segunda-feira, 30 de julho de 2012

Jandira Barreto Pereira Maués. (Trovas da Escola Municipal Florestan Fernandes 5a. a 8a. Séries)

Quem na palavra se adestra,
imenso poder transporta
pois o verbo é chave mestra
capaz de abrir qualquer porta!
Antônio Juraci Siqueira

Trovas de Breno Lopes

Minha mãezinha querida,
Neste dia tão feliz,
Ofereço com alegria
Esta lembrança que eu fiz.

Antigamente eu cantava
Como cantava o sabiá
Mas agora eu não canto
Porque eu já vou “macaquear”.

Certo dia mamãe me disse:
Você vai se machucar
Como não lhe dei ouvido,
Comecei a me ralar.

Toda vez que você passa
Defronte do meu portão,
Eu dou grito de alegria,
Tão grande é minha emoção.

Trovas de Huelen Joaquim

Sabiá da laranjeira,
Passarinho cantador,
Por favor me diga logo
Onde anda o meu amor.

Toda vez que você passa
defronte do meu portão,
o meu coração dispara
quase morro de emoção.

Trovas de Jéssica Nunes
Sabiá da laranjeira,
Passarinho cantador,
Você é meu amado
E eu sou um beija-flor.

Toda vez que você passa
defronte do meu portão,
fico logo apaixonada
pensando em meu amorzão.

Trovas de Layane Caroline

Sabiá da laranjeira,
Passarinho cantador,
Sabiá da goiabeira
Vá dançar com seu amor.

Toda vez que você passa
Defronte do meu portão
Vai chegando de mansinho,
Mexendo o meu coração.

Para a lua deixo um cheiro
Para o sol uma canção
Pra você que é minha mãe
Um beijo de coração.

Trovas de Leandro Guimarães

Sabiá da laranjeira,
Passarinho cantador,
Vou vivendo esta magia,
Procurando o meu amor.

Toda vez que você passa
Defronte do meu portão
A menina mais bonita
Mora no meu coração.

Trovas de Michele Santos

Sabiá da laranjeira,
Passarinho cantador
Eu fico à toa, de bobeira
E esqueço até minha dor.

Atravessei sete mares
Fazendo o que sou capaz,
Arriscando a minha vida
Só por causa de um rapaz.

Você é o meu cantar
E o meu rapaz de amar,
Mas o eu dia escurece
Sempre que você me esquece.

Toda vez que você passa
Defronte do meu portão,
Fico olhando a sua graça
Com amor no coração

A mãe dele é esperança
E tem dele um cheiro de flor,
Minha mãe é muito linda
Quem me cria é seu amor.

Trovas de Sâmara Souto

Sabiá da laranjeira,
Passarinho cantador,
Me conta teu segredo
Que eu te dou o meu amor.

Toda vez que você passa
Defronte do meu portão,
Fico olhando muito triste
Com dor no meu coração.

Mina mãe é tão bonita,
Ela é igual uma flor,
Ela é a flor divina
Que me dá o seu amor.

Trovas de Thayane

Sabiá da laranjeira
Passarinho cantador,
Tu sumiste tão depressa
Sem encontrar o meu amor.

Toda vez que você passa
Defronte do meu portão,
Meu coração bate forte
Dum, dum, dum, dum, dum, dum, dão!

Trovas de Thiago S. Rosário

Sabiá da laranjeira,
Passarinho cantador,
Quando sobe na mangueira
Vai junto com meu amor.

Toda vez que você passa
Defronte do meu portão
Fico a olhar maravilhado
Com o coração na mão.

Minha mãe é tão querida,
Minha mãe é tão legal,
Minha mãe é minha vida
Porque faz o meu nescau.

Trovas de Wilhiam Clei

Sabiá da laranjeira
Passarinho cantador
Vai voando bem depressa
pra encontrar o meu amor.

Toda vez que você passa
Defronte do meu portão
Vai me dar dor de cabeça
Pois é grande a emoção.

Ó mãe, quando eu morrer
Não quero reclamação
Pois o pouco que eu fiz
Eu deixo de coração.

Trovas de Aurélio Jonatan

Vou plantar um pé de cravo
No meio do teu jardim
Nele vou mandar um beijo,
Você manda outro pra mim.

Sabiá da laranjeira,
Passarinho cantador,
Eu vou mandando um beijinho
Pra menina meu amor.

Mangueira da minha terra,
Cai manga no meu jardim,
Vou te mandar uma flor,
Você, um beijo para mim.

Trovas de Juliane Nascimento
Toda vez que você passa
Defronte do meu portão
Dia e noite vão passando
Só não passa esta emoção.

Vou plantar um pé de cravo
No meio do teu jardim
Pra colher todos os beijos
Que você guardou pra mim.

Sabiá da laranjeira,
Passarinho cantador,
Vai cantando, vai voando
Acordar o meu amor!

Vou plantar um pé de cravo
No meio do teu jardim;
Vou dizer-te bem mansinho
Que nosso amor não tem fim.

Sabiá da laranjeira
Passarinho cantador,
Tem ciranda no teu canto,
No teu canto tem amor.

Mangueira da minha terra,
Mangueira do meu amor,
Tanto longe quanto perto
Não esqueço o teu amor.

Quando chove na cidade,
Olho triste para o céu
À espera do meu amado
Que partiu lá pra Portel...

Trovas de Joyce Nunes

Vou plantar um pé de cravo
No meio do teu jardim
Pra dizer pra todo mundo:
Quero você até o fim!

Sabiá da laranjeira,
Passarinho cantador,
Vou dizer a todo mundo
que você é meu amor.

Mangueira da minha terra
Que dá mangas com sabor,
Vou dizer para o mundo inteiro
Que você é o meu amor.

Trovas de Leandro da Conceição

Vou plantar um pé de cravo
No meio do teu jardim.
Vou querendo, enquanto isso,
Você todinha pra mim.

Sabiá da laranjeira,
Passarinho cantador
Eu queria ter certeza
Que você é meu amor.

Mangueira da minha terra,
Minha fruta é o muruci;
Para ser um bom poeta,
Tem que ser “seu” Juraci.

Trovas de Lucas Farias

Mangueira da minha terra,
Passarinho cantador,
No teu canto tem ciranda,
No teu canto tem amor.

