domingo, 25 de outubro de 2009

Oscar Bertholdo e sua Poesia



Oscar Bertholdo é poeta de húmus fértil, denso. Sua poesia é constituída por flamejante associação lexical, de rara beleza. As metáforas saltam em seus textos com grande força expressiva, com genial inventividade. Nesse aspecto, ressoa nessa poesia um certo toque de surrealismo, bem ao estilo de um Jorge de Lima. Aliás, são muitos os parentescos, apesar das singularidades de cada um, entre Bertholdo e o grande autor de A túnica inconsútil. Ambos têm um senso do sagrado apuradíssimo: a poesia lhes serve como uma força mística capaz de transfigurar o real comezinho, abrindo-nos a constante e sempre renovável possibilidade do mistério, fincado, cravado, no chão banal do cotidiano. Também como Jorge de Lima, Bertholdo incendeia a palavra com uma espécie de sonambulismo eletrizante, de iluminado delírio. É o que podemos verificar nesse notável poema, o canto 7 de Ave, Árvore:

As folhas caídas ao chão pouco a pouco
as mais antigas cantigas desnudam,
as nuvens espantam os barcos de caronte
e tão penosamente chegarás a outra margem
sem as anônimas palavras de tua casa

As árvores aqui persistem acostumadas
ao êxodo cheio de obstácula morte sem fôlego,
serpente de pólen das distâncias, orla
das nossas faces, abóbada quase pingente
As árvores existem aqui tão evanescentes...

Por isso escreves: antes do teu rosto
exposto está o chão de pedra das palavras,
desabrigado é o código que tu lembras
ainda aquém dos portões mecânicos.
Foi feito de mudanças o teu rosto.

Apenas a palavra é o lugarejo lembrado
de perguntas e o ar à beira dos acenos
sem susto sobrevive contigo,
tu que trazes o ciclo inquisidor
e o fragmentado anjo da trombeta.

Os campos, com suas vinhas, seu gado manso, seus vales repletos de sereno e frias madrugadas, são talhados, plasticamente, como em aquarela, na obra desse poeta que, ao lado de Mário Quintana, Carlos Nejar e Heitor Saldanha, constitui-se uma das grandes vozes da poesia gaúcha (e brasileira, antes de tudo) da modernidade. Nesse sentido, a geografia campesina incendeia e irriga essa palavra, revelando-nos poemas de acentuado esplendor cósmico. A natureza, com sua profusão de cores e cheiros, desponta, nessa lírica, com o seu encanto edênico, inaugural, primevo:

SOUVENIR

A aldeia alonga a alameda
sem cansaço e simetria.
Em verdade, que saudades eu tenho
da minha aldeia querida à sombra
das ave-marias. Tenho flores
para as abelhas, tenho gotas de sereno
e umas borboletas azuis, eu te juro.
Eram tão ingênuas as campinas
e as folhas secas do outono
cirandando noite e dia
os cantares que não voltam mais.
Oh! aldeia de minha infância,
Oh! céu que cai de bruços –
não tenho rimas plangentes
encobrindo os braços nus.
Quero pedir aos bois tão mansos
em que tapetes de musgo
os sonhos vão e não vêm?
Mas depois quando souber provar
o sabor de outros frutos
além de minha aldeia querida,
o cansaço não passa, em verdade
o cansaço não passa.

A alameda, as flores, as abelhas, o musgo, são expressões do real, mas de um real sempre recortado, transfigurado em poesia. Às vezes, em alguns poemas, a natureza é desfeita em caos. Não podemos nos esquecer que, em Bertholdo, o existente é modulado pela “rainha das faculdades”, ou seja, por aquela importante fantasia baudelairiana, força capaz de inventar uma terceira dimensão, a pátria do devaneio poético, raiz arquetípica de uma infância que não se finda nunca, pois o poeta acorda sempre o lume vivo da palavra, como a criança que faz do mundo um jogo:

Paciente salgueiro, tua umidade é um poço.
Ao íntimo do teu oco desces para ver
o desconsolo havido depois da infância.
E, rente às fontes, ninguém mais te espera
e lembras a fundura de todas as coisas.

A duração de tanta mágoa inesperada
move-se em ti, em teu sangue todo,
tão nodoso és ao redor do corpo
que anjo nenhum é espantalho da seiva
arável em cada árvore em pleno outono.

Entretanto o exílio existe ao mesmo tempo
em que a palavra faz-se forma
da hora. Desde ontem o silêncio principiou
colhendo a lume e amalgamando
em confidências as tuas lúdicas perguntas.

Junto aos rios das cicatrizes
vêm beber os leões da minha alma.
Quando eu morrer estarei perdoado
de demora. Um poço é tão pouco
mas tua água em mim é sempre gênese.

A força trituradora de toda essa metaforização desvela a importante e singular forma como Bertholdo se expressa . O poeta segue os ritmos instintivos da palavra, fecundando-a através do ritmo dos signos. Ao elaborar o poema, o autor deixa-se, na verdade, escrever pela poesia. As forças genesíacas da palavra explodem na alma do escritor que, como um arauto, um vidente, segue o fluxo rítmico dos vocábulos, deflorando a linguagem numa espécie de cópula, pela qual a subjetividade de poeta é transposta pela concretude da expressão verbal. Nessa entrega irrestrita à poesia, o autor, inclusive, não teme criar metáforas de mau gosto, como, no exemplo acima, “os leões da alma”. A palavra de Bertholdo, portanto, é sonambúlica e intuitiva, reacendendo as forças míticas da escritura poética. Nesse aspecto, é bom lembrar o crítico Antonio Hohlfeldt: “Com uma forte criação metafórica, Bertholdo utiliza as sugestões mais imediatas do mundo que o rodeia – isto é, a paisagem de montanhas e vales – e sobre este tema tece as suas considerações, elevando-as à categoria simbólica da vida e das vicissitudes humanas”. A paisagem, portanto, é desfigurada pela força lírica. Eis um belo exemplo:

As raízes de mim estão tão próximas
que eu passei toda uma vida para esperar
o gosto das maçãs de minha terra.
Rápido o sol conduz ao outono
a placidez de um animal dormindo.

As macieiras te pressentem como este sonho
conclui a noite igual ao rosto,
assim a liberdade aguarda o vestígio
de quem não tem outra hora
senão o início da sombra à beira do caminho.

Os cinamomos ao redor da casa ainda
angulam nossos rostos ao hálito
de parar as serventias de tácitos
desejos. Vemos deixar em paz
os pesadelos anteriores aos objetos caseiros.

Faltam muitos pássaros que podem
voltar contigo. Em cada êxodo arde
uma resina vestal. Verdadeiramente são
vastos os numes procelosos que apascentam
o dia de nossa morte, descanso infindo.

A natureza, portanto, seve como mediadora simbólica entre o poeta e as suas indagações existenciais. Poeta da verve mística, de profundo questionamento perante a condição humana, a palavra de Bertholdo reluz, ainda que esquecida, em nossa literatura, como um achado repleto de grandes belezas. Para encerrar esse breve comentário, deixo ao leitor esse belo poema, jóia preciosa a reluzir todo o fulgor da escrita de Bertholdo:

TEMPO DE VINDIMA

Perdoa-me continuar impossuído como antes,
trago para os vãos da aldeia a nitidez dos frutos.

Estávamos tão próximos que outono tatuou
o fiel silêncio bordando as vinhas do orvalho.

Havia solicitude para a seiva desfeita
sem disfarces na íntima alucinação da colheita.

A vindima trouxe do outono as horas retidas
na quase imperfeita esperança decisiva.

Para enfrentar as lembranças que a vida deixou
a solidão lenta das coisas incompreendidas.

Agora posso inventar em aceno o doce hálito
enquanto as calmas uvas batem palmas pelos vales.


Fontes:
Oscar Bertholdo. Ave, Árvore. Caxias do Sul: Educs, 1981.
Oscar Bertholdo. Molho de chaves. Caxias do Sul: Educs, 2001.
Antonio Hohlfeldt. Antologia da literatura rio-grandense contemporânea. Porto Alegre: L&PM, 1979. Volume 2.

Oscar Bertholdo (1935 – 1991)



Uma poesia voltada para a colonização italiana, para as dificuldades encontradas por quem vive da terra e para a produção do vinho, além da utilização do vinho como metáfora. Assim é a obra de Oscar Bertholdo, padre, cronista e poeta.

Oscar Bertholdo nasceu no ano de 1935, em Nova Milano, e foi assassinado durante um assalto a sua residência, em fevereiro de 1991.

Vencedor do prêmio do Instituto Estadual do Livro (IEL) de 1973 por Poemimprovisos e do I Concurso Nacional de Literatura da Caixa Econômica de Goiás, em 1974, por Lugar, Bertholdo obteve ainda dois segundos lugares em importantes concursos literários: no “II Concurso Nacional de Poesia Sobre o Vinho” e “Prêmio Master de Literatura/1986”.

Considerado a voz mais expressiva da poesia da Serra Gaúcha e um dos maiores poetas contemporâneos do Rio Grande do Sul, Bertholdo surgiu no cenário literário em 1967, participando da antologia Matrícula. Foi o primeiro livro de poesias editado no interior a ganhar espaço nas páginas dos jornais da Capital. O poeta foi um dos maiores incentivadores do movimento cultural da Serra Gaúcha. A Prefeitura de Farroupilha promove, inclusive, um concurso literário com seu nome, de contos e poesias.

Depois publicou: “As Cordas” (168), “O Guardião das Vinhas” (1970), “A Colheita Comum” (1971), “Poemimprovisos” (vencedor do prêmio do Instituto Estadual do Livro/1973), “Lugar” (vencedor do I Concurso Nacional de Literatura da Caixa Econômica de Goiás/1974), “Vinte e Quatro Poemas” (1977), “Árvore & Tempo de Assoalho” (1980), “Informes de Ofício e Outras Novidades” (1982), “Canto de Amor a Farroupilha” (1985), “C’Antigas” (1986) e “Momentos de Intimidade”. Participou de inúmeras antologias, entre elas: “Histórias de Vinho”, “Vinho dá Poesia”, “Arte & Poesia” e “Poetas Contemporâneos Brasileiros – Volume 1”, esta a primeira antologia publicada pelo Congresso Brasileiro de Poesia.

Após sua morte foram publicados: “Amadas Raízes”, “Poemas Avulsos”, “Boca Chiusa” e “Molho de Chaves”, além de poemas nas seguintes antologias: “Poeta Mostra a Tua Cara – Volume 4”, “Medida Provisória 161”, “Poesía de Brasil – Volumen 1”, “Poesía Brasileña para el Nuevo Milenio”, “Poésie Du Brésil – volume 1” e “Poesia do Brasil – volume 1”, livro que inaugurou a série de antologias oficiais do Congresso Brasileiro de Poesia.

Foi um dos maiores incentivadores do movimento cultural da Serra Gaúcha, exercendo forte influência em todos os movimentos literários surgidos entre os anos 1960 e 1990. Teve decisiva participação na criação do Congresso Brasileiro de Poesia, do qual foi uma das grandes atrações em sua primeira edição, vindo a ser assassinado poucos meses antes da realização do segundo evento.

Fontes:
Ademir A. Bacca. In http://poetasdobrasil.blogspot.com/
Antonio Hohlfeldt. Antologia da literatura rio-grandense contemporânea. Porto Alegre: L&PM, 1979. Volume 2.

Goulart Gomes (Minimal)


VÔO

Ícaro arde
em meio às chmas
só a Phoenix renasce

POETRIX PARA AQUELES QUE LEVANTAM ÀS 11 DA MANHÃ (OU MAIS)

o sol arde;
antes tarde
que nunca

CULTO AO CORPO

teúdos e manteúdos:
quem só busca a forma
não tem conteúdo

BAILARINA

na ponta dos pés
rodopiam
o mundo e nós, juntos

DITADO IMPOPULAR 21

quem ama o feio
de bonito
não carece

QUATRO ELEMENTOS

tu, no ar; eu, na água
ambos, na terra
em brasa

ANTES QUE O SOL NASÇA

imagine um dia assim
luzes rasgando a aurora
a manhã, embriagada, perdendo a hora

IRONMAN

nova tecnologia:
por falta de peças
morreu de anemia.

AUTOFILIA

toda poesia é minha
minha mania de louco
tudo é muito, muito pouco

BULA

contra a indicação
você é meu remédio
lástima...injeção

CLÃ

somos iguais
menos normais
a cada manhã

CAPÍTULO

onde termina onde
começa onde começa
parágrafo: é a pressa

===================

Sobre poetrix, neste blog:

O Que é Poetrix?
http://singrandohorizontes.blogspot.com/2008/01/o-que-poetrix.html
Poetrix: uma linguagem para o novo milênio

José Feldman (Viagem ao Mundo Fantástico da Babilônia)


Onde? Filme? No Brasil? Onde fica? O que tem de fantástico?

Mas, que você, caro leitor, ficou curioso, com certeza ficou e, apesar de livros como o Guia dos Curiosos ou o Mundo Curioso da Natureza, sempre vem à mente aquilo que nossos pais, os pais deles, os pais dos pais, e assim por diante, diziam: “Meu filho! A curiosidade matou o gato!”.

Fique tranquilo! Após esta leitura, ninguém morrerá, nem de raiva – pelo menos, eu acho.

Nossa história de passa em uma cidade do interior de São Paulo.

Não! Ela não se chama Babilônia! O nome dela é Piracicaba.

Todo mundo lembra da música “O Rio Piracicaba...” e assim por diante. Se não lembra, não fique chateado, eu também não lembro.

Mas, vamos diminuir a nossa esfera localizacional (“êta” palavra chique, que deixa qualquer um mais perdido do que cego em tiroteio), e vamos para a Rua Boa Morte.
Gente! Os piracicabanos que me perdoem, mas um nome deste é assustador. Eu é que não vou passar nesta rua, sozinho, à meia-noite. Dá o que pensar um nome assim.

Quando você entra na rua deveria haver uma Agencia de Plano Assistencial Boa Morte, com direito a escolha de terreno e advogado para efetuar o testamento. Percorrendo a rua, no meio dela, uma casa funerária e ao final, um cemitério.
- Ô, cumpadi. Pronde ocê vai?
- Prá Boa Morte.
- Pêsames, finado.

Vamos lá! Pensa um pouco! Um nome destes! Cruz Credo!!!!!

Será que o Bairro se chama Pé na Cova?

Bom! Deixemos estas elocubrações de lado e que sendo boa a morte, resolvi aproveitar a boa vida e fui a um restaurante me fartar no pecado da gula (esta é uma Boa Morte: Comendo bem).

O restaurante chamado Babilônia. Não sei não. Talvez Sodoma e Gomorra casasse mais com o nome da rua. Mas, Babilônia dá um ar de paraíso na Boa Morte.

Entremos neste Éden de delícias, que é comandado pelo César italiano de nome Andrea.
Mas, para não pensarem que eu estou fazendo propaganda do dono que é o Andrea, nascido na Itália (uma duvida fica de repente: Babilônia é colônia italiana?), não vou chama-lo de Andrea, usarei um nome fictício que faz jus aos nomes italianos de seus antepassados. Portanto, Andrea, passa a ser chamado de Toshio Nakama. Portanto, Babilônia é comandada pelo valoroso carcamano Toshio Nakama, que veio da Itália, não recordo bem, mas acho que nas costas de uma tartaruga.

Imagino que seja, pois demorou tantos anos para chegar aqui no Brasil.

Ecco! Tutto bona gente!

Enfim, após a saudação habitual pro-forme: “Ave, Toshio. Os que vão morrer te saúdam”, o banquete estava servido. Uma mesa enorme com iguarias finas dos mais profundos rincões das Itália: feijão, linguiça, palmito, tutu, lazanha. Resumindo, uma salada russa.

Como o leitor pode perceber, nosso amigo Toshio Corleone não discrimina nações.

Mas, o que torna este restaurante fantástico, o que faz viajarmos na Babilônia de nossos sonhos é o molho que é servido por um indivíduo que é uma mistura de Corcunda de Notre Dame com o ator Jean Reno, isto é, é de dar pena, parece uma trombada de dois trem-bala. Este molho, se chama Righetti.

E o bacana de tudo é que quando as pessoas vão lá, vão para comer o Righetti.
- Porque você vai tanto no Babilônia?
- Adoro comer o Righetti.

Vão lá! O Righetti é fantástico!

Concomitantemente (êta palavra linda, e enooooooooooooooorme. Não sei bem o que significa, mas que é bacanona é!), depois que todos comem o Righetti, Toshio Nakama percorre as mesas observando a todos e animando com o seu bom-humor. Afinal por lá tudo é bom. Bom apetite, bom humor, boa morte...ahhhh! A Boa Morte outra vez!
Todos que saem de lá se sentem transportados aos Jardins da Babilônia, um paraíso perdido, ainda mais porque comeram o famoso Righetti.

Finalmente, para não encerrar sem uma boa mensagem a quem suportou esta pretensa crônica até agora, do minicontista Eno Teodoro Wanke:
“O discípulo veio ao mestre Zen, lamentando-se, em plena fossa:
- É curta a vida! É curta a vida!
O mestre Zen, porém aproveitando as mesmas palavras, com variante na pontuação, solucionou:
- É curta a vida, é? Curta a vida!”
------------------------

Observação: O Restaurante Babilônia onde Toshio Nakama me aguarda todos os dias com um machado na mão (não sei porquê), fica na Rua Boa Morte, 1262, em Piracicaba. Não esqueçam de dizer que querem comer o Righetti.

Dedicado ao meu amigo piracicabano Andrea Righetti, dono do Restaurante Babilônia.
(José Feldman. Paraná, 23 outubro 2009)

Paulo Monteiro (A Trova no Espiríto Santo – Parte V)

Pintura de Marcus Nati = Mimoso do Sul.
Cidade situada no Estado do Espírito Santo,
possui 14 mil habitantes e é também aonde ocorre
o Festival da sanfona e da viola no distrito de
São Pedro do Itabapoana.
O “Fim” do CTC

Um fato bastante desagradável para o Trovismo ocorreu durante as festividades do primeiro aniversário do Clube dos Trovadores Capixabas, entre os dias 1º e 3 de julho de 1981.

O CTC preparou festividades bastante sérias, com prestação de contas de sua diretoria, no dia 1º; palestras de Rodolfo Coelho Cavalcante e Eno Teodoro Wanke, no dia 3.

Lamentáveis foram os fatos ocorridos após a palestra de Eno Teodoro Wanke. Ali o autor afirmou, após aludir à dificuldade da missão que lhe foi imposta ao ser convidado para pronunciar uma das conferências:

Sobre o que escrever então? Sobre a História e as realizações do CTC? Isso cabe ao Clério, que, melhor do que ninguém, saberá recolher os dados e os expor num relatório que deixará muita gente perplexa com o quanto se pode fazer em tão pouco tempo. "

Pois Clério, com todo o dinamismo que é capaz, conseguiu neste curto ano, colocar a trova em seu verdadeiro caminho, o caminho da rosa. Suas realizações não se limitam ao CTC, mas também à UBT, com o renascimento da seção de Vitória, de Serra e diversas delegacias. Além disso, conquistou para a trova novos espaços, tanto nos jornais, como na televisão, nas escolas, como em boletins especializados, bem escritos e recheados de inovações e notícias sobre o mundo trovista. Realizou e provocou não sei quantos concursos. Foi um ano “de abertura” para a trova, não só em terras capixabas, mas em todo o Brasil. O CTC está ressuscitando aquele impulso que levava a trova milenar, na década de 1960, a ser considerada o centro do um movimento literário de grandes proporções, com o apoio de todos os grandes jornais do Rio de Janeiro, e repercussões no público de lá e outros centros.

Realmente, se pode parecer aos capixabas que o movimento do CTC é apenas regional, local, na verdade não é assim. Na correspondência que recebo, de todas as partes do Brasil, se fala, com escandalosa freqüência, e sempre em termos de admiração e louvor, no “Beija-Flor”, desde os mais recatados jornais provincianos, até os mais descabelados boletins vanguardistas. Acho que isto é o que vale, para a trova. É preciso não cair no nefelibatismo em que se encontra hoje a UBT, que deveria dar o exemplo de abertura e união, como abertamente escrevi em meu livro “O Trovismo”, da página 407 a 418, sem “meias palavras”. A UBT, lamentava eu, em resumo, tomara o caminho (também válido, porém parcial) de só promover festas e jogos florais, quando qualquer movimento artístico ou literário tem que, necessariamente, envolver o púbIico, agitá-lo, principalmente através dos meios de comunicação, divulgando as produções geradas, interessando e abrindo o caminho para os novos, pois de sangue novo é que se faz a renovação, e renovação é que dá continuidade ao movimento”.

Mais adiante, após historiar a forma com que se encontrou com Clério José Borges, escreve:
"Clério (...) com seu jeito objetivo de resolver as coisas, pediu-me orientação de como "ressuscitar" o trovismo em terras capixabas. Matutei. Que dizer a ele? Seria cômodo mandá-lo "engatar-se” na UBT, tornando-se mais uma sucursal do “turismo” ubetista. Não confundir tal "turismo” com o turismo de massa, aquele que é uma indústria, que traz dinheiro à terra onde é exercido. O turismo da UBT é elitista, exercido por uma certa quantidade do trovadores, dentro do círculo fechado onde estão as informações sobre os concursos. É tão fechado esse círculo, que mesmo os trovadores interessados, como eu, na trova, não conseguem facilmente o acesso a tais informações. Cheguei mesmo a assinar, certa vez, um desses boletins de UBT, enviando um cheque em favor do presidente local, conforme as instruções de assinatura do próprio Informativo, e babau! Não recebi nem o dinheiro de volta, nem uma explicação (...).

Por isso, que me perdoem os amigos que, felizmente, possuo em grande quantidade dentro da UBT, mas eu não poderia, naquele momento, honestamente, colocar este jovem e dinâmico líder sob a tutela do um órgão fechado. Ora, existia na ocasião, o Clube dos Trovadores do Vale do Paraíba, do meu amigo Francisco Fortes, que, independente da UBT, e por ela criticado por isso mesmo, estava fazendo algum movimento. Lembrei-me, baseado nesse exemplo salutar, de propor ao Clério, não a filiação à UBT, mas a criação de um Clube independente, local, que com o tempo, poderia se estender por todo o Brasil, (como aliás, sucedeu à UBT, entidade baseada no GBT, criado por Rodolfo Cavalcante em Salvador, em 1958)".

Essas colocações de Eno Teodoro Wanke, quanto à UBT, revoltaram o trovador Joubert de Araújo Silva, capixaba, que já foi alto dirigente da UBT Nacional.

Eis o que conta José Borges Ribeiro Filho, em artigo publicado no jornal A GAZETA, de 29 de julho de 1981: "Agora, em A Gazeta de 18 do Julho de 1981, leio o artigo intitulado “Desparabéns" de autoria do Sr. Eno Teodoro Wanke, autor dos livros: "A Trova Popular", “A Trova”, “A Trova Literária” e "Trovismo”, em que é denunciada a ingerência de um determinado trovador ligado à UBT Nacional, e que já se encontrava em Vitória há vários anos e nada fez pela trova nesse período, para extinguir o CTC. Estive no último dia do Seminário Nacional da Trova realizado em Vila Velha, no dia 3 de julho e lá observei a movimentação de determinado trovador, defendendo interesses da UBT Nacional, em tentar acabar com o CTC. Lembro-me bem que, quando procurava argumentar suas idéias o citado trovador foi interrompido bruscamente pelo poeta Andrade Sucupira que de alto e bom som afirmou “enquanto eu viver, o CTC não morrerá. Ninguém vai acabar com o CTC”.

José Borges Ribeiro Filho comete um engano ao afirmar que Joubert de Araújo Silva encontrava-­se em Vitória há vários anos. O trovador de Cachoeiro de Itapemirim reside no Rio de Janeiro e se encontrava em vitória desde inícios de 1980.

Após esses incidentes, CIério José Borges afastou-se definitivamente da União Brasileira de Trovadores, através de uma "CARTA ABERTA AO PRESIDENTE DA UBT NACIONAL NO RIO DE JANEIRO", publicada no CORREIO POPULAR, de Cariacica, número referente à semana de 11 a 23 de julho de 1981.

Inicialmente, historia as atividades do CTC, sua nomeação para delegado da UBT em Vitória (mesmo com a presença de Joubert no Espírito Santo) e a organização da UBT em solo capixaba. Depois afirma:

O CTC continuou com suas promoções, realizando concursos internos, expedindo o informativo BEIJA-FLOR e promovendo a realização do concurso REI, PRÍNCIPE e MADRINHA dos trovadores capixabas, no qual os sócios do CTC tiveram oportunidade de votar em diversos nomes. O concurso foi lançado por esta coluna, no dia 16 de janeiro de 1981 (Nota: Clério José Borges refere-se à coluna “Trovas e Trovadores”), no CORREIO POPULAR e no dia 21 de janeiro de 1981, no JornaI TRIBUNA DO POVO, da cidade de Guarapari. No dia 30 de janeiro, nova divulgação foi feita no jornal CORREIO POPULAR, onde, inclusive, sugeríamos que Elmo Elton era um candidato nato, assim como Zedânove Tavares, Paulo Freitas e Evandro Moreira. O jornal CORREIO POPULAR, que é enviado a todos os sócios do CTC, pareceu-me o jornal ideal para o lançamento do tal concurso, posteriormente divulgado no Beija-Flor, onde colocamos, inclusive, uma cédula de votação.

O concurso foi realizado com a eleição de Elmo Elton, a minha e a de Andrade Sucupira. À exceção da minha escolha, realizada como uma homenagem ao meu modesto trabalho, considerei a eleição feita, democraticamente, bastante justa. Elmo Elton é membro da Academia Espírito-Santense de Letras e tem vários livros publicados. Paulo Freitas e Evandro Moreira, que também concorreram ao título de rei, são integrantes da Academia Espírito-Santense de Letras e possuem vários livros publicados. Como a promoção foi do CTC, entidade cultural independente, achamos tudo altamente válido.

Agora, surge um elemento estranho ao CTC a criticar o concurso, como se desejasse ter sido escolhido rei, só por ter o título do Magnífico Trovador dos Jogos Florais do Nova Friburgo. Não é bastante conhecido como trovador no Estado e nem pertence à Academia Espírito-Santense de Letras.

Está pregando a discórdia entre os trovadores capixabas e, o que é pior, o aniquilamento e a extinção do CTC. Chegou a propor-me que acabasse com o CTC, que ele incentivaria a criação de novas seções da UBT no Estado e posteriormente seria formado um conselho estadual da UBT, no qual meu nome seria indicado para presidente. Esta atitude revoltou-me e, aqui, dirijo-me a V. Sa., renunciando a quaisquer vínculos que ainda me unam à UBT
”.

A seguir, reafirmando suas ligações com Eno Teodoro Wanke, ex-alto dirigente da UBT Nacional, hoje condenado pela entidade, acrescenta:

O CTC realmente foi criado com base numa idéia de Eno Teodoro Wanke. Todavia não obedece e nem está servilmente colocado a serviço do senhor Eno Wanke. Apenas o admiramos corno escritor e, por isto, promovemos sua vinda a Vitória, onde brindou-nos com uma magnífica palestra, tendo, na oportunidade recebido, juntamente com Rodolfo Coelho Cavalcante, o título de MAGNÍFICO TROVADOR, dado pelo CTC e o título de sócio de honra da UBT de Vila Velha, conferido pela trovadora Valsema Rodrigues da Costa, numa demonstração de que nós, os capixabas, estamos acima de fofocas e intrigas (...)".

Temos, aí, historiado a partir de documentos, o que aconteceu com a proposta de extinção do CTC, feita por Joubert de Araújo Silva.

Cremos que se está passando com o Trovismo um fenômeno que ocorre com as correntes religiosas provenientes da mesma origem ou com os partidos marxistas. Para os integrantes de quaisquer uma das primeiras, apenas os membros da sua confraria irão para o céu (ou sei lá para onde acreditem que irão), pois estão com a verdade; para os integrantes dos partidos marxistas apenas os militantes da sua organização têm capacidade de modificar o mundo, pois estão certos e os outros errados...

Esse fenômeno, na análise das idéias sociais tem um nome: Sectarismo; na análise da Literatura, chama-se Aulicismo.

No caso do movimento dos trovadores contemporâneos apenas os de determinada entidade (seja qual for) estão agindo corretamente e são os melhores.
Parece que os trovadores esqueceram-se de que seu padroeiro (São Francisco de Assis) sempre se guiou pela humildade.

Quanto aos títulos de "sócio de honra”, outorgados pela UBT de Vila Velha parece-nos que eles fogem ao que dispõe item 7, do artigo 55, do “REGIMENTO INTERNO GERAL DA UNIÃO BRASILEIRA DE TROVADORES”, publicado no jornal "TROVAS E TROVADORES", nºs 20-21, set-out de 1967, que foi "Órgão Central da União Brasileira de Trovadores”, onde assegura que “São atribuições dos Presidentes Estaduais: (...) 7 - Propor e assinar títulos de Sócio Benemérito e Honorário, previamente aprovados pelo Conselho Estadual”.

Evidentemente, a trovadora Valsema não tem culpa se a edição daquele Regimento estiver esgotada.

Fonte:
http://www.usinadeletras.com.br

sábado, 24 de outubro de 2009

Folclore em Trovas 8 (Boto)

Trova sobre imagem de http://www.uniblog.com.br

Guerreiros Mura (a Sedução Do Boto Cor-de-rosa)


Todo o meu pecado
Foi amar uma linda sereia do mar
E como lição herdei a maldição
De viver nas águas contemplando a solidão
Os mistérios e as mágoas dos rios a imensidão

Mas o feitiço das escuridão
Quebrou-se ao luar
O boto cor-de-rosa emergiu
Dele o encanto surgiu
De boto a um lindo rapaz
Astucioso e sagaz
Do fundo do rio Solimões
Uniu-se dois corações

Veio seduzir a cirandeira bela
Dançarina, dançarina
De sua paixão
Com fitas brancas e amarelas
Dança a dança, dança a dança
Da sedução

Está se deslumbrando senhor
Uma linda estória de amor
Com a cirandeira bela fogosa
Amor do boto cor-de-rosa.
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Folclore Brasileiro (O Boto)



Existem dois tipos de botos na Amazonia, o rosado e o preto, sendo cada um de diferente espécie com diferentes hábitos e envolvidos em diferentes tradições. Viajando ao longo dos rios é comum ver um boto mergulhando ou ondulando as águas a distância. Se diz que o boto preto ou tucuxi é amigável e ajuda a salvar as pessoas de afogamentos, mas o rosado é perigoso. Sendo de visão ineficiente, os botos possuem um sofisticado sistema sonar que os ajuda a navegar nas águas barrentas do Rio Amazonas. Depois dos humanos eles são os maiores predatores de peixes.

A Lenda

A lenda do boto é mais uma crença que o povo costumava lembrar ou dizer como piada quando uma moça encontrava um novo namorado nas festas de junho.

É tradição junina do povo da Amazônia festejar o nascimento de Santo Antonio, São João e São Pedro.

Esta lenda tem sua origem no boto-cor-de-rosa, um mamífero muito semelhante ao golfinho, que habita a bacia do rio Amazonas, e também pode ser encontrado em países, tais como: Bolívia, Equador, Colômbia e Venezuela. As diferenças básicas são as seguintes: o golfinho vive no mar, e o boto vive em água doce, o golfinho tem cor acinzentada e o boto pode ser acinzentado, preto ou possuir cor avermelhada.

Durante as festas juninas, quando são comemorados os aniversários de São João, Santo Antonio e São Pedro, a população ribeirinha da região amazônica celebra estas festas dançando quadrilha, soltando fogos de artifício, fazendo fogueiras e degustando alimentos típicos da região. Reza a lenda que é quando o boto-cor-de-rosa sai do rio transformando-se em um jovem elegante e belo, beberrão e bom dançarino, muito bem vestido trajando roupas, chapéu e calçados brancos. O chapéu é utilizado para ocultar (já que a transformação não é completa) um grande orifício no alto da cabeça, feito para o boto respirar. É graças a este fato que, durante as festividades de junho, quando aparece um rapaz usando chapéu, as pessoas lhe pedem para que ele o retire no intuito de se certificarem de que não é o boto que ali está.

A tradição amazônica diz que o boto carrega um espada presa ao seu cinto, mas que, no fim da madrugada, quando é chegada a hora de ele voltar ao leito do rio, é possível observar que todos seus acessórios são, na verdade, outros habitantes do rio. A espada é um poraquê (peixe-elétrico), o chapéu é uma arraia e, finalmente, o cinto e os sapatos são outros dois diferentes tipos de peixes.

Este desconhecido e atraente rapaz conquista com facilidade a mais bela e desacompanhada jovem que cruzar seu caminho e, em seguida, dança com ela a noite toda, a seduz, a guia até o fundo do rio, onde, por vezes, a engravida e a abandona. Por isso, as jovens eram alertadas por mulheres mais velhas para terem cuidado com os galanteios de homens muito bonitos durante as festas, tudo pra evitar ser seduzida pelo infalível boto e a possibilidade de tornar-se, por exemplo, uma mãe solteira e, assim, virar motivo de fofocas ou zombarias. Seduzidas, as mulheres mantém encontros furtivos com esta entidade, que ao amanhecer retorna ao fundo dos rios, onde reside.

Conta-se, que certa ocasião, havia uma tapuia que vivia só em sua palhoça e que de repente começou a emagrecer e entristecer sem aparentar moléstia alguma. Desconfiados que fosse obra do Boto, os homens da tribo fizeram-lhe uma emboscada.

À noite viram chegar ao porto um branco que não era do lugar e dirigiu-se para a choupana. Acompanharam-no e quando ele entrou, de mansinho abriram a palha da parede e viram-no querer deitar-se na mesma rede da tapuia. Então, um tiro o prostrou e arrastando-o para a barranca do rio, confirmaram suas suspeitas, tal homem era realmente o Boto. A autoridade local não fez corpo de delito, pois matar um boto não é crime previsto em lei.

Raul Bopp, um poeta profundamente brasileiro, no "Cobra Norato", refere-se assim, graciosamente, a um caso do Boto:

"- Joaninha Vintem: Conte um causo...
- Causo que?
-Qualquerum.
Vou contar causo de boto:

Amor chovi-á
Chuveriscou
Tava lavando a roupa Maninha
Quando o boto me pegou.

-Ó Joaninha Vintem
Boto era feio ou não?

- Aí, era um moço novo Maninha,
tocador de violão...
Me pegou pela cintura...

- Depois que aconteceu?...

Xentes!
Olha a tapioca embolando no tacho!

- Mas que boto safado!

Nos conta a poesia, que a pobre cunhã-poranga (moça bonita), por não ter a sorte de possuir um muiraquitã protetor, não conseguiu livrar-se das malhas de sedução do boto.

Nas noites de luar do Amazonas, afirmam alguns, que os lagos se iluminam e pode-se ouvir as cantigas de festas e danças onde o Boto, ou também chamado de Uiara, participa.

Sedutor e fecundador, conta-se que o boto sente o odor feminino a grandes distâncias, virando as canoas em viajam as mulheres. Isso ocorre sempre a noite, e para evitar o boto, deve-se esfregar alho na canoa, nos portos e nos lugares que ele goste de parar.

As primeiras alusões à lenda apareceram em meados do século XIX, inicialmente referentes a sua transformação em uma bela mulher que atraia os moços ao rio, afogando-os, e pouco depois, aparece como o homem-boto nas cercanias do rio.

Sobrexistindo hermafrodita, o mito termina pela fixação morfológica dicotômica em Boto e Mãe D'Água, o cetáceo, restringindo-se às mulheres e a Iara, aos homens.

A inexistência, no Brasil, nos séculos XVI, XVII e XVIII, de entidades com os atributos do boto, faz supor que a lenda seja de origem branca e mestiça, com projeção nas malocas indígenas e ribeirinhas.

Simbolismo

O Boto é portanto, o Dom Juan da planície Amazônica. Seu prestígio, longe de diminuir com as dissipações do tempo, ganha novos florões com os casos que todo dia lhe aumentam o lendário e a fé do ofício. O papel que lhe atribuem não difere muito das proezas que assinalaram a famosa personagem de "Tirso de Molina". O asqueroso mamífero misciforme, com aqueles seus dois a três metros de comprimento, com aquele focinho pontiagudo e encabelado, passa por ser um herói mais atrevido, em matéria de amor, de que os tipos de Merimée.

O Boto é hoje um animal em extinção e grande culpa disso é por que o homem lhe conferiu poderes mágicos. Muitos pescadores os capturam para corta-lhes o pênis com a finalidade de fazer um amuleto de "conquista varonil" ou para combater a impotência sexual. Suas nadadeiras também são utilizadas na fabricação de remédios. Seus olhos são usados como atrair as mulheres. Os pajés costumavam realizar rituais para preparar os olhos do animal a ser entregues e usados pelos necessitados.

A crença neste mito está disseminada pela população ribeirinha do Rio Amazonas. O Boto representa o "animus"das mulheres, que faz inter-relação entre o consciente e o inconsciente. O inconsciente masculino é feminino e regido pelo "anima". O "animus" é a figura masculina arquetípica que reflete o princípio masculino nas mulheres. O Boto é este "animus arquetípico" representando tanto o inconsciente individual quanto o coletivo. Sua grande beleza e poder de sedução são explicados, quando entendemos que ele não é um homem e sim a imagem que as mulheres fazem do homem.

O Boto é símbolo de sedução e energia vital.

Todos os animais aquáticos simbolizam o psiquismo, esse mundo interior e tenebroso através do qual se faz conexão com Deus ou com o Diabo.

De natureza ambígua estes seres se ligam aos rios e oceanos, lugar de todas as fascinações e de todos os terrores, imagem da mãe e da deusa-mãe primitiva em seu aspecto generoso e criador e, ao mesmo tempo, terrível. Mares, rios, são lugares selvagens e inumanos, onde a lógica nunca prevalece. É por isso que todos os mitos e divindades marinhas conservarão sempre um caráter arcaico. Saindo dessa água enigmática, os peixes tornam-se eco deste terror antepassado, que roça o desconhecido.

O Boto é a figura popular das águas e do folclore da região amazônica e sua aparência é de
um golfinho. Os órgãos sexuais quer do Boto, quer da sua fêmea, são muito utilizados em feitiçaria, visando a conquista ou domínio do ente amado. Porém o mais utilizado do mesmo é o olho do Boto, que é considerado amuleto do mais forte na arte do amor e sorte. Dizem mesmo que, segurando na mão um amuleto feito de olho de Boto tem que ter cuidado para quem olhar, pois o efeito é fulminante: pode atrair até mesmo pessoas do mesmo sexo, que ficam apaixonadas pelo possuidor do olho de Boto, sendo difícil de desfazer o efeito...Conta-se algumas histórias em que maridos desconfiados de que alguém estava tentando conquistar suas mulheres armaram uma cilada para pegar o conquistador. A cilada geralmente acontece à noite, aonde o marido vai a luta com o seu rival, mesmo ferido, consegue fugir e atirar-se n’água. No dia seguinte, para a surpresa do marido e demais pessoas que acompanharam a luta, o cadáver aparece na beira d’água com o ferimento da faca, ou de tiros, ou ainda com o arpão cravado no corpo, conforme a arma utilizada, não de um homem, mas pura e simplesmente um Boto.

O boto ou Uauiara, também é conhecido por ser uma espécie de protetor das mulheres, cujas embarcações naufragam. Muitas pessoas dizem que, em tais situações, o boto aparece empurrando as mulheres para as margens do rio, a fim de evitar que elas se afoguem, as intenções disso até hoje não são muito conhecidas…

Assim sendo, na região norte do Brasil, quando as pessoas desejam justificar a geração de um filho fora do casamento, ou um filho do qual não se conhece o pai, é comum ouvir que a criança é filha do boto.
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Sobre a Iara
http://singrandohorizontes.blogspot.com/2009/10/folclore-brasileiro-iara.html
http://singrandohorizontes.blogspot.com/2009/10/folclore-em-trovas-5-iara.html

Fontes:
http://www.sumauma.net/amazonian/lendas/lendas-boto.html
http://www.infoescola.com/folclore/a-lenda-do-boto/
http://www.rosanevolpatto.trd.br/lendabotorosa1.htm
http://www.istoeamazonia.com.br/
Imagem = http://www.mundoeducacao.com.br

Apollo Taborda França (O Trovador e a Trova)



Com garra de trovador,
Vou seguindo meus caminhos...
Venturoso e com amor,
Num roseiral sem espinhos!

Cai a tarde, fico triste,
Pressuroso como o quê...
O coração não resiste
A saudade de você!

Poeta diz sempre o que quer,
Na verdade ou de impulsão...
Tenho certeza e assim penso,
Com você e sem vaidade!

Disse adeus à virgindade,
Optou, em seus dilemas...
Quis amar com pouca idade:
– Está cheia de problemas!

Pelas ruas da cidade,
Encontrei com Jesus Cristo...
– Faze e prega a caridade,
Para o Céu bem chega isto!

Curitiba é chão de amores,
Toda feita de candura…
O seu perfume é de flores,
Deus namora lá na Altura!

A Trova não morre nunca,
Retempera a humanidade
E vence a tristeza adunca,
Alegrando a mocidade!

Sete sílabas por cima
Com idéia sempre nova,
E cadência, boa rima,
Numa quadra…a bela Trova!

Sou trovador, tenho senso
Da importância da poesia:
Encerra tudo o que penso,
Realidade e fantasia.

Uma Trova pra ser boa,
Expressiva, universal,
Na mensagem apregoa
A cultura e a moral!

Quem tem estro e tem cultura
E se inclina à poesia,
Vai na Trova com lisura,
Cheio de graça e estesia!

Uma Trova…um belo tema,
Pra dizer o que se quer;
Quando o poeta é bom, da gema,
Inspira-se…na mulher!

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Sobre o Autor:

Apollo Taborda França, nasceu em Curitiba, capital do estado do Paraná, onde reside. Filho de Heitor Stockler de França e Brasília Taborda Ribas de França. Fez cursos primário e ginasial no Instituto Santa Maria, dos Irmãos Maristas. Posteriormente em Direito pela Universidade Federal do Paraná, em Jornalismo pela Universidade Católica (hoje PUCPR), ainda em Curso Técnico de Construção de Máquinas e Motores, pela Escola Técnica Federal do Paraná que agora está transformada em Universidade; e se formou em Ciências Econômicas.

Possui 17 livros publicados, em prosa e em verso. Inclusive cinco de Trovas. Passou a fazer versos naturalmente, talvez por influência sangüínea, uma vez que seu pai Heitor Stockler de França era escritor, poeta, jornalista e advogado e seus irmão também fazem poesias e trovas. Suas composições literárias foram publicadas em jornais, especialmente em livros e coletâneas impressas em São Paulo e Rio de Janeiro, etc.

– Cadeira n.36 da Academia Paranaense de Letras
– Cadeira n.38 da Academia de Letras José de Alencar
– membro do Centro de Letras do Paraná
– membro do Círculode Estudos Bandeirantes
– Presidente da UBT/Curitiba 1984/86 e 1990/92.
– membro do Instituto Histórico, Geográfico e Etnográfico Paranaense

Publicações:
– Poesia (em colaboração)
– Sinfonia da Rua 15
– A lua escorregou pela parede
– Festa de amores– O nosso alfabeto
– Praças de Curitiba
– Constelação dos bairros de Curitiba
– Os nossos pés de todos os dias
– MPPr – Movimento Poético Paranaense
– Poesia do Paraná

Fontes:
– Antologia dos Acadêmicos: edição comemorativa dos 60 anosda Academia de Letras José de Alencar. São Paulo: Scortecci, 2001.
– Carlos Leite Ribeiro. Portal CEN.
– Vasco José Taborda e Orlando Woczikosky (organizadores). Antologia de Trovadores do Paraná. Curitiba: O Formigueiro – Instituto Assistencial de Autores do Paraná, 1984.

Luis Renato Pedroso (Soberana Ordem do Sapo)



Inspirado por um grupo de intelectuais que, nos idos de 6 de março de 1898, criara um periódico sob a intrigante denominação O Sapo, Vasco Taborda Ribas fundou uma confraria, em 15 de agosto de 1977, a que chamou de Soberana Ordem do Sapo, cujos integrantes, em número expressivo, recebem o título de “barão” e “baronesa”.

Mas, certamente, os que lêem estas linhas perguntarão: por que tão esdrúxula denominação?

Responde, com raro descortino, o acadêmico e pois imortal Apollo Taborda França, que a fez ressurgir, poucos dias passados: “o sapo é uma criatura universal: está em todas as partes, em todos os países. Trata-se de um ser enigmático, místico e mítico, a um só tempo. Não chega a ser venerado, mas é admirado e decantado, de modo mal ou benquerente, em contos, fábulas e lendas”, lembrando, ainda, que “o sapo é romântico com seu cantar após as chuvas, tempestades, em especial para noites de luar. A despeito da malquerência com que sofre, é considerado o símbolo do amor, da ventura e da alacridade. Chega a ser considerado lindo conforme o entendimento e o olhar de quem intimamente não o subestima”.

Por sua vez, Ivo Arzua Pereira recorda que, “além de tudo, o sapo, cujo habitat são os charcos, os terrenos alagadiços e os banhados, é bem o símbolo da humildade, pois jamais intentou viver nas alturas montanhosas para brilhar à luz do sol e ser notado, admirado e aplaudido, bastando-lhe ser alvo da simpatia dos seres humanos e, principalmente, dos bravos ecologistas”.

Tais considerações, por si só, explicam plenamente a opção de Leôncio Corrêa, Leite Júnior, Gabriel Ribeiro e Thales Saldanha pelo título O Sapo para o hebdomadário lançando e, depois, Vasco Taborda Ribas para a confraria, agora ressurgida por Apolo Taborda França.

Muitos “barões” e “baronesas” já passaram pela Soberana Ordem do Sapo, outros tantos a integram, constituindo um pugilo valoroso de amantes da cultura.

Saudando-os, a exemplo do ocorrido na reunião-almoço do dia 5 de março de 2005, quando da reinstalação da confraria, lembro o poema do inspirado e sensível vate Harley Clóvis Stocchero, Barão de Tamandaré:
1. Quando o dia amanhece
e o sol para o alto arriba,
para o céu se evola a prece
do povo de Curitiba;

2. enquanto o dia floresce
com o azul brilhando guapo,
toda lagoa estremece
com a cantiga do Sapo.

3. Os barões assinalados,
dessa Ordem Soberana,
todos juntos, irmanados,
saudam a luz que emana

4. da hóstia de intensa luz;
e Curitiba conclama
a seguir o Bom Jesus
que todo cristão irmana.

5. nessa ordem de Grandeza
do Sapo, Rei da Sapiência,
que, com toda a realeza,
simboliza a boa vivência

6. que o Sapo, na humildade,
dádiva do Criador
para toda a Humanidade,
é atributo de Amor.

7. Rendamos ao
humilde Sapo
seu verdadeiro valor,
pois ele, que é nobre e guapo,
simboliza Paz e Amor!

8. Por Deus feito inteligente
e das searas protetor,
deve merecer da gente
veneração com ardor

9. para lhe dar proteção,
pois ele é nossa esperança
ao limpar a plantação
da praga, que
sempre avança!

10. Rendamos nosso tributo
ao Reino da Saparia,
ao Sapo, esse amigo astuto,
que nos inspira Poesia!

11. Assim, Barões, Baronesas,
vamos os Sapos saudar,
reunidos em nossas mesas
para a Ordem prestigiar.

12. Num momento de alegria
desta encantada Reunião,
brindemos a Saparia
no abraço de cada irmão;

13. também é grata a ocasião,
que esta data recorda,
vamos fazer a saudação

ao Mestre Vasco Taborda

14. que, se estivesse vivo,
aqui festaria contente,
comemorando o motivo
de relembrá-lo contente.

15. Mas, embora falecido,
tem a alma ainda presente,
o que nos dá o motivo
de relembrá-lo contente.

16. Festejemos, meus confrades,
esta nossa Confraria,
que hoje uma nova idade
feliz aniversaria!

17. Agradecendo a presença
de todos que, neste dia,
nos trazem a recompensa
da ilustre simpatia.

18. Sejam todos abençoados
com as preces que conduz
esse olhar iluminado
de Nossa Virgem da Luz!?.
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Fonte:
Luís Renato Pedroso, presidente do Centro de Letras do Paraná, vice-presidente do Movimento Pró Paraná e Barão de Santa Terezinha. In Paraná On-Line. 22/03/2005

Livros e Autores Infantis Conquistam o Mercado



A escritora Gloria Kirinus diz que a literatura infanto-juvenil brasileira hoje é muito respeitada no mundo. E um ótimo presente para o Dia das Crianças.

Boas histórias permeadas de fantasia, ilustrações que despertam a imaginação da criança e principalmente humor, característica muito presente nos livros de literatura infantil de hoje.

Elementos que atraem as crianças e fazem dos escritores e ilustradores de livros infanto-juvenis do Brasil serem reconhecidos internacionalmente pela sua qualidade, que vem atrelada ao aumento do consumo interno por esse segmento.

As estatísticas mostram que esse mercado tem crescido exponencialmente ao longo dos últimos anos. Último balanço divulgado pela Câmara Brasileira do Livro sobre o mercado editorial do País mostra que o número de títulos de livros infantis editados no ano passado cresceu mais de 14% em comparação com 2007, num total de 3.981 títulos.

O número de exemplares produzidos também aumentou, passando para mais de 15,4 milhões de livros, numa variação de 4,95% comparado com o ano anterior. Junto com histórias atraentes, a qualidade dos livros infantis destaca-se hoje pelo tratamento apurado e pelo cuidado com as ilustrações, que passou a ocupar um lugar de destaque que não tinha até então.

"A literatura infanto-juvenil brasileira é muito respeitada no mundo. Nos encontros internacionais, o stand do Brasil é muito visitado e admirado, com autores do porte de Ziraldo, as duas ganhadoras do prêmio Hans Christian Andersen, Ligia Bojunga Nunes e Ana Maria Machado, além da poesia em verso e prosa de Bartolomeu Campos Queirós, as fadas reencantadas de Marina Colasanti e o eterno Monteiro Lobato", avalia a autora Gloria Kirinus, representante no Paraná da Associação de Escritores e Ilustradores de Literatura Infanto-juvenil.

Esse boom da literatura infantil teve início na década de 1970 quando começaram a surgir excelentes autores, como Eva Furnari, Ruth Rocha, Ziraldo e Tatiana Belinsky, precursores da nova fase da literatura infantil.

"Depois da "era Monteiro Lobato" passou-se um tempo sem grandes autores nacionais. Esse período sem expressão tem relação com a escola, quando o predomínio das obras de literatura infantil era por um estilo com cara de livro didático, como pretexto para alfabetização, para ensinar conteúdos escolares", analisa a professora de literatura infantil da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Elisa Dalla Bona.

Conforme a crítica vem sendo feita, isso tem mudado. "A literatura contribui para instigar a fantasia, a imaginação. A alfabetização é uma consequência", defende a professora, que culpa a formação dos professores que, muitas vezes, ainda optam por selecionar livros fáceis para os alunos, de bons hábitos alimentares ou de higiene, de ensino de letras, formas geométricas ou números.

"O que é uma pena, porque a escola é a principal difusora da literatura infantil. Poucos são os pais que levam o filho na biblioteca ou que vão presenteá-los com um livro neste Dia das Crianças", lamenta Dalla Bona.

A literatura infantil é considerada um dos primeiros passos para a formação crítica das crianças, preocupação presente na obra de muitos autores. "Um bom livro tem que contar uma boa história. A literatura com a qual mais me identifico é a que instiga o mundo interior, a dimensão do simbólico, que amplia meu olhar para o leitor", conta a autora Cléo Busatto.

Tratar temas sérios por meio da história contada é a escolha do escritor e jornalista Luiz Andrioli. "Acredito ser possível abordar questões morais para as crianças, uma forma de se aprender a lidar com temas como a separação, a ilusão, a perda", afirma.

Em seu primeiro livro, A menina do circo, Andrioli aborda as diferenças no circo, em um ambiente em que vale tudo para se divertir. "O circo abre esse espaço para os excluídos, como o anão, o gordo. O que na sociedade choca, no circo é alegria", acredita.

Fonte:
Artigo de Luciana Cristo. In Paraná On Line de 11/10/2009

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Eno Theodoro Wanke (Verso)


Conheci um poeta que me disse certa vez, com entusiasmo na voz, ter inventado um verso definitivo e imortal.

- Sim? E como é?
- "O amor é um fogo que arde sem queimar."
- Mas isto é de Camões!

Levou um susto.

- Não é possível. Eu mesmo fiz a bolação, a montagem deste verso, palavra por palavra, pensamento por pensamento, letra por letra!
- Mas é de Camões. Pelo menos meio milênio tem este verso. Você deve ter lido em algum lugar, fixado no subconsciente e, quando foi escrever, produziu o verso como se fosse seu...

Sai dali desconsolado.

Uns dias depois, encontrei-o de novo:

- Pronto, agora sim. Tenho um verso imortal, que não é de ninguém mais.
- Então, solte.
- "O amor é uma água que afoga sem molhar."

Desisti.

Fonte:
WANKE, Eno Teodoro. Caminhos: minicontos. RJ: Edições Plaquette, 1992.
Imagem criada por Iraima Bagni.

Fábulas de Iauaretê na Expo-Literária de Sorocaba, hoje, sexta-feira.



Projeto realizado pelo Instituto Arapoty e Cia Duberrô integra programação da Expo-Literária em Sorocaba

“Fábulas de Iauaretê” apresenta contação de histórias, oficinas e palestra com o escritor Kaká Werá. Apoiado pelo Governo do Estado de São Paulo, Secretaria de Estado da Cultura – Programa de Ação Cultural e patrocinado pela Sorocaba Refrescos, projeto oferece atividades gratuitas.

Hoje, sexta-feira, dia 23 de outubro, a cidade de Sorocaba recebe a primeira atividade do projeto “Fábulas de Iauaretê”, uma adaptação do livro de Kaká Werá, realizada pelo Instituto Arapoty e Cia Duberrô. O projeto integra a programação da Feira Literária de Sorocaba, e seguirá ainda por outras cidades, como Tatuí, Itu, Laranjal Paulista, São Roque, Votorantim, Itapetininga, Itapeva, Limeira e Itapecerica da Serra.

– Dia: 23 de outubro de 2009,
– Horário: 10h, 14h e 15h30
.– Local: Tenda Villa Lobos - Biblioteca Municipal de Sorocaba [Av. Eng. Carlos Reinaldo Mendes, 3.041]
– Gratuito.
– Duração: 90 minutos.
– Capacidade: 100 lugares.
– Classificação indicativa: a partir de 10 anos.
– Agendamento para educadores, alunos e público espontâneo pelos telefones: (15) 3211-2911 / 3211-2902, com Paulo ou Elisa.

Palestra
– Dia 23 de outubro de 2009, às 19h.
– Local: Auditório da Biblioteca Municipal de Sorocaba [Av. Eng. Carlos Reinaldo Mendes, 3.041]
– Gratuito.
– Duração: 50 minutos.
– Capacidade: 100 pessoas.
– Classificação indicativa: a partir de 15 anos
– Agendamento para educadores, alunos e público espontâneo pelos telefones: (15) 3211-2911 / 3211-2902, com Paulo ou Elisa.

Fontes:
Douglas Lara. http://www.sorocaba.com.br/acontece
Márcio Abegão. http://pedagogiadoteatro.blogspot.com

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Folclore em Trovas 7 (Caipora)

Trova sobre imagem de http://ig.clickeducacao.com.br

Cacique e Pajé (A Lenda do Caipora)



Meu velho avô contava
Uma história interessante
Diz que depois do dilúvio
Que acabou com os habitantes
A geração de Noé
Da Terra foi ocupante
Aquele povo selvagem
Numa intriga constante
Se dividiram em tribos
Seguindo rumos distantes
Foi numa daquelas tribos
Que seu destino seguia
Uma mulher teve um filho
No meio da mataria
A pobre mãe faleceu
Quando o menino nascia
Aquela gente criada
Dentro da selvageria
Abandonaram a criança
Naquela selva bravia
Uma grande chimpanzé
Que perdeu seu filhotinho
No meio da selva bruta
Encontrou o garotinho
Por instinto maternal
Ou por lembrar do filhinho
Pegou aquela criança
Com muito amor e carinho
Com o leite do seu peito
Criou o inocentinho
Criado na selva bruta
Cresceu valente e veloz
As unhas cresceram tanto
Que pareciam anzóis
A fera que ele atacava
Tinha um destino atroz
Ele dominava a fera
Amarrava com cipós
Depois de surrar bastante
Soltava o bicho feroz
Daquele tempo pra cá
Conforme diz a história
Aquele homem selvagem
Tornou-se o rei das floras
Montado num porco-espinho
Percorre o sertão afora
Protegendo todos os bichos
Que dentro da selva moram
É o terror dos caçadores
Conhecido por Caipora
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Folclore Brasileiro (Caipora)

Caipora é uma entidade da mitologia tupi-guarani. É representada como um pequeno índio de pele escura, ágil, nu, que fuma um cachimbo e gosta de cachaça.

Habitante das florestas, reina sobre todos os animais e destrói os caçadores que não cumprem o acordo de caça feito com ele. Seu corpo é todo coberto por pelos. Ele vive montado numa espécie de porco-do-mato e carrega uma vara. Aparentado do Curupira, protege os animais da floresta. Os índios acreditavam que o Caipora temesse a claridade, por isso protegiam-se dele andando com tições acesos durante a noite.

No imaginário popular em diferentes regiões do País, a figura do Caipora está intimamente associada à vida da floresta. Ele é o guardião da vida animal. Apronta toda sorte de ciladas para o caçador, sobretudo aquele que abate animais além de suas necessidades. Afugenta as presas, espanca os cães farejadores, e desorienta o caçador simulando os ruídos dos animais da mata. Assobia, estala os galhos e assim dá falsas pistas fazendo com que ele se perca no meio do mato. Mas, de acordo com a crença popular. é sobretudo nas sextas-feiras, nos domingos e dias santos, quando não se deve sair para a caça, que a sua atividade se intensifica. Mas há um meio de driblá-lo. O Caipora aprecia o fumo. Assim, reza o costume que, antes de sair numa noite de quinta-feira para caçar no mato, deve-se deixar fumo de corda no tronco de uma árvore e dizer: "Toma, Caipora, deixa eu ir embora". A boa sorte de um caçador é atribuída também aos presentes que ele oferece. Assim, por sua vez, os homens encontram um meio de conseguir seduzir esse ente fantástico. Mas fracasso na empreitada é atribuído aos ardis da entidade. No sertão do Nordeste, também é comum dizer que alguém está com o Caipora quando atravessa uma fase de empreendimentos mal sucedidos, e de infelicidade.

Há muitas maneiras de descrever afigura que amedronta os homens e que, parece, coloca freios em seus apetites descontrolados pelos animais. Pode ser um pequeno caboclo, com um olho no meio da testa, cocho e que atravessa a mata montado num porco selvagem; um índio de baixa estatura, ágil; um homem. peludo, com vasta cabeleira.

Seus pés voltados para trás serve para despistar os caçadores, deixando-os sempre a seguir rastros falsos. Quem o vê, perde totalmente o rumo, e não sabe mais achar o caminho de volta. É impossível capturá-lo. Para atrair suas vítimas, ele, às vezes chama as pessoas com gritos que imitam a voz humana. É também chamado de Pai ou Mãe-do-Mato, Curupira e Caapora. Para os Índios Guaranis ele é o Demômio da Floresta. Às vezes é visto montando um Porco do Mato.

Os índios, para lhe agradar, deixavam nas clareiras, penas, esteiras e cobertores. De acordo com a crença, ao entrar na mata, a pessoa deve levar um Rolo de Fumo para agradá-lo, caso o encontre.

As histórias acima fazem parte de um vastissimo conjunto de nossas tradições populares, que desde o século XIX são alvo de intenso interesse e controvérsias entre antropólogos e estudiosos em geral. Uma das primeiras questões que aguçam a curiosidade é a de saber sobre a origem, embora muitas vezes os elementos estejam tão mesclados e se transformaram de tal forma que fica impossível localizar a fonte original. Indicar hipotética fonte, o que se faz sacrificando o conjunto da narrativa, pouco esclarece sobre as adaptações que sofre no tempo e no espaço, quando migra de uma região para outra e recebe novas influências. De fato, no caso, tanto o termo Mboitatá como Caapora denunciam a tradição indígena.

Mas as escavações para buscar a origem não dão conta de alguns aspectos bastante interessantes. Um deles é perceber que essas, como tantas outras histórias, são narradas cru determinadas situações: que situações são essas; quem conta para quem? Será que mesmo na região onde, em princípio, estariam mais arraigadas elas seriam compartilhadas da mesma maneira por todos os habitantes? Não se deve esquecer também que essas narrativas impõem, para os que nela acreditam, certas atitudes e revelam certos sentimentos em relação aos perigos da floresta; elas também costumam servir de justificativas, como é ocaso de um caçador mal sucedido, que pode atribuir a má sorte ao fato de ter deparado com o Caipora.

Em regiões onde prevalece a transmissão oral essas histórias desempenham um papel bastante importante na socialização. Contar e ouvir "causos" é uma atividade lúdica, para passar o tempo livre. Na recreação, os indivíduos vão incorporando os valores do grupo em que vivem, e assim aprendem como proceder quando saem, por exemplo, para caçar. Na história do Caipora é inculcada a idéia de que se deve estabelecer limites no abate as presas, e que em dias santos ou sextas-feiras deve-se evitar a floresta. Outras histórias como a da Cuca, nosso papão do universo infantil, ensina que as crianças devem ir cedo para a cama sem fazer traquinagens antes de dormir. Mas o papel da história contada num grupo de seringueiros ou num grupo de pescadores, sobretudo quando não tem muito contato com a vida na cidade, é distinto do papel dessas mesmas histórias na vida de crianças de classe média que ouviam as histórias de sua babá ou de adultos letrados que as ouvem das fontes nativas, dos pais, das instituições de ensino e da indústria cultural e participariam assim simultaneamente da cultura do povo e da cultura erudita. Mas, mesmo numa mesma região, épossível encontrar ausência de consenso quanto à crença em seres fabulosos. Foi o que ocorreu com o antropólogo Eduardo Galvão, quando esteve, em 1948, numa região do baixo Amazonas. Ao recolher relatos sobre seres sobrenaturais, encontrou tanto depoimentos crédulos, sobretudo de seringueiros e de pescadores, que faziam descrições detalhadas de seus encontros com seres sobrenaturais, quanto opiniões céticas de moradores que se referiam à crença no Curupira como "abusão de gente mais velha". Ou comentavam: "são apenas lendas". Obteve um relato de um habitante que dizia acreditar no Curupira, embora jamais tivesse tido uma experiência de ordem pessoal com o ente, pois narrava as histórias que lhe foram contadas pelo avô.

Fatos como o descrito acima por Galvão, em Santos e Visagens, indicam que as mesmas histórias são partilhadas pelo povo brasileiro de maneira diferente, numa mesma época ou em épocas e gerações diferentes. Entretanto, pode-se lembrar que essas tradições populares são muitas vezes reivindicadas como um meio de revelar todos os brasileiros ou de identificar o modo de ser, pensar e agir de uma região do país. Seguindo uma tradição que, de acordo com Peter Burke, tem início no final do século XVIII na Europa. Afonso Arinos. em Lendas e Tradições Brasileiras, vê na descoberta da cultura popular a existência de "um opulento tesouro esquecido". E acrescenta: "Explorai-o, colhei a mancheias, que tocareis na fonte verdadeira da vida de nossa raça e ela repetirá convosco o milagre de Fausto". Embora se possa relativizar o tom ufanístico excessivo do escritor mineiro, não resta dúvida de que vários escritores brasileiros da modernidade, como é o caso de Mário de Andrade (Macunaíma), Raul Bopp (Cobra Norato) e Guimarães Rosa (Grande Sertão: Veredas), para mencionar alguns dos mais importantes, estiveram sempre muito atentos às tradições populares brasileiras, o que revela que essas tradições migram e são incorporadas pela cultura erudita.

Origem Provável

É oriundo da Mitologia Tupi, e os primeiros relatos são da Região Sudeste, datando da época do descobrimento, depois tornou-se comum em todo País, sendo junto com o Saci, os campeões de popularidade. Entre o Tupis-Guaranis, existia uma outra variedade de Caipora, chamada Anhanga, um ser maligno que causava doenças ou matava os índios. Existem entidades semelhantes entre quase todos os indígenas das américas Latina e Central. Em El Salvador, El Cipitío, é um espiríto tanto da floresta quanto urbano, que também tem as mesmos atibutos do Caipora. Ou seja pés invertidos, capacidade de desorientar as pessoas, etc. Mas, este El Cipitío, gosta mesmo é de seduzir as mulheres.

Conforme a região, ele pode ser uma mulher de uma perna só que anda pulando, ou uma criança de um pé só, redondo, ou um homem gigante montado num porco do mato, e seguido por um cachorro chamado Papa-mel.

Também, dizem que ele tem o poder de ressuscitar animais mortos e que ele é o pai do moleque Saci Pererê. Há uma versão que diz que o Caipora, como castigo, transforma os filhos e mulher do caçador mau, em caça, para que este os mate sem saber.

É representado ora como mulher unípede, o Caipora-Fêmea, ora como um tapuio encantado,nu, que fuma no cachimbo, este último na área do Maranhão a Minas.

Manoel Ambrósio dá a notícia, no Nordeste, de um caboclinho com um olho só no meio da testa, descrição que nos faz lembrar dos ciclopes gregos. Também aparece no Paraná como um homem peludo que percorre as matas montado num porco-espinho.

No Vale do Paraíba, estado de São Paulo, ele é descrito como um caçador façanhudo, bastante feio, de pêlos verdes e pés virados para trás.

Outro nome do Caipora, ou Caapora, é Curupira, protetor das árvores, chamado assim quando apresenta os pés normais.

Em algumas regiões, há fusão dos dois duendes, em outras elas coexistem. O mito emigrou do Sul para o Norte, conforme conclusão dos estudiosos.

Existe na Argentina o mesmo duende, como um gigante peludo e cabeçudo. Couto de Magalhães aceita a influência platina no nosso Caipora.

Segundo Gonçalves Dias, Curupira é o espírito mau que habita as florestas. Descreve-o assim: 'Veste as feições de um índio anão de estatura, com armas proporcionais ao seu tamanho'. Governa os porcos-do-mato e anda com varas deles, barulhando pela floresta. O mesmo mito é encontrado em toda a América Espanhola: no Paraguai, na Bolívia, na Venezuela.

Entre os Chipaias, tribo guarani moderna, há a crença no Curupira, como sendo um monstro antropófago, gigantesco, muito simplório, conforme relato de Artur Ramos, em Introdução à Antropologia Brasileira.

Apesar de serem conhecidos o nome e o mito Curupira, no Vale do Paraíba é mais encontradiço o nome Caipora, usado até para designar gente de cabeleira alvoroçada.

Lá, é um caboclinho feio pra danar, anão de pés virados para trás, cabeludo. Viaja montado em um porco-espinho, com a cara virada do lado do rabo da montaria.

Tão variadas são as suas metamorfoses, que não é difícil vê-lo tomar a forma feminina e mesmo, a dos dois sexos, que lhe dá uma aparência andrógina. O Curupira, entretanto, sob qualquer aspecto que se apresente, sempre tem os pés voltados para trás, que são indícios para filiá-lo ao berço semítico, o qual nos refere a uma crença corrente na Ásia em "Homens com pés voltados para trás", bem como os que tinham "orelhas grandes" eram comuns.

Transplantada para solo americano, esta crença foi se modificando ao sabor das circunstâncias. Assim é que vemos surgir o Curupira sob diferentes nomes: o "Maguare", na Venezuela; o "Selvaje", na Colômbia; o "Chudiachaque", no Peru; o "Kaná", na Bolívia. Como se vê, inúmeras são suas metamorfoses e designações, conforme testemunhos e fatos colhidos na história.

Quando Curupira entra no Maranhão, não muda de nome, mas mora no galho dos Tucunzeiros e procura as margens do rio para pedir fumo aos canoeiros e vira-lhes as canoas quando não lhe dão, fazendo as mesmas correrias pelos matos onde tem as mesmas formas com que se apresenta na Amazônia. Atravessando pelo Rio Grande do Norte e pela Paraíba, toma então o nome de Caapora. Conta-se que tornou-se inimigos dos cães de caça. Obriga-os a correr atrás dele, para fazer com que os caçadores o sigam, mas desaparece de repente, deixando os cães tontos e os caçadores perdidos. Nestes locais anda sempre à cavalo, ou montando um veado ou um coelho.

Em algumas ocasiões, foi descrito como um índio de pele escura, nu, ágil, fumando cachimbo e que adora fumo e cachaça, dominando com seus assobios os animais da mata. Indo o caçador munido de fumo e encontrando o Caapora, se este pedir-lhe e for satisfeito, pode contar que será daí em diante feliz na caça. Por outro lado, o que mais detesta é o alho e a pimenta, capaz de provocar-lhe cólera.

No Ceará conserva o nome de Caapora, porém muda novamente seu aspecto, perde todo o pelos do corpo, que se transforma numa enorme cabeleira vermelha, apresentando também dentes afiados.
Em Pernambuco lá está ele com suas características. Montado em uma queixada, tem nas mãos um galho de iapekanga ou arco e flecha, trazendo consigo sempre um cão a que dão o nome de "Papa-mel". Em uma carta de 1560, o padre José de Anchieta inclui esse duende entre as aparições noturnas que costumam assustar os índios.

Para o sacerdote, que entre nós esteve quando o Brasil amanhecia, o Curupira, muitas vezes, atacava os índios nos bosques, açoitando-os, atormentando-os e matando-os. Os índios costumavam deixar penas de aves, flechas e outras coisas semelhantes, em algum ponto da estrada do sertão, quando passavam por lá, como se fosse uma oferenda e, humildemente imploravam a esse personagem, que não lhes fizesse mal.

Em Sergipe, mostra-se sempre gaiato e, brincando faz o viajante rir até cair morto. Por isso talvez, que ele é venerado como "espírito cômico". Passando pela Bahia, sofre aí uma transformações completa e não só muda de nome como de sexo, aparecendo sob a forma de "caiçara", cabocla pequena, quase anã, que anda montada num porco.

Fontes
http://pt.wikipedia.org/
http://www.vivabrazil.com/
http://sitededicas.uol.com.br/
http://www.grupoescolar.com/
http://www.rosanevolpatto.trd.br/

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Segundo o site da Biblioteca Nacional, "o ISBN - International Standard Book Number - é um sistema internacional padronizado que identifica numericamente os livros segundo o título, o autor, o país, a editora, individualizando-os inclusive por edição. Utilizado também para identificar software, seu sistema numérico é convertido em código de barras, o que elimina barreiras lingüísticas e facilita a sua circulação e comercialização.”

É preciso ter ISBN para cadastrar o livro no Clube de Autores?

Não, não é. O ISBN é uma forma de catalogar livros - mas não é ele que define o que é e o que não é uma obra literária. O foco do Clube de Autores é permitir que os autores publiquem as suas obras - considerando o seu conteúdo em como a peça mais importante.

Qual a importância de ter o ISBN

A principal importância é facilitar que a sua obra seja encontrada e distribuída. Por exemplo: se você conseguir algum acordo com alguma livraria, para divulgar e vender o seu livro por ela, provavelmente precisará ter o ISBN. Alguns sites ou redes sociais focadas em livros, por sua vez, também exigirão. Assim, por mais que não seja obrigatório ter um ISBN, é aconselhado. Como o custo é relativamente baixo, vale a pena.

Como faço para conseguir o meu registro no ISBN?

Pelo site da Biblioteca Nacional, é possível fazer o registro. Para tanto, você precisará se cadastrar como "editor autor" - capacitando-se a fazer o registro como pessoa física. Para ver a página no site da Biblioteca Nacional que instrui sobre este cadastramento.

Esta mesma página inclui links para download de dois arquivos importantes: a ficha que deve ser preenchida (clique aqui para baixar o arquivo, em formato Excel) e o manual de preenchimento da mesma (clique aqui para baixar o arquivo, em formato PDF).

Todos os custos para o registro também podem ser vistos no site (clique aqui para ver). O cadastramento como editor autor custa R$ 160,00 e o registro de cada obra, R$ 10,00.

Como a obra deve ser registrada?

Você pode escolher registrar a sua obra como publicação física ou eletrônica.

Na publicação física, uma série de regras de diagramação devem ser observadas - incluindo o posicionamento do código de barras no livro (clique aqui para ver as regras). Neste caso, aliás, caberá a você comprar a imagem do código de barras (também vendido pelo site da Biblioteca Nacional) ou gerá-lo em um software especializado de sua escolha.

A possibilidade de se cadastrar a obra como pubicação eletrônica vem do fato dos livros disponíveis no site do Clube de Autores serem comercializados de forma 100% sob demanda (e, portanto, sem uma tiragem física determinada). Esta modalidade é mais fácil para o o autor, até por ter exigências menores quanto à diagramação. O código de barras, por exemplo, não precisa ser gerado e impresso nas obras, sendo que você mesmo poderá diagramá-lo, diretamente no seu arquivo.

É preciso ter um novo ISBN para mudanças na obra?

De forma geral, mudanças nas obras devem, sim, ter um novo ISBN atribuído a ela. Segundo o site da Biblioteca Nacional, deve-se atribuir um novo ISBN:

- a cada edição de uma publicação;
- a cada edição em idioma diferente de uma publicação;
- a cada um dos volumes que integram uma obra em mais de um volume e também ao
conjunto completo da obra (coleção);
- a toda reedição com mudança no conteúdo(texto) da obra;
- a cada tipo de suporte, tipo de formato, tipo de acabamento e tipo de capa;
- as reimpressões fac-similares;
- as separatas (desde que apresentem títulos e paginação próprios);

Obs:
- a reimpressão pura e simples de um livro NÃO requer outro ISBN;
- mudança na cor da capa, formato de letras e correção ortográfica do texto da obra, NÃO requer outro ISBN.

No caso de publicações eletrônicas, no entanto, exige-se apenas que a obra não seja atualizada com frequência - sem que uma periodicidade seja definida
.

Fonte:
http://clubedeautores.com.br/

Mauro Gonçalves Rueda (Histórias sem Pé nem Cabeça)


Histórias sem Pé nem Cabeça

Primeira História

era uma vez uma história sem pé nem cabeça. não tinha início, meio ou fim. era uma coisa desengonçada e fora de moda. contudo, nas horas de fastio, brincava de ciranda-de-roda. certamente, para ver o tempo passar.

o incrível é que, o escritor da história, era pior do que a própria história em si: não sabia quem era, o que era, porque escrevia e o que iria escrever quando iniciou a história.

de forma que, mais que maluquice, ou atrapalho, o escritor pensou em ser a própria história, enquanto a história, brigava dentro dele porque afinal, ela sim, era a história. e ele, tão somente o autor. bem, para dizer a verdade, nem o escritor, nem a história, sabiam o que ia ocorrer ou ser escrito.

da mesma forma que, a história nem imaginava o quê ou quem era. deve ser porque ainda nem existia. uma história que não existe, deve ser algo vazio e sem graça. por isso mesmo, a história chegara à conclusão que, não possuía documentos e portanto, identidade. com isso, o escritor ficou muito zangado e disse: ora, eu sou o maluco aqui!. além do mais, sou eu quem não possui identidade ou documentos. então, vai tirando o cavalinho da chuva porque a história aqui sou eu e não você.

toda essa indecisão acabou gerando uma tremenda discussão cada vez mais acirrada. sem pé, nem cabeça. sem início, meio ou fim. e a história foi ficando naquele “blablablá”, “tititi” e coisa e loisa. como não conseguiam chegar a um acordo, acrescentaram um “etecétera” que é uma palavra um tanto quanto estranha. mesmo para uma história sem pé nem cabeça.

— ora, não me aborreça!. disse o escritor já exaltado.

por sua vez, a história respondeu:

— não vou dizer nada!.

— não quero nem saber.

respondeu o escritor com menosprezo. E a coisa toda continuou naquela lengalenga. sem fim. aliás, sem nexo e sem sentido.

a história enfezada, mudou de linha e de cor de repente. foi aí que o escritor matutou:

— isso não tem a mínima importância. você está pensando que vou me aborrecer?. e amuado, ficou aborrecido com a história. foi por isso que, passou a escrever tudo com letras minúsculas. mesmo no início de cada frase ou parágrafo. por outro lado, a história acabou aborrecendo-se ainda mais com o escritor.

Cerraram o cenho e permaneceram emburrados um com o outro. o escritor mudou de cor. a história também. contudo, apesar das discórdias, acabaram concluindo que, era melhor fazerem as pazes. e fizeram. acabaram ficando de bem um com o outro. tanto a história, quanto o escritor. afinal, brigar não é uma atitude legal e no mais, a gente vive precisando uns dos outros mesmo!...
melhor viver-se em paz, disse. quem disse essa frase?. ora essa, como posso eu saber?. aí, você leitor, vem e fica bravo comigo?. eu não tenho culpa se a história e o escritor viviam brigando. não tenho mesmo!.

foi então que tudo ficou de pernas para o ar. e a história sem ser terminada e sem “se terminar”. mas, como eu disse anteriormente, não tenho nada a ver com o peixe. querem uma sugestão?. porquê vocês não tentam refazer essa história e escreverem vocês?. bem, bem... acho que, por enquanto, essa história termina aqui. mesmo sem terminar. sem pé, nem cabeça. ora essa!. será que toda essa bagunça termina mesmo por aqui?.
–––––-

O Avesso do Fim
Segunda História

como o escritor queria o avesso do fim, o fim entrou na história sem pé nem cabeça pelo avesso. o que ele fez?. fácil, pulou do fim para o começo. E, acreditem se quiserem, começou saltando de linha e trocando de cor. essa atitude deixou o escritor tão irritado que, não conseguindo controlar a história sem pé nem cabeça, acabou transformando-se no avesso do avesso. a história e não ele, o escritor.

e, de repente, lá estava: o avesso do fim.

“deve ser o começo”. concluiu o escritor, empalidecendo e mudando de cor.

empalideceu. Ficou tão transparente no amarelo que, não conseguia enxergar a si próprio.
aí, o escritor resolveu voltar à sua cor natural. pensando bem, é melhor ter qualquer cor do que não ter nenhuma. nem que seja uma coisa assim, meio sem pé nem cabeça. no fim do começo ou, no começo do fim. talvez o avesso do fim, fosse o fim do avesso. vai saber?. matutou o escritor, já completamente esquecido do que iria escrever. ficou olhando para o vazio do nada que, é uma coisa assim, que existe sem existir. uma coisa que, às vezes, se sabe que tem, mas continua faltando.

então, ele ficou ainda mais chateado porque, era uma coisa tão sem graça aquele vazio que, chegava a dar sono. sono, preguiça e vontade de ficar dando risada o tempo todo. risada de tudo e de todos porque, coçava-se distraidamente.

foi então que, de tanto permanecer ali parado, a fitar o vazio, acabou sentindo saudade das coisas do sem-fim. não do avesso do fim. ou do sem pé nem cabeça. ou do avesso do avesso. mas, do sem-fim. foi por isso que ele ficou novamente chateado.

sem mais nem menos, saltou para esta linha abaixo, mudando de cor mais uma vez. decidido a colocar fim no começo ou, começo no fim pelo avesso sem avesso que, naquela história sem pé nem cabeça, o outro escritor que era o avesso daquele que escrevia, tascou um ponto final e pronto. basta!.

mas que coisa mais sem graça!. pensou o escritor falando ao mesmo tempo sem falar ou pensar em coisa alguma. decidido a pôr termo àquela história sem pé nem cabeça, virando-a pelo avesso do avesso, escreveu: aqui é o avesso do fim do começo que vai dar no começo do fim. analisou bem, leu, releu e concluiu:

“acho que ninguém vai entender”.

disse isso porque, ele mesmo, estava bastante confuso. também, não era pra menos. havia feito tanta confusão com a história que ela parecia não ter pé nem cabeça. parecia mais como se estivesse meio pelo avesso do avesso. sem o fim do começo. nem o começo do fim.
com as palavras mudando de cor e embolando-se pelo meio do meio da história que zangou-se com o escritor, ele desligou a lâmpada, vestiu o pijama, deitou-se e despertou para descobrir, finalmente que, estivera o tempo todo sonhando.

ou tendo pesadelo?.....

Fontes:
RUEDA, Mauro Gonçalves. Histórias sem pé nem cabeça (Inventando Coisas). São José do Rio Preto: ebookLibris. Coleção Joyceana, vol.6. 1999.