domingo, 3 de abril de 2011

Hildemar Cardoso Moreira (Livro de Poesias)


AO LAVRADOR, ESSE AMIGO

Ó tu, que a mão calejas na lavoura,
De sol a sol no teu labor profundo,
No trabalho extenuante, mas fecundo,
A terra transformando em seara imensa.
Tu que não temes o rigor da luta
E, enfrentas com bravura tua labuta
Na força magistral de tua crença.

Na crença que o trabalho a Deus eleva
Se é feito por amor a humana raça,
Muito embora, justiça não te faça,
Quem no mundo comendo do teu fruto,
Do fruto saborosa de tua messe,
Nem ao menos, na mesa, te agradece,
Nem valoriza teu trabalho abruto.

Muitos não lembram que com teu trabalho,
É que se fartam, na cidade, as mesas,
De nada adiantariam as riquezas,
Porque o dinheiro, a fome não mitiga.
Por isso, lavrador, em teu louvor eu canto,
E te afirmo que me orgulho tanto,
De ter você como pessoa amiga.

Eu olho a terra que tuas mãos lavraram,
E me comovo ante tal beleza,
Parece até que a própria natureza
Ao teu labor se curva agradecida.
E fico triste quando de repente,
Na seca, não germina tua semente,
Que é tua, é minha, é toda nossa vida.

Mas tu, retornas, lavrador, a luta,
Co’a força singular que se redobra,
Como guerreiro audaz que não se dobra
Ao grande potencial d’um inimigo.
Cada nova semeadura é um desafio,
Que enfrentas com a força de teu brio,
E vences, porque Deus está contigo.

CANOEIRO
(aos heróis da pesca)

Do meu quarto de hotel eu contemplava
Um pontinho que ao longe se avistava,
Era tu, meu herói que regressava
Com a canoa que nas ondas flutuava.

O velho mar batendo no rochedo,
Nos traz com isso a sensação de medo,
Na violência das ondas que se quebram.
Eu te admiro ó canoeiro audaz,
Que enfrentando a morte teu pescado traz,
Lá d’onde os olhos nem sequer enxergam.

E eu fico olhando a linha do horizonte,
Até que nela tua canoa aponte
No balanço das ondas ondulantes,
E me ponho a rezar ó canoeiro,
P’ra que seja feliz no teu pesqueiro,
Que tuas redes estejam abundantes.

E fico a imaginar tua família,
A tua mãe, tua mulher, tua filha,
Com que ansiedade te esperando estão.
É uma ansiedade que só se esboroa,
Quando chega afinal tua canoa,
Com o produto que transforma em pão.

POR QUE EU ESCREVO?

PARA VOCÊS QUE ESCREVO

Será que eu posso me julgar poeta?
Será que isso que eu escrevo ainda é poesia?
Ou será que já está ultrapassada?
Mas poesia não fica ultrapassada,
Ela foi e é sempre poesia,
Ela se infiltra em todas as gerações,
Ela é como a musica: –imortal,
Extingue-se as rimas, a métrica, as formas,
Mas permanece a sonoridade.
Assim pensando vou rabiscando meus aranzéis
Na sublime ilusão de que são belos.
Mas não é para mim que os escrevo
É para vocês que escrevo minha poesia,
Com a humildade daqueles que sabem
Que a musa ou inspiração é uma dádiva de Deus,
Escrevo porque penso que meus versos são lindos,
Porque para mim eles são realmente bonitos,
É assim que eu os sinto, é assim que eu os vejo,
É assim que eu penso que vocês estão vendo,
Porque sei que vocês também são poetas
E o poeta não lê só com os olhos,
mas com a alma.
Se julgarem ultrapassados os meus versos,
Se os julgarem desprovidos de verbosidade,
Se os julgarem rudes pelo caipirismo,
Eu confesso humildemente:
EU SOU POETA
Amo a poesia como amo a vida,
Amo a poesia que não morre nunca
Como amo a vida que transcende a morte.

ITALIANOS, BRASILIANOS

Ao centenário da colonização Italiana.

Na terra de Garibaldi
Lá nos montes apeninos,
As meninas e os meninos
Cresciam numa algazarra.
Na Calabria ou na Sicilia,
Em meio a grande família
Trabalhar era uma farra.

Naquela “bota” distante
Reinava Humberto Primeiro
Quando o solo brasileiro
Era um sonho de porvir
Aos jovens napolitanos,
Calabrezes, Sicilianos,
Que almejavam progredir.

Pensando em melhores dias,
Deixaram as pátrias plagas,
Dos mares cortando as vagas
Aquele povo Italiano,
Nobre, augusto, varonil,
Veio ajudar o Brasil
A se tornar soberano.

Naquela ousada aventura,
Eu não sei precisamente
Do que pensou essa gente,
Ao conhecer “brasilianos”
Mas sei do que conquistaram
Desde quando aqui aportaram
E que hoje faz cem anos.

Fazendo macarronada,
Manjando polenta e vinho,
Foi amizade e carinho,
Respeito e admiração.
Vos digo num verso breve
Que meu Brasil muito deve
A esse grande povo irmão.

Por isso é que vos saúdo
Brasileiros descendentes
Dos imigrantes valentes
Da terra de Galileu,
Que de Colombo nos rastros
Vieram viver sobre os astros
Do Cruzeiro que hoje é seu.

Contenda, setembro de 1989. Poesia classificada em primeiro lugar no I Concurso de Poesia da cidade da Lapa, realizado em 25/09/89
LEMBRANÇAS DE MINHA TERRA

“São Mateus bela cidade meu torrão, Eu te adoro como adoro a liberdade, E te levanto um altar no coração.” Prohman.

Da colônia eu chegava ofegante
Na faze embrionária de estudante.
Pés descalços, a merenda no bornal,
Inflava o meu peito de menino
Quando, na escola, cantávamos o hino
Que foi feito em teu louvor,- terra natal.

De quando em vez o Iguaçu alagava
E a parte baixa toda se inundava,
E o velho São Mateus então sofria.
Mas nós crianças não, porque as enchentes
Deixavam todos nós muito contentes
Ao fazermos de “bote” a travessia.

Nossa velha casinha na Cachoeira
Coberta de “taboínhas” de madeira,
Abrigava uma família pobrezinha.
Éramos dez abrigados num só teto
E tínhamos dos pais carinho e afeto.
Ai que saudade eu tenho da casinha.

Nas águas do Cachoeira sempre mansas
Banhavam-se felizes as crianças
No líquido a correr por sobre o “xisto”.
À noite era o sapeco da erva-mate.
De dia a escola, a tarde em seu remate
Penhoravamos louvor a Jesus Cristo.

Porque assim era o viver sãomateuense,
Que fazia do “Ilex-brasiliense”
E da madeira a sua economia,
Embora houvesse alguém que acreditasse
Que rico São Mateus se transformasse
Com o que em baixo da terra lhe existia.

Mas antes que o petróleo te surgisse
Como Prohman queria, eu triste disse,
Ainda bem criança meu tristonho adeus,
E hoje de longe eu vejo teu progresso
E humildemente a Jesus eu peço,
Que te faça feliz…ó São Mateus!

Fonte:
Colaboração de Hildemar, em seu blog Cascata de Poesias: http://hildemar.wordpress.com/

Epopéias da Índia Antiga (O Mahabharata) IV – No Desterro


A inveja de Duryodhanna perseguiu os Pândavas até no desterro, onde os deixamos, embora fracassassem muitas ciladas de morte que os Kurus armaram contra eles.

Um dia, os cinco irmãos estavam no bosque com muita sede, quando Yudhisthira disse a Nakula que fosse buscar água. Nakula obedeceu seu irmão maior e encaminhou-se ao lago, onde costumavam prover-se; porém, no momento de beber, ouviu uma voz que lhe dizia:

- Detém-te, ó criatura; responde primeiro às minhas perguntas e depois beberás.

Porém, como Nakula tinha muita sede, não fez caso da admoestação, bebeu a água e caiu morto imediatamente.

Ao ver que Nakula não voltava, Yudhisthira mandou um outro irrtijio, chamado Sahadeva, que o procurasse e trouxesse água.

Sahadeva dirigiu-se ao lago e encontrando em suas margens o cadáver de Nakula, ficou extremamente aflito. Atormentado pela sede, ia beber, quando ouviu a mesma voz:

- Detém-te, ó criatura. Responde primeiro às minhas perguntas e depois beberás.

Sahadeva não dando importância à essas palavras, bebeu e caiu fulminado.

Arjuna e Bhina foram sucessivamente ao lago e sofreram a mesma sorte. Yudhisthira, então, resolveu ir pessoalmente verificar o que havia. acontecido, pois nenhum dos quatros irmãos, havia regressado; ao chegar, porém, a margem do lago, ficou profundamente entristecido ante o espetáculo dos cadáveres e prorrompeu em sentidas lamentações.

Logo ouviu aquela voz que dizia:

- Não procedas temerariamente, õ criatura. Sou um Yaksha que, como a grou sustento-me de peixes miúdos.

Por mim caíram teus irmãos, sob a jurisdição do Senhor dos espíritos desencarnados. Se tu, õ príncipe, não responderes às minhas perguntas, serás o quinto cadáver. Se as responderes, õ filho de Kunti, poderás beber e carregar quanta água quiseres.

Yudhisthira respondeu:

– Responderei às tuas perguntas, segundo o meu entender. Pergunta-me!

O Yaksha disse então:

- Qual é a coisa mais admirável deste mundo?
- É a cada momento vermos como os outros morrem e os que ficam pensarem que nunca hão de morrer. Esta é a coisa mais surpreendente: diante da morte, ninguém pensa que há de morrer.

O Yaksha voltou a perguntar:

- Como se chega a conhecer o segredo da religião?
- Nada se alcança com argumentos, porque muitas são as doutrinas, diversas as Escrituras e uns textos contradizem aos outros. Não há sábios que concordem em suas opiniões. Parece que o segredo da religião está sepultado em cavernas profundas. Por isso o caminho que se há de seguir é o que seguiram os excelsos seres.

O Yaksha, então, respondeu:

- Estou satisfeito. Eu sou o Dharma, o deus da justiça em forma de grou. Vim por-te à prova. Teus irmãos não morreram. Tudo foi obra de minha magia. Posto que consideras a abstenção de toda injuria superior ao prazer e ao luxo, teus irmãos viverão, õ vencedor de teus inimigos e fortaleza dos Bhâratas!

A estas palavras, os quatro irmãos ressuscitaram.

Em suas respostas, Yudhisthira demonstrou que era mais que filósofo, que yogi e que rei.

Como se aproximava o décimo terceiro ano de desterro, durante o qual, segundo as condições estipuladas, haviam de viver incógnitos em uma cidade, sob pena de sofrer outros doze anos de desterro, o yaksha recomendou-lhes que fossem ao reino de Virat e ali vivessem disfarçados do melhor modo que pudessem, para não serem reconhecidos.

Obedientes à voz do yaksha, quando terminaram os doze anos de desterro, os cinco Pândavas foram para o reino de Virat, convenientemente disfarçados e entraram no serviço doméstico da casa real.

Desse modo, Yudhisthira foi o brâmane da corte, hábil no manejo dos dados; Bhima, cozinheiro; Arjuna disfarçado em eunuco, foi nomeado mestre de música e dança da princesa Uttarâ com alojamento nas habitações particulares do rei; a Nakula foi confiado o cargo de escudeiro; a Sahadeva, o de boieiro; Draupadi, disfarçada em camareira, foi admitida ao serviço pessoal da rainha.

Desse modo, durante um ano, os Pândavas permaneceram incógnitos na cidade de Virat, sem que as pesquisas de Duryodhana lograssem descobri-los.
––––––––––-
Continua….. V – A Batalha
––––––––––-
Fonte: Vivekananda, Swami. Epopéias da Índia Antiga. Imagem = Os Pandavas. http://www.historyforkids.org/learn/india/literature/mahabharata.htm

A. A. de Assis lança a Revista Virtual Trovia n. 135


Trovas Inesquecíveis, Humoristicas, Liricas e Fislosóficas.


Simplinha, porém cheirosa;
fogosa, apesar de feia,
Xilinha era a mais beijosa
das moças da minha aldeia!
Archimedes de Maria – RJ

Na minha decrepitude,
– não me faças contradigas –
só me resta uma virtude:
a de amar minhas amigas…
Diamantino Ferreira – RJ

Parecia uma peneira
a leitoa do vizinho,
depois de uma noite inteira
namorando um porco-espinho!
Edmar Japiassú– RJ

Quem me leia não suponha
que sou um velho sem linha…
Eu não nasci sem vergonha.
É que gastei a que tinha!…
José Fabiano – MG

Fonte: A. A. de Assis

Roberto Pinheiro Acruche lança a Revista Trovas e Poemas n. 26.


São 14 paginas de trovas, poemas, noticias, concursos, fotos de trovadores. Tudo isto nesta excelente revista do trovador de São Francisco de Itabapoana/RJ – Roberto Pinheiro Acruche.

Faça o download AQUI.

Eu faço das fronhas lenços
nas minhas noites sem sono…
E os lençóis, braços imensos,
abraçam meu abandono…
Divenei Boseli - SP

Em noites frias, sem lua,
quando meus versos componho,
eu cubra verdade nua
com meu casaco de sonho.
Antônio Juraci Siqueira-PA

A nossa fisionomia,
que se expressa no facial,
de tristeza, ou de alegria,
é um idioma universal.
Nei Garcez-PR

Coração...cerca o pedaço
para que o amor não se perca,
que hei de cuidar desse espaço,
antes que a dor ponha cerca...
Edmar Japiassú Maia -RJ

Nosso abismo mais profundo
que no universo se espalma,
são as tristezas do mundo
nas profundezas da alma.
Dilma Ribeiro Suero -RJ

Fonte: Roberto Pinheiro Acruche.

Ademar Macedo (O Trovadoresco n. 70 - abril de 2011)


Entre o passado e o futuro,
mudou o amor um bocado:
-o que o vovô fez no escuro,
faz o neto, escancarado!
– A. A. DE ASSIS/PR –

Quase todo brasileiro
tem esta...“mania”... estranha:
– dá sumiço no dinheiro
mais depressa do que ganha!
– IZO GOLDMAN/SP –

Não sei se é pecado ou vício,
bobeira... sei lá mais quê...
esse agridoce suplício
de só pensar em você!
– JEANETTE DE CNOP/PR –

Só para mim mesmo minto,
disfarçando uma verdade.
Toda saudade que sinto,
eu finjo não ser saudade...
– FRANCISCO MACEDO/RN –

Estas trovas e muito mais. Sonetos, estrofes, você encontra no O Trovadoresco de Abril, n. 70. Produção de Ademar Macedo. Faça o download clicando AQUI

Fonte:
Colaboração de Ademar Macedo

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 174) 03 de Abril


Uma Trova Nacional
Já velhinho, sonha ainda,
mantendo o brilho no olhar,
que a juventude só finda,
quando é impossível sonhar!
-CAROLINA RAMOS/SP -

Uma Trova Potiguar

O trabalho é luta santa
que não vislumbra medalha,
e um país só se levanta
pelas mãos de quem trabalha.
–JOSÉ LUCAS DE BARROS/RN–

Uma Trova Premiada

2009 > Nova Friburgo/RJ
Tema > SAUDADE > Menção Honrosa

Ah, saudade do passado!
Tão presente e tão intensa,
que penso ouvir teu chamado,
buscando a minha presença.
–SÔNIA SOBREIRA/RJ–

...E Suas Trovas Ficaram

Um dedo contra os pilares..
murmúrios...silêncio! Tédio...
É a fome subindo andares
pelo interfone do prédio!
–PAULO CESAR OUVERNEY/RJ–

Simplesmente Poesia

MOTE.
E a terra caiu no chão...

GLOSA:

Pus um jarrinho com terra
no batente da janela,
plantei roseira amarela
onde a beleza se encerra;
mas era tempo de guerra,
de conflito e confusão;
deram um tiro de canhão
que o globo inteiro abalou,
meu lindo jarro tombou
e a terra caiu no chão...
–CHICO DE SOUSA/PB–

Estrofe do Dia

Acho tarde demais para voltar
estou cansado demais para seguir,
os meus lábios se ocultam de sorrir,
sinto lágrimas, não posso mais chorar;
eu não posso partir e nem ficar
e assim nem pra frente nem pra trás,
pra ficar sacrifico a própria paz,
pra seguir a viagem é perigosa,
a vereda da vida é tão penosa
que me assombro com as curvas que ela faz.
–CANHOTINHO/PB–

Soneto do Dia

–Aurea Miranda/BA–
Sinceridade Desmentida

Em mim nada mais vibra, nada encanta,
nada fala de amor, de fantasia;
tudo me abate, a fé se me quebranta,
nada mais tem beleza e melodia...

Em mim nada mais vive, nada canta,
nada palpita e nada me inebria;
o coração apenas se levanta
se vê maior que a sua, outra agonia...

Mataste-me no berço as ilusões.
Finando-me, sem pena, as vibrações
que eu tinha n’alma a avigorar-me a vida!

E eu definhei ao peso dessa dor;
morri até com a morte desse amor;
– Triste sinceridade desmentida!…

Fonte:
Colaboração de Ademar Macedo

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 173) 02 de Abril


Uma Trova Nacional

Se deu bem mal, minha amiga,
e, agora, não tem mais jeito:
Escorregou pra barriga
o silicone do peito.
–DARLY O. BARROS/SP–

Uma Trova Potiguar

Após estudo profundo,
hoje pode se afirmar:
- Quem não bebe neste mundo,
não vê o mundo girar...
–FABIANO WANDERLEY/RN– Uma Trova Premiada
1994 > Nova Friburgo/RJ Tema > “LIVRE” > 1º Lugar
Anão com metro e noventa!?...
Não pode ser, seu Raimundo!
E o seu Raimundo sustenta:
- É o maior anão do mundo!!!
–JOSÉ TAVARES DE LIMA/MG–

...E Suas Trovas Ficaram

O forró foi bom de fato,
no sítio do Manelão.
Tinha mais casal no mato
do que dentro do salão.
–ALYDIO C. SILVA /MG–

Simplesmente Poesia

MOTE. Um beijo na sexta-feira, dá pra quebrar o jejum.

GLOSA:
Quem beija moça solteira
merece ser perdoado,
pois sei que não é pecado
um beijo na sexta-feira.
Sendo assim por brincadeira
é coisa muito comum,
e a gente dando só um
entre o almoço e a janta,
se for na semana santa
dá pra quebrar o jejum.
–BELARMINO DE FRANÇA/PB–

Estrofe do Dia

Mulher no leito de morte
e já sob a luz da vela:
- Não és o pai da Mirela,
meu amado, seja forte.
Ele lhe diz, dando um corte:
- Nem é sua e nem é minha...
Na maternidadezinha,
você pediu: Vá trocar!
E eu pra não me sujar,
troquei por outra limpinha!
–FRANCISCO MACEDO/RN–

Soneto do Dia

–GONGA MONTEIRO/PE– Os Quatro Bêbados.
Quatro bêbados bebiam numa mesa,
e falavam da vida e tudo enfim.
o primeiro dizia: “Eu bebo assim,
pra poder afogar minha tristeza”...

O segundo, engolindo uma de gim,
diz: a cana é quem faz minha defesa...
Se não fosse a bebida, essa beleza,
minha vida seria muito ruim!

O terceiro, morrendo de ressaca,
diz: eu sinto a matéria muito fraca,
vou parar de beber essa semana!

Grita o outro: não faça essa desgraça,
mande abrir mais um litro de cachaça
que é pra gente morrer bebendo cana!

Fonte:
Colaboração de Ademar Macedo

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 172) 01 de Abril


Uma Trova Nacional

Conquista espaços, direitos,
mas, escrava da emoção,
a mulher pinta conceitos
com tintas do coração!
–CAROLINA RAMOS/SP–

Uma Trova Potiguar

Peregrina da saudade
andando por várias trilhas,
a trova é luz que invade
o mundo de maravilhas!
–MARIA CARRIÇO/RN–

Uma Trova Premiada

2009 > Taubaté/SP Tema > ALVORADA > Venc.
Assim que o dia viceja
à meia-luz da alvorada,
a noite insone boceja
e adormece... ensolarada!
–EDMAR JAPIASSÚ MAIA/RJ–

...E Suas Trovas Ficaram

A desventura em minha alma
passou como um furacão!
Não me matou, por milagre...
Mas levou-me o coração...
–LUIZ OTÁVIO/RJ–

Simplesmente Poesia

MOTE: “Se eu não matar a saudade Ela finda me matando!”
GLOSA:
A própria felicidade
Parece chegar ao fim;
Não sei que será de mim,
Se eu não matar a saudade!
Todo instante ela me invade,
Machucando, machucando!
Não sei, meu Deus, até quando
Terei essa dor no peito!
Eu já vi que não há jeito,
Ela finda me matando!
–JOSÉ LUCAS DE BARROS/RN– Estrofe do Dia
Encontrei um passarinho
num galho dependurado,
inda quase depenado
muito distante do ninho,
me aproximei de mansinho
peguei ele com a mão,
botei no ninho algodão
e me afastei devagar;
no céu não falta lugar
pra quem tem bom coração.
–CANCÃO/PE– Soneto do Dia –OSCAR MACEDO/RN– A m o r.
Pediu-me alguém, que definisse o amor,
para zombar talvez do que eu dissesse;
porque, se o amor, eu definir pudesse,
seria um mago, exímio encantador.

Porque, quem resistir quando eu quisesse,
desvendar-lhe o mistério, e com ardor,
dizer seu letal gosto, seu sabor
de mel de himêto? Enfim quando eu dissesse.

Como alguém diz: “É mal sem cura”.
“Delírio da razão, quase loucura”?
Quem já não teve o gozo de sofrê-lo,

outro alguém diz assim – “É fantasia...”
Mas como defini-lo eu poderia
se nem ao menos posso compreende-lo?!

Fonte: Colaboração de Ademar Macedo

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 171) 31 de Março


Uma Trova Nacional

Uma Coisinha de nada
sintetiza imensa dor:
a florzinha abandonada
saudosa de um beija-flor!
–JEANETTE DE CNOP/PR–

Uma Trova Potiguar

Já pronta e de vela içada
tremulando de ansiedade,
vai para o mar a jangada
carregada de saudade!
–PROF. GARCIA/RN–

Uma Trova Premiada

2008 > Caicó/RN Tema > ESTRADA > 14º Lugar.
Escolha bem – no começo –
pois, o pedágio da vida
sempre nos cobra alto preço
na estrada mal escolhida...
–REGINA CÉLIA DE ANDRADE/RJ–

...E Suas Trovas Ficaram

Ante as sandálias furadas
que entre cascalhos gastei,
não culpo o chão das estradas,
culpo os maus passos que dei.
–JOSÉ M. MACHADO ARAÚJO/RJ–

Simplesmente Poesia

MOTE. Era tudo diferente, no tempo de lampião.
GLOSA:

Se votava em presidente,
não havia Petrobrás,
não tinha fogão à gás,
era tudo diferente,
o povo mais consciente,
não havia exploração,
o barão era barão
e a moeda não caía
e nem o dólar subia
no tempo de lampião.
–AUGUSTO MACÊDO/RN–

Estrofe do Dia

Canto a chuva de janeiro,
brisa fria, vento brando,
e um galo preto cantando
no palanque do poleiro,
o menino no terreiro
correndo atrás da menina,
e a mãe com a vara fina
correndo atrás pra açoitar;
quando falta o que cantar
a natureza me ensina.
–LOURO BRANCO/CE–

Soneto do Dia

–AUTA DE SOUZA/RN– Caminho do Sertão
Tão longe a casa! Nem sequer alcanço
vê-la através da mata. Nos caminhos
a sombra desce; e, sem achar descanso,
vamos nós dois, meu pobre irmão, sozinhos!

É noite já. Como em feliz remanso,
dormem as aves nos pequenos ninhos...
vamos mais devagar... de manso e manso,
para não assustar os passarinhos.

Brilham estrelas. Todo o céu parece
rezar de joelhos a chorosa prece
que a Noite ensina ao desespero e a dor...

Ao longe, a Lua vem dourando a treva...
Turíbulo imenso para Deus eleva
o incenso agreste da jurema em flor.

Fonte: Colaboração de Ademar Macedo

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 170) 30 de Março


Uma Trova Nacional

O que mais queres, querida,
se já te dei tudo, enfim?
Até minha própria vida
não pertence mais a mim.
–CLÊNIO BORGES/RS–

Uma Trova Potiguar

Vim do chão de um interior
e hoje tenho visões novas.
Quão feliz é o Trovador
que vai das Trevas às Trovas...
–MANOEL CAVALCANTE/RN–

Uma Trova Premiada

1998 > Bandeirantes/PR Tema > PODER > Venc.
Não quero o poder que esmaga
o sonho com seu furor...
Eu quero o poder que afaga
nossos momentos de amor ...
–MÍLTON NUNES LOUREIRO NITERÓI/RJ–

...E Suas Trovas Ficaram

Meu amor, que mau pedaço
eu passo quando demoras...
meu coração perde o passo,
atrás do passo das horas...
–WALDIR NEVES/RJ–

Simplesmente Poesia

VLADIMIR BRANESCU/ROMENIA
Hematof


Por que gosto eu de ser Vampiro
se até o próprio ar, que não respiro,
recende ao bolor da escuridão?

É que ontem à noite um “Velho-Cão”
dos Portais do Inferno, se soltou
e pela noite inteira “atanazou”
este que não nasceu “Filho de Adão”.

Mas ao saber-me “Sobrinho do Conde”,
deu volta atrás, sumiu (e vi por onde),
“se escafedeu” por um viés do chão...

Eis a vantagem de ser “Morto-Vivo”,
Eterno, Sábio, de Olhar Altivo,
que “Pobres-Diabos”... nunca tocarão.

Estrofe do Dia

Lugar de um povo cativo
de mão magra e pés descalço,
herói que um governo falso
abandonou sem motivo,
vai dormir, se enterra vivo
num barraco soterrado,
antes de ser encontrado
o jornal comenta o fato,
a favela é o retrato
de um povo discriminado.
–JOÃO PARAIBANO/PB–

Soneto do Dia

MARA MELINNI/RN– Conjunção.

Quando escrevo, a minh´alma se desprende
das arestas formais do corpo insano
e viaja, no instante em que se rende
aos anseios do amor... Sem dor, nem dano.

Neste plano, onde o sonho se revela,
face à espera que finda, vão-se os medos...
E no enlace do encontro – dele e dela,
cada beijo murmura seus segredos.

Bem assim, vivo a vida simplesmente
nos meus versos, buscando a própria cura
aos anseios que a sorte me consente...

Hei de achar-me naquele que procura
todo o encanto de amar serenamente
um ao outro... na mesma criatura!

Fonte: Colaboração de Ademar Macedo

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 169) 29 de Março


Uma Trova Nacional

Quando chega, o pescador,
num barco da sua frota,
escuta canções de amor
no bico de uma gaivota.
–ANTÓNIO BARROSO/PORTUGAL–

Uma Trova Potiguar

Eu quis achar-me, no mundo,
mas fiz as buscas a esmo,
pois foi me olhando, bem fundo,
que fui me achando, em mim mesmo.
–TARCÍSIO LOPES/RN–

Uma Trova Premiada

2007 > Petrópolis/RJ Tema > MÃE > 4º Lugar
A mãe é o mais evidente
exemplo de chão fecundo,
nutre de amor a semente
e entrega os frutos ao mundo.
–WANDIRA FAGUNDES QUEIROZ/PR–

...E Suas Trovas Ficaram

É tanto o amor que me invade
quando em teus braços estou,
que cada instante é saudade
do instante que já passou!
–NEWTON MEYER AZEVEDO/MG–

Simplesmente Poesia

– DIVENEI BOSELI/SP – Visão...

Há um vulto ameno que me surge à mente
qual uma visão e, sorridente
me olha... Depois desaparece.
Tem a ternura do gorjeio de aves,
do pôr-do-sol os róseos tons suaves
e a beleza empírica da prece.

Vejo-o com os olhos da alma,
quando meu corpo, da noite na calma,
busca o descanso de inglórias lidas,
antes que o sono, esse bem que somente Deus dá,
qual sombra em soalheira ardente,
bem balsamizar minhas feridas.

Sorri! Para mim ou se de mim, quem sabe?
Meu coração amargurado, aflito,
em cujo bojo um grande amor só cabe,
palpita trêmulo à visão e um grito
sai de minha alma e esse vulto busca.
– Mas o negror da noite tudo ofusca...

Hoje, meu peito é um vulcão e lavas de ódio
e caudais alcadantes de mágoas jorram-me o coração ferido,
onde se aninham meus sonhos pequenos.

Ài, vem sorrir-me esta noite,
meu vulto querido,
enquanto os justos dormitam serenos...

Estrofe do Dia

Minha língua é afiada,
Perguntou logo respondo,
Quem me achar hediondo
Pode mudar de calçada,
Pois nada em mim é fachada,
Meu olhar é feito seta,
Ser feliz é minha meta,
Meus filhos são meu jardim;
Gostem ou não sou assim:
Original e poeta.
–DAMIÃO METAMORFOSE/RN–

Soneto do Dia

–RAYMUNDO DE SALLES BRASIL/BA– O Retirante.

Banido pela seca do sertão fizera
uma viagem sem volta, em busca de igualdade.
Deixando uma mulher e filhos na tapera,
galopou no seu sonho de felicidade.

Só quando lhe caiu a última quimera,
bateu-lhe na razão a dura realidade...
Pois que tão diferente dos seus sonhos era
o cotidiano cruel de uma grande cidade.

Sem trabalho, sem pão e sem sonhos sequer,
e tendo uma tapera, filhos e mulher,
chorou pedindo a Deus lhe deixasse voltar;

mesmo que fosse assim, de mãos puras, vazias,
mesmo pra passar fome o resto dos seus dias,
mesmo que fosse até pra nunca mais sonhar.

Fonte:
Colaboração de Ademar Macedo

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 168) 28 de Março


Uma Trova Nacional

No mundo de tanto mal,
em que a moral é postiça,
falta o sangue arterial
dos princípios da justiça!
– JOSÉ VALDEZ DE C. MOURA/SP –

Uma Trova Potiguar

Nas entranhas do meu ser
há um outro ser clandestino,
que teima em permanecer
eternamente menino!
–FRANCISCO MACEDO/RN–

Uma Trova Premiada

1994 > Barra do Piraí/RJ Tema > AGORA > M/H

Um sonho bom não tem fim,
enquanto a entrega é dos dois...
... E vamos sonhando, assim,
antes... Agora... e depois!...
–HERMOCLYDES S. FRANCO/RJ–

...E Suas Trovas Ficaram

Quanto mais sofro, mais canto,
sempre assim fui e hei de ser,
que nestas águas de pranto
ninguém afoga sofrer!
–JÚLIO B. MACIEL/CE–

Simplesmente Poesia

– ANTONIO M. A. SARDENBERG/RJ – Voz da Razão.

Quando minha razão fala,
com a voz do coração,
tudo em mim então se cala
e minha vida se embala
na mais sublime canção.

E quando a luz matutina
vem meiga me despertar,
a esperança descortina
e a fé, então, me ensina:

é hora de agradecer,
é momento de rezar!

E quando o silêncio cala
profundo dentro da gente,
sem querer a alma sente
que por nós é DEUS quem fala!

Estrofe do Dia

Já plantei minha semente
no roseiral da saudade,
já gozei a mocidade
nessa vida inconsequente,
deixei de ser imprudente
amando quem não devia,
arranquei a alegria
no calabouço da dor;
onde se planta uma flor
nasce um pé de poesia.
–HÉLIO CRISANTO/RN–

Soneto do Dia

–RONALDO CUNHA LIMA/PB– Cansado de Sofrer de Mal de Amor.

Cansado de sofrer do mal de amor
procurei proteger meu coração,
e comecei a grande construção
da minha fortaleza interior.

Fiz vigas de concreto contra dor,
revesti as paredes de razão,
portas, janelas, piso, elevador,
tudo impermeável à emoção.

Como não tem no mundo quem não falhe,
esqueci, entretanto de um detalhe,
e meu trabalho não ficou completo.

Meu coração, em paz, adormecido
acordou, de repente, com um ruído:
Era a saudade entrando pelo teto.

Fonte: Colaboração de Ademar Macedo

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 167) 27 de Março


Uma Trova Nacional
Adicionar imagem
O vento que sopra mágoas
em meu inverno vazio,
faz, sobre o espelho das águas,
a lua tremer de frio...
MARINA BRUNA/SP –

Uma Trova Potiguar

Solteira e sem compromisso,
a lua brilha na areia.
Namora o sol, e por isso
brilha mais quando está cheia.
– HILTON DA CRUZ GOUVEIA/RN –

Uma Trova Premiada
2003 > Amparo/SP Tema > PEDRA > M/E

Se eu não puder ser a Lua
a te cobrir de luar,
que eu seja as pedras da rua,
onde tu possas pisar.
MARIA MADALENA FERREIRA/RJ –

...E Suas Trovas Ficaram

Olhando, na infância doce,
aquela bola de luz,
pensava que a lua fosse
um brinquedo de Jesus...
-JOSÉ MARIA M. DE ARAÚJO/RJ-

Simplesmente Poesia

MOTE. Eu vi o seio da lua, amamentando uma estrela.

GLOSA:
De meio despida a nua,
irradiando beleza,
essa noite com certeza
eu vi o seio da lua,
estava deserto a rua
e eu abismado a vê-la,
pedi a Deus para tê-la
porém Deus não consentido,
a lua partiu sorrindo
amamentando uma estrela.
– MAJÓ/RN –

Estrofe do Dia

A Lua, barco risonho,
no seu posto ingênuo e belo,
era o mimoso castelo
da poesia e do sonho,
mas o astronauta medonho
lá chegou bastante cedo,
e, como no seu degredo
esperava um Trovador,
ao ver um explorador
a Lua tremeu de medo.
-JOSÉ LUCAS DE BARROS/RN-

Soneto do Dia

VINÍCIUS DE MORAES/RJ – Soneto do Corifeu.

São demais os perigos desta vida
para quem tem paixão, principalmente
quando uma lua surge de repente
e se deixa no céu, como esquecida.

E se ao luar que atua desvairado
vem se unir uma música qualquer
aí então é preciso ter cuidado
porque deve andar perto uma mulher.

Deve andar perto uma mulher que é feita
de música, luar e sentimento
e que a vida não quer, de tão perfeita.

Uma mulher que é como a própria Lua:
tão linda que só espalha sofrimento
tão cheia de pudor que vive nua.

Fonte:
Colaboração de Ademar Macedo

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Esclarecimento sobre as Postagens


Recentemente recebi um e-mail reclamando de postagem no blog sobre trovas e biografia de uma trovadora, dizendo que eu desrespeitava os direitos de autoria e proclamava ser de minha autoria, e não da autora que redigira o texto. A postagem foi excluída (infelizmente). Não sei se por desconhecimento do significado da palavra fonte, ou falta de leitura mais atenta do funcionamento do blog ("Postagens e Suas Fontes", no final da pagina), esclareço sobre o seu significado:
.
FONTE/S:
A quase totalidade de minhas postagens eu coloco fonte/s, o que significa que eu copiei tal qual estava no site, jornal, revista ou livro de onde retirei a postagem, ou mesmo de escritores que me enviam seus textos. Portanto, ELA NÃO É DE MINHA AUTORIA, E NEM DO PAVILHÃO (que é só um meio de divulgação dos valores literários e eventos culturais, como é enfaticamente citado), é do nome que foi citado na fonte ou no próprio título da postagem.
Caso as trovas estejam colocadas aleatoriamente, tenho por praxe colocar em ordem alfabetica, isto é, as primeiras letras da primeira palavra do primeiro verso. Não está sendo desvirtuado o texto, e a autoria do mesmo continua especificada.

O blogspot possui um recurso em que não é necessário digitar o link dentro do texto, ele fica oculto, contudo, se o leitor clicar sobre o nome da fonte, será direcionado diretamente ao link onde está sobre a postagem.
Exemplo: Projeto Releituras, o link seria http://www.releituras.com/ne_jfeldman_umdia.asp. Se clicarem sobre Projeto Releituras serão direcionados ao local que possui o texto original de direito do autor, ou de onde foi retirado o texto (infelizmente muitos sites e blogs não colocam a fonte dos autores).

Espero que estejam dirimidas as dúvidas, para evitar futuros mal-entendidos, não só do blog, mas de todos artigos postados na internet de outros sites/blogs.

Saliento que textos de minha autoria ou pertencentes exclusivamente ao pavilhão, possuem a minha assinatura.
.
Entretanto, caso algum autor se sinta lesado com esta divulgação de seus trabalhos e autoria, enfatizo como o texto do rodapé da página "Postagens e suas Fontes", que retirarei o texto ou imagem, respeitando sua vontade. É só escrever para pavilhaoliterario@gmail.com ou colocar comentário no link que deseja que se retire.

Obrigado.
José Feldman

Fonte da imagem:
http://www.verinha2.de/various/download_gifs/gifs_13.htm

sábado, 26 de março de 2011

II Concurso de Trovas Antônio Roberto Fernandes – Academia Pedralva


VENCEDORAS
Em ordem alfabética

Noel Rosa, agora empresta
ao céu, mais encanto e brilho!...
Que Deus em noite de festa
aplaude as canções do seu filho!
Adilson Maia – Niterói-RJ

Sem Noel Rosa, a verdade,
é uma dor que não tem jeito,
do tamanho da saudade
que nem cabe em nosso peito.
Almerinda F. Liporage – Rio de Janeiro-RJ

As estrelas “Pastorinhas”
na piscadela amorosa
vão soprando as cem velinhas,
que festejam Noel Rosa!
Dirce Montechiari – Nova Friburgo-RJ

Um novo mestre no céu...
De Noel Rosa, a lição:
Harpas deixadas ao léu,
Anjos tocando violão!
Dodora Galinari – Belo Horizonte-MG

Ausente o rei da seresta
chora a Vila pesarosa...
Mas Deus recebe com festa
o seu filho, Noel Rosa!
Elen de Novaes Felix – Niterói-RJ

De Noel Rosa a lembrança
sempre traz grande emoção:
-Saudade que vive mansa,
com “Feitio de Oração”!...
Hermoclydes S. Franco – Rio de Janeiro-RJ

Na Vila Izabel famosa
onde há cem anos nasceu,
o poeta Noel Rosa
foi rei num mundo plebeu!
Licínio Antônio de Andrade – Juiz de Fora-MG

Cem anos de Noel Rosa...
O povo se rejubila
e em seresta harmoniosa
louva o Poeta da Vila!
Marina Bruna – São Paulo-SP

Noel Rosa bem sabia
o que mata uma paixão:
a noite triste e sombria,
sem luar e sem violão.
Olympio da Cruz Simões Coutinho – Belo Horizonte-MG

Inspiração fabulosa,
veia irônica sutil;
os teus sambas, Noel Rosa,
têm a cara do Brasil!
Wanda de Paula Mourthé – Belo Horizonte-MG

MENÇÃO HONROSA
Em ordem alfabética

Tecendo versos e rimas
com bossa e facilidade,
Noel Rosa, em obras primas,
pôs samba até na saudade.
Almira Guaracy Rebelo – Blo Horizonte-MG

Que versos, que repertório!
Noel Rosa foi um “bamba”.
Foi um marco divisório,
na história de nosso samba!
Ederson Cardoso de Lima – Niterói-RJ

A mercê das emoções
Noel Rosa impressionou
com suas lindas canções
que o tempo nunca apagou.
Jupyra Vasconcelos – Belo Horizonte-MG

Noel de Medeiros Rosa,
que hoje canta lá no céu,
é a voz do samba, saudosa,
que encanta Vila Izabel.
Nei Garcez – Curitiba-PR

Noel Rosa com seu tino
e talento musical,
fez do samba seu destino
e tornou-se imortal.
Nei Garcez – Curitiba-PR

Noel Rosa, a tua essência
que ao centenário desdobra,
não mede a breve existência...
mas a grandeza da obra!!!
Neide Rocha Portugal - Bandeirantes-PR

Noel Rosa eternamente
ouvirá nossos louvores,
pois sempre estará presente
nas vozes de seus cantores!
Renata Paccola – São Paulo-SP

Atingindo o apogeu,
é verdade bem sabida:
Noel Rosa não morreu
-mudou o estilo de vida...
Ruth Farah Nacif Lutterback – Cantagalo-RJ

“Eu sou da Vila” proclama,
com orgulho, Noel Rosa!
O poeta ganhou fama
e a Vila ficou famosa!
Therezinha Dieguez Brisolla – São Paulo-SP

Ante o samba, que o fascina,
Noel Rosa nem vacila,
trocou logo a medicina
pelo “feitiço” da Vila.
Wandira Fagundes Queiroz – Curitiba-PR

MENÇÃO ESPECIAL
Em ordem alfabética


Noel Rosa, na viagem
além de um rico troféu,
levou sambas , bagagem
para Deus ouvir, no céu.
Adilson Maia – Niterói-RJ

Enaltecer Noel Rosa
simplesmente numa trova,
é missão muito espinhosa
que o trovador pôs à prova...
Amael Tavares da Silva – Juiz de Fora-MG

Noel Rosa, sem desgaste,
jamais teu brilho descamba...
em Vila Isabel fundaste
o Estado Maior do Samba!
Carolina Ramos – Santos -SP

Noel de Medeiros Rosa,
nascido em Vila Isabel,
mestre no verso e na prosa,
no samba - foi bacharel!
Djalda Winter Santos – Rio de Janeiro-RJ

Noel Rosa, quem diria,
sem cigarro e sem chapéu,
chegou só, sem parceria,
pra fazer samba no céu.
Francisco José Pessoa – Fortaleza-CE

Noel Rosa, esse talento,
partiu da Vila tão cedo...
Mas, por Noel, canta o vento
e dança até o arvoredo.
Hegel Pontes Juiz de Fora-MG

Noel Rosa, o menestrel...
que pôs feitiço no samba,
provou que a Vila Izabel
é terra de gente bamba!...
Jorge Roberto Vieira – Niterói-RJ

Calçadas em partituras,
Noel Rosa ali deixou,
sua Vila em escrituras
grande herança que ficou!
Lucia Helena de Lemos Sertã – Nova Friburgo-RJ

Noel Rosa, qual canário,
em nossa memória estrila
cantando, no centenário,
o seu Feitiço da Vilia!...
Marcos Antônio de Andrade Medeiros – Lagoa Nova, Natal-RN

Noel Rosa tem feitiço
nos sambas de qualidade
e louvá-lo é compromisso
dos sambistas de verdade!
Rodolpho Abbud –Nova Friburgo-RJ

Fonte:
Roberto Pinheiro Acruche

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n.166)


Uma Trova Nacional
Quando a vida se distrai
ou dá tudo... Ou tudo nega.
Rico... Pega o carro e sai.
Pobre sai... E o carro pega!
– Terezinha Brisolla/SP –

Uma Trova Potiguar
Três invenções sem futuro:
Carro, mulher e baralho.
As três me deixaram “duro”,
não sei quem deu mais trabalho!
– Francisco Macedo/RN –

Uma Trova Premiada

2008 > Bandeirantes/SP
Tema > TRABALHO > M/E

No trabalho a vida é dura,

minha grana é tão ausente,

que vendi a dentadura

pra comprar pasta de dente!

CLENIR NEVES RIBEIRO – RJ


...E Suas Trovas Ficaram
Quando a mulher do Gastão
troca de carro ou vestido,
a gente tem a impressão
que ela trocou de marido!...
– Aloísio Alves da Costa/CE –

Simplesmente Poesia

– Louro Branco/CE –
O QUE EU FAÇO SEM GOSTAR...

Promover um forró sem tocador
e pregar com pastor embriagado,
galopar com jumento encangalhado
e viajar no meu carro sem motor;
trabalhar com patrão enganador
e contratar um ladrão pra me roubar,
pegar filho dos outros pra criar,
mascar fumo e montar em égua tonta,
me juntar com mulher que bota ponta
são as coisas que eu faço sem gostar!

Estrofe do Dia
Sem bloco e sem bateria,
no carnaval do poeta
o folião não domina
nem samba-enredo interpreta,
a gente busca as metáforas
e a natureza completa.
- Jonas Bezerra/CE -

Soneto do Dia

– Renata Paccola/SP –
AZAR.

Certo dia, acordei de mau humor –
resquício de uma noite mal dormida.
Peguei o carro, e então fundiu o motor,
Segui para o metrô, enfurecida.

Tentei continuar com minha lida,
mas fiquei presa num elevador.
Neste compartimento sem saída,
passei horas de angústia e terror,

e saí sob o som de bate-estaca.
Depois, no meio de um supermercado,
senti a dor de um burro quando empaca.

Foi aí que vi, quase ao meu lado,
irônicos dizeres numa placa:
“Sorria. Você está sendo filmado!”

Fonte:
Ademar Macedo

Antonio Brás Constante (Na Dúvida, Dê Bom Dia ao Caos)


Alguns adeptos da teoria do Caos dizem que se uma borboleta bater suas belas asas em algum lugar do oriente, ela poderia desencadear uma onda de fatos e fatores que destruiriam alguma coisa importante no ocidente, talvez sua casa, talvez a minha, ou talvez a casa de outra borboleta que estaria de férias na praia, também batendo suas asas só de sacanagem (a praia é um lugar onde até as borboletas ficam propensas a sacanagens) para destruir alguma coisa no outro lado do mundo.

Não é muito difícil de acreditar que insignificantes acontecimentos acabem gerando novos acontecimentos que nos façam parecer insignificantes. Para ocorrer um deslizamento de terra, por exemplo, tudo começa com uma única gotinha de água, que cai inofensiva em alguma encosta de morro. Mas quando percebemos que outras milhares de gotinhas parecem ter a mesma idéia de cair naquela mesma encosta o resultado é devastador.

Percebo isso também no trânsito (no meu caso na BR 116 por onde passo quase todos os dias), me parece que um simples bater de asas de uma borboleta, morcego, mosquito ou pernilongo, podem tirar a atenção do motorista que está a doze quilômetros de distância na minha frente, fazendo-o diminuir a velocidade de seu veículo por uma fração de segundo, está fração vai se estendendo para os carros atrás dele e o resultado é um nada belo engarrafamento matinal.

Com base nesta afirmação de que uma ação gera uma cadeia de reações, podemos imaginar que um simples e sincero “bom dia” muitas vezes tem o poder de poder mudar o curso de toda uma vida. Basta acreditarmos nisso. Mas se isso não der certo viaje até algum lugar do oriente e solte uma borboleta por lá, para que ela voe livre batendo suas asas na esperança que isso possa transformar o mundo em que vivemos (de preferência em algo melhor).

Enfim, na dúvida dê bom-dia ao caos, pois se os seres humanos sofrem com suas crises de humor, quem dirá a essência do caos, que com sua forma alucinada pode variar entre todos os estados de humor (passando pelos municípios, cidades e países do humor também), e receber bem este pequeno gesto. Tratar o mundo caótico que nos rodeia com a mesma gentileza com que gostaríamos de ser tratados, é uma forma de se demonstrar que você também sabe lidar com a loucura... Ou que já está completamente contaminado por ela.

Fontes:
O Autor
Imagem = http://tododiaumtextonovo.blogspot.com/2011/03/progresso-ou-caos.html

Antonio Manoel Abreu Sardenberg (Projeto Quatro em Um) n.5


TRAVESSIA
Antonio Manoel Abreu Sardenberg
São Fidélis/RJ

Peguei o rumo da estrada
Marcando firme o compasso
E fui buscar meu espaço
No romper da madrugada.

Atravessei as cancelas,
Saltei valas e valões,
Abri portas e janelas,
Penetrei pelas favelas,
Andei muitos quarteirões.

Busquei fé e esperança,
Dividi o pão que tinha,
Rezei muitas ladainhas,
Pedi a DEUS proteção...
Dei o abraço apertado
No meu tão sofrido irmão!

Passei fome, senti sede,
Pisei em pedras e espinhos,
Nunca fugi dos caminhos
Que pela vida encontrei
Pois quem foge é covarde
E eu nunca me acovardei.

Fui em busca de um amor,
Movido pela paixão.
Machuquei meu coração,
Que tanto tinha pra dar,
Mas fingi não sentir dor
Conjugando o verbo amar.

VOZ QUE SE CALA
Florbela Espanca
Portugal, 1894/1930

Amo as pedras, os astros e o luar
Que beija as ervas do atalho escuro,
Amo as águas de anil e o doce olhar
Dos animais, divinamente puro.

Amo a hera, que entende a voz do muro
E dos sapos, o brando tilintar
De cristais que se afagam devagar,
E da minha charneca o rosto duro.

Amo todos os sonhos que se calam
De corações que sentem e não falam,
Tudo o que é Infinito e pequenino!

Asa que nos protege a todos nós!
Soluço imenso, eterno, que é a voz
Do nosso grande e mísero Destino!...

SENTIMENTOS
Prof.Garcia/RN

Quando o dia se apressa e vai embora,
num silêncio que fere e que angustia,
a tristeza me invade e me devora,
nas horas sepulcrais, do fim do dia.

Como quem diz adeus e triste chora,
vai-se o sol delirando de agonia,
e a cortina da noite, Deus decora,
com luz tênue, de vã melancolia.

Distante, bem distante, muito além,
a tristeza me acena, como quem
se despede de alguém, que já morreu,

foi apenas a luz de um dia lindo,
que cansada, acenou quase dormindo
e nos braços da noite adormeceu!

TROVAS
Extraída de Mensagens Poéticas, editado diariamente pelo grande poeta
e trovador Ademar Macedo/RN, a quem agradecemos, aqui neste projeto,
o carinho do envio.

Minha mulher, minha amada,
Tanto me envolve e seduz...
-Se ela for crucificada
Eu quero ser sua cruz!
(Héron Patrício/SP)

Muitos, dizem, pertencer,
as castas da cristandade;
mas mantém, no proceder,
presunção e má vontade...
(Pedro Grilo/RN )

Teu poder de sedução.
e a magia dos teus braços,
levam minha solidão
a percorrer os teus passos ...
(Mílton Nunes Loureiro/RJ )

Desde os meus tempos mais idos,
que eu sonho de toda cor;
e meus sonhos coloridos,
são sempre os sonhos de amor!...
(Ademar Macedo/RN)

Somente o Grande Arquiteto
escritor sábio e fecundo,
consegue escrever correto
nas linhas tortas do mundo!
(Aloisio Alves da Costa/CE )

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Fonte:

A.M.A. Sardenberg

sexta-feira, 25 de março de 2011

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n.164 e 165)


Uma Trova Nacional
Se temos paz, temos tudo,
pois ela nos satisfaz!
Conheço gente, contudo,
que tem "tudo", menos paz!
– Antônio Sardenberg/RJ –

Uma Trova Potiguar
Se o aquecimento global
não for combatido agora,
o amanhã será fatal,
o fim virá sem demora.
– Ieda Lima/RN –

Uma Trova Premiada

2006 > Fortaleza/CE
Tema > ESQUINA > 3º Lugar.

Parece que a minha sina
na caminhada da vida,
é deixar em cada esquina
uma esperança perdida.
– Nazareno Tourinho/PA –

Uma Trova de Ademar
Temo por nossa criança
que tem nas mãos um fuzil,
matando toda esperança
no futuro do Brasil...
– Ademar Macedo/RN –

...E Suas Trovas Ficaram
Não foste a minha metade,
pois jamais me deste um "sim".
Mas fizeste que a saudade
fosse metade de mim!
– José M. Machado Araújo/RJ –

Simplesmente Poesia

Agnelo Campos/SP –
C H U V A.

Disseram que ela caiu ...
Mentira !
A chuva não caiu.
Ela dançou a noite toda,
e, de madrugada,
cansada,
deitou-se ao chão
e escorregando tonta
foi dormir no lago ...

Estrofe do Dia
Só um cego não vê essa verdade,
totalmente lógica para um crítico.
Não é prioridade do político,
o dinheiro polui a humanidade.
No direito e na religiosidade
tudo é feito “por debaixo do pano”
o honesto sofre grande desengano
o mundo está pior do que se pensa:
Dinheiro compra o juiz e a sentença
e degrada de vez o ser humano...
– Francisco Macedo/RN –

Soneto do Dia

– Batista Soares/CE –
CACO DE VIDRO.

A reluzir – joia esplendente e rara,
no escrínio escuro de veludo opaco
da noite, que de luz se iluminara,
vi-o. Era, de um vidro, um simples caco...

Ante o seu brilho intenso eu exclamara:
– Bela jóia! Mas logo o ardor aplaco
ao ver que toda refulgência clara
provinha só de vítreo e mero caco...

Quanta gente anda a blasonar grandezas,
mostrando as chamas da virtude acesas,
a quem, no verso, com malícia exalço,

cujo valor reside na aparência!...
– Não tem, sequer, do vidro a transparência
E todos sabem que este brilho é falso...

Mensagens Poéticas n. 164

Uma Trova Nacional
Agonia é ver teus passos
numa pressa que alucina
e saber que noutros braços
a tua pressa termina.
– Ana Maria Motta/RJ –


Uma Trova Potiguar
Dos meus poemas diversos
inspirados no amor,
são esses os últimos versos
de um poeta trovador.
– Djalma Mota/RN –

Uma Trova Premiada

2006 > CTS/Caicó/RN
Tema > PONTE > 7º Lugar.

Deus construiu no horizonte,
onde ninguém pode ver,
uma belíssima ponte
que a gente cruza ao morrer!
Josafá F. da Silva/RJ –

Uma Trova de Ademar
O meu cérebro é um motor
que não se gasta energia...
Trabalha a todo vapor,
pois é movido a poesia.
– Ademar Macedo/RN –

...E Suas Trovas Ficaram
Saudade!... Raio de lua,
suprindo o Sol que brilhou...
Tábua solta, que flutua,
depois que o amor naufragou!
– Waldir Neves/RJ –

Simplesmente Poesia

Gilson Faustino Maia/RJ –
OBRIGADO, SENHOR!

Obrigado, Senhor, por nascido,
por ter sido gerado na esperança.
Por ter vivido os tempos de criança
por um amor de mãe bem acolhido.

Obrigado pelos mestres, sempre atentos,
e os amigos que tive e os que terei.
Pelas rainhas para quem fui rei,
pela saudade, pelos sofrimentos.

Pelas pedras, também, da longa estrada,
pelas diversas formas de carinho.
Por lindas flores, pelos passarinhos
e pela linda lua prateada.

Por este céu azul de sol bem quente
e por ter aprendido o verbo amar.
Pelo perdão que vivo a suplicar
aos erros meus, dos quais sou consciente.

Dai-me, Senhor, a paz ao coração
e uma rima feliz na poesia.
Dai-me saúde, Pai, muita alegria
E a cada dia mais inspiração.

Estrofe do Dia
Até nos brutos se vê
Que a mãe ao filho quer bem,
Morre o bezerro, e a vaca
Com o desgosto que tem,
Se intriga até com o dono
Não dá mais leite a ninguém.
– Pinto do Monteiro/PB –

Soneto do Dia

– Dedé Monteiro/PB –
AS QUATRO VELAS.

Quatro velas falavam sobre a mesa.
E falavam da vida e tudo mais...
A primeira falou: - Eu sou a paz,
mas o mundo não quer me ver acesa.

A segunda, com suspiros desiguais,
disse triste: - É a fé a minha empresa;
nem de Deus se respeita a realeza.
Sou supérflua; meu fogo se desfaz.

A terceira murmura, já sem cor:
-Estou triste também, sou o amor;
mas perdi o fulgor, como vocês.

Foi a vez da esperança, a quarta vela:
-Não desista ninguém: a vida é bela!
E acendeu, novamente, as outras três.

Fonte:
Ademar Macedo

quarta-feira, 23 de março de 2011

Marcelo Spalding (História da Leitura) I - As Tábuas da Le e o Rolo/ II - O Códice Medieval


I - As Tábuas da Le e o Rolo

Poucas gerações testemunharam tantas mudanças tecnológicas como a nossa, esta que agora ocupa os bancos universitários, as redações de jornais e revistas, as diretorias das grandes empresas, esta geração que cresceu lendo livros impressos e agora resiste à ideia de novos suportes para a leitura.

Tal aceleração por vezes nos faz esquecer que inovações técnicas, ainda que num ritmo mais lento, ocorrem desde que o homem é homem e foram fundamentais para que um ser frágil como o nosso pudesse sobreviver num ambiente hostil e perigoso como a Terra. Leroi-Gourhan chega a afirmar que, pela liberação da mão e pela exteriorização do corpo humano, "a aparição do homem é a aparição da técnica; é a ferramenta, isto é, a tekhnè, que inventa o homem, e não o homem que inventa a técnica".

Transpondo essa afirmação para a história da leitura, poderíamos dizer que são as técnicas de reprodução da escrita que inventam o leitor, e não o leitor que inventa tais técnicas, o que significa que os suportes digitais de leitura não são feitos para a geração acostumada com os códices impressos, e sim irá engendrar um novo leitor familiarizado com as novas tecnologias. Tal transformação, ainda que violenta, não é exatamente inédita na longa história da leitura.

Robert Darnton, em A questão dos livros, identifica quatro mudanças fundamentais na tecnologia da informação desde que os humanos aprenderam a falar: a invenção da escrita, a substituição dos rolos de pergaminho pelo códice, a invenção da imprensa com tipos móveis e, finalmente, a comunicação eletrônica.

A invenção da escrita, vale lembrar, é tida pelos historiadores como marco de transição entre a Pré-História e a Idade Antiga, ou Antiguidade, o que revela a absoluta importância da escrita para o desenvolvimento da nossa civilização. Não há consenso entre os historiadores sobre a data ou o local do surgimento da escrita, o mais provável é que sua invenção tenha se dado em vários lugares do mundo de forma independente a partir do momento em que as transações e a administração dos povos se torna mais complexa, além das possibilidades da memória.

Um mito narrado por Platão mostra o quão difícil foi essa substituição da memória pela escrita: Thoth, um deus egípcio criador da escrita, dos números, do cálculo, da geometria, da astronomia e dos jogos de damas e dados, leva seus inventos a Tamuz, rei de Tebas, esperando que eles possam ser ensinados aos egípcios; a escrita, segundo seu inventor, tornaria os homens mais sábios, fortalecendo-lhes a memória. Comenta Thoth: "com a escrita inventei a grande auxiliar para a memória e a sabedoria", a que responde Tamuz:

Tu, como pai da escrita, esperas dela com o teu entusiasmo precisamente o contrário do que ela pode fazer. Tal cousa tornará os homens esquecidos, pois deixarão de cultivar a memória; confiando apenas nos escritos, só se lembrarão de um assunto exteriormente e por meio de sinais, e não em si mesmos. Logo, tu não inventaste um auxiliar para a memória, mas apenas para a recordação. Transmites aos teus alunos uma aparência de sabedoria, e não a verdade, pois eles recebem muitas informações sem instrução e se consideram homens de grande saber embora sejam ignorantes na maior parte dos assuntos. Em consequência serão desagradáveis companheitos, tornar-se-ao sábios imaginários ao invés de verdadeiros sábios.

A escrita, naturalmente, com o tempo mostrou-se fundamental não apenas como auxiliar para a memória, mas também para materializar um conteúdo que não pode dispersar-se, como o conhecido Código de Hamurábi, datado do século XVIII a.C.. O Código de Hamurábi é um monumento monolítico talhado em rocha de diorito sobre o qual se dispõem 46 colunas de escrita cuneiforme acádica. Seu texto expõe as leis e punições caso não sejam respeitadas, legislando sobre matérias muito variadas. Embora houvesse outros códigos entre os sumérios, que viveram entre 4000 a.C. a 1900 a.C. na Mesopotâmia, o Código de Hamurábi foi o que chegou até os dias atuais de forma mais completa e simboliza bem, num tempo de bits efêmeros, a importância da palavra talhada na solidez de uma rocha milenar.

Da mesma época são os Dez Mandamentos entregues a Moisés no Monte Sinai, uma das mais contundentes passagens bíblicas: "Então disse o SENHOR a Moisés: Sobe a mim ao monte, e fica lá; e dar-te-ei as tábuas de pedra e a lei, e os mandamentos que tenho escrito, para os ensinar".

Apesar da importância desses códigos escritos em rochas sólidas, a escrita não teria se tornado marco zero da história da humanidade não houvesse um suporte capaz de facilitar seu manuseio e transporte, o que tornou a escrita um código com fins muito mais amplos do que, por exemplo, as pinturas ruprestes feitas nas cavernas pelos homens ditos pré-históricos.

O papiro, desenvolvido no Egito por volta de 2500 a.C., é hoje considerado o primeiro suporte para a escrita. Para confeccionar o papiro, era cortado o miolo esbranquiçado e poroso do talo em finas lâminas. Depois de secas, estas lâminas eram mergulhadas em água com vinagre para ali permanecerem por seis dias, com propósito de eliminar o açúcar. Novamente secas, as lâminas eram dispostas em fileiras horizontais e verticais, sobrepostas umas às outras. A seguir as lâminas eram colocadas entre dois pedaços de tecido de algodão, sendo então mantidas prensadas por mais seis dias. Com o peso da prensa, as finas lâminas se misturavam homogeneamente para formar o papel amarelado, pronto para ser usado. O papiro pronto era, então, enrolado a uma vareta de madeira ou marfim para criar o rolo que seria usado na escrita.

Embora a palavra grega biblos (ß?ß????) signifique hoje tanto rolo quanto livro, a leitura nesse rolo é muito diferente da leitura de um livro como hoje o conhecemos. O rolo é uma longa faixa de papiro - ou, mais tarde, de pergaminho - que o leitor deve segurar com as duas mãos para poder desenrolá-la, fazendo aparecer trechos distribuídos em colunas. Não é possível, por exemplo, que um autor escreva ao mesmo tempo que lê.

Os rolos, criados posteriormente à invenção da escrita e, naturalmente, por causa dela, foram fundamentais para o que hoje chamamos de literatura, pois os textos gregos da época de Sócrates, Platão e Aristóteles, Ésquilo, Sófocles e Eurípedes se tornaram a base da cultura Ocidental e puderam sem preservados em locais específicos para este fim, como a lendária Biblioteca de Alexandria.

A Biblioteca de Alexandria, uma das maiores bibliotecas do mundo antigo, foi fundada no início do século III a.C. por Alexandre, o Grande, que teve como tutor ninguém menos que Aristóteles, e existiu até a Idade Média, quando foi totalmente (ou quase) destruída por um incêndio casual. Calcula-se que havia mais de quinhentos mil rolos na Biblioteca de Alexandria, mas como uma obra podia ocupar, sozinha, dez, vinte, até trinta rolos, havia um número de obras muito menos significativo. Segundo Chartier, só o catálogo da biblioteca era constituído de cento e vinte rolos.

À medida que a escrita foi ganhando em importância e valor, outro suporte, que embora mais caro era menos quebradiço e resistia melhor ao tempo, passou a ser muito utilizado nas confecções dos rolos: o pergaminho. O pergaminho é um material feito da pele de um animal (geralmente cabra, carneiro, cordeiro ou ovelha) e especialmente fabricado para se escrever sobre ele. A origem do seu nome é a cidade de Pérgamo, onde havia uma produção vasta e de grande qualidade deste material, e há controvérsia se sua origem remonta mesmo a esta cidade. De qualquer forma, na Biblioteca de Pérgamo, contemporânea a de Alexandria, os rolos em papiro eram copiados em pergaminho, e este material foi fundamental para a preservação dos textos da Antiguidade.

Carrière e Eco, em Não contem com o fim do livro, contam que Régis Debray, filósofo francês, perguntou-se o que teria acontecido se os romanos e gregos tivessem sido vegetarianos: "não teríamos nenhum dos livros que a Antiguidade nos legou em pergaminho, isto é, numa pele de animal curtida e resistente" (2010, p. 104).
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II - O Códice Medieval

A segunda grande mudança tecnológica, a passagem do rolo para o códice, deu-se logo após o início da era cristã, durante o Império Romano.

A segunda grande mudança tecnológica, a passagem do rolo para o códice, deu-se logo após o início da era cristã, durante o Império Romano. Nessa época, juristas decidiram manusear o pergaminho de forma diferente, dobrando-o em quatro ou em oito. Esse caderno era chamado de volumem, uma denominação usada ainda hoje. Costurando esses cadernos uns aos outros, eram construídos o que se chamava de códex (códice).
Tal inovação, afora ser crucial para a difusão do cristianismo, foi fundamental para a história da leitura, pois, como afirma Chartier, enquanto que os formatos de rolo encorajavam leituras sequenciais a expensas do movimento descontínuo para adiante e para trás em um dado texto, a estrutura paginada do códex promovia o desenvolvimento de novas práticas de leitura propriamente "livrescas", uma ruptura muito maior do que seria a invenção da imprensa por Gutenberg.

É nesse período que se difunde a prática da leitura silenciosa, tendência que se consolida exatamente por causa da mudança técnica do rolo para o códice. Umberto Eco simboliza essa passagem da leitura em voz alta para a leitura silenciosa no espanto de Agostinho: "a leitura, até santo Ambrósio, era feita em voz alta. Foi ele o primeiro a começar a ler sem pronunciar as palavras, o que mergulhara santo Agostinho em abismos de perplexidade".

A propósito da leitura silenciosa, os primeiros textos que impunham silêncio nas bibliotecas são apenas dos séculos XIII e XIV, é apenas nesse momento que, entre os leitores, começam a ser numerosos aqueles que podem ler sem murmurar, sem 'ruminar', sem ler em voz alta para eles mesmos a fim de compreender o texto.

Além dessa importante mudança na forma de ler, o códice seria também responsável por grandes mudanças na forma de escrever, como nos conta Darnton:

"A página surgiu como unidade de percepção e os leitores se tornaram capazes de folhear um texto claramente articulado, que logo passou a incluir palavras diferenciadas (isto é, palavras separadas por espaços), parágrafos e capítulos, além de sumários, índices e outros auxílios à leitura."

Se voltarmos às imagens do Código de Hamurábi, do rolo e do códice medievais, realmente não encontraremos espaço entre as palavras, tampouco a divisão em parágrafos, uma organização para o texto que hoje nos parece tão natural mas que está ligada ao novo suporte da escrita e à superação de suas limitações. Não que um suporte mais antigo seja mais limitado que o outro, mais moderno, em geral o que ocorre é um ganho em alguns aspectos e uma perda em outros.

O códice medieval, nesse sentido, era uma página elaborada manualmente por um copista num processo muito mais demorado porém artesanal, com ilustrações, cores, arabescos e, por vezes, até comentários às margens que faziam de cada exemplar algo único. Esta talvez seja a grande diferença do códice medieval para o livro impresso que viria a seguir.

Umberto Eco resgata o já lendário ambiente de um scriptorium de copistas em O Nome da Rosa, representando monges de preferências e ideologias variadas criando seus códices com cuidado, dedicação e paixão:

"Aproximamo-nos daquela que fora o local de trabalho de Adelmo, onde estavam ainda as folhas de um saltério com ricas iluminuras. eram folia de vellum finíssimo ? rei dos pergaminhos ? e o último ainda estava preso à mesa. Apenas esfregado com pedra-pome e amaciado com gesso, fora lixado com a plaina e, dos minúsculos furos produzidos nas laterais com um estilete fino, tinham sido traçadas todas as linhas que deviam guiar a mão do artista. A primeira metade já estava coberta pela escritura e o monge tinha começado a esboçar as figuras nas margens. (...) As margens inteiras do livro estavam invadidas por minúsculas figuras que eram geradas,como por expansão natural, pelas volutas finais das letra espledidamente traçadas: sereias marinhas, cervos em fuga, quimeras, torsos humanos sem braços que se espalhavam como lombrigas pelo próprio corpo dos versículos. (...) Eu seguia aquelas páginas dividido entre a admiração muda e o riso, porque as figuras conduziam necessariamente à hilariedade, embora comentassem páginas santas."

É importante ressaltar que este cenário descrito por Eco já é do segundo milênio cristão (o romance se passa em 1327 d.C.), época em que outros importantes acontecimentos contribuiriam para o surgimento da prensa de Gutenberg e para a proliferação dos livros além dos muros eclesíasticos. Um deles é o surgimento das Universidades na Europa, uma instituição que de certa forma retomava o ideal das Academias gregas, em que atividades artísticas, literárias, científicas e físicas eram organizadas num único espaço, promovendo a universalidade do saber e a integração das áreas.

Na concepção moderna, a Universidad de Bolonia (Itália), de 1089, é considerada a primeira do mundo ocidental: "L'Istituzione che noi oggi chiamiamo Università inizia a configurarsi a Bologna alla fine del secolo XI quando maestri di grammatica, di retorica e di logica iniziano ad applicarsi al diritto". Logo a seguir surgiram a Universidade de Oxford (Inglaterra), em 1096, a Universidad de París (França), em 1150, a Universidade de Palência (Espanha), em 1208, precursora de la Universidad de Valladolid, a Universidade de Coimbra (Portugal), em 1290, entre outras.

Este aumento pela demanda de suportes para a escrita fez com que se buscasse alternativas ao pergaminho, popularizando o uso do papel. O papel foi inventado pelo chinês Cai Lun em 105 a.C., que sugeriu a utilização de casca de amora, bambu e grama chinesa como matérias-primas. No século VII, esse conhecimento foi levado à Arábia por um monge budista e de lá para à Europa através dos mouros.

Na Itália, o papel era considerado um produto medíocre em comparação ao pergaminho, tanto que Frederico II, em 1221, teria proibido o uso em documentos públicos. O consumo, entretanto, só aumentava, e em 1268 foi criada a primeira fábrica de papel da Europa em Fabriano, uma pequena cidade entre Ancona e Perugia. O monopólio comercial da fabricação italiana durou até o século XIV, quando a França, que o produzia utilizando linha desde o século XII, a partir da popularização do uso de camisas e das consequentes sobras de tecido e camisas velhas pôde passar à fabricação de papel a preços econômicos, o que seria fundamental para a invenção da impressão por tipos móveis de Gutenberg, na década de 1450.
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continua...
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Fonte:
Digestivo Cultural. http://www.digestivocultural.com/