Mangueira da minha terra,
Passarinho cantador,
Vai voando, vai cantando
Acordar o meu amor.

Fonte:
Jandira Barreto Pereira Maués. Trilogia Contos e poesias da Escola Municipal Florestan Fernandes.

Machado de Assis (Badaladas – 2 de março de 1873).

Ia começar estas badaladas com algumas reflexões acerca da Batalha de Aquidaban, cujo aniversário foi ontem, quando recebi da Eternidade uma carta importante, assinada por um nome ainda mais importante do que ela: uma carta de Montesquieu.

A carta vinha acompanhada de um bilhete, que dizia assim:

“Dr. Semana. — Dê-me um cantinho de seu jornal e insira nele a carta junta, favor de que lhe será grato o seu constante leitor. — Montesquieu.”

Não hesitei um momento; mandei inserir a carta que o leitor verá com olhar de respeito e veneração; ei-la:

MONTESQUIEU AO SENADOR JOBIM

Eternidade, sem data.

Exmo. Sr. — Acabo de ler o discurso que V. Excia. Proferiu há dias no senado brasileiro, e conversando com os meus amigos, patrícios e coimortais Voltaire e Rousseau, fomos de opinião que é um discurso digno de ser lido, meditado e comentado.

Verdade é que o nosso Voltaire — sempre brincalhão e sarcástico — ao passo que lhe teceu grandes louvores, fez um reparozinho de má língua. O exemplo foi contagioso, e o nosso Rousseau fez outro, o que me obrigou também a fazer um terceiro, sem que todos três valham um cominho.

Que quer Exmo.sr.? Em alguma coisa se há de ocupar a eternidade. Há lá nesse mundo quem se afadigue em matar o tempo. Oh! Se soubessem o que é matar a eternidade! O tempo, Sr. Senador, não é preciso matá-lo; ele morre por si mesmo. Não se lembrará V. Excia. Daquele verso do nosso Racine, creio eu:

Le moment ou je parle est déjà loin de moi.

Pois aí tem a imagem do tempo. Que necessidade há, pois, de matar um sujeito que nasce caduco e vive a morrer? A eternidade é outra coisa; é a presença constante e impassível de uma coisa que nunca mais acaba e isto é o que se deve entreter com palestras, leituras e reflexões.

Líamos, pois, o discurso de V. Excia., e refletíamos a respeito das suas várias doutrinas, quando o nosso Voltaire, entrando no ponto em que V. Excia. fala das relações entre os climas e os governos, exclamou:

— Cite o autor!

E dizendo isto piscou o olho a mim e ao João Jacques, dando a entender que eu, primeiro, e ele depois trataríamos da teoria expendida anonimamente por V. Excia.

O João Jacques riu-se a bandeiras despregadas. Eu, porém, tomei defesa de V. Excia. como me pediam a verdade e a justiça.

— O senador Jobim, disse eu, pode estar obrigado a não citar o autor; pode ser que fosse tirar a idéia da algibeira de Aristóteles, e que Aristóteles lhe recomendasse o mais profundo silêncio. Aquele grego é um bom homem; socorre a muita gente nas suas precisões; e eu mesmo (não é por me gabar) obedeço ao evangelho, não sabendo muita vez a minha esquerda o que a minha direita distribui. Voltaire — le petit Arouet, como lhe chamamos aqui — ia abrindo a boca para falar, mas eu fiz-lhe um sinal e continuei assim:

— Demais, a teoria dos climas na mão do Sr. Jobim apresentou-se com roupagens novas. A idéia de que a imaginação é incompatível com a eleição direta é absolutamente nova debaixo do sol. A afirmação de que “nos países do norte não há governo que se anime a praticar nenhum atentado contra a razão e a justiça”, transtorna algumas idéias recebidas na história. Mas que é tudo isso senão o cunho da originalidade do orador?

Os dois filósofos calaram-se, vencidos pela minha demonstração. Mas não foi longo o silêncio. Rousseau, que lia para si o resumo do discurso, bateu com a mão no joelho e exclamou:

— Cite o autor! Cá está mais uma:
“. . . Os homens bons assustam-se, e antes querem um leão que os devore, que um milhão de ratinhos que os roam!”

— Isto é meu!acudiu Voltaire, dando pulo.

E depois de ler:

— S. Excia. honra-me muito fazendo suas as minhas palavras, mas era justo citar o meu nome, e bem assim transcrever-me fielmente. O que eu disse foi: —“J’aimerai mieux vivre sous la patte d’un lion, que d’être continuellement exposé aux dents d’un millier de rats.” Foi isto o que eu disse; e pode ser que no Brasil, quem não cita exatamente as palavras de outro, esteja dispensando de lhe citar o nome. Em todo caso não tira isso o mérito do discurso. . .

Aqui, Exmo. sr. meti-me eu também a censor, mais por brincar que por outra coisa, e sobretudo levado pelo mau exemplo dos dois filósofos. Lia o discurso e dei com isto: “ Essa outra invenção, também imensamente ridícula, — o rei reina e não governa. É um trocadilho insuportável, e que foi inventado na França pelo Sr. de Narbonne...”

— Agora citou o Sr. Jobim, disse eu, mas creio que citou erradamente. O aforismo é do Sr. Duvergier de Hauranne, se não estou enganado . . .

— Seja como for, não se pode negar o mérito do discurso.

— Não se pode, repetimos nós!

E aqui tem V. Excia. fielmente contada a nossa conversação a respeito do discurso de V. Excia. Sinto havê-lo lido em resumo, mas pelo resumo se admira a íntegra.

Nós aqui, Exmo.sr., apreciamos e lemos tudo o que se diz nas câmaras brasileiras. Lá de longe em longe levamos uma estopada; mas se esse mundo é de compensações, não menos o é esta eternidade em que vivemos, e onde me acho ao seu dispor, como quem é De V. Excia.

Atento venerador e criado muito obrigado,

MONTESQUIEU.

Ando há dias a perguntar a toda a gente se é certo que no teatro de Pedro II apareceu um dominó (imitação de outro que, a serem verídicos os jornais, apareceu este ano em Paris) com uma inscrição singular nas costas.

Ninguém me sabe responder. Seria peta ou só encontro as pessoas que o não viram? Dizem-me que era um dominó azul com fitas amarelas; nas costas trazia um letreiro assim:

P

A

Mais de um quis decifrar o enigma e nada. Afinal um bom velho, Champolion do Carnaval, deu com a chave do mistério, e leu: Allons souper (A long sous p).

— É, respondi, dando-lhe o braço.

— Há na rua Uruguaiana um botequim francês com uma tabuleta em que se lê:

CAFÉ
DE
ALSACE
ET
LORAINE.

Com este cotilhão termino o meu sarau.

Até domingo.

Dr. Semana
––––––––––––––
Nota:
Dr. Semana é o pseudonimo que Machado usava nestas cronicas


Fonte:
Obra Completa, Machado de Assis, Rio de Janeiro: Edições W. M. Jackson,1938. Publicado originalmente na. Semana Ilustrada, Rio de Janeiro, de 22/10/1871 a 02/02/1873.

Ialmar Pio Schneider (Soneto III a Mario Quintana)

Monumento a Mário Quintana (dir) e Carlos Drummond de Andrade,
 na Praça da Alfândega de Porto Alegre, obra de Francisco Stockinger.
 - em 30.7.2012 - Aniversário do poeta. -

Escrever um soneto neste dia,
destinando queridos sentimentos
à deusa misteriosa da poesia
que me acompanha em todos os momentos...

Vou relendo a Rua dos Cata-ventos
com certos laivos de melancolia,
mas nestes versos livres de tormentos,
encontro a paz e um pouco de alegria...

Mario Quintana sempre é novidade,
em cada texto que revejo ainda,
para bem recordar a própria infância...

Embora traga muito de saudade,
sua imaginação mostrou-se infinda,
ousando que em sonhar não há distância...

Fonte:
O Autor

Ademar Macedo (Observação sobre Soneto)

Erroneamente postei ontem os poemas de Camilo, classificando como sonetos. Peço que me perdoem a falha.

Mas, graças a observação do Ademar Macedo, que percebeu o erro, alertando que os versos dele tem 14, 15, 16, e até 17 "Sílabas Métricas" , quando um Soneto só pode ter no Máximo até 12 "Sílabas Métricas", que é o Soneto Alexandrino.

O Ademar observa com texto que alega não ser de sua autoria: 

No soneto alexandrino há o hemistíquio. O hemistíquio é o meio, ou metade, do verso de doze sílabas (ou alexandrino) ; a 6ª sílaba, que deve ser tônica, divide os dois hemistíquios, no ponto que se chama cesura. Para isso, há algumas regras especiais:

01) a tônica da 6ª sílaba deve ser, de preferência, em palavra oxítona, quando a palavra tem mais de uma sílaba, ou de monossílabo tônico.
(Exemplos: papai, café, dor, fé, etc.)

02) quando a palavra do hemistíquio for paroxítona (cantiga, parada, etc.), a palavra seguinte deverá começar com vogal ou h mudo.

O soneto alexandrino tem essas complicações.

Já o decassílabo é mais simples:
O chamado decassílabo heróico tem acentuação na 6ª e na 10ª sílaba: "porém já cinco sóis eram passados" (Camões);

Já o decassílabo sáfico exige tônicas na 4ª, 8ª e 10ª sílabas, exemplo:
"Quando partimos no verdor dos anos" (pe. Antônio tomás).

Isso, sem falar dos rítmos e etc, etc e etc:

É esta pois, a explicação do que na verdade é um soneto...

Obs: não existe sonetos com mais de doze "sílabas métricas"

Fonte:
Colaboração de Ademar Macedo

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 623)

Uma Trova de Ademar 

Por seu próprio desatino
o homem até se maldiz,
pondo a culpa no destino
por não ter sido feliz!
–Ademar Macedo/RN–

Uma Trova Nacional
 

Dos meus sonhos eu bendigo
as passadas frustrações;
Hoje é mais puro o meu trigo
sendo humilde nas ações.
–Nilton Manoel/SP–

Uma Trova Potiguar 


Enquanto a ciência avança,
fato novo se descobre...
E o fruto do que se alcança
torna a ciência mais nobre!
–Prof. Garcia/RN–

...E Suas Trovas Ficaram 


Mais do que a cobra, a meu ver,
você pode envenenar:
- a cobra tem que morder,
mas você só basta olhar!
–Antonio Roberto Fernandes/RJ–

Uma Trova Premiada 

1999  -  Rio de Janeiro/RJ
Tema  -  TREM  -  3º Lugar


É, talvez, o último abraço...
Vais partir... Apita o trem..
E o apito, cortando o espaço,
corta minh’alma... também!
–João Freire Filho/RJ–

Uma  Poesia 

Não dê vazão ao revide
quando alguém lhe magoar.
Ao contrário, busque um meio
de conseguir perdoar
que o revide é bumerangue
disposto sempre a voltar!
–Arlindo Tadeu Hagen/MG–

Soneto do Dia 

ANDORINHAS.
–Carmen Ottaiano/SP–


Um dia ele chegou, tal primavera,
fazendo um ninho doce em minha mão,
juntando as folhas de uma longa espera
de andorinha que sonha com verão.

Um dia ele gerou tanta quimera,
tantos frutos já fora da estação,
que me despi das penas que eu tivera,
vendo explodir no peito uma canção!

Um dia ele partiu gerando infernos,
e os meus olhos em lágrimas serenas
cristalizaram temporais eternos...

Juntando versos de um verão apenas,
nua ao sabor de todos os invernos,
eu fiquei só, coberta de outras penas!

Nilto Maciel (Dicionário do Imperador Napoleão)

Quando estive em Paris, pela primeira vez (faz muito tempo), conheci a jeune femme Isabelle Girault. Convidei-a para um café ou um vinho. Não sabia ainda como me comportar diante de uma francesa na França. Falei, entusiasmado, de Napoléon Bonaparte, passei à Revolução Francesa e terminei na guilhotina. Só pude perceber tédio nela depois de meia hora de lengalenga.

Quando voltei da Europa a Brasília, tomei ciência de outro Napoleão, o Valadares, nascido em Arinos, Minas Gerais. Ofereci-lhe meu segundo livro Tempos de mula preta e ele me presenteou Os personagens de Grande Sertão: Veredas. Fizemo-nos amigos, quase confidentes. Contei minha paixão pela francesinha e ele apenas sorriu. Quase não disse nada. Só perguntou: Você pretende ir embora? Não, não posso. E ela virá morar aqui? Não. Ele riu mais um pouquinho e mudou de assunto.

Semana passada, chegou-me uma carta. Há tempos isso não acontecia. Sabem quem ma enviou? Sim, aquela jeune femme de 1983, agora com 49 anos. Descobriu meu paradeiro na Internet. Seu marido (casara-se ela em 1986 com o poeta mexicano Eraclio Chimal) há um ano a trocou por um imigrante brasileiro de nome Napoleão. Vejam o nome do imperador a me perseguir. Por pouco não morri de rir. Pois, no mesmo dia em que o carteiro me passou às mãos um pacote (não cabia na caixa), vindo de Brasília, na mesma tarde recolhi, na caixinha metálica onde está inscrito “cartas”, a missiva da traída Isabelle. O pacote continha exemplar do Dicionário de escritores de Brasília, de Napoleão Valadares. Como não me lembro mais da francesa e não me interesso mais pelo imperador da França, passei a semana a ler o dicionário. É possível ler um dicionário, como se lê um romance? Talvez não. Mesmo assim, conto a história desta obra.

A primeira edição é de 1994. Nesse tempo eu já esquecera a francesinha. Em 2002 saiu a segunda. Nesse tempo eu já me sentia muito próximo da italianinha que fez de minhas noites uma sucursal do paraíso. A edição de agora é a terceira: “atualizado, revisado e ampliado”.

Deixando de lado o compêndio, direi um pouco do autor, o “Imperador do Urucuia” (eu assim o chamo, de forma brincalhona, desde a publicação de seu romance Urucuia, 1990): Napoleão é um ano mais novo do que eu (fevereiro de 1946). Além de suas atividades como funcionário da Justiça Federal, tem se dedicado à cultura mineira e brasiliense, especificamente, e à brasileira, em geral. Organizou antologias (Planalto em poesia, 1987; Contos correntes, 1988; De Gregório a Drummond, 1999; Antologia de haicais brasileiros, 2003), exerceu a presidência da Associação Nacional de Escritores, tem romances, contos e poemas editados, ganhou importantes prêmios literários, etc.

Voltemos ao dicionário (sem nos esquecermos da França, de Isabelle e do imperador Bonaparte, que ainda estarão nesta crônica). O dicionarista brasiliense presta homenagem aos pioneiros da cultura literária da capital federal: Clemente Luz, José Marques da Silva, Garcia de Paiva e Joanyr de Oliveira. O primeiro verbete vai para o carioca Carlos Alberto dos Santos Abel (com quem troquei algumas palavras), falecido recentemente. O derradeiro se refere a Vera Cristina Zuffo, que desconheço.

A obra, de 390 páginas, mostra verbetes curtinhos (dos escritores menos notados nos corredores da literatura ou de bibliografia mais reduzida) ou mais robustos (não muito), o que é normal. Napoleão Valadares considerou escritores aqueles indivíduos que foram “publicados em livro”. E explica: “Não apresentamos biografias, mas sínteses biográficas, para ter-se um perfil profissional e intelectual de cada autor, para ter-se uma informação, ainda que elementar, sobre sua obra. Os verbetes mostram-se sucintos, sem opinião pessoal, sem crítica. A nossa preocupação não é fornecer o maior número possível de dados, mas apresentar dados precisos, tanto quanto possível”.

Para encerrar esta quase-notícia, informo o número das páginas onde me encontro: 197/8. E dou uma última notícia de minha amiga parisiense: gostava de rabiscar poemas curtinhos. Guardo, há quase trinta anos, este verso, escrito num guardanapo de papel: “Je suis une femme perdue et maladroite”. Foi no dia em que nos despedimos, num café próximo ao Aéroport Paris-Orly. Após o último beijo, ela abriu a bolsa, retirou um embrulho e mo entregou. Eu não sabia do que se tratava. Quando me acomodei na poltrona do avião, pude ver a biografia de Napoléon Bonaparte. E os lábios de Isabelle Girault impressos na folha de rosto, que beijei, a chorar.

Fortaleza, 27 de julho de 2012.

Fonte:
http://literaturasemfronteiras.blogspot.com.br/2012/07/dicionario-do-imperador-napoleao-nilto.html

Antonio Manoel Abreu Sardenberg (Quatro em Um) n. 8

Contraste
Antonio Manoel Abreu Sardenberg
São Fidélis - Cidade Poema


Você é fogo, a chama mais ardente,
Semente a germinar em pleno cio,
É luz que o sol espalha suavemente,
É toque de prazer, é arrepio...

É água cristalina da nascente
Que corre lentamente para o rio,
Paixão que vem assim, tão de repente,
Deixando o coração por quase um fio.

Você é o meu passado mais presente...
Calor a me aquecer durante o frio,
Loucura que enlouquece loucamente!

Você é como um sonho inocente,
É brisa mansa em manhã de estio
E muitas vezes temporal fremente!

Luz
Diamantino Ferreira


Como caminha um cego e de bengala
apalpa seu trajeto, a não cair,
arrasto-me na vida e nem se fala
de quantos tombos mais estão por vir;
apesar do infortúnio, é prosseguir
e na estrada da vida, qual na sala,
palmilhar como sempre; e no provir
eu não perca a esperança de encontrá-la!
Nasci feliz, a luz dentro dos olhos;
mas cresci, tropeçando nos escolhos,
chegados tão somente por te amar!
Perdida a vista, mas... Pior castigo:
nem a esperança de trazer comigo
o sonho de voltar a te enxergar!
Poema extraído da IX Antologia Internacional Palavras no 3º Miênio

Você nunca está só
Olegário Mariano
1889 1958


Você nunca está só. Sempre a seu lado
Há um pouquinho de mim pairando no ar.
Você bem sabe: o pensamento é alado...
Voa como uma abelha sem parar.

Veja: caiu a tarde transparente.
A luz do dia se esvaiu... Morreu.
Uma sombra alongou-se a seus pés mansamente...
Esta sombra sou eu.

O vento ao pôr do sol, num balanço de rede,
Agita o ramo e o ramo um traço descreu.
Este gesto do ramo na parede
Não é do ramo: é meu.

Se uma fonte a correr, chora de mágoa
No silêncio da mata, esquecida de nós,
Preste bem atenção nesta cantiga da água:
A voz da fonte é a minha voz.

Se no momento em que a saudade se insinua
Você nos olhos uma gota pressentir,
Esta lágrima, juro, não é sua...
Foi dos meus olhos que caiu...

Trova
Eu sempre quis numa trova,
provar tudo quanto fiz;
mas nunca passei na prova
nem fiz a trova que quis!
Professor Garcia

Fonte:
A. M. A. Sardenberg

Cândida Vilares Gancho (Como Analisar Narrativas) Parte 7 – Discursos

       Numa narrativa é possível distinguir pelo menos dois níveis de linguagem: o do narrador e o dos personagens.

       Evidentemente, não se deve esquecer que a linguagem dos personagens varia de acordo com as condições socioeconômicas de seu meio, a idade, o grau de instrução e ainda a região em que vivem. Independente disso é possível reconhecer o que é narração (fala do narrador) e o que dizem os
personagens.
       Chamam-se discursos às várias possibilidades de que o narrador dispõe para registrar as falas dos personagens.

Discurso direto

       É o registro integral da fala do personagem, do modo como ele a diz. Isso equivale a afirmar que o personagem fala diretamente, sem a interferência do narrador, que se limita a introduzi-la. Há duas maneiras principais de registrar o discurso direto:

1. A mais convencional:

a) verbo de elocução (falar, dizer, perguntar, retrucar etc.);

b) dois-pontos;

e) travessão (na outra linha).
Estirado por sobre a mesa, o administrador gritava:
Você já esteve no Alentejo?
(QUEIROZ, Eça de. A ilustre casa de Ramires. Rio de Janeiro, Ed. Ouro, 1978. p. 43.)


       Variantes da forma convencional

a) O personagem fala diretamente, isto é, sem ser introduzido, e o narrador se encarrega de esclarecer quem falou, como e por que falou.

— Sente-se — ordena a professora irritada.
(ÂNGELO, Ivan. Menina. In: ____A face horrível. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1986.p. 16.)


b) Em vez dos travessões para isolar a fala do personagem, encontramos outra pontuação: vírgula, ponto etc. Só permanece o travessão inicial.

— O meu projeto é curioso, insistiu o sardento, mas parece que este povo não me compreende.
(RAMOS, Graciliano. A terra dos meninos pelados. Rio de Janeiro, Record, 1984. p. 31.)


c) Várias falas se sucedem sem a presença notória do narrador; apenas se sabe o que fala cada personagem, por que há mudança de linha e novo travessão.

— O que é, meu rapaz?
— Eu queria conhecer a grande máquina.
— Não conhece ainda?
— Não.
— É novo na cidade?
— Nasci aqui.
— E como não conhece a máquina?
— Nunca me deixaram.
(LOYOLA BRANDÃO, Ignácio de.O homem que procurava a máquina. In: .0 homem do furo na mão.
São Paulo Ática 1987 p 41)


2. Usando aspas no lugar dos travessões:

a) verbo de elocução;

b) dois-pontos;

c) aspas (na mesma linha).
Ao me despedir de Palor, no Aldebaran vazio, eu disse:
“Vamos nos ver novamente?”
 (FONSECA, Rubem. Feliz Ano Novo. Rio de Janeiro, ArteNova, 1975. p. 100.)


Outras formas

       Modernamente os autores de ficção procuram inovar as formas de registrar a fala dos personagens, isto é, o discurso direto. Veja no exemplo abaixo, retirado do romance O ano da morte de Ricardo Reis, do escritor contemporâneo José Saramago, como dialogam Ricardo Reis, personagem central do livro, e Fernando Pessoa, recém-morto. Perceba que não há distinção entre as falas de cada personagem e a intervenção do narrador; cabe ao leitor identificar quem fala o quê.

(...) Fernando Pessoa explicou, É o comunismo, não tarda, depois fez por parecer irônico, Pouca sorte, meu caro Reis, veio você fugido do Brasil para ter sossego no resto da vida e afinal alvorota-se o vizinho do patamar, um dia desses entram- lhe aí pela porta dentro, Quantas vezes será preciso dizer-lhe que se regressei foi por sua causa, Ainda não me convenceu, Não faço questão de convencê-lo, apenas lhe peço que se dispense de dar opinião sobre este assunto, Não fique zangado, Vivi no Brasil, hoje estou em Portugal, em algum lugar tenho de viver, você, em vida, era bastante inteligente para perceber até mais do que isto, É esse o drama, meu caro Reis, ter de viver em algum lugar, compreender que não existe lugar que não seja lugar, que a vida não pode ser não vida. (...)
 (Lisboa, Caminho, 1984. p. 154.)


Discurso indireto

       É o registro indireto da fala do personagem através do narrador, isto é, o narrador é o intermediário entre o instante da fala do personagem e o leitor, de modo que a linguagem do discurso indireto é a do narrador:

(...) O outro objetou-lhe que por aqui só havia febres e mosquitos; o major contestou-lhe com estatísticas e até provou exuberantemente que o Amazonas tinha um dos melhores climas da terra. Era um clima caluniado pelos viciosos que de lá vinham doentes...
(BARRETO, Lima. Triste fim de Policarpo Quaresma. São Paulo, Ática, 1983 p. 23.)


       Perceba que nesse exemplo o narrador disse com Suas palavras o que disseram os personagens.

Discurso direto

O outro objetou-lhe:
— Por aqui só há febres e mosquitos.
O major contestou-lhe com estatísticas e até provou exuberantemente:
— O Amazonas tem um dos melhores climas da terra. E um clima caluniado pelos viciosos que de lá vêm doentes...


Do discurso direto para o indireto

       Um exercício muito freqüente que se pede nas escolas com relação a discursos é a passagem do discurso direto para O Indireto e vice-versa. Eis aqui um quadro simplificado, apresentando as principais dificuldades na passagem do discurso direto para o indireto no que se refere à fala dos personagens:

Discurso direto
Discurso indireto

Afirmação
Paulo disse:- Eu vou.
Que
Paulo disse que ia.


Interrogação
Paulo perguntou:- Choveu?
Se
Paulo perguntou se tinha chovido
.

Tempos verbais
Presente  (indicativo)
Paulo anunciou:- Estou rico.

Pretérito perfeito
Paulo anunciou que estava rico

Pretérito perfeito
Paulo perguntou irritado:
- Quem mexeu na gaveta?


Pretérito mais-que-perfeito
Paulo perguntou irritado quem  mexera na gaveta.

Futuro do presente
Paulo falou:
-Farei uma viagem de negócios.


Futuro do pretérito
Paulo falou que faria uma viagem de negócios.

Discurso Direto
Discurso indireto

Adjuntos adverbiais
Lugar: aqui
Paulo apontou:
-Aqui é meu lugar.



Paulo apontou (dizendo) que ali era seu lugar

Tempo: hoje
Paulo perguntou:
-Hoje há reunião?
Naquele dia
Paulo perguntou se naquele dia haveria reunião?


Ontem
Paulo exclamou:
-Ontem foi o dia mais feliz da minha vida!
véspera/o do dia anterior
Paulo exclamou que o dia anterior fora o mais feliz de sua vida.


Amanhã
Paulo disse:
- Amanhã estarei de volta.
No dia seguinte
Paulo disse que no dia seguinte estaria de volta.


Pronomes
Pessoais: eu
Paulo retrucou:
- Eu estou com a razão.

Ele – ela
Paulo retrucou que ele estava com a razão.

Demonstrativos: esse - este
Paulo perguntou:
- Esse carro é meu?


Aquele
Paulo perguntou se aquele era o seu carro.


Possessivos: meu – minha
Paulo murmurou:
-Meu amor é você.

Seu – Sua
Paulo murmurou que seu amor era ela.

Obs.: Nem todas as dificuldades foram aqui apresentadas, mas este gráfico dá conta do essencial. Cabe ao aluno adaptar algumas frases, por exemplo quando o verbo de elocução não for utilizado no discurso direto, ou quando ocorrerem repetições.

Continua… Discurso Indireto Livre

Fonte:
Cândida Vilares Gancho . Como Analisar Narrativas. 7. Ed. Editora Ática. http://groups.google.com.br/group/digitalsource/

Festival Nacional do Conto

Livremente inspirado no Festival Europeu do Conto (realizado em Zagreb, na Croácia), o Festival Nacional do Conto é um projeto de difusão, discussão e fomento, e traz para Santa Catarina o debate sobre um dos gêneros literários mais populares do globo.

Para revitalizar o gênero e aquecer o debate, o festival aposta na nova geração de escritores brasileiros, também premiada e reconhecida no exterior, para promover quatro dias de dedicação ao conto.

Em 2011, Veronica Stigger, Santiago Nazarian, Ivana Arruda Leite, Marcelino Freire, Nelson de Oliveira, Joca Reiners Terron, Daniel Galera, Tony Monti, Marne Guedes e Diogo Henriques trouxeram novas ideias sobre o gênero. Para este ano, o curador Carlos Henrique Schroeder selecionou, mais uma vez, um time instigante: Elvira Vigna, João Anzanello Carrascoza, Paulo Scott, Luiz Felipe Leprevost, André de Leones, Luís Henrique Pellanda, Ricardo Lísias e Luiz Ruffato.

Serviço:
Festival Nacional no Conto
Teatro SESC Jaraguá do Sul - SC (Rua Jorge Czerniewicz, 633)
De 9 a 12 de agosto de 2012

Mais informações:
http://festivalnacionaldoconto.blog.com/

Fonte:
http://www.concursos-literarios.blogspot.com.br

domingo, 29 de julho de 2012

Sexteto em Sextilhas(Parte 5)

121 - Assis
Cada caminho trilhado
nos põe mais perto do irmão,
e cada irmão que abraçamos
nos alegra o coração,
e o coração alegrado
põe o céu em nossa mão.

122 – Ademar
Cada verso é uma emoção
que nasce dentro da gente,
mesmo sendo fantasia
deixa o poeta contente,
pois vem das hostes divinas
como se fosse um presente...

123 – Delcy
Para afastarmos da gente
os  anseios mais diversos,
a vida nos torna astros
de pequenos universos,
e  felizes  viajamos
na  nave dos nossos versos!
 
124 – Prof. Garcia
Somos poetas dispersos,
mas nunca estamos sozinhos;
cantarolamos nos campos
livres como os passarinhos,
que voam de manhã cedo
mas nunca esquecem seus ninhos!

125 – Gislaine
São assim nossos caminhos,
cheios de estrelas e mar,
com campinas verdejantes,
e  Lua pra  iluminar
os  mundos da fantasia,
lindos  para  poetar!

126 – Zé Lucas
Vem a poesia a jorrar
de tão bonita vertente,
nas horas de inspiração,
que todo poeta sente
versos entrando e saindo
pelas janelas da mente!

127 – Assis
Pelas janelas da gente
não entram versos apenas.
Entram também as saudades
de antigas e ingênuas cenas,
como o passar, nas calçadas,
de encantadoras morenas.

128 – Ademar
Temos um milhão de cenas,
no imaginário da gente,
todas criadas por nós,
seja antiga ou mais recente;
e todas ficam gravadas
no vídeo-tape da mente.

129 – Delcy
O poeta é o que mais sente
o peso de uma Saudade,
os  casos  da  Juventude,
o  Bem  da Fraternidade,
e  poetiza  com  alma...
a grandeza  da Amizade!

130 – Prof. Garcia
Faço de cada saudade
um verso em forma de flor,
de cada ilusão perdida
faço uma rosa de amor,
e da musa que me inspira
minha alma de trovador!
 
131 – Gislaine
Meu coração sonhador
sabe se fazer feliz,           
conquista muita amizade,
tem por meta e diretriz
distribuir o seu carinho
sempre com novo matiz!

132 – Zé Lucas
Eu quero, pra ser feliz,
um pedacinho de mar,
um trino de passarinho,
uma nesga de luar,
uma viola afinada
e um poema pra cantar.

133 – Assis
Se uma viola sobrar,
manda ela aqui para mim.
Quero ir com ela esta noite
cantarolar no jardim
numa seresta daquelas
que têm começo, não fim.

134 – Ademar
Não quero muito pra mim,
com pouco eu me satisfaço.
Só quero o Baú do Sílvio,
toda beleza do espaço
e a inspiração de “Quintana”
em cada verso que eu faço!

135 – Delcy
Teus versos, amigo, abraço.
Teus  desejos  eu  quisera,
sem me importar com dinheiro,
mas com um mundo de quimera,
com a inspiração de um quintana,
com  flores  de  Primavera!

136 – Prof. Garcia
Que doce a vida não era,
com a inspiração de um Quintana;
mais uns dois terços da herança
da musa camoneana,
e eu faria num minuto
o que faço por semana!

137 – Gislaine
Quando a nossa alma se irmana
em  busca  de  inspiração,
poderemos,  certamente,
plantar estrelas no chão,
e criar  novas florestas
com a força da emoção!

138 – Zé Lucas
As nossas sextilhas são
produtos de artesanato,
polidos por mãos de fada,
junto às margens de um regato,
com gosto de mel de abelha
e cheiro de flor do mato.

139 – Assis
O teu pensamento acato
com muita satisfação
e o incentivo agradeço
de todo o meu coração,
pois cada nova sextilha
me traz nova inspiração.

140 – Ademar
Com a minha inspiração
eu copulo eternamente.
Meu verso entra no cio
quase que constantemente,
e numa transa de rimas
nasce um filho de “repente”!

141 – Delcy
Essa forma diferente
que tu tens de versejar,
quase assusta quando vemos
teu  jeito  de  sextilhar,
mas o filho que procrias
consegue nos acalmar!

142 – Prof. Garcia
Fazer verso é meu cantar,
pão nosso de cada dia.
Se não fosse esse trabalho
nem sei como viveria;
porque vida de poeta
sem verso, é triste e vazia!

143 – Gislaine
O verso é nossa alegria,
e sendo a luz dos caminhos,
faz parte do nosso sonho,
transforma a dor em carinhos;
versejando de mãos dadas
não ficaremos sozinhos!

144 – Zé Lucas
Tenho andado nos caminhos
da vida correta e boa;
canto a beleza e a virtude,
mas, para este mundo à-toa,
quando acerto, ninguém nota;
quando erro, ninguém perdoa!

145 – Assis
A gente às vezes caçoa
dos desencontros da vida,
mas tudo sempre acontece
na hora certa e devida,
conforme Deus recomenda
à filharada querida.

146 – Ademar
No barco da minha vida
enfrentei muitas procelas,
foram muitas turbulências
mas finquei as minhas velas
no mar das inspirações
pra fazer versos com elas...

147 – Delcy
Buscando as cores mais belas,
a pintar,  logo me  ponho,
e as telas de minha filha
quase...quase, que as transponho,
pois  queria  ser  pintora,
ao menos, neste meu sonho!

 148 – Prof. Garcia
Curtir um mundo risonho,
é bom que se curta e vença,
mas este mundo descrente
às vezes afasta a crença,
e crendo em tudo que faço,
faço com certa descrença.
 
149 – Gislaine
A fé traz a recompensa
de nos sentirmos felizes;
dá vazão aos nossos sonhos 
firmando nossas raízes,
faz, então, que nós sejamos
uns eternos aprendizes!

150 – Zé Lucas
Cantando como concrizes,
má sorte não nos quebranta,
porque, segundo o provérbio,
"quem canta os males espanta",
e assim todas as mazelas
passam longe de quem canta.

José Benedito Leite Pinheiro Junior (Poesias: Da Janela do Meu Quarto)

APRESENTAÇÃO

A coletânea de textos que ora apresento, reúne histórias e poesias produzidas pelos estudantes do Ciclo III e IV (5ª a 8ª no regime seriado) da Escola Municipal Florestan Fernandes em oficinas de criação literárias promovida pelo Projeto Jovens Leitores1.

“Da janela do meu quarto”, primeiro trabalho editado pelo Projeto em 2005, foi uma produção individual de José Pinheiro Jr. e contou na primeira edição com a ilustração de seu amigo de classe Pedro Pacheco.

O livro passou de mão em mão despertando curiosidade e interesse na
comunidade escolar. As oficinas e as publicações semi-artesanais que se seguiram “Cantigas de Florescer” e “No Parque ver de prosa, ver de verso”, tiveram um número cada vez maior de participantes.

É justo reconhecer que o desejo das crianças e jovens de criarem seus
próprios textos foi alimentado pelos encontros com escritores paraenses, pelas rodas de conversas, rodas de leitura, visitas à bibliotecas e livrarias, contação de histórias, recitais poéticos, cantorias...

É oportuno ressaltar ainda que esta ação de estímulo a escrita aconteceu e acontece sem maiores ansiedades de formar prosadores ou poetas.

O foco da atividade está em oportunizar aos estudantes que ampliem seu repertório cultural e se exercitem com as palavras, apropriando-se de mecanismos especiais peculiares de expressão melhorando a cada nova experiência como produtores de textos.

Paulo Demétrio Pomares da Silva
Coord. do Projeto Jovens Leitores

¹ O Projeto é realizado na Escola Florestan Fernandes desde 2002 com crianças e jovens entre 10 e 15 anos. Os estudantes são estimulados a descobrir o sabor de ler e escrever através de um conjunto de ações que prevêem rodas de conversas, rodas de leituras, visitas à bibliotecas, feira de livros, livrarias, empréstimos de livros, oficinas de produção de textos, saraus, recitais poéticos, dentre outras atividades.

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DA JANELA DO MEU QUARTO
Belém, 2005

A JANELA DO MEU QUARTO

Da janela do meu quarto
Vejo um mundo diferente

Da janela do meu quarto
Vejo a verdade
De tudo o que há

De lá vejo a vida
Os pássaros
As crianças
E as razões pelas quais
Vejo um mundo tão cheio
De qualidades
E com muita fantasia.

A janela do meu quarto é mágica
Pois me ajuda a aprender a viver
De uma maneira simples e fácil.

1º, 2º, 3º, ETC... QUAL É A MELHOR?

Meus primeiros passos foram brilhantes
Pois me ensinaram a caminhar pela vida
E tiveram o mesmo efeito
De tudo o que é primeiro neste mundo
Como o primeiro beijo
Ou até o primeiro dente que se arranca.

Tudo nesta vida que se possa imaginar
Tem-se a primeira vez.

E como diria o mais sábio poeta:
A primeira vez é a melhor das melhores.

SER CRIANÇA

Lá fora, num banquinho da praça,
Ana está a admirar o céu.

-Ana, minha filha, vamos embora,
Não fique ai feito boba!!!

-Calma papai, só quero saber por que
Os peixes desse oceano tem asas.

O CÃOZINHO DO RAUL

O cãozinho do Raul morreu.

Mas para onde foi o cãozinho do Raul?
Para baixo da terra
Ou para o imenso céu azul?

A tristeza é tanta que Raul chora
Pois o cãozinho morreu de boca aberta
Como se estivesse dizendo:

“Adeus, meu amigo, até um dia”.

JARDIM FELIZ

Na varanda lá de casa
Vejo um jardim verdinho
E há também um passarinho
Que fez ali seu belo ninho

O cachorro que não bote nem a pata
Pois as formigas fazem ali
Sua grande caminhada.

O gatinho deve ter cuidado
Quando deitar nesse chão
Pois deve estar dormindo ali
O grande camaleão.

É, crianças, nada de brincar lá com faca
Pois entre as folhas deve estar
A preguiçosa dona lagarta.

HOJE TEM FESTA NO GALINHEIRO

Nasceram os pintinhos
Mais novos do pedaço

De repente ouve-se um grande canto
Lá pros lados do brejo.

Será o lobisomem? Não.
É o seu galo cantando
Pela chegada dos novos pintinhos...

JORNAL DO POETA

Extra! Extra! O leão não é mais o rei da selva
o macaco agora é quem dá as regras.
Extra! Extra! O papagaio não vai mais
fazer fofocas.

Extra! Extra! Relógios fazem greve
por salários atrasados.

Extra! Extra! esse é o jornal da imaginação
é o jornal do poeta!

PAPAGAIO TRISTE

Desde sua infância
o papagaio tem um sonho:
Quer ser cantor.
Por esse sonho largaria tudo
porém, não pode: o papagaio é mudo.

Se tiver uma solução
fale com sua imaginação
mas seja rápido
pois ele está sentindo muita dor

o papagaio mudo que sonha
em ser cantor.

BEM -TE – VI

Bem – te – vi que canta!
Bem – te – vi que chora!
Bem – te – vi que grita!
Bem – te – vi que em tudo põe o seu nome,
Diz pra mim: quem tem a beleza
mais encantadora?
(pergunta a menina)
Bem – te – vi!
Bem – te – vi!
( responde o humilde passarinho ).

O VENTO

Vem o vento leve
Vem o vento frio
Vem o vento solto
Que se esconde no barril

Vem o vento louco
Cheio de sabor
Vem o vento bonzinho
Para levar a minha dor.

BOLSA AZUL

Cedo madruga
Papai está na luta
A noite tarda, papai está em casa.

E sempre com aquela bolsa azul
( mas o que levará naquela bolsa azul? )
Serão papeis importantes
Ou quem sabe cachorro um cachorro pit-bul?

Pergunto à mamãe
Ela o protege:
“aquela bolsa nos sustenta, meu filho.
Seu pai é carpinteiro e nela só carrega
ferramentas”.

ALEGRIA DE CRIANÇA

Renata rodou o pião
pela primeira vez.

Como é grande a alegria de Renata.

Ah! Renata, queria eu ser
como você:
Feliz a cada momento
buscando conhecimento
aprendendo com a vida
e brincando com vento.

MENINO POBRE

O menino quer uma bola
Para jogar

O menino quer comida
Para se alimentar

O menino tem sonhos
Porém, realizá-los não pode,
O menino é muito pobre.

Como são grandes os sonhos do garoto!

E como ele é rico
dentro de sua própria imaginação
Pois lá tem comida, brinquedos e tudo
O que ele quiser praticar.
Então diz o garoto:

“como é bom sonhar!”

PÁSSARO NO CÉU

No alto ar
Os passarinhos gostam de brincar
Mas o tempo passa
A noite chega...
E os passarinhos logo tem de voltar.
Mamãe está preocupada.
Papai já vai chegar
Os passarinhos já estão dormindo
Para amanhã recomeçar
A vida de alegria que é brincar no ar.

QUITANDA DA MINHA RUA

Quitanda bela
Cheia de amizade
E com pouca quantia
Se compra a felicidade.

Nessa quitanda quase não há vendedor
Porque não há ódio
Muito menos rancor
Na bela quitanda do amor.

SONHO DE MENINO

Ah! menino
Por esse teu sonho
Vão imaginar
Que estás a flutuar.
Que menino sorridente tu és.
Que felicidade imensa
Tens no coração
Pois para chorar nunca tens razão.
Acho que és como
Uma flauta que toca
Musicas belas e só isso faz.
És o amor em forma de pessoa
És a prova de que os sonhos são reais.

NUNCA ME ESQUEÇA

Se fores a Salvador
Eu estarei por perto
Para aliviar qualquer dor.

Se fores a Belém
Estarei contigo também
Em qualquer lugar
A qualquer hora.

Sempre estarei contigo
Te protegendo
Como se fosse uma luz.

Sou teu salvador,
Meu nome é Jesus!

ORAÇÃO

Meu Deus,
Obrigado por mais esta oportunidade
E se permitir quero esta vida
Por toda a eternidade.

Ser poeta é bom,
É a minha maior vontade.

Meu Deus, me proteja por onde estiver
Guarde-me para sempre em seus braços
Não em lugar qualquer
Guie meus passos por onde eu andar
Pra que eu consiga viver e na vida amar.

Na vida, tenho tido muitas oportunidades
Por isso a sorte nunca me despreza
Mas quero sua benção, senhor,
Pois minha vontade mesmo
É sempre ser poeta.

Fonte:
Jandira Barreto Pereira Maués. Trilogia Contos e poesias da Escola Municipal Florestan Fernandes.