sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Carlos Leite Ribeiro (Casa de Fantasmas) Comédia Teatral - Parte 1

Como era habitual às quintas-feiras, em casa do Sr. Coronel Ramalho (grande herói das campanhas do tempo em que os ventos lutavam contra os moinhos),reunia-se um grupo de amigos para um animado e silencioso serão a jogar às cartas.

O salão onde esses serões se realizavam era amplo, tendo ao centro uma mesa rectangular, e em sua volta, seis cadeiras também do estilo Luís XV, assim como o aparador e a cristaleira que a ladeavam. No tecto, um lustre de metal e vidro, do mesmo modelo dos quatro apliques situados em paredes diferentes, assim como várias molduras com fotografias de familiares, destacando-se entre elas, uma enorme fotografia do austero pai do Sr. Coronel Ramalho, conhecido na época como comerciante de vinhos a granel, com os seus grandes e torcidos bigodes, situada em frente onde habitualmente a Dona Augusta, a esposa do Sr. Coronel Ramalho, fazia a sua renda (ou malha), junto a uma das duas janelas do salão. Ao fundo colocado ao meio da parede, situava-se um enorme e barulhento relógio que marcava até os quartos de hora, ficando por baixo uma vitrina onde o Sr. Coronel conservava orgulhosamente as suas condecorações e algumas armas antigas, algumas das quais das guerra napoleónicas.

Este salão tinha três portas: uma com acesso às escadas que, descendo, davam para a rua; subindo, davam para o sótão onde a criada tinha o seu quarto, junto à sua casa de banho e despensa da casa; outra porta dava para um corredor que ligava à cozinha; e uma terceira para o quarto do casal.

Os convidados para o serão desse dia (que por sinal eram sempre os mesmos), ou seja, o Sr. Capitão Ribeiro, o Sr. Alferes Marques e o Sr. Sargento Humberto, ainda não tinham chegado.

Mais tarde apareceram dois encapuzados, completamente desconhecidos, nem se chegando a saber de onde vieram…

Entretanto, a criada, a Carmo (uma jovem lisboeta que dizia ter vinte cinco anos) aproximou- se da patroa, de nome Augusta...

Carmo: Minha senhora, por favor... Dona Augusta, dá-me licença?

Augusta: Levantando os olhos de um bordado que estava a fazer, por fim, respondeu para a criada: Entra, entra Carmo. Diz lá o que queres?

Carmo: Minha Senhora, tenho de ir ao supermercado fazer umas compras, pois, são quase vinte horas e depois eles fecham. A senhora quer que pague a dinheiro?

Augusta: Ai não!... pois… não tenho dinheiro trocado... Eles que assentem na minha conta, que depois pago. Mas, Carmo, não te demores, e não te esqueças que hoje é quinta-feira, e os convidados não tardam aí a chegar...

Carmo: Eu não vou demorar mesmo nada, Dona Augusta, fique tranquila.

Augusta: Então vai lá, pequena...

Pouco depois da criada ter saído, toca a campainha da porta...

Augusta: Quem será que está a tocar à porta? A Carmo não deve ser. Só se esqueceu alguma coisa…

A campainha volta a tocar, desta vez mais prolongadamente…

Augusta: - Não toque mais, pois eu vou já abrir...

Ao abrir a porta, a Dona Augusta teve uma grande surpresa, pois à sua frente estavam três homens encapuçados.

Augusta: Mas...mas quem são os senhores, o que me querem? Por favor não me empurrem, estou em minha casa. Não me empurrem...!

1º Encapuzado - Mulher, está caladinha, senão... olha esta faca. Deixa-nos passar e senta-te aí nessa cadeira, sossegadinha...

2º Encapuzado - Raio da mulher não está quieta. Rápido, amigo, amarra depressa esta "fera" aí a essa cadeira...

Augusta: Ah, mas quem são os senhores?!...

2º Encapuzado - Está quieta e cala-te! Tem muita calma, pois só queremos falar um pouco contigo. Está sossegada, mulher... Tem juizinho nessa cabeça, senão...

1º Encapuzado - Já te dissemos para estares quieta e deixares de chorar! Nós só queremos falar contigo... Olha que é um assunto que te interessa muito...

Augusta: Eu vou estar quietinha, mas por favor não me empurrem, nem me agarrem... Por favor...

2º Encapuzado - E ela não se cala nem está sossegada, hei... Ó mulher, ainda te mato. Ouviste bem? Ainda te mato!

Augusta: - Mas quem são vocês? Por favor, digam-me... O que é vocês querem de mim?!...

1º Encapuzado - Assim está bem. Continua calminha, pois, só queremos mostrar-te umas fotografiazinhas que temos aqui...

2º Encapuzado - E são fotografias de uma pessoa que tu deves conhecer muito bem... Vá lá, não vires a cara para o lado... Não te armes em pudica! Olha! Olha!...

1º Encapuzado - Abre, abre, não feches os olhinhos... Vê, vê... Por acaso, não conheces esta mulher que está toda nua... Deitada na cama com este homem?!... Não me digas que a não conheces? Vá lá, faz um esforçozinho de memória!...

Augusta: Mas... Mas eu não conheço essa mulher... juro por tudo que não a conheço ! Juro que a não conheço, mas larguem-me, larguem-me...

2º Encapuzado - Não nos tentes enganar, pois esta mulher é mesmo tu - tu, ouviste bem? Ou será que não te conheces a ti própria?!...

1º Encapuzado - Não te faças de tolinha, pois connosco, isso não pega - espertinha!

2º Encapuzado - Ó mulher, deixa-te de tretas, pois é melhor entrares em acordo connosco. Pensa bem e rapidamente, e não queiras fazer nenhuma asneira...

Augusta: Mas eu já vos disse que esta mulher que está nesta fotografia toda nua, não sou eu!... Volto a jurar por tudo, que não sou eu que, está aí toda nua!

2º Encapuzado - Ah, ah... És tu, és, não me consegues enganar, e por favor não me faças perder a paciência. Senão, daqui a pouco corto-te o pescoço... Assim...!!!

1º Encapuzado - Tem calma, amigo, pois deves ter uma certa paciência com esta mulher... E tu aí, mulher, para não ficares com o teu pescocinho cortado, é melhor resolveres entrares em acordo connosco. Senão, como deves calcular, o teu maridinho, o Sr. Coronel, vai saber tudo, tim-tim por tim-tim!!!...

2º Encapuzado - Como já deves calcular, a nós, não nos custa nada... Mas mesmo nada, fazer isso! Amigo, talvez seja melhor mostrar-lhe novamente as fotografias...

Augusta: Eu não sei como é que vos hei-de fazer crer que esta mulher que está aqui, nesta fotografia, não sou eu!!! Juro que não sou eu! Só se for... Só se for... A minha irmã - gémea, que se chama Liza. Já há muitos anos que a não vejo. Só se for ela.

2º Encapuzado - Já te disse que não venhas com essa mentira! És tu, tu, e só tu - e está tudo dito !!! Percebeste?

Augusta: Ai que vida a minha! Já vi que não adianta discutir com vocês... Mas, finalmente, o que é que vocês querem de mim? Mais uma vez vos digo que não sou eu...

1º Encapuzado - Já te disse para estares quieta e cala-te... Como já vimos que és boa mulher, vamos fazer umas continhas, e assim, por estas fotografias... sim, por estas fotografias só te vamos levar...

2º Encapuzado - Digamos... Dez mil e quinhentos euros!

1º Encapuzado - Como vês, é uma verdadeira pechincha: só dez mil e quinhentos euros. Até devia ser mais qualquer coisinha…

Augusta: Mas o que é que vocês estão p'ra aí a dizer? Dez mil e quinhentos euros, é pouco dinheiro? Olhem que eu nunca tive tanto dinheiro junto e em meu poder! Vocês são uns escroques, uns chantagistas...

2º Encapuzado - Toma mas é cuidadinho com essa língua, pois senão já sabes que te corto o teu lindo pescoço.

Augusta: Ai credo, homem!... Que aflição... Tire-me essa faca daqui do meu pescoço!... Ai o meu coração...

1º Encapuzado - Não te enerves, mulher, olha o teu coração... Nós não desejamos que você morra, antes de nos dar o dinheiro...

Augusta: Ai, o meu pobre coração até parece que vai rebentar!... Ai...

1º Encapuzado - Deixa lá o coração e vamos lá ao que mais interessa: tens ou não os dez mil e quinhentos euros? Se não tens, vai ao cofre do teu marido, o Sr. Coronel, pois ele deve ter lá muito dinheiro...

Augusta: Mas não é possível, pois eu nunca roubei nada a ninguém, e muito menos ao meu marido. Vocês estão doidos...

2º Encapuzado - Não me venhas cá com esses argumentos, pois para nós não pega. Vai depressa ao cofre e traz rapidamente o dinheiro. Vá lá, rápido!...

1º Encapuzado - E para tua orientação, enquanto não nos entregares o dinheiro, ficaremos cá em casa a fazer distúrbios. E tu nem calculas os distúrbios que somos capazes de fazer...

Augusta: O que vocês estão p'ra aí a dizer? Que ficam cá em casa? Mas onde?...

1º Encapuzado - Onde não interessa. Mas podes ter a certeza que ficaremos cá até recebermos a massinha toda. Não faças essa cara de espantada e nem tentes brincar connosco...

2º Encapuzado - E toma bem atenção: se por acaso tentares denunciar-nos, já sabes o que te vai acontecer: pescoço fora!

Neste momento toca novamente a campainha da porta …

1º Encapuzado - Amigo, espreita aí pelo óculo da porta... O que é que vês?

2º Encapuzado - É a criada. Olha que a «mamífera» tem cá um "cabedal" de género avião... Ai que bom... bonzinho... Ai... Que gatinha! Estou a ficar cheio de comichões…

1º Encapuzado - Deixa-te de parvoíces. Vamos esconder-nos atrás daquele sofá... Rápido e sem barulho. Cuidado não tropeces nesse fio... Esconde-te... Rapidamente…

2º Encapuzado - E tu aí "menina"... Olha para aqui para mim... Assim... Se não colaborares connosco, já sabes o que te acontece aos teu lindo pescoço... Olha que não somos para brincadeiras...

1º Encapuzado - E toma atenção: diz à criada que faça qualquer coisa que se coma, pois estamos esfomeados! Ela que faça um bom petisco para nós... Não te esqueças!

2º Encapuzado - Agora “menina”, vai lá abrir a porta, mas com juizinho...
Augusta: É inacreditável o que me está a acontecer... Eu nem quero acreditar!... Deve ser um sonho mau...

Falando um pouco mais alto, prepara-se para abrir a porta...

Augusta: Quem é?... Quem é que está aí a bater à portaaa?...

Carmo: Sou eu, minha senhora, a Carmo.

Augusta: Até que enfim que chegaste! Sempre que vais fazer compras, até parece que levas uma cadeirinha atras de ti... Deves dar um grande desgaste à tua língua ao falares tanto com as vizinhas...

Carmo: Mas, a senhora deve de estar enganada, pois desta vez quase que não me demorei nada. Fui num pé e vim noutro.

Augusta: Olha que não me parece. A mim, pareceu que demoraste quase uma eternidade. Olha, vai para a cozinha e prepara... Deixa cá ver...talvez uns pastelitos de bacalhau e, bem fritinhos...

Carmo: Pastéis de bacalhau a esta hora?...

Augusta: Não compreendo a tua observação, pois, a qualquer hora, podemos ter vontade de comer pastéis de bacalhau!

Carmo: A senhora é que manda. Vou já preparar meia dúzia de pastéis...

Augusta: Só meia dúzia?! São poucos! Nem calculas a fome que eu tenho. Prepara pelo menos uma dúzia e meia ou mesmo duas dúzias, de pastelinhos e bem fritinhos, não te esqueças.

Carmo: Não sabia que a senhora tinha deixado de fazer dieta para o tal regime de emagrecimento, que tanto falava! Isto de ser criada, tem muito que se lhe diga!

Quando a criada já se encontrava na cozinha, toca novamente a campainha da porta.

Augusta: Carmo, vai abrir a porta; ainda não ouviste a campainha?
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continua…

Fonte:
O Autor

Simone Borba Pinheiro (Ciranda da Amazonia) Parte 3

DUDU CRUZ
Eu não tenho nada a ver com a Amazônia...

-
 Quem diz que não tem nada a ver com a Amazônia hoje
 Com certeza amanhã não terá nada para ver em toda a Terra.
 A natureza não renasce das cinzas...
 Precisamos parar de criar cinzas!
 Precisamos cuidar da natureza como uma Senhora querida que cai.
 Naturalmente, devemos esticar o braço dar a mão para ajudar a Natureza a se levantar!
 Ela, com certeza, agradecerá por nossa atitude nos dando a sua beleza!
 E nós, agradeceremos por tê-la novamente de pé, com toda sua Graça!
 A Natureza é Graça de Deus materializada!
 Pessoas que não acreditam em Deus, acreditam que a Natureza seja uma Senhora a ser amada.
 Por isso, você tem que ver hoje como fazer para salvar a Amazônia, para não admitir amanhã, que não há mais nada a fazer para ver a Natureza viva.
-
EFIGÊNIA COUTINHO
Prece Da Paz Ambiental

-
 É nesta Floresta aqui, onde me
 ajoelho, e para me unir, também
 eu, modesta criatura do meu
 Planeta, edificando minha
 Prece Universal. Onde calco
 com meus joelhos todas essas
 folhas mortas, que se acumulam,
 de geração em geração, umas
 sobre as outras, para servirem de
 humidade sobre a terra, cedendo
 lugar ás suas novas e majestosas
 folhas. São as folhas verdes do
 alto de seus ramos, que cantam
 a canção da vida, que não repousa nunca!

 E as folhas secas debaixo, e sobre as
 quais pousam os meus pés e os meus
 joelhos, murmuram ao meu ouvido a
 PRECE DA PAZ AMBIENTAL...
-

SILVIA GIOVATTO
Pulmão do Mundo


 SOS, queremos respirar!
 o pulmão do mundo está ameaçado,
 estão destruindo a nossa floresta amazônica,
 como se não bastasse a poluição do ar, estão tirando
 a nossa chance de vida que vem das matas.
 Pouco a pouco a Amazônia vai se a acabando,
 destruída pelas mão de seres humanos... será?
 Fica aqui o meu pedido de socorro.
 alguém tem de acordar e resolver esse problema
 que afeta o mundo.
 Não precisamos encher nosso pulmão de ar,
 com substancias medicamentosas através de inalação,
 precisamos de ar puro, vindo das árvores, das matas....e
 isso nós tínhamos, quando a ganância do homem não existia.
 O homem está se destruindo e tirando das nossas crianças
 a chance de respirar, de viver...
 Não cortem as nossas árvores, não queimem as nossas matas,
 por caridade, não destruam o nosso planeta...
 você pode ter vantagens com isso, mas está destruindo a sua vida,
 a nossa vida, a vida dos nossos animaizinhos...
 Não destrua, construa!
 Não derrube, plante!
 Não mate, dê chance de vida a quem quer viver!
 Nós precisamos de ar puro...você também precisa!
 Não use suas mãos para destruir, elas serão mais úteis na construção.
 Pense nisso... e por favor...
 Pare agora, com essa destruição.
-

FERNANDO REIS COSTA
Mãe Natureza


 Ó estirpes que se extinguem da beleza
 Que a mãe Natureza ao homem deu!
 Vemos hoje que a própria Natureza
 Está sendo destruída… e se perdeu!

 E o homem, ambicioso e com frieza,
 Quer mais e muito mais em cada dia:
 Destrói cada vez mais a Natureza
 Buscando tostões na tecnologia!

 Lembremos a paisagem, outrora linda;
 Hoje… terra de cinzas, tão queimada;
 No ar, o oxigénio quase finda…

 E se a destruição continuar ainda
 No ritmo que leva, acelerada…
 O homem-suicida fica “nada”!
––––

GLADYS OVADILLA
Amazônia

 Amanecía en la amazónica,
 Con sus tintes de colores,
 Mirando en silencio,
 En la orilla azotaba el agua,
 Color león con fuerza,
 Meditando escuche el
 Bullicio de las aves,
 Prolongando su vuelo,
 Recuerdo caminar en redomona,
 Mis pies parecían quebrarse,
 En medio del lodazal,
 Quede petrificada, no veía más
 Que árboles y pastos,
 Tacita quede hasta el hartazgo,
 La claridad deteniéndome asustada,
 Los maravillosos árboles talados,
 ¡Señor de los cielos! no puede ser,
 Tedioso en el paseo vi. árboles caer,
 Sin retaceo temí lo peor, lo encontré,
 La tierra vacía sin quejas,
 Se robaron el monte Mister,
 Desigualando el clima y al indígena,
 Su habitad infalible de tanto siglos,
 Osadía, los verdugos traficantes,
 Los montes con sañas se llevaron,
 ¡Vuelven por más! A cegarlos todos,
 El obraje oscurecido secuestro el aire,
 Cambio el clima, los vientos, y el agua misma,
 No son nubes pasajeras, son aguacero,
 Torrentosos interminables, que corren por
 Las ciudades incalculables,
 Al mundo globalizado, estamos perdiendo,
 Por culpa de la amazona que esta muriendo,
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HERMES JOSÉ NOVAKOSKI
Amazônia! Quem Te Ama?

 Te destruímos, queimamos
 Derrubamos tua riqueza
 Nós não mais te amamos
 Queremos apenas tua nobreza

 Teus rios nós os poluímos
 As fontes estão secando
 As aves nós as matamos
 Com os animais acabamos

 Tua grandeza e imensidão
 Ainda não entendemos
 O bem que tu nos fazes
 Ainda não percebemos

 Nem os teus filhos te amam
 Destroem o que vêem pela frente
 Eles não sabem ainda
 Que te destruindo, destroem muita gente

 Deixamos as marcas da destruição
 Porque queremos enriquecer
 Tua morte não será em vão
 Contigo vamos perecer

 Perdoa-nos Amazônia! Não te amamos como mereces
 Em vez de te tratar como um rei, uma rainha
 Te fazemos sofrer para que seques e desapareças
 Não nos importa a vida, mas as riquezas que tinhas

 Os que te amam contigo choram
 São poucos, mas são nossos amigos
 Lutam para te defender do malvado e imploram
 Que tu tenhas piedade e não envies castigos

 Seguirás o teu ciclo
 Nós sofremos as consequências
 O homem é o pior dos bichos
 Que destrói por prepotência

 Os que te amam pensam em ti e em si
 Pois sabem que sem o ar, a água, a biodiversidade
 A vida vai aos poucos se extinguir
 Marcas do capitalismo e egoísmo: a infelicidade

 Pensar em ti é pensar no futuro
 Que tu nos garantirás
 Uma vida livre, sem muros
 A liberdade em fim reinará.

Fonte:
http://www.familiaborbapinheiro.com/ciranda_amazonia.htm

Monteiro Lobato (A Reforma da Natureza) Capítulo 10 – A volta de Dona Benta

No dia marcado, ali pelas dez horas da manhã, Emília e a Rãzinha ouviram rumor de automóvel na estrada. Correram à varanda. Vinha vindo uma porção de carros, com Dona Benta, tia Nastácia e os meninos no da frente.

Ao entrarem no terreiro Emília adiantou-se para recebê-los. Os homens da Comissão apearam e despediram-se de Dona Benta com muitas palavras de agradecimento e amabilidades.

- Pois é isso - disse-lhes a boa velha. - Sigam lá na Europa as minhas instruções que tudo dará certo. Adeus, adeus! Mil recomendações ao Rei Carol e ao Duque e à Duquesa de Windsor - gostei muito dela. E digam ao Mussolini e ao Hitler que apareçam quando puderem, para um passeio no Quindim. Adeus, adeus!

Os automóveis da Comissão partiram na voada.

Depois que desapareceram lá na curva, Dona Benta entrou para a saleta com os meninos e tia Nastácia foi para a cozinha. Mas ...     que era aquilo? Não estavam reconhecendo a velha saleta da entrada.

Tudo esquisito, tudo diferente.

- Que é isto, Emília? Que significam estas mudanças?

Emília contou tudo.

- Eu reformei a Natureza - disse ela. - Sempre tive a idéia de que o mundo por aqui estava tão torto como a Europa, e enquanto a senhora consertava a Europa eu consertei o sítio.

- Consertou o sítio?!... - repetiu Dona Benta sem entender coisa nenhuma. - Que história é essa?

Narizinho interveio:

- Eu bem disse, vovó, que ela queria ficar sozinha para fazer coisas malucas. Fui lá ao meu quarto e encontrei a cama pendurada no forro, imagine ! ...

- E eu - disse Pedrinho entrando - fui á biblioteca e encontrei os seus livros cheirando a alho e cebola. Abri um, provei; gosto de sopa; páginas adiante, gosto de carne assada ...

O assombro de Dona Benta não tinha limites e por mais que Emília explicasse ela ficava na mesma.

Súbito, deu com a Rãzinha.

- Quem é esta menina? - perguntou.

- É a Rã.

- Que rã?

- A Rãzinha da Silva, minha amiga do Rio, que veio ajudar-me na reforma da Natureza.

O assombro de Dona Benta crescia, e cresceu ainda mais quando tia Nastácia apareceu aos berros.

- Sinhá, Sinhá, está tudo esquisito lá na cozinha ! Pus o leite no fogo; assim que começou a ferver, assobiou!...

- Assobiou, o leite, Nastácia?

- Sim, Sinhá, assobiou, e o fogo no mesmo instantinho apagou por si mesmo. Aquilo está com feitiçaria, Sinhá. Andou alguma bruxa por aqui...

- A bruxa é ela - disse Narizinho apontando para Emília. - Diz que reformou a Natureza ...    

Dona Benta não voltava a si do espanto.

- Mas que absurdo, Emília, reformar a Natureza! Quem somos nós para corrigir qualquer coisa do que existe? E quando reformamos qualquer coisa, aparecem logo muitas conseqüências que não previmos. A obra da Natureza é muito sábia, não pode sofrer reformas de pobres criaturas como nós. Tudo quanto existe levou milhões de anos a formar-se, a adaptar-se; e se está no ponto em que está, existem mil razões para isso.

- Não acho! - contestou Emília cruzando os braços. - A obra da Natureza está tão cheia de "bissurdos" como a obra dos homens. A Natureza vive experimentando e errando. Dá cem pés á centopéia e nem um para as minhocas - por que tanta injustiça? Faz um pêssego tão bonito e deixa que as moscas ponham ovos lá dentro e dos ovos saiam bichos que apodrecem a linda carne dos pêssegos - não é uma judiação? Veste os besouros com uma casca grossa demais e deixa as minhocas mais nuas do que a careca do Quindó - isso é erro. Quanto mais observo as coisas mais acho tudo torto e errado.

Mas sem demora começou a ser desmentida. Um tico-tico entrou na sala e disse com muito desespero para Dona Benta:

- Minha boa senhora, livrai-me do que a Emília fez em mim. Transformou-me em passarinho ninho, com ovos às costas, e isso tem sido uma atrapalhação medonha, porque não me deixa voar com desembaraço, e desse modo não consigo escapar aos meus perseguidores.

- Que história de passarinho-ninho é essa? - perguntou Dona Benta, e quando soube de tudo abriu a boca. Era demais a ousadia da Emília. Alterar daquele modo a Natureza! Mudar as coisas que levaram milhões de anos para se equilibrarem ...     E agarrando o tico-tico desfez-lhe o ninho das costas e guardou os três ovos para pô-los no ninho natural que ele fizesse pêlo sistema antigo.

Estava ainda a lidar com a pobre ave, quando Pedrinho apareceu de novo, muito assustado.

- Vovó, o que aconteceu aqui no sítio parece até um sonho! Encontrei Quindim completamente transformado, com couro de palhinha, a Branca de Neve com os anões pintados no casco, quatro pernas diferentes, cem rabos, e em vez de chifre uma seta de Cupido com um coração na ponta. Imagine! Não dá a menor idéia dum bicho possível !...

A boca de Dona Benta abriu de caber dentro uma laranja.

- E o Rabicó, então? - continuou Pedrinho.

- Está com cauda de cachorro lulu, toda frisadinha, e só com dois pés - e pés de tartaruga. E com uma ratoeira no focinho e um lenço automático no nariz!...

- Sinhá! Sinhá! - voltou tia Nastácia berrando. - O mundo está perdido. Já não entendo mais nada. Fui ver a Mocha e sabe o que encontrei? Um bicho sem propósito, com a cauda no meio do lombo, chifre de saca-rôlha com bola de borracha na ponta, e as tetas fora do lugar, com duas torneirinhas, Sinhá, imagine! E o chão anda cheio de moscas sem asa. E um pernilongo cantou no meu ouvido uma música tal e qual aquela que lá na Conferência sêo "Churche" mandou os músicos tocarem para a senhora ouvir – direitinho! Eu não fico mais nesta casa nem um minuto. Isto virou "hospiço" de feiticeiros, Sinhá! Tudo atrapalhado, sem jeito. Ninguém entende nada de nada. Fui encontrar a sua cadeirinha, Sinhá, pregada lá no forro! Subi na escadinha de lavar vidraça, peguei a cadeira pela perna e puxei - e quem disse da cadeira descer? Parece que está pregada no forro com elástico. A gente larga dela e ela sobe outra vez.

- É a força centrípeta - explicou a Rã.

- Centrífuga - corrigiu Emília - e contou a história da supressão do peso.

Tia Nastácia passava a mão num galo que tinha na testa. A negra estava verdadeiramente zonza.

- E ainda tem mais, Sinhá - disse ela. - Imagine que me sentei debaixo da jabuticabeira, e sabe o que aconteceu? De repente uma coisa enorme caiu lá do alto em cima da minha cabeça. Era uma abóbora, Sinhá! Uma abóbora deste tamanho! Fiquei tonta uma porção de tempo, nem sei como não morri. As abóboras andam agora nas jabuticabeiras, Sinhá. Veja que "bissurdo."
-------
continua...

Folclore dos Estados Unidos (Lenda Indígena Abenaki: História da Criação e A Importância de Sonhar)

Grande Espírito, em um tempo não conhecido por nós olhou aproximadamente e não viu nada. Sem cores, sem beleza. Tempo ficou em silêncio na trevas. Não havia nenhum som. Nada poderia ser visto ou sentido. O Grande Espírito decidiu preencher esse espaço com luz e vida.

De seu grande poder, ele comandou as faíscas da criação. Ele ordenou Tolba, o grande da tartaruga para vir das águas e tornar-se a terra. O Grande Espírito moldou as montanhas e os vales nas costas de tartaruga. Ele colocou as nuvens brancas no céu azul. Ele ficou muito feliz e disse: "Tudo está pronto agora. encherei este lugar com o movimento feliz da vida. "Ele pensou e pensou sobre que tipo de criaturas que ele faria.

Onde é que eles vivem? O que eles fariam? Qual seria o seu propósito ser? Ele queria um plano perfeito. Ele pensou tanto que ficou tão  cansado e adormeceu.

Seu sono foi cheio de sonhos de sua criação. Ele viu estranhas coisas em seu sonho. Ele viu animais rastejando sobre quatro patas, alguns em duas. Algumas criaturas voando com asas, alguns nadavam com barbatanas. Lá  haviam plantas de todas as cores, cobrindo o chão por toda parte. Insetos zumbiam ao redor, os cachorros latiam, os pássaros cantavam, e os seres humanos chamados uns aos outros. Tudo parecia fora do lugar. O Grande Espírito pensou que ele estava tendo um sonho ruim. E pensou que nada poderia ser este imperfeito.

Quando o Grande Espírito despertou, viu um castor mordiscando um ramo. E percebeu o mundo de seu sonho tornou-se sua criação. Tudo ele sonhou havia se tornado realidade. Quando ele viu o castor fazer a sua casa, e uma represa para fornecer uma lagoa para a sua família  nadar, então ele sabia que cada coisa tem o seu lugar, e fim no tempo.

Tem sido dito entre o nosso povo de geração em geração. Não devemos questionar nossos sonhos. Eles são a nossa criação.

Fonte:
Toca da Morgana

Guilherme de Azevedo (Alma Nova) XIV

foi mantida a grafia original.
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OS PALHAÇOS

Heróis da gargalhada, ó nobres saltimbancos,
Eu gosto de vocês,
Porque amo as expansões dos grandes risos francos
E os gestos de entremez,

E prezo, sobretudo, as grandes ironias
Das farsas joviais.
Que em visagens cruéis, imperturbáveis, frias.
À turba arremessais!

Alegres histriões dos circos e das praças,
Ah, sim, gosto de vos ver
Nas grandes contorções, a rir, a dizer graças
De o povo enlouquecer,

Ungidos pela luta heroica, descambada,
De giz e de carmim,
Nas mímicas sem par, heróis da bofetada,
Titãs do trampolim!

Correi, subi, voai num turbilhão fantástico
Por entre as saudações
Da turba que festeja o semideus elástico
Nas grandes ascensões,

E no curso veloz, vertiginoso, aéreo,
Fazei por disparar
Na face trivial do mundo egoísta e sério
A gargalhada alvar!

Depois, mais perto ainda, a voltear no espaço,
Pregai-lhe, se podeis,
Um pontapé furtivo, ó lívidos palhaços,
Luzentes como reis!

Eu rio sempre, ao ver aquela majestade,
Os trágicos desdéns
Com que nos divertis, cobertos de alvaiade,
A troco duns vinténs!

Mas rio ainda mais dos histriões burgueses,
Cobertos de ouropéis,
Que tomam neste mundo, em longos entremezes,
A sério os seus papéis.

São eles, almas vãs, consciências rebocadas,
Que enfim merecem mais
O comentário atroz das rijas gargalhadas
Que às vezes disparais!

Portanto, é rir, é rir, hirsutos, grandes, lestos,
Nas cómicas funções,
Até fazer morrer, em desmanchados gestos,
De riso as multidões!

E eu, que amo as expansões dos grandes risos francos
E os gestos de entremez,
Deixai-me dizer isto, ó nobres saltimbancos:
Eu gosto de vocês!

A HIDRA

Há muito que desceu das orientais montanhas
A hidra singular que espalha nas ardências
Duma luta febril cintilações estranhas!

Ela galga, rugindo, às grandes eminências,
E enquanto vai soltando o silvo pelo espaço
Engrossa à luz do sol na seiva das consciências.

Tem rijezas sem par, como de roscas de aço
E corre descrevendo em giros caprichosos
Na leiva popular um indefinido traço.

Prefere aos antros vis os focos luminosos
E em mil voltas cruéis aperta dia a dia,
Numa longa espiral, os tronos carunchosos.

Passou pelo país da cândida Utopia:
Nos míticos rosais viveu dum vago aroma
Ao pálido fulgor da aurora que rompia.

Mas hoje com valor em toda a parte assoma,
E sem temer sequer a lúgubre viseira
Há muito que transpôs os pórticos de Roma.

E os Papas mais os reis sentindo-a na carreira
Do seu longo triunfo, um tanto apavorados,
Trataram de acender a lívida fogueira.

E ao galope lançando os esquadrões cerrados
Começaram depois, na terra, a persegui-la,
A cúmplice fatal dos lívidos Pecados!

Mas ela sem temor, nos cérberos tranquila,
Derrama cada vez mais belos e fecundos
Os intensos clarões da lúcida pupila,

E enquanto a imprecação de tantos moribundos,
Os déspotas cruéis, acolhem com desdém,
A hidra imensa — a Ideia — a farejar nos mundos
Ainda a garra adunca afia contra alguém!

Marciano Lopes (A Poética do Solarium, de Rodrigo Garcia Lopes)

Solarium, primeiro livro individual de Rodrigo García Lopes, reúne o fruto de mais de dez anos de caminhada poética, o que explica a variedade de influências e identidades literárias muitas vezes contraditórias – entre as quais se encontram poetas ingleses e americanos, incluindo a geração beatnik e autores mais contemporâneos, como Sylvia Plath (de quem é tradutor); os poetas fundadores da modernidade, tais como Baudelaire, Mallarmé e Rimbaud (de quem também é tradutor); o concretismo brasileiro e a poesia oriental, representada principalmente pela poética do haicai. E na alquimia resultante de todas estas leituras, duas grandes vertentes temáticas se sobressaem em seu livro de estréia: por um lado, uma poesia que tematiza o caos da modernidade, trazendo à tona os conflitos e a barbárie do mundo urbano, massificado pela tecnologia e pelo mercado; por outro, uma poesia que recusa a massificação e o narcisismo comuns ao homem moderno, buscando na filosofia do zen-budismo o caminho reto para a iluminação e a ascese. Nas próprias palavras de Rodrigo Garcia Lopes (1996, p. 139-140), é possível afirmarmos que a tensão dominante em sua poética resulta, em parte, do “diálogo entre o impulso apolínio à forma-objeto de Mallarmé e o impulso dionisíaco à imagem-música de Rimbaud”, nos quais se encontram dois dos principais procedimentos (não antagônicos, em sua opinião) da poética contemporânea.
  
Dioramas e Polaróides

Nas duas primeiras partes de Solarium – intituladas “Dioramas” e “Polaróides” – predomina uma poesia sintética e racionalmente elaborada que busca uma linguagem poética autônoma, pois regida por uma sintaxe própria que valoriza principalmente o espaço em branco da página – conforme a lição pioneira que Mallarmé nos deu com seu poema Un coup de dés jamais n’abolira le hasard.

Em vários poemas, como Phanums, Outro outono, Zen Breakfast Club, Morning Glory e Tempestade invisível, encontramos a eleição de uma sintaxe espacial resultante de diferentes direções, sentidos e configurações da composição tipográfica no branco da página; e associado a esse primeiro passo rumo à desintegração do verso e da sintaxe linear através de uma “subdivisão prismática das idéias”, também encontramos o recurso da desintegração e do recorte das palavras, que e. e. cummings utilizava de maneira a ampliar-lhes o potencial significativo – conforme se vê no poema Não minto.

O predomínio da visualidade que estamos apontando na utilização de diversos recursos gráficos e espaciais em substituição à linearidade discursiva também nos remete ao concretismo, presença marcante nestas duas primeiras partes que compõem Solarium e que encontra uma bela realização artística no poema snow here. Nele, as letras da palavra neve (snows) são dispostas na página de maneira a representar visualmente o movimento de queda dos flocos de neve. À medida que se aproximam do solo/pé da página, os flocos maiores, que são as palavras, vão se desintegrando e assumindo novas formas-flocos que geram novas palavras e significados, pois as letras, soltas no branco da página, dançam um balé, ora se separando, ora se juntando, de modo a produzir novas e conflitantes palavras e significações. Paradoxalmente, a neve (snows) que cai agora (now), cai aqui e em algum/nenhum lugar (nowhere).
  
Seguindo a trilha que privilegia a significação através da imagem em detrimento da lógica linear, também é recorrente na poesia de Rodrigo G. Lopes o recurso ao ideograma. Um bom exemplo é o poema peônias negras, formado por sete haicais que, seguindo a  tradição oriental, desenvolvem seus temas a partir de imagens da natureza. Imagens que, nesse caso, constituem metáforas da transitoriedade da vida e das coisas:

peônias negras
serenas
quase secas

(...)

o inverno
furta a flor
a cor da fruta

(...)

a tarde passa
arrasta e deixa
um rastro prata.
                 (peônias negras)


É importante ressaltar que a importância dada à imagem e à utilização dos recursos espaciais e gráficos não ocorre em detrimento da sonoridade, pois a preocupação com a melopéia encontra-se presente em todo o livro. Dois exemplos são os poemas Cet obscur objet du désir e Montanhas:

no café del prado
em barcelona
um bando de pombas
rebolam pelas ramblas
                (Cet obscur objet du désir)

não são nuvens
mas tão brancas

solitárias
(mas são tantas)
                  (Montanhas)


Ainda considerando a melopéia, são dignos de nota o leminskiano tudo tem sentido, onde o poeta joga com os diferentes sentidos da palavra “sentido”; e os poemas você me toca e somos, nos quais reencontramos o tema da ausência do Eu e a conseqüente solidão que permanece existindo, mesmo quando estamos lado a lado com alguém que desejamos ou no meio da multidão, conforme se vê no poema você me toca. Nele, parodiando Baudelaire, o poeta deseja uma passante que se perde na multidão, inacessível ao seu desejo. A diferença com o poema de Baudelaire fica por conta da mudança de tom. No poema dele, esse é marcado pelo tormento resultante da efemeridade das relações e pela insatisfação do desejo; no poema de Rodrigo, é marcado pela aceitação da efemeridade e do caos da vida moderna que, ao invés de atormentar o flaneur/vouyer, docemente o entretém nas horas vagas. O desejo que antes expressava a angústia da solidão e do vazio em meio ao caos e à multidão do mundo moderno torna-se um sentimento tão passageiro e supérfluo quanto a sedutora passante:

você me toca

você me toca
como quem troca
de roupa

você me provoca
e troça
dessa minha doce
distração

pra que tanta pressa
você
mulher na multidão?


Solarium


Na terceira parte, intitulada “Solarium”, a busca de uma nova linguagem se faz principalmente através da vertente dionisíaca. Diversamente do que vimos nas duas primeiras partes, o autor deixa de privilegiar o planejamento racional e objetivo, que caracteriza o concretismo e a poesia de Mallarmé, em favor dos impulsos e divagações, nem sempre conscientes, que caracterizam uma dicção muito próxima daquela que marcou a poesia de Rimbaud e da geração beatnik. Nela, predominam longos poemas de versos livres, em que o texto, aparentemente linear, se desenrola de modo fragmentário como em um fluxo de consciência, sem que haja um único fio condutor do discurso e, portanto, sem maior coesão e coerência.

A menção ao uso de drogas, como acontece no poema Phanopium, cujo título pode ser interpretado como a aglutinação de phanus e/ou phanopéia mais opium = ópio, constitui um outro índice de afinidade com a poesia de Rimbaud e dos Beatniks. Na busca de uma nova linguagem, Rodrigo Garcia Lopes procura despersonalizar a linguagem através da negação de qualquer centro discursivo, de modo que a representação ocorra através de uma sintaxe descontínua e fragmentada – o que resulta em um processo esquizofrênico de captação alegórica, sinestésica e ideogrâmica do que costumeiramente chamamos de mundo real (o que é claramente tematizado no metapoema Processo). Com tais procedimentos, perde-se a noção de tempo e espaço, os sentidos se misturam e se espera que a personalidade desapareça.

Em vários poemas desta parte do livro, também encontramos a tematização da cidade como caos e a negação do consumismo, da mecanização, da violência e da exploração presentes na sociedade burguesa. A América urbana e tecnológica, massificada e violenta, é comparada à cidade de “Roma em chamas” (América # 2). Nas megalópolis – representadas no poema New York – não há mais espaço para a reflexão, o sentimento e a utopia. Nelas, “a serpente das ruas arrasta seus ruídos, raps & neons / devora um real que acumula seus pós / sobre nós, camadas / de civilização sem fim e sem saída”.
 
Caos urbano digno do cenário de filmes como Blade Runner, a cidade de New York representa a demência e a desumanização de uma sociedade regida pela racionalidade pragmática, pela idéia do progresso material e técnico que leva o homem à escravidão dos relógios. Nesse mundo fragmentado e sem sentido, que também encontramos no poema “M”, os seres humanos são reduzidos ao estado de mercadoria, cujas relações são medidas pelo moderno desing do corpo e pela produtividade do prazer tecnológico.

Em busca de phanus

 A constância dos temas da dissolução da realidade e do Eu não deve ser vista apenas como uma crítica ao padrão de vida moderno que, regido pela incessante produção de novas mercadorias e valores, dissolve e pluraliza as identidades em um caleidoscópio de máscaras. Outro importante aspecto que envolve o motivo da despersonalização  também se encontra na afirmação da primeira das quatro grandes verdades da mundividência budista, que perpassa todo o conjunto da obra.

Segundo a filosofia do budismo tudo é sofrimento, pois “não há coisa alguma que não esteja submetida a incessantes mudanças. E quanto mais o homem se esfalfa, procurando alguma coisa permanente a qual se possa apegar neste mundo efêmero, tanto mais sofre” (Gira, 1992:53). A verdade está no karma, que leva o homem ao infinito ciclo de renascimentos e mortes neste plano cósmico marcado pela imperfeição e pelo sofrimento. E outra não parece ser a lição que encontramos em tantos poemas de Rodrigo Garcia Lopes. A transitoriedade que marca a existência dos seres também se estende ao Eu do indivíduo, pois para o budismo esse não possui unidade e permanência, o que nega a idéia de uma essência humana. Para Buda, a busca de um Eu permanente, ou seja, da realidade interior e do Absoluto, “não era diferente da procura da Fonte da Eterna Juventude. (...) E na mesma proporção em que um homem gasta suas energias em uma busca dessa espécie, se afasta da possibilidade real que teria de se libertar do samsãra” (Gira, 1994:55). Daí resulta a constância dos temas da busca infrutífera do Eu e da sua ausência, assim como da solidão e da estranheza entre os seres, mesmo quando eles estão lado a lado, numa cama ou na multidão.

(...) O que
carregamos são espelhos que refletem sempre
o diferente, enquanto nós, eu e você
mudamos juntos. Nuvens
                                               (Outras praias).


Na caminhada em busca da libertação, de acordo com as outras três nobres verdades, deve o homem abrir mão dos seus desejos e ouvir o que o “(...) outono / tem pra nos dizer: / tempo de se desfolhar / – cores, peles, percepções”, conforme lemos em Um poema para o deserto.

Na busca da iluminação, deve-se renunciar ao desejo de possuir um Eu permanente através de um comportamento reto, de uma disciplina mental em que a concentração constitui o caminho para a “eliminação de tudo aquilo que alimenta a ignorância do homem” (Gira, 1994:91). Daí a necessidade de se eliminar os “cinco agregados” que constituem aquilo que percebemos como um indivíduo: a matéria, as sensações, as percepções, os desejos e a consciência, em suma, todos os vínculos que ligam o homem ao mundo material. Somente assim, por esse processo de ascese e meditação, em que “(...) é preferível / eliminar este pensamento e deixá-lo livre” (Improvisos), é possível o encontro com a sabedoria, com a iluminação que caracteriza o nirvãna.

É devido ao diálogo com a filosofia do zen-budismo que encontramos constantemente, nas três partes da obra, a presença das imagens do outono e das folhas secas que o vento leva e que sempre se renovam, revelando em sua alegoria o eterno movimento cíclico da vida – conforme vemos em O eterno renovo do mesmo (poema concreto e metalingüístico pertencente a Dioramas). Desta forma também se explica a obsessão pelo deserto “com seus rios secos desde o começo / com sua sede sonora / com o sal que não pergunta / do sentido / deste paraíso perfeito” (Um poema para o deserto) em que não há “nenhum milagre a não ser / as coisas como são” (Sedona), onde “tudo é phanus” (O fotógrafo), ou seja: templo, iluminação – conforme o significado grego.

 Como vemos, o orientalismo e especialmente o zen-budismo atravessam o livro inteiro, convivendo com a racionalidade ocidental – tão bem representada por Mallarmé e pelo concretismo –, com a contracultura do movimento beatnik, e com a fragmentação alegórica de um mundo moderno (ou pós-moderno?) em ruínas. Em meio a este caos e à esquizofrenia geral, fica, no fim, a sensação de que o poeta luta entre ser um zen-fotógrafo – procurando congelar em suas iluminuras o tempo eternamente cíclico da existência – ou então ser um câmera-zen, almejando registrar o fluxo ininterrupto e fragmentário da existência.
_________________________
Referências Bibliográficas
GIRA, Dennis. Budismo: história e doutrina. São Paulo: Vozes, 1992.
LOPES, Rodrigo Garcia; MENDONÇA, Maurício Arruda. Iluminuras: poesia em transe. In: Rimbaud, Arthur.  Iluminuras: Gravuras Coloridas (Tradução de Rodrigo Garcia Lopes & Maurício Arruda Mendonça). São Paulo: Iluminuras, 1996.


_____
 Nota:  
Texto escrito originalmente para a saudosa revista eletrônica No Meio do Caminho, em Maio/2004.


Fonte:
MetAArte http://marcianolopes.blogspot.com.br/

terça-feira, 15 de outubro de 2013

Trovas (Dia do Professor)

A. A. DE ASSIS
Maringá/PR

-
Professor, amigo e mestre,
quanta luz você irradia,
desde a escolinha campestre
à mais douta academia!
======================

ALBA HELENA CORRÊA
Niterói/RJ

-
Honra e glória ao professor
com seu trabalho fecundo,
é, da pátria, o construtor,
em qualquer nação do mundo!
=====================

ALBERTINA MOREIRA PEDRO
Rio de Janeiro/RJ

-
Professor, tu és a tocha
que tira da escuridão
a mente que desabrocha
à procura da instrução!
===================

ALDA CORRÊA MENDES MOREIRA
Niterói/RJ
-
Agora que envelhecemos,
percebemos a jazida:
cada mestre que tivemos
pelos caminhos da vida!
-
Na agenda da minha vida
o nome Mestre é sagrado;
eu sempre lhe dou guarida,
pois o quero respeitado.
-
Professor, tua riqueza
não são as aulas que dás
mas é a tua nobreza
quando conosco tu estás.
======================

ALFREDO DE CASTRO
Pouso Alegre/MG


Por seu labor missionário,
Deus concedeu um troféu
ao professor do primário:
entrada livre no céu!
=========================

ALOÍSIO BEZERRA
Fortaleza/CE

-
Deus, que me fez trovador,
aos meus ais nunca foi mudo:
fez-me, também, professor.
Que sorte! Deus me deu tudo!

Se as ofensas tu perdoas,
se rejeitas as vaidades,
se ao mundo o bem apregoas,
és professor das verdades!
==========================

CÉLIA G. SANTANA
Sete Lagoas/MG

-
Professor é simplesmente
a mão amiga estendida
de gente ensinando a gente
a ser mais gente na vida!
======================

CIDINHA FRIGERI
Maringá/PR

-
A professora, oferenda,
por deuses santificada,
professor, guarda-a na tenda
para não ser imolada.
==========================

DARLY BARROS
São Paulo/SP

-
Foi meu guia e conselheiro,
e hoje eu venho agradecer
àquele mestre – o primeiro -,
que, um dia, ensinou-me a ler...
======================

DJALDA WINTER SANTOS
Rio de Janeiro/RJ

-
É mister que uma nação
fundamente a sociedade,
dando ao povo... educação
e ao professor... dignidade!
======================

DULCÍDIO DE BARROS MOREIRA SOBRINHO
Juiz de Fora/MG

-
Repartindo o amor profundo
na missão de tantos brilhos,
ser professora no mundo
é ser mãe de muitos filhos.
==========================

EDMAR JAPIASSÚ MAIA
Rio de Janeiro/RJ

-
Professor, pelo profundo
amor que o saber enverga,
abriste os olhos do mundo,
e, enfim, o mundo te enxerga!
-
Ser professor compreende
ser exemplo ao aprendiz,
que educação não se aprende
apenas com quadro e giz...
====================

ELIANA RUIZ JIMENEZ
Balneário Camboriú/SC

-
Todos têm um professor
na memória bem guardado,
que ensinava com amor,
mesmo mal remunerado.
================

ERNESTO TAVARES DE SOUZA
Pindamonhangaba/SP
-

Professor, eu te bendigo
por tanta benfeitoria;
és a semente de trigo
do pão da sabedoria.
-
Quando o povo, com certeza,
do saber perde a noção,
professor é vela acesa
nas trevas da escuridão!
==========================

FERNANDO LOPES DE ALMEIDA
Belo Horizonte/MG

-
A vela queima e ilumina
em holocausto de amor;
tal como faz quem ensina,
desperta botões de flor.
=====================

GIOVANELLI 
Nova Friburgo/RJ

-
Dedicação, é uma crença
que, regida com amor,
é o que faz a diferença
em todo bom professor...
======================

GLÓRIA TABET MARSON
São José dos Campos/SP

-
Quando há talento divino,
compromisso e bem querer,
o professor faz do ensino
a razão do seu viver!
=====================

JOÃO PAULO OUVERNEY
Pindamonhangaba/SP

-
Muitas palavras busquei
que rimassem com “amor”,
e a mais bonita que achei
foi uma só... “Professor”!
-
Professores são abelhas
distribuindo, em seu afã,
os polens que são centelhas
das flores de um amanhã!
==============

MARIA MADALENA FERREIRA
Magé/RJ

-
Levada pela saudade,
volto à infância e, com amor,
lembro os gestos de bondade
do meu velho professor!
===================

NEI GARCEZ
Curitiba/PR

-
Todo dia é da criança,
e também do professor:
ela aprende com confiança,
e ele ensina com amor.
=====================

OLIVALDO JUNIOR
Moji-Guaçu/SP

-
Professor das criancinhas,
professor dos “cavalões”,
ambos viram “figurinhas”
num “albinho” de ilusões.
-
Um menino, desde cedo,
“teve peito” de ensinar,
sem jamais ter tido medo
da missão de lecionar.
======================

PAULO DE TARSO
Fortaleza/CE

-
Professor, o grande mestre
Desse nosso conhecer
Pro praciano ou campestre
Ele transmite saber!
==========================
RELVA DO EGIPTO REZENDE SILVEIRA
Belo Horizonte/MG

-
Luzeiro da humanidade,
o professor, em missão,
é pilar da sociedade,
promovendo a educação.
-
Professor em sua trilha,
iluminando outro ser,
cultiva o dom da partilha
na partilha do saber.
===============

ROSA SILVA
Portugal

-
Professor nos dá ensino
e nos tira da cegueira,
começa de pequenino
pra servir a vida inteira.
==============================

SANTOS TEODÓSIO
Brumadinho/SC

-
De imensurável valor
por seu trabalho fecundo,
o incansável professor
eleva o nível do mundo.
==================

SELMA PATTI SPINELLI
São Paulo/SP

-
A Professora parece
um lavrador a colher
ouro puro em sua messe
no garimpo do Saber!
=========================

SIMÃO ELANE MARQUES RANGEL
Rio de Janeiro/RJ

-
Professor, por vocação,
tem prazer em ensinar;
repete sempre a lição,
não se cansa de explicar.
========================

SÔNIA DITZEL MARTELO
Ponta Grossa/PR

-
Põe na voz o coração
e saúde o Professor
que cumpre sua missão
com carinho e muito amor !…
==========================
TARCÍSIO FERNANDES
Brasília/DF

-
Dentre as muitas profissões,
eu destaco o PROFESSOR
que fez, com suas lições,
alguém ser, hoje, um doutor.
===========================

THEREZINHA ZANONI FERREIRA
Rio de Janeiro/RJ

-
Dando apoio e segurança...
Apontando os erros meus...
Aos meus olhos de criança,
professor, eras um Deus!
====================

WAGNER MARQUES LOPES
Pedro Leopoldo/MG

-
Ao levar o barco à frente,
embora o peso do remo,
o educador paciente
recebe o laurel supremo.

Fontes:
http://falandodetrova.com.br/XVencontropetropolis
http://poesiaemtrovas.blogspot.com.br/p/tema-deus-trovas-liricas-ou-filosoficas.html
E-mails recebidos de trovadores

Oldney Lopes (Homenagem ao Professor)

Se os livros alimentam o saber
O mestre proporciona-lhes sabor
Se são enigmas a resolver
O educador é o codificador.

Que seria do livro e do leitor
Sem orientador a despertar
Ideias e sentidos, corpo e cor,
Na relevante ação de mediar?

Se há na escola uma qualquer contenda
O docente é o reconciliador
Se há conflito que obstrua a senda
O mestre mostra-se apaziguador.

Que seria de uma escola sem docentes?
Salas vazias e paredes nuas
Prédio deserto, árido e silente
Portal do nada, a esmaecer nas ruas.

É que a jornada, sem apoio e guia
É trilha escura, sem norte e sem destino,
Pois falta o rumo da sabedoria,
Facho de luz, clarão para o ensino.

Sendo os alunos pássaros que tentam
Os seus primeiros voos do saber
É pelas mãos dos mestres que alimentam
A fome insaciável de aprender.

Se, entretanto, as agruras são gaiolas
Que encarceram o aluno em estupor,
A porta que liberta é a escola
E a chave que a destranca é o professor!

Jussára C Godinho (Homenagem aos Professores)

Educador por opção, por vocação
És  mola propulsora da descoberta do saber
Deixa em cada um pedacinhos do coração
Divide todos os dias grande parte do teu ser

Aprender e ensinar
Ensinar e aprender...
Mestre!
Ensina e aprende a amar
Aprende e ensina a viver
Descortina sombras
Ilumina mentes
Descobre caminhos
Mostra horizontes

Emociona e se emociona
Ajuda a crescer
Sofre, ri, lamenta, se alegra
Mas sempre se entrega
Ao prazer e a dor de ensinar
De aprender, de viver, de Amar!

Lilian (Ser Professor)

É despertar a magia do saber
é abrir caminhos de esperança
desvendar o mistério do cálculo
da fala e da escrita.
É criar o real desejo de ser.

É promover o saber universal
especializar políticos,
médicos, cientistas,
técnicos, administradores, artistas...
É participar profundamente do crescimento social...

É trabalhar em grande mutirão
lançando as primeiras bases
que transformarão ideias em projetos
executados em terra firme ou em imensidão.

É não se dar conta da amplitude
de um trabalho que é missão
mover o mundo através
do operário ou presidente
que um dia passou por sua mão.

Feliz Dia do Professor!

Fonte:
http://www.lilianpoesias.net/dia_do_professor.htm

Autor Desconhecido (Dia do Professor)

Não sei o que combina mais contigo,
Uma poesia, um livro, uma pintura,
Sinceramente fico pensando
No que deve dar alegria
A alguém que é objeto da alegria de tantos.

Na verdade, o professor de verdade,
É aquele que prefere dividir o que possui,
Do que ter somente para si.

O verdadeiro mestre, sente-se feliz
Quando percebe que o caminho que
Ele abriu tem sido trilhado por muitos.

O mestre tem a sua realização no aprendizado
Do pupilo, da passagem da experiência.
É por isso que meras palavras
Não podem recompensar
A alguém que optou por esta carreira
Que muitas vezes é dolorosa e cheia de espinhos.

Chamo-te somente mestre, abnegado coração
Que se sensibiliza com os olhos sedentos
Por uma vida menos escura, mas cheia de luz.
E essa luz, está em suas mãos,
Em seu coração, em seu olhar.

Que bom que existe um dia
Reservado só para você!
Obrigado por sua obstinação incontida,
Pois graças a ela, você nunca desiste.

Você é muito importante,
Espero que você seja sempre assim.

Ringo Star (Professor, amigo e educador)

Ringo é de Agua Nova/RN

Você é de toda a nação
Sabedoria e essência,
Você tem sido amigo
E uma grande excelência,
Parabenizo você,
"O símbolo da inteligência".

O valor que a escola tem,
É graças a sua bravura
Você! Amigo tem demonstrado
Sabedoria e ternura,
Por isso você é um exemplo
De educação e cultura.

O professor não é visto
Nos rádios, nem na tv,
Mas devemos a ele,
Herança de receber,
Com amor e esperança,
A maior de todas as heranças
Que nos leva a crescer.

Sim! é a inteligência
Que ele tem nos dedicado,
Desde os primeiros passos
Que o mundo foi civilizado
E passou a ser escola,
E um eterno aprendizado.

Você sempre será para todos,
A maior satisfação,
Sempre contribuindo,
Para crescer a educação,
Trazendo nova Ciência
Mostrando Experiência,
E conquistando a nação.

"Este 15 de outubro,
Será com muita alegria
De realizar um sonho,
E buscar no dia-a-dia
Ser um grande professor,
E demonstrar meu valor,
Graças a sabedoria.

domingo, 13 de outubro de 2013

Francisco Miguel de Moura (Chico Miguel) (Sonetos Escolhidos 2)

Libreria Fogola Pisa
A CASA E O POETA

A casa do poeta tem por via
a fala dos irmãos com outro irmão;
de uma vida coberta de paixão,
as confissões: tristeza ou alegria.

É um menino pequeno (como não?)
no que quis e jamais pôde alcançar,
que sofre tantas vezes por amar,
quantas vezes num choro sem razão.

De medo, treme à vista do vizinho,
pois no quintal dos fundos grita e freme
um diabo nu, barrando o seu caminho.

Diante de Deus e de Nossa Senhora,
pede conformação para quem geme...
E não terá sua casa onde não mora.
-
AMOR, SEMPRE AMOR (1)
-
Eras tu a mais linda da cidade.
E eu cheguei, um matuto impertinente,
apelidado até de inteligente
por colegas, amigos na verdade.

Teus sorrisos me enchiam de vaidade
e àqueles que te tinham de inocente,
e a mim me enfeitiçaram de repente,
como ninguém calcula. Ninguém há de

saber o que lutei para ganhar-te,
para querer-me ali, e em qualquer parte,
e, enfim, