de taquara grossa, fechada nas suas extremidades pelos próprios nódulos da madeira, com parte de sua superfície dentada. Sobre a superfície dentada, raspa-se com uma vareta. O raspador é o instrumento do mestre-sala através do qual dá todos os comandos.

RASPADURA. Veja RAPADURA.

RASTEJADOR. É a pessoa que descobre onde a caça ou seres humanos se encontram seguindo o rastro que vão deixando pelo chão onde passam ou através dos galhos quebrados dos pequenos arbustos. Onde existe floresta, mata, caatinga, existe sempre o rastejador.

RATOEIRA. É uma dança regional de Santa Catarina. Dança-se a ratoeira, formando-se um círculo de moças e rapazes de mãos dadas. No meio da roda fica um rapaz ou uma moça que canta uma quadrinha enquanto os da roda avançam, repetindo a quadrinha. É a ocasião própria para as declarações de amor ou para os desafios entre os rivais.

REALEJO. Veja FOLE ou GAITA.

REBAÇÃ. Veja RIBAÇÃ.

RECADO-PELO-MORTO. Em alguns países da Europa e da África o recado-pelo-morto era uma prática antiga. Até mesmo aqui, no Nordeste, pode-se encarregar um defunto, que vai ser enterrado, de dar um recado a outra pessoa falecida anteriormente.

RECO-RECO. É um instrumento de percussão feito com um gomo de bambu, com talhos transversais e que, friccionado com uma vareta de ferro ou mesmo de madeira, produz um som de rapa. Na Bahia o reco-reco é conhecido como ganzá.

REDE. 1. Feita de tecido resistente e suspenso pelas extremidades em armadores ou ganchos, a rede é uma espécie de leito – para dormir ou descansar – muito usada no Nordeste. Os meninos sertanejos não dormem em berços; depois que nascem, são acostumados a dormir em rede, que as mães balançam até o sono chegar; 2. Rede também é o nome que se dá a uma peça feita de cordões/fios entrelaçados para pescar; 3. Rede-de-arrasto é, também, a moça que tem muitos namorados, na linguagem do povo.

REDEMOINHO. É o vento, em espiral, também conhecido como remoinho e rodamoinho. O povo acredita que o redemoinho seja o encontro, a briga, a vadiação dos ventos. No Sul, o Saci-Pererê é o responsável pelos redemoinhos. Ela salta no meio dos ventos, roda, gira, corcoveia, arrebatando folhas, garranchos e poeira. Para fazer cessar o redemoinho, atira-se nele um rosário de contas brancas ou uma palha benta.

REIS. Festas populares em alguns países da Europa dedicadas aos Reis Magos em sua visita ao Menino Deus. Na Espanha e em Portugal os reis continuam comemorados, sendo a época de se dar e receber presentes. O Dia de Reis marca o fim do ciclo natalino, com a queima-da-lapinha e a exibição do bumba-meu-boi, da chegança, do fandango, dos congos.

REIS-DO-BOI. Veja BUMBA-MEU-BOI.

REISADO. É o nome que os eruditos dão aos grupos que cantam e dançam na véspera e Dia de Reis.

REMATE. É um prato nordestino feito com carne picada, farinha bem peneirada ou farinha de milho, temperado a gosto de quem faz.

RENDA. Renda feita a mão, também conhecida como renda de almofada, é um artesanato muito comum no Nordeste, em Santa Catarina e outros estados brasileiros. Trazido pelo colonizador português, a renda é o entrelaçamento de fios formando desenhos. Para se fazer renda são necessários: a almofada, os bilros, os espinhos de carda ou alfinetes, tesoura e pique. A almofada (um acolchoado de forma cilíndrica) serve de base para a confecção da renda. Os bilros são uma espécie de bobina onde a linha é enrolada, servem para tramar a renda, o que se consegue trocando-os em diferentes posições. O pique, que mede 20 cm, é o padrão da renda que se vai fazer. Cada tipo de renda tem o seu pique, seu padrão, que passa de geração a geração e que é preso na almofada por alfinetes. As rendeiras, sentadas no chão, com a almofada nas coxas, trabalham o dia todo, ora conversando, ora cantando. A linha pode ser colorida, dependendo da vontade do freguês. São diversos os tipos de renda.

RENDEIRA. 1 É a mulher que faz rendas e está no cancioneiro popular: "Olê, mulher rendeira/ Olê, mulher rendá/ Tu me ensina a fazer renda/ Qu’eu te ensino a namorar"; 2. Rendeira também é a mulher que trabalha na terra dos outros, pagando uma renda anual, um foro.

REPÚBLICA. É a casa, onde moram os estudantes que não têm família nas cidades onde estudam.

RESTILHO. Dá-se o nome de restilho à cachaça quando é duas vezes destilada nos alambiques.

RETIRANTE. É como são conhecidos os sertanejos que, acossados pelas estiagens prolongadas, abandonam tudo à procura de trabalho noutros lugares. Quando chove, muitos retirantes voltam para suas casas e tornam a cuidar de suas plantações, de seus animais. O único remédio capaz de combater as secas é a irrigação das terras sertanejas, o que já está acontecendo com as plantações situadas às margens do Rio São Francisco. Abrir frentes de trabalho é medida paliativa que não combate a seca.

RETORCIDA. É uma dança sapateada pertencente ao fandango, no Rio Grande do Sul. Ver FANDANGO.

RETUMBÃO. Retumbão é uma das danças da Marujada na festa de São Benedito, na cidade de Bragança-PA. É a mesma coisa que carimbó, corimbó, curimbó, como a dança é conhecida em outras regiões paraenses. A orquestra da dança do retumbão é composta de tambores grandes e pequenos pandeiros, cuíca (onça), rabeca, viola, cavaquinho e violino. Não se canta no retumbão.

REVIRADO. O revirado, também conhecido como roupa-velha ou mexido, é um prato feito com o que sobrou da refeição anterior. Feijão, arroz, carne e legumes são colocados em uma frigideira e levados ao forno brando para esquentar, acrescentados de farinha de mandioca a gosto. É um prato da culinária fluminense.

REZA. São orações populares rezadas pelos rezadores ou benzedores para curar doenças, pedir proteção e saúde para as pessoas que os procuram. É uma prática existente no país todo.

REZA-DE-DEFUNTO. São orações que os parentes e os amigos do morto rezam em voz alta ou cantadas, costume tradicional nordestino. As orações podem ser: a) Terço rezado pelos presentes ao velório; b) Ofício de Nossa Senhora ou dos defuntos; c) Excelências diversas: 1. Excelência da hora; 2. Excelência da hora do dia, isto é, quando o dia vai clareando, amanhecendo; 3. Excelência Maria, em que se cantam as partes do corpo do falecido e as partes de sua roupa; 4. Excelência da roupa ou da mortalha, quando vestem o defunto; 5. Excelência do cordão da mortalha; 6. Excelência da despedida, por ocasião da saída do caixão para o cemitério, cantada até o cortejo desaparecer. E a ladainha de Todos os Santos.

REZADOR ou BENZEDOR. É a pessoa que cura as doenças proferindo rezas, acompanhadas por gestos, sinais, cruzes, aspersões quando na presença do doente. Mas o rezador pode rezar um doente a distância, sem vê-lo. No Nordeste é um tipo muito comum. Geralmente são mulheres que, quando vão ficando velhas, só ensinam sua rezas à filha mais velha. Caso não tenha filha, pode ensinar à sobrinha mais velha. Geralmente o rezador ou benzedor usa um galho de arruda quando faz seu trabalho.

RIAMBA. Outro nome de MACONHA.

RIBAÇÃ. No Nordeste a ribaçã também é conhecida como rebaçã, arribaçã, avoante, avoente. Elas costumam aparecer, todos os anos, nas caatingas do sertão nordestino, em grandes bandos, pousando sempre nos lugares onde tem o capim-milhão, e são abatidas pelos caçadores e vendidas nas feiras.

RITA. Padroeira de muitas paróquias brasileiras, Santa Rita de Cássia nasceu em 1381 e faleceu em 1480. É uma santa muito popular no Nordeste, onde também é conhecida como Santa Rita dos Impossíveis. Seu Rosário de Santa Rita é muito rezado pelo povo.

ROBERTO CÂMARA BENJAMIN nasceu em 1943, na cidade do Recife, PE. Filho do professor Coronel José Émerson Benjamin e da professora e Inspetora Federal do Ensino Laudelina Câmara Benjamin. Fez o primário no Grupo Escolar João Barbalho, o secundário no Colégio Marista, ambos do Recife. Bacharel em jornalismo pela Universidade Católica de Pernambuco, especializou-se em Ciências da Informação no Centro Internacional de Estudos Superiores de Periodismo para América Latina, em Quito, Equador. Promotor Público, professor-adjunto da Universidade Federal Rural de Pernambuco, professor titular da Universidade Católica de Pernambuco, membro das Comissão Pernambucana de Folclore, foi diretor do Departamento de Cultura da Secretaria de Educação de Pernambuco, Roberto Câmara Benjamin tem participado de muitos congressos, seminários realizados em todo o país e tem diversos trabalhos publicados em revistas científicas e jornais sobre Comunicação Rural, Folclore: Os Folhetos Populares e os Meios de Comunicação Social (1969), Literatura de Cordel, Expressão Literária Popular (1970), Religião nos Folhetos Populares (1970), A Festa do Rosário do Pombal (1976), Maracatus Rurais (1976), Os Congos da Paraíba (1977), Cambindas da Paraíba (1978), Maracutus Rurais de Pernambuco (1982), São Gonçalo – Uma Devoção reprimida (1984), Rabecas (1997) e outros.

ROÇA. 1. É o nome que se dá a uma plantação de mandioca. 2. O mesmo que roçado.

ROER-A-CORDA. Não cumprir com a palavra dada, empenhada. Voltar atrás no que disse, no que prometeu fazer.

ROER-TAMPA-DE-PENICO. Diz-se de quem passa privações, sem dinheiro, sem ter o que comer.

ROGER BASTIDE nasceu em 1898, na cidade de Lyon (França). Diplomado pela Faculdade de Letras de Bordéus (França), professor e Sociologia da Universidade de São Paulo, ensaísta, crítico, folclorista, veio para o Brasil em 1937 e, depois de haver publicado vários livros sobre o folclore brasileiro, entre os quais Psicanálise do cafuné (1941), A poesia afro-brasileira (1943), Imagens do Nordeste místico em preto e branco (1945), Estudos afro-brasileiros – 3v (1946/53), A cozinha dos deuses (1952), Sociologia do Folclore brasileiro (1959), Candomblés da Bahia (1961) e outros, além de ensaios e artigos em revistas especializadas e jornais – voltou à França em 1954. Faleceu no dia 11 de abril de 1974, na cidade de Paris (França).

ROLETE. Pedaços de cana-da-açúcar vendidos nas cidades da zona canavieira. Descascada a cana, de preferência caiana por ser mole e doce, cortada em rodelas e enfiadas nas hastes de um pedaço de bambu ou taquara em forma de guarda-chuva, as unidades são arrumadas em tabuleiros que os meninos vendem nas ruas das cidades que estão à sombra da cana-de-açúcar.

ROMARIA. Dá-se o nome de romaria ao grupo de pessoas que, a pé ou em caminhões, viaja muitos quilômetros, com a finalidade de chegar aos locais onde a Igreja Católica, em suas capelas ou basílicas, igrejas ou matrizes, venera um santo religioso ou popular, como no caso do Padre Cícero Romão Batista (CE), São Severino do Ramo (PE), Nossa Senhora aparecida (SP) e outros. Depois de pagar sua promessa por uma graça alcançada, o romeiro deposita no altar do santo, sua velas, seus ex-votos, suas espórtulas. Outros centros de romaria são: Nossa Senhora de Nazaré (Belém-PA), São Francisco do Canindé (Canindé-CE), Bom Jesus de Pirapora (Pirapora-SP) e Bom Jesus do Bonfim (Salvador-BA).

ROQUEIRA ou RONQUEIRA. É uma peça feita de um pedaço de cano de ferro preso num toro de madeira e que, depois de carregado (por uma das bocas do cano que fica aberta) dispara-se com um tição junto ao ouvido (um buraco feito na extremidade fechada do cano) provocando uma violenta explosão. A roqueira ou ronqueira faz parte dos festejos juninos.

ROSSINI TAVARES DE LIMA nasceu no dia 25 de abril de 1915, na cidade de Itapetininga (SP). Fez primário no Ginásio Osvaldo Cruz e o secundário no Ginásio do Estado. Freqüentou a Faculdade de Direito de São Paulo até o 3° ano, quando se transferiu para o Conservatório Dramático e Musical de São Paulo. Foi professor do Ginásio Osvaldo Cruz, da Escola Técnica do Comércio, do Liceu Acadêmico de São Paulo, do Liceu Piratininga e professor de História da Música e Folclore Nacional do Conservatório. Fundou e dirigiu a revista Folclore e publicou, na área do Folclore, Nótulas sobre pesquisas de folclore musical (1945), Aí ,eu entrei na roda (sd), Poesias e adivinhas (1947), O Folclore na obra de Mário de Andrade (1950), Achegas ao estudo do romanceiro no Brasil (1951), Abecê do Folclore (1968), Geografia do folguedo popular (1968). Rossini Tavares de Lima faleceu no dia 5 de agosto de 1987.

ROUPA-DE-VER-A-DEUS. É o termo feito de boa fazenda, de cor escura ou preta, que os homens costumam ter para ser usada em ocasiões solenes, missas, batizados, casamentos, enterros e que, muitas vezes, são sepultados com ela. Daí, o nome.

ROUPA-VELHA. 1. É um prato preparado com o que sobra da refeição anterior; 2. Prato feito de carne seca de boi ou de porco, com cebola e manteiga.

ROXO. É uma mistura de café com cachaça, no interior de São Paulo.

RUDÁ. Rudá ou Perudá, um guerreiro que reside nas nuvens, é o deus do amor indígena, encarregado da reprodução dos seres criados. Sua missão é criar o amor no coração dos homens, despertando-lhes a saudade e fazendo com que voltem para a tribo de onde saíram em suas guerras e peregrinações.

RUM. É o atabaque maior dos candomblés da Bahia.

RUMPI. É o atabaque médio nos candomblés da Bahia.

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O Dicionário completo pode ser obtido em http://sites.google.com/site/pavilhaoliterario/dicionario-de-folclore
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Fontes:
LÓSSIO, Rúbia. Dicionário de Folclore para Estudantes. Ed. Fundação Joaquim Nabuco
Imagem = http://www.terracapixaba.com.br/

Palavras e Expressões mais Usuais do Latim e de outras linguas (Letra N)


nascuntur poetae, fiunt oratores
Latim: Os poetas nascem, os oradores fazem-se.

natura non facit saltus
Latim: A natureza não dá saltos. Leibniz quis com este aforismo mostrar que não existem gêneros ou espécies completamente isolados, mas são todos interligados.

necessitas non habet legem
Latim: A necessidade não tem lei. Aforismo de Santo Agostinho que indica a cessação da lei diante da necessidade.

nec plus ultra
Latim: Não mais além. Termo ou ponto que não se deve ultrapassar. Indica também o que há de melhor.

nec semper lilia florent
Latim: Nem sempre florescem os lírios. As coisas não nos favorecem continuamente; existem os dias de contratempo.

nemine discrepante
Latim: Sem a discrepância de ninguém. Por unanimidade.

neque semper arcum tendit Apollo
Latim: Nem sempre Apolo retesa o arco. Ninguém pode trabalhar sem descanso, nem mesmo Apolo.

ne quid nimis
Latim: Nada de mais. Todo excesso é condenável.

nescio vos
Latim: Não vos conheço. Palavras de rejeição, na parábola das dez virgens (Evangelho seg. Mateus, 25.12), na qual Cristo aconselha a prudência e a vigilância no que concerne à salvação.

nescit vox missa reverti
Latim: Palavra expressa não pode voltar. Horácio refere-se à palavra escrita, aconselhando os escritores a reverem os escritos antes de os publicarem. Aplica-se também à palavra falada (pensar antes de falar).

nessun maggior dolore che ricordarsi del tempo felice nella miseria
Italiano: Não há maior sofrimento do que recordar-se do tempo feliz na miséria. Palavras que Dante coloca nos lábios de Francisca de Rímini, que narra ao poeta suas desventuras (Divina Comédia, Inferno, V, 121-123).

ne, sutor, ultra crepidam
Latim: Sapateiro, não vá além do calçado. O pintor Apeles assim responde ao sapateiro que, depois de criticar a sandália, pretendia analisar o resto do quadro.

ne varietur
Latim: Que não se altere. Usado pelas editoras quando querem a obra exatamente de acordo com os originais.

nigro notanda lapillo
Latim: Para ser marcado com pedra preta. Referência dos antigos aos dias nefastos.

nihil actum credens, dum quid superesse agendum
Latim: Crendo que nada fora feito, enquanto restasse alguma coisa por fazer (Lucano, Farsália II, 657).

nihil admirari
Latim: Não se admirar de nada. Princípio adotado pelos estóicos e também pelos indiferentes e apáticos.

nihil diu occultum
Latim: Nada oculto por muito tempo.

nihil novi sub sole
Latim: Nada de novo sob o Sol. Expressão do Eclesiastes (I, 10).

nihil obstat
Latim: Nada obsta. Fórmula usada pelos censores eclesiásticos ao permitir a publicação de um livro.

nimium ne crede colori
Latim: Não acredite muito na cor. As aparências enganam.

nisi utile est quod facimus, stulta est gloria
Latim: Se não é útil o que fazemos, a glória é vã. Não pode haver glória nas coisas inúteis.

noblesse oblige
Francês: A nobreza obriga. Um cavalheiro educado não pode comportar-se como um desclassificado.

nocturna versate manu, versate diurna
Latim: Versai com mão diurna, versai com mão noturna. Conselho de Horácio àqueles que desejam aprimorar o estilo: devem ler constantemente os bons autores.

noli me tangere
Latim: Não me toques. 1 Palavras de Jesus, logo após a ressurreição, a Madalena, que provavelmente lhe queria beijar os pés. 2 Pessoa muito melindrosa, que com tudo se amua e ofende.

nomen juris
Latim Direito: Denominação legal; o termo técnico do direito.

non bis in idem
Latim Direito: Não duas vezes pela mesma coisa. Axioma jurídico, em virtude do qual ninguém pode responder, pela segunda vez, sobre o mesmo fato já julgado, ou ser duplamente punido pelo mesmo delito.

non decet
Latim: Não convém.

non dominus
Latim Direito: Não dono. Diz-se daquele que não é proprietário da coisa de que se trata.

non ducor, duco
Latim: Não sou conduzido, conduzo. Divisa do Estado de São Paulo.

nondum natus eram
Latim: Eu ainda não era nascido. Passagem de Fedro, que a põe na boca do cordeiro, acusado pelo lobo de turvar a água.

non eadem miramur
Latim: Não admiramos as mesmas coisas; cada qual tem o seu gosto.

non multa, sed multum
Latim: Não muitas coisas, mas muito. Não seremos importantes pelo número, mas pela qualidade de nossas ações.

non nova, sed nove
Latim Direito: Não coisas novas, mas (tratadas) de (modo) novo.

non omne quod fulget aurum est
Latim: Nem tudo que brilha é ouro. Cuidado com as aparências.

non omnia possumus omnes
Latim: Todos nós não podemos tudo. Frase de Virgílio que põe termo à auto-suficiência humana.

non omnis moriar
Latim: Não morrerei inteiramente. Não morrerei completamente, minhas obras prolongarão minha vida. Pensamento de Horácio.

non plus ultra
Latim: Não mais além. Aplica-se com referência ao que não pode ser excedido.

non possumus
Latim: Não podemos. Resposta de São Pedro e São João ao príncipe dos sacerdotes que tentava proibir-lhes a pregação do Evangelho (Atos, IV, 19-20).

non videbis annos Petri
Latim: Não verás os anos de Pedro. Frase que se aplica aos sucessores de São Pedro, pois, de 261 papas, apenas Pio IX e Leão XIII superaram em anos a São Pedro no trono pontifício.

nosce te ipsum
Latim: Conhece-te a ti mesmo. Frase inscrita na entrada do templo de Delfos, na Grécia. Os filósofos gregos aproveitaram-na para suas lucubrações e a ascética cristã faz dela a base da perfeição.

nostrum baixo
Latim: O nosso, isto é, remédio ou preparado de fórmula secreta.

nota bene
Latim: Note bem. Locução empregada em alguns textos, para chamar a atenção para o que segue. Abreviadamente: N. B.

noverim te, noverim me
Latim: Que eu te conheça, que eu me conheça. Frase de Santo Agostinho, quando, nos Solilóquios, dirige-se a Deus para pedir-lhe o conhecimento (de Deus), para amá-lo, e de si próprio, a fim de se humilhar.

novissima verba
Latim: As últimas palavras; as palavras mais recentes.

nulla dies sine linea
Latim: Nenhum dia sem linha. Plínio diz esta frase de Apeles que não passava um dia sem exercitar-se na pintura.

nulla poena sine lege
Latim Direito: Nenhuma pena sem lei. Não pode existir pena, sem a prévia cominação legal.

numero Deus impare gaudet
Latim: Deus gosta de número ímpar. Referência de Virgílio às propriedades místicas atribuídas aos números ímpares.

nunc dimittis servum tuum
Latim: Despede agora o teu servo. 1 Cântico do velho Simeão ao tomar nos braços o Menino-Jesus, no templo de Jerusalém, agradecendo a Deus a ventura de ver, antes da morte, o Salvador de Israel. 2 Este mesmo hino, recitado em Completas, no breviário romano.

nunc est bibendum
Latim: Agora é beber. Horácio convida os seus contemporâneos a festejarem a vitória romana na batalha de Actium. Emprega-se esta locução quando se quer comemorar algum acontecimento auspicioso.
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As outras letras:

LETRA A http://singrandohorizontes.blogspot.com/2008/10/palavras-e-expresses-mais-usuais-do.html
LETRA B http://singrandohorizontes.blogspot.com/2008/10/palavras-e-expresses-mais-usuais-do_07.html
LETRA C http://singrandohorizontes.blogspot.com/2008/10/palavras-e-expresses-mais-usuais-do_21.html
LETRA D http://singrandohorizontes.blogspot.com/2008/11/palavras-e-expresses-mais-usuais-do.html
LETRA E http://singrandohorizontes.blogspot.com/2008/11/palavras-e-expresses-mais-usuais-do_28.html
LETRA F http://singrandohorizontes.blogspot.com/2009/01/palavras-e-expressoes-mais-usuais-do.html
LETRA G-H http://singrandohorizontes.blogspot.com/2009/05/palavras-e-expressoes-mais-usuais-do.html
LETRA I http://singrandohorizontes.blogspot.com/2009/06/palavras-e-expressoes-mais-usuais-do.html
LETRA J-L
http://singrandohorizontes.blogspot.com/2009/06/palavras-e-expressoes-mais-usuais-do_21.html
LETRA M
http://singrandohorizontes.blogspot.com/2009/07/palavras-e-expressoes-mais-usuais-do.html
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Fonte:
Por Tras das Letras

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Trova XLI

Armando Bettinardi (Poesias)



MEUS SONHOS
(inspirado em Raimundo Correia)

Amanhece…
A revoada dos meus sonhos recomeça;
Um após outro, batem asas e partem;
Vão em busca do infinito….

Voltarão? …
Quem sabe, sim; talvez, jamais! …

Uma certeza eu tenho:
No fim do dia,
Eu vou sorrir e também chorar;
Pois os meus sonhos fiéis estarão de volta;
E, tantos outros, não voltarão jamais.
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AFINAL

Falemos de nós,
Dos seus anseios
E dos meus anseios.

Vontade de ser feliz,
Necessidade de fazer
Alguém feliz.

Eu e você: dois desejos
Talvez iguais,
Duas vontades

Nada mais;
Quem sabe, seja assim
Até o fim, afinal.
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DE BEM COM A VIDA

Por força do meu destino
Que sempre foi caprichoso
Sou outra vez um menino
Feliz, alegre, jocoso.

Escuto tocar o sino
De um dia radioso
É um convite divino
Para folguedo e gozo.

Eu nunca mais serei triste;
Pois, em mim ainda existe
Aquele jovem que diz:

Melhor é sorrir pra vida
E ter cabeça erguida
De eterno aprendiz.
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CAMINHANDO

Por que o sol,
a praça,
o burburinho da cidade
estão aqui?

Por que: a luz
o dia aberto diante de mim,
o convite à vida,
se eu estou sozinho?

Sem você, o momento
passa como o vento,
sem consumação,
naturalmente, inutilmente.

Não entendo momento,
só momento, sem ação,
sem movimento,
sem nós dois
que juntos somos vida.

Só aceito momento,
que não seja fugaz nem
efêmero;
- que seja total completamente.

Então, seremos nós
eu e você,
caminhando juntos,
de mãos dadas
rasgando a luz da tarde;
rumo ao crepúsculo.

Agora, o dia ainda está todo
aberto diante de nós;
e, é um convite à vida.

Vamos pois, inebriados
beber a vida, gota a gota
até o fim, enquanto,
juntos caminhamos.
* * * * * * *

Criança é natureza
Isenta de todo o mal,
A mais perfeita beleza,
Espontânea, natural.

Se não existe um jeito
De esquecer-te, saudade,
Vais conviver no meu leito
Com a minha soledade.
*******

VOCÊ

Você… sempre você,
ocasião, motivo e razão
do meu viver.

Você é tudo para mim,
a luz, o som, o princípio e o fim.

A melodia da tarde,
minha eterna canção,
o sol, a sombra,
tudo o que me cerca
é você.

A razão, não sei porque;
talvez tudo o que passou,
tudo o que virá,
a vida, enfim,
será para mim:
você!
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Armando Bettinardi (1928)



Academia de Letras de Maringá
Cadeira nº. 35 – Patrono: Raimundo Correia

Bettinardi nasceu em Capinzal, Estado de Santa Catarina, em 5 de março de 1928. Na cidade de origem, cursou cinco anos do primário e dois anos do curso complementar. Em Joaçaba – SC, no colégio Frei Rogério, dos irmãos Maristas, cursou o ginásio. Curso Clássico no Colégio Novo Ateneu, em Curitiba/PR Iniciou três cursos universitários, que abandonou por impossibilidade de cumprir a freqüência obrigatória. Participou das três Coletâneas dos Poetas de Maringá (1966, 1997 e 2007) e das Coletâneas da ALM.

Publicou: Angústias (poesias, 1962), SSS – Silêncio, Solidão, Saudade (poesias, 1982), Cidade Verde (crônicas, 1994), Contos do Manduca (1997), Meus três espectros (poesias, 2003), e Saudades sem fim (poesias, 2007).

Fonte:
Academia de Letras de Maringá

Academia de Ciências e Letras de Conselheiro Lafayette



A história da Academia de Ciências e Letras de Conselheiro Lafayette tem suas origens, ainda que indiretamente, no Grêmio Literário Napoleão Reys, fundado em Queluz de Minas, entre as décadas de 20 e 30, no século passado. Era uma época de efervescência cultural na cidade que já havia sido cognominada por Nelson de Senna, no início daquela centúria, como cidade “dos livros e das flores”. A existência do Grêmio foi efêmera, mas o espírito sensível às letras e às artes em geral continuou a mover muitos queluzenses e lafaietenses, que voltaram a tentar se reunir em um sodalício na década de 80.

Passados cerca de 50 anos, o professor Alberto Libânio Rodrigues, que por meio do jornal Panorama, o qual dirigia, dava um novo impulso às manifestações culturais, começou a reorganizar a Academia Lafaietense de Letras, tendo, inclusive, começado a divulgar a biografia dos futuros acadêmicos nas páginas de seu hebdomadário e a formar a diretoria. Mas o ideal, por motivos vários, arrefeceu-se. No entanto, o professor guardou consigo o projeto e, dez anos depois, com um grupo de idealistas como ele, reorganizou o silogeu, com a denominação de Academia de Ciências e Letras de Conselheiro Lafayette (ACLCL).

A ACLCL foi instalada em 18/09/1993, em sessão solene realizada no Teatro Municipal “Placidina de Queirós”. O evento integrou a programação oficial das comemorações do 203o aniversário da emancipação política do município. O presidente de honra da sessão foi o historiador Fenelon Ribeiro, membro do Instituo Histórico e Geográfico de Minas Gerais, empossado na cadeira 9. Naquela ocasião, foram aprovados os estatutos da entidade, elaborados por uma comissão formada por um grupo de 13 intelectuais, responsáveis pela organização da entidade. Também foram empossados 65 acadêmicos.

A princípio, a ACLCL era formada por 100 cadeiras, pois seus idealizadores desejavam que ela abrangesse todos os segmentos das ciências, letras e artes, por isso demandaria um número maior de vagas, a modelo, também, do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais. No entanto, após alguns anos, deliberou-se reduzir esse número para 80, a fim de reunir apenas os expoentes das ciências e letras que sejam, realmente, uma referência em sua respectiva área, não obstante o ideal fosse ter como paradigma a Academia Francesa, assim como o fez as academias Brasileira e Mineira de Letras, com 40 cadeiras...

A primeira diretoria ficou assim formada:

Presidente - Alberto Libânio Rodrigues
Vice-presidente - Luiz Antônio da Paz
1º secretário - Márcia Terezinha Carreira Rodrigues
2º secretário - Paulo Roberto Antunes
1º tesoureiro - Geraldo Augusto de Freitas
2º tesoureiro - Aloísio do Carmo Elói.

O conselho superior compunha-se dos seguintes acadêmicos: Antônio Francisco Pereira (presidente), Efigênia Chaves Janoni (secretária), Carlo José de Menezes, João Batista Ferreira Lima, Márcio Verdolin Hudson, Benedicto Fernandes Carlos, Edir Pires.
Participaram da comissão organizadora dos atos constitutivos da ACLCL: Alberto Libânio Rodrigues, Antônio Francisco Pereira, Antônio Luiz Perdigão Batista, Benedicto Fernandes Carlos, Carlo José de Menezes, Carlos Elói Castro Trajano, Dimas da Anunciação Perrim, Fenelon Ribeiro, Geraldo Augusto de Freitas, Hortência Hudson Vilela, Márcio Verdolin Hudson e Zeni de Barros Lana.

O primeiro membro efetivo empossado por ocasião da fundação foi a acadêmica Avelina Maria Noronha de Almeida, que, na ocasião, recebeu o título de “Madrinha dos Poetas Lafaietenses”, representado por um diploma especial que lhe foi entregue durante a solenidade.

De acordo com os estatutos, são os objetivos da ACLCL:

- Promover e difundir as ciências humanas, letras e artes;
- Promover reuniões e eventos lítero-musicais, seminários e encontros nas áreas pertinentes às suas atividades;
- Exposições de arte (pintura, escultura, fotos etc.);
- Incentivar e colaborar, na medida do possível, com o incremento ao teatro, música, jograis e outras atividades afins;
- Promover cursos e concursos literários;
- Colaborar com todos os esforços particulares e oficiais que visem ao aperfeiçoamento constante do nosso idioma;
- Apoiar as manifestações culturais de Lafaiete e de outros municípios, que envolvam os interesses dos sócios da entidade nas cidades em que eles estejam residindo;
- Manter intercâmbio cultural com entidades congêneres;
- Outras atividades literárias e culturais.

A ACLCL promove as reuniões ordinárias sempre no último sábado de cada mês, às 15h, em sua sede, na Casa de Cultura “Gabriella Mendonça”. Também são promovidas, mensalmente, uma Reunião de Estudos, cada uma com um tema específico, bem como as sessões solenes em ocasiões especiais, como no aniversário de fundação, a 18 de setembro, e no final do ano, quando são premiados os vencedores do Concurso Literário Internacional Prêmio Cidade de Conselheiro Lafaiete.

A sede da ACLCL abriga uma biblioteca contendo, principalmente, trabalhos dos acadêmicos e de seus patronos. A este acervo se juntaram outros, por doação, como o do Monsenhor José Sebastião Moreira, do Dr. Luís Bonifácio Lafayette de Andrada e do fundador Prof. Alberto Libânio Rodrigues. Também na sala-sede da entidade está o arquivo com as pastas dos acadêmicos, contendo documentos e trabalhos vários, e a galeria de fotos dos patronos das cadeiras.

Os membros

As categorias de membros da entidade são: membros efetivos, aqueles que ocupam uma determinada cadeira; membros correspondentes, os que residem fora de Lafaiete; membros eméritos, concedido àquelas pessoas que se destacam pela qualidade de sua obra ou atuação no meio cultural, mas que, por algum motivo, estão impedidas de cumprir com as disposições estatutárias, mas mantêm uma relação de cordialidade com a ACLCL, engrandecendo-a mais e mais.

Atividades diversas

Desde a sua fundação, a ACLCL desenvolve diversos projetos. Alguns tiveram execução temporária, outros se mantêm até hoje, como o das Academias Mirins criadas nas escolas. A proposta é incentivar o hábito de leitura nos alunos e a produção literária. Hoje, esse projeto já dá bons frutos, graças à dedicação da acadêmica Lêda Maria Augusta Vieira de Faria, que não mede esforços, mesmo com as limitações que a saúde lhe impõe. Na Escola Estadual “Professora Maria Augusta Noronha”, por exemplo, já foram quatro edições da antologia “Escrevendo com a alma”, com trabalhos dos alunos. Nessas escolas realizam-se, também, as Olimpíadas Literárias, surpreendendo, a cada ano, com um número maior de livros lidos por eles, que são argüidos sobre as obras.

Esse projeto nas escolas fortaleceu-se, mais ainda, após o lançamento do Movimento Caravelas. Idealizado pelos acadêmicos Avelina Maria Noronha de Almeida e Carlo José de Menezes, a declaração assinada em 1999 propunha a inserção, na grade curricular do ensino fundamental ou médio, do estudo da Literatura Mineira. O projeto foi muito bem recebido nos meios intelectuais de Minas, no entanto, a Assembléia Legislativa de Minas Gerais não atentou pela sua importância e logo o resumiu a um “adendo” à matéria de Literatura geral que já existia no currículo.

Diversas datas históricas marcantes são lembradas pela Academia, em suas reuniões e publicações, como o aniversário de nascimento ou de morte dos patronos das cadeiras ou de algum vulto célebre. Vários livros de acadêmicos também foram lançados durante as festividades da entidade. Há também a promoção de uma Exposição Bienal Temática de Pintores Lafaietenses, reunindo os nomes expressivos das artes plásticas na cidade.

A ACLCL, promovendo a difusão dos acadêmicos e escritores lafaietenses, mantém a publicação do Informativo Caravelas e apóia a edição da antologia “Lafaiete em Prosa e Verso”, desde 1994, onde publica-se o Anuário da Academia, com as principais efemérides. Sempre que possível, apóia também a publicação de outras obras, tendo já realizado a do poema épico “Queluzíadas”, de autoria do Prof. Alberto Libânio Rodrigues, que canta, em versos decassílabos (a exemplo de Camões), a história de Conselheiro Lafaiete, desde os tempos de Carijós e Queluz. Sua publicação foi comemorativa no cinqüentenário de seu nascimento, em 2004.

Assim, a ACLCL dá continuidade aos trabalhos, inspirada na gesta de seus fundadores, tendo como norte a promoção e difusão das ciências e das letras, soando aos ouvido de seus membros a sonoridade poética do canto que envolve as suas armas: Labore scriptisque ad immortalitatem.

Fonte:
Academia de Ciências e Letras de Conselheiro Lafayette

Autores Premiados nos Prêmios Sesc de Literatura



2008

O momento mágico

Trata do tema solidão, a partir da reflexão de um homem de 88 anos que deseja a morte, mas não é contemplado com ela. Ao analisar seu passado, o personagem fica ainda mais deprimido e procura então provar a si mesmo que ainda está vivo.

Márcio Ribeiro Leite

Médico e psicoteraupeta, o baiano Márcio Ribeiro Leite usou seus trabalhos clínicos e observação de idosos como inspiração para o romance O momento mágico, escrito em dois meses. Bastante ligado a família, o autor de 51 anos se declara um escritor intimista e garante que, após a premiação, vai se dedicar mais a carreira literária.

2008

Mentiras do Rio

Os contos mostram dois lados da vida na cidade do Rio de Janeiro: o cotidiano de um lugar bonito com pessoas interessantes, e a tensão da violência do mesmo dia a dia.

Sergio Leo de Almeida Pereira

Nascido no Rio de Janeiro, em 1963, Sergio Leo é jornalista desde 1983, formado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, e especialista em Relações Internacionais pela Universidade de Brasília. Escreveu Mentiras do Rio a partir de experiências pessoais e profissionais da época em que viveu no Rio de Janeiro. Atualmente, mora em Brasília e trabalha como repórter especial e colunista do Valor.

2007

Beijando Dentes

A coletânea de contos aborda como tema central a incomunicabilidade entre as pessoas. A partir de cenas e falas banais do cotidiano, o autor faz um exame das tensões nos relacionamentos humanos, por gênero ou geração.

Maurício Fiorito de Almeida

Maurício nasceu em Campinas, em 1982. Formou-se em Antropologia pela Unicamp. É co-autor das peças Transparências da carne e No meio da Noite.

2007

Zé, Mizé, Camarada André

A história trata da independência de Angola e das experiências de um jornalista brasileiro no país, narradas a partir da vivência do autor na África, entre 1978 e 1980.

Sergio Guimarães

Nascido em Santo Anastácio, São Paulo, em 1951, Sérgio Guimarães é representante do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) em Honduras, e vive entre São Paulo e Tegucigalpa, em Honduras. Professor por formação, deixou de lado a carreira acadêmica em 1978 para viver em Angola, trabalhando pela Unesco, de onde tirou experiência para escrever seu livro.

2006

Correio litorâneo

Apesar de abordarem os mais diferentes universos, os contos de Correio litorâneo estão amarrados em torno de notícias de jornal, o que lhes dá uma rara unidade temática. No caso, um jornal fictício, com o mesmo nome do livro.

Nereu Afonso da Silva

Nascido em 1970, em São Paulo, Nereu é formado em Filosofia pela USP. Foi um dos Doutores da Alegria (palhaços em hospitais).

2006

Casa entre Vértebras

Preso em sua habitação, um homem com a mente em redemoinho rumina cartas nunca escritas, esboça angustiado um labirinto de ideias e assombrações. Seus temas: solidão, infância, amor, memória, morte, loucura, religião.

Wesley Peres

Escritor e psicanalista, Wesley nasceu em Goiânia em 1975. Idealizador e colunista da Revista Ruído Branco. Participou da programação da Folia Literária do SESC Paraná em setembro de 2007.

2005

A secretária de Borges

A narrativa gira em torno das franjas de uma mudança drástica por parte dos personagens. Como no conto O divórcio, em que uma mulher sente em plenitude a potencialidade de sua nova situação. Outro conto em que a personagem feminina passa por uma arrepiante mudança de opinião – na verdade, quase uma mudança mais radical de postura – é o bem-humorado Tatuado no braço.

Lúcia Bettencourt

Lúcia lançou em 2008 seu segundo livro de contos Linha de sombra. Professora de português-literatura, Lúcia foi a primeira vencedora do Prêmio SESC na categoria contos.

2005

Hoje está um dia morto

Ficção que trata de um tema bastante comum na vida moderna: a falta de utopias da qual decorre a ausência de perspectivas existenciais. Os personagens Jean e Fabiana retratam de maneira muito autêntica a juventude brasileira, nas suas dúvidas, aspirações e conflitos.

André de Leones

Nascido em Goiânia, em 1980, André lançou em 2008 seu segundo livro, desta vez de contos, intitulado "Paz na Terra entre os monstros"

2004

As netas da Ema

Em uma narrativa que mistura sonhos, realidade, lembranças do passado e flashes do cotidiano, Eugenia Zerbini conta a história de uma mulher que, depois de ser assaltada na rua e ver a morte de perto, se põe a refletir, obsessivamente, sobre a vida que lhe foi devolvida.

Eugenia Zerbini

Nascida em São Paulo, Eugenia contribui para o site Digestivo Cultural e mantém o blog As nestas da Em@. Escreve atualmente a biografia romanceada da imperatriz Teresa Cristina, mulher de Pedro II.

2003

Santo Reis da Luz Divina

O romance é um painel épico que alia romance histórico e saga familiar. A trama começa no Rio de Janeiro ao tempo da Guerra do Paraguai e termina nos anos 90, no Paraná. Nessa trajetória entrecruzam-se famílias que vão formar o grande encontro das migrações, no sul do país.

Marco Aurélio Cremasco

Paranaense, Cremasco vive em Campinas, São Paulo, e é professor de Engenharia Química da Unicamp. Seu romance foi indicado ao Prêmio Jabuti em 2005. Em 2007 lançou o livro de contos Histórias prováveis, pela Editora Record

Fonte:
http://www.sesc.com.br/premiosesc/