domingo, 30 de setembro de 2012

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 683)


Uma Trova de Ademar  

O tempo, qual sanguessuga, 
para aumentar meu desgosto, 
fez nascer mais uma ruga 
entre as rugas do meu rosto! 
–Ademar Macedo/RN– 

Uma Trova Nacional  

Diz-me esta ruga esculpida, 
entalhe que o tempo fez, 
que a primavera da vida 
só nos floresce uma vez. 
–Jaime Pina da Silveira/SP– 

Uma Trova Potiguar  

Meus sentimentos dispersos
podem ser lidos com calma,
pois na emoção de meus versos
há pedaços de minha alma. 
–José Lucas de Barros/RN– 

Uma Trova Premiada  

2002   -   Belém/PA 
Tema   -   FRUTO   -   M/H 

O mundo, a cada minuto,
mostra a ironia presente,
pois, nem sempre colhe o fruto
a mão que planta a semente!...
–Rodolpho Abbud/RJ– 

...E Suas Trovas Ficaram  

Ah, que estranho desafio
e esquisita proporção:
quanto mais fica vazio,
mais nos pesa o coração! 
–Pe. Celso de Carvalho/MG– 

U m a P o e s i a  

Jesus Cristo em favor da humanidade 
deu a vida, pregado numa cruz, 
tantos outros assim como Jesus 
foram vítimas de tal barbaridade; 
Luther King em prol da liberdade 
expos suas ideias liberais, 
igual a Gandhi na Índia e outros mais 
que tiveram a luta interrompida; 
muita gente doou a própria vida 
rebatendo problemas sociais! 
–Carlos Aires/PE– 

Soneto do Dia  

MORTE DAS ROSAS. 
–Pe. Antônio Tomás/CE– 

Nos canteiros orlados de verdura,
de mil gotas de orvalho umedecidas,
cheias de viço e de perfume ungidas,
desabrocham as rosas a ventura.

Mas a vida das rosas pouco dura,
e em breve a desgraça enlanguescida
a fronte curva nos hastes pendida,
a um raio de sol que além fulgura...

E vão perdendo as pétalas mimosas,
a um sopro mal dos vendavais infestos,
é o despojo final das tristes rosas...

E de cor vermelha pelo chão tombadas
fazem lembrar sanguinolentos restos
de pobres corações despedaçados.

sábado, 29 de setembro de 2012

Mário Quintana (Arte Poética)


Trova 230 - A. A. de Assis (PR)


Folclore Portugues ( A Lenda "Aninha-a-Pastora")


Conta a lenda que há muito tempo, talvez no tempo dos afonsinhos, apareceu no vale do Jamor uma pastorinha com o seu rebanho. Ninguém sabia donde ela viera, mas também a ninguém interessava saber. E a pastora por ali ficou, achando o local propício para si e para as suas ovelhas. 

 Todas as manhãs pela alba banhava-se a pastora na ribeira que atravessava o vale, límpida e cantante. Depois, o resto do dia, entretinha-se ora cantando, ora correndo atrás dos borregos. Por vezes, quedava-se horas a fio olhando o ramejar das árvores ou observando os pardais a construir os ninhos ou a alimentar as crias. 

 No Inverno, quando o tempo custava mais a suportar, a pastora alapava-se com o rebanho sob as fragas, esperando que a chuva passasse, agarrada às suas ovelhas preferidas para manter algum calor. 

 Assim passava o tempo a pastorinha que um dia chegou ao vale do Jamor com um rebanho de ovelhas. 

 Certo dia, porém, passou por ali um cavaleiro - que alguns dizem que era o rei - em vistosa cavalgada, acompanhado de alguns moços de armas que com ele iam montear no vale. Os olhos do cavaleiro deram subitamente com os da pequena pastora, que, encostada a uma árvore, bebia tranquilamente uma gamela de leite. Surpreendido com a inesperada visão, o cavaleiro exclamou: 

 - Meu Deus, como será possível que tal beleza exista assim perdida neste vale?! 

 E, encantado, o cavaleiro tentou saber da pastora tudo quanto lhe dizia respeito: 

 - Onde vives, pastora? - perguntou o cavaleiro.

 - Por aí, senhor. 

 - Na aldeia, queres tu dizer? 

 - Não. Vivo aqui, no vale, com estas poucas ovelhas. 

 - A quem pertence o rebanho, pastora? 

 - Ninguém, meu senhor. Encontrei-o no caminho e seguiu-me até aqui. 

 - Não vais querer que eu acredite nessa história, mulher?! Diz a verdade! 

 - Senhor, esta é a verdade, acreditai! 

 O velho aio do cavaleiro, que ouvia a conversa, inquieto com o que parecia simples de mais, interveio: 

 - Tende cuidado, meu amo. A pastora mais parece o demónio a tentar-vos! 

 A rir, o cavaleiro respondeu-lhe: 

 - Ora, velho aio! Se o demónio fosse tão belo como esta mulher, fácil lhe seria tentar o mundo! Deixai-vos disso!. .. 

 Pois, meu amo, vamos ver se o que digo não é verdade! 

 E virando-se para a pastora, que tremia, perguntou: 

 - Onde está a tua família, rapariga? 

 - Não tenho ninguém. 

 - Como te chamas? 

 - Não sei, nunca ninguém me chamou .. 

 - E as ovelhas, encontraste-as! 

 - É verdade, senhor. 

 Pois vede, meu amo, se tudo isto não é muito estranho!.. Por mim, acho que deveis ter cuidado! 

 - Ora, velho medroso! Que há de estranho numa pastora que vive sozinha e não tem família. Depois .. é tão bonita! 

 Enquanto dizia isto, o cavaleiro olhava a pastora, sentindo crescer em si uma ternura magoada e dolorida por haver quem fosse obrigado a viver em tal solidão. E num repente, como quem sente uma necessidade súbita e insuportável de suprir os desamores da vida, o cavaleiro disse suavemente à pastora: 

 - A partir de hoje nunca mais viverás só! Vou levar-te para a corte! 

 - Não quero sair daqui, senhor! - murmurou perentória a rapariga. 

 Pois então, virei eu viver contigo! Mandarei construir uma casa para ti e um redil para as ovelhas.

 E, virando-se para os acompanhantes, ordenou: 

 - Senhores, trazei vestidos e joias, mandai vir pedreiros e artífices que quero uma casa aqui! E tu - acrescentando, virando-se para um deles - tu que sabes vestir e pentear, aninha a pastora! 

 Sem mais uma réplica, obedeceram os companheiros ao cavaleiro - ou seria rei? No vale do Jamor cresceu uma casa onde viveu o cavaleiro com a pastora que mandara aninhar. E à volta dessa casa surgiu, pouco a pouco, uma povoação que durante muito tempo se chamou Aninha-a-Pastora. 

 Hoje, passaram-se os anos, esqueceu-se a lenda, e Aninha-a-Pastora chama-se Linda-a-Pastora. 

Fonte:
Lendas Portuguesas da Terra e do Mar, Fernanda Frazão, disponível em Estudio Raposa

A. A. de Assis (Revista Virtual de Trovas “Trovia” – n. 154 – out 2012)




Quando o tempo em seu abraço
quebra meu corpo e tem pena,
quanto mais me despedaço
mais fico inteira e serena.
Cecília Meirelles

A primavera aos oitenta
só não está mais vazia
porque a saudade a sustenta
e é seu pão de cada dia.
Miguel Russowsky

Esperança, não me peças
que acredite em tuas juras...
 Já me cansei de promessas
e me perdi nas procuras.
 Milton Nunes Loureiro

No amor que a nós dois encanta
e, para alguns, é até “crime”,
há tanta ternura, tanta,
que mesmo errado... é sublime!...
Nádia Huguenin

Poeta, gêmeo do santo,
sofre muito e não blasfema;
faz dos gemidos um canto,
faz da saudade um poema.
Pe. Celso de Carvalho

Zerando ofensas e afrontas, 
o beijo é o mago auditor
que faz o ajuste de contas
depois das brigas de amor!
Waldir Neves

Deu-se mal em sua empresa
de pedir a mão da bela.
Era a ponte pra riqueza,
não conseguiu nem pinguela...
Alba Krishna Topan Feldman – PR

A noiva, por ironia,
na mala só vai levar
a camisola-do-dia,
que à noite... nem vai usar...
Izo Goldman – SP

– Aqui fala o cobrador.
Pague a conta. Não questione.
– Houve engano, meu senhor.
Eu nem tenho telefone!
Newton Vieira – MG

Viúvo, triste, franzino,
numa fria ele enfiou-se:
por pirraça do destino,
pela sogra apaixonou-se!...
Osvaldo Reis – PR

A cinquentona emergente
se acha culta e esclarecida:
Esforçada... persistente...
já leu um livro... na vida!
Pedro Mello – SP

Mil livros já devorei,
mas neles não achei graça: 
até hoje eu nada sei...
-– Muito prazer! Sou a traça!
Renato Alves – RJ

Toda noite sai “na marra”,
 dizendo à mulher: -”Não torra!”
 Se na rua vai à farra,
 em casa ela vai à forra!…
 Rodolpho Abbud – RJ

É sapateiro e faz “rangos”,
sem grana, não tem recatos...
– Corre aqui, quando assa frangos...
Corre lá, quando há sapatos!
Therezinha Brisolla – SP


Neste planeta avarento,
onde o “ter” é o ditador,
que triste é ver o cimento
roubar o espaço da flor!
A. A. de Assis – PR

De sua ausência estou farto;
por toda casa ela habita...
é na varanda e no quarto
onde ela mais me visita!...
Ademar Macedo – RN

Um loiro raio de sol
trouxe paz à minha vida...
Sou planta que, no arrebol,
hoje esplende renascida!
Amaryllis Schloenbach – SP

Tão certo quanto a laranja
é toda feita de gomos,
amigo bom sempre arranja
como elevar o que somos.
Amilton Maciel – SP

Meia noite... ou meio dia?
O meu relógio quebrei.
E, na minha nostalgia,
se é dia ou noite...não sei...
Angélica Villela Santos – SP

Quando você está presente,
 de imediato a vida muda...
– Você é linda, é doce, é ardente,
minha amada, minha tuda...
Bruno Pedina Torres – RJ

Quando afago teus cabelos,
como o vento afaga a flor,
tenho a esperança de vê-los,
brancos, seguidos de amor.
Carmen Pio – RS

Por te amar, tenho sofrido,
mas não me arrependo: Vem!
Quem ama as rosas, querido,
ama os espinhos também!
Carolina Ramos – SP

O vento sopra tristonho,
na solidão que me invade...
– Transforma brisa de sonho
em vendavais de saudade...
Clenir Neves – Austrália

Nosso anel só de ternura,
elo de eterno esplendor,
guarda em firmeza e espessura
toda a beleza do amor.
Conceição Abritta – MG

Se já viveste bastante,
se já sofreste também,
por certo já vai distante
o peso que a vida tem!
Cyroba Ritzman – PR

Ponha luz no seu caminho,
pinte a estrada de alegria,
deixe um rastro de carinho,
faça um mundo de poesia!
Dáguima Verônica – MG

Meia-noite, e só o que eu faço
é abraçar a solidão,
sentindo inveja do abraço
que os dois ponteiros se dão...
Darly O. Barros – SP

Beijo nas faces, carícias
– como tantas, inocentes;
mas abraços são primícias
dos desejos mais ardentes!
Diamantino Ferreira – RJ

Eu não ouço os teus conselhos
mas, quando fala a razão,
 meus pecados, de joelhos,
 imploram por teu perdão...
Dilva Moraes – RJ

Adotando os bons conselhos
das faculdades morais,
os filhos serão espelhos
da retidão de seus pais.
Djalma da Mota – RN

Vendo a descrença ao meu lado
e a esperança por um triz,
eu chego a achar que é pecado
crer na vida e ser feliz!
Domitilla B. Beltrame – SP

Cheiro de terra molhada
é convite à nostalgia
de minha infância encantada
onde morava a alegria.
Eliana Jimenez – SC

Pouco importa que tu venhas
apressado, em teu fulgor,
 pois trazes contigo as senhas
para os feitiços do amor!
 Elisabeth Souza Cruz – RJ
––––––––––––––––
Por estar na solidão, / tu de mim não tenhas dó. / Com
trovas no coração, / eu nunca me sinto só. Luiz Otávio
__________________________
Aquele sonho, tão lindo,
entre nós dois, na verdade,
era um mistério sorrindo
entre o amor e a saudade!
Eva Garcia – RN

A aurora, rubra, se espraia,
e, amanhecendo, deslumbra;
joga o seu charme na praia,
com requintes de penumbra...
Flávio Stefani – RS

Cadeira velha... esquecida,
sem dono e sem mais ninguém...
Só a saudade atrevida
reclama a ausência de alguém!
Francisco Garcia – RN

Saudade é o tempo guardado
dentro do peito da gente...
Nó que se dá, no passado,
e se desfaz no presente.
Francisco Pessoa – CE

Somente o mar é capaz,
numa beleza sem fim,
de encher minha alma de paz,
e essa paz transborda em mim!
Gislaine Canales – SC

Qual um pastor diligente
cuidando do seu rebanho,
pastoreio no presente
minhas saudades de antanho!
Gutenberg Andrade – CE

O forte nó da saudade
amarra o tempo num laço,
e aprisiona a mocidade
nas trovas de amor que eu faço.
Héron Patrício – SP

Debruçado na janela, 
vendo a vida que passou,
 fez o pintor aquarela
das lágrimas que chorou.
 Ieda Lima – RN

Eu pedi felicidades,
pedi alegrias e amor,
pedi grandes amizades,
e Deus me fez Trovador
JB Xavier – SP

O amor é o que mais importa
nos caros anseios meus:
é ponte que nos transporta
a um doce encontro com Deus.
Jeanette De Cnop – PR

Ah, relógio, meu amigo,
teus ponteiros, como correm!
O tempo voa contigo
e com ele os sonhos morrem...
Jessé Nascimento – RJ
––––––––––––––––-
A Folhinha do Sagrado Coração de Jesus e o Almanaque Santo Antônio 
(Editora Vozes), 2013, trazem um grande número de trovas. Confiram
–––––––––––––––––––––
Os meus versos se calaram,
à saudade sucumbi,
minhas lágrimas secaram
de tanto chorar por ti...
João Costa – RJ

Tanta gente em si perdida 
entre sombras se escondendo, 
cada dia é uma outra vida 
que em disfarces vai morrendo… 
José Feldman – PR

A inspiração não me veio
trazer um verso feliz,
mas em teus olhos eu leio
a trova que não te fiz.
José Lucas de Barros – RN

No inverno longo e silente
que atinge a terceira idade
há um fenômeno envolvente:
não cai neve... cai saudade.
José Messias Braz – MG

Em meus delírios te vejo
surgindo na escuridão,
toda vez que o vento andejo
bate a tranca do portão...
José Ouverney – SP

Os espíritos de escol,
exercendo a caridade,
brilham tanto como o sol,
no silêncio da humildade.
Luiz Antonio Cardoso – SP

Se caem do céu as águas,
com tanta beleza e encanto,
por que desencanto e mágoas
há nas águas do meu pranto?
Mª Conceição Fagundes – PR
––––––––––––––––––
A trova não precisa ser apenas uma quadra bonitinha. 
Pode também (e deve) dizer coisas que façam pensar.
–––––––––––––––––––
Procuro em cada jornal
– num devaneio profundo –
notícia que, afinal, 
anuncie a Paz ao Mundo!
Mª Madalena Ferreira – RJ

Sou como as uvas pisadas
pra fazer vinho e licor,
que mesmo sendo esmagadas
dão de presente o sabor.
Manoel Cavalcante – RN

Em toda esquina virada
há uma surpresa escondida;
 cada surpresa encontrada 
pavimenta essa avenida!
Mário Zamataro – PR

Saibam todos que o trabalho
ao homem bom enobrece;
mas quem não pega no malho,
seu espírito empobrece!
Maurício Friedrich – PR

Amigo eu trago guardado
 sempre com muita afeição
 naquele lugar sagrado
 que se chama coração.
Neiva Fernandes – RJ

Casa velha, quanto encanto!
 tem cobras, cupins, lagartos...
 uma história em cada canto
e fantasmas pelos quartos.
Nilton Manoel – SP

De nada vale uma imagem
de Cristo em sua parede,
se você nem tem coragem
de dar água a quem tem sede.
Olga Agulhon – PR

Ante o terror das queimadas
na floresta, com carinho,
 as árvores abraçadas
tentam proteger os ninhos.
Ruth Farah – RJ

No embalo da serenata,
 quisera ser como a lua
vestindo com tons de prata
os homens tristes da rua!
 Selma Spinelli – SP

Paraná das águas tantas,
do roxo e dourado chão,
o teu verde forma as mantas
ditosas de vinho e pão!
Sinclair Casemiro – PR

Findou a paixão intensa,
o prazer deu-se ao cansaço...
E, entre nós, a indiferença
construiu o seu espaço.
Thereza Costa Val – MG

Doce palavra vibrante,
lapidada na emoção,
é a trova um raro brilhante,
moldado na nossa mão.
Vanda Alves da Silva – PR

Lembranças de amor desfeito...
silêncio em horas tardias,
pois tua ausência em meu leito
dorme onde outrora dormias.
Wanda Mourthé – MG

Também gosto do palhaço,
mas não pela palhaçada,
e sim pelo estardalhaço
que gera na criançada.
Vidal Idony Stockler – PR

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Visite:
http://poesiaemtrovas.blogspot.com/   
http//www.falandodetrova.com.br/   
http://aadeassis.blogspot.com/

Fonte:
A. A. de Assis

Constança Lucas (Poemas)


PALAVRA

Perdi-te sem nunca te saber
 envelhecemos os sons
 cansada de maus usos
 embarcou para terras velozes
 não soubemos cochichar
 nos abraços que ardiam
 por inventarmos alguém
 para sabermos perder
 perdi-te vontade de falar
 nesta cadência muda

“FOI NUM ADEUS…”

Foi num adeus que mais te amei
 nas nossas mãos as cores cantaram
 numa harmonia de saudades futuras
 nos quereres contorcidos em ondas quentes
 onde o lenço imaginado corria pelo vento
 nas ruas da nossa cidade encantada
 só de palavras e afeições longas
 olhávamos as folhas em silêncio
 por tanto querermos os toques
 em arrepios de ternuras
 lânguida corri pelo teu corpo
 por nada nele deixar de querer
 fiquei embevecida com o teu canto
 por infinitos tempos das nossas peles

“SONHO”

Escuta este sonho não é para ti
 ele pertence-me
 não desisto do meu medo
 da minha alegria
 da minha amargura
 de querer que acabe a realidade
 tudo me cansa
 tão profundamente
 quando me querem invadir
nos meus sonhos
 mesmo não os conhecendo

E por vezes quero que me deixem
 ver o mundo
 mandar a realidade tomar banho
 mudar de cheiro
 deixar de me perseguir
 nesta angústia de nada poder
 e ao mesmo tempo saber
 que tanto posso

Sonho nas noites
 de dias sem tempo
 acordada ou mesmo a dormir
 sempre num parque
 de cores caídas
 nesta nossa casa
 tão nossa
 mas os sonhos
 alguns são só meus
-
DO OUTRO LADO DO VIDRO

Pela janela, um rubor de nuvem,
 alguém sem articulação, rabisca,
 do outro lado do vidro, lá em baixo
 observo-o como quem não entende

Sinto falta de mais árvores
 a calçada tem um dono
 que não gosta das folhas
 e o rapaz rabisca como quem marca
 um território fictício

AS MÃOS

ardes em febre de eletricidade
 por esconderes almas
 de ti e por ti desenho
 contigo aprendi a desejar
 o que só dentro de mim existe
 as palavras crescem,
 em teus dedos amáveis
 para depois esquecermos
 o silêncio triste

TENS SIDO

Tens sido um ás nessa de protocolos 
acho que me contagiei 
Vales pelos sorrisos provocados 
pelas tuas e pelas minhas palavras 
não de entrelinhas, sem linhas mesmo 
cada palavra escrita 
talvez não fossem nunca ditas 
Vales pelas provocações 
dos conhecimentos de mundos 
onde o convencional perde lugar 
mas está presente 
Vales pelo pedaço de coração 
que roubastes 
sem saber onde o colocar 
anda no firmamento 
Vales assim nesta amizade 
que sem tempo vive 
sem lugar cresce 
com carinho segue 
Vales pela liberdade 
de conhecer e não concordar 
Vales pela diferença 
num mar de águas comuns 
Valho por assim sentir,
mesmo assim saber dizer-te 
sem medos demasiados 
mas com a vida pulsando 
neste mundo tão torto 
Oiço is a beautiful day 
de bem com os meus sentimentos 
saberás dizer-me mais de ti sem protocolos

Fontes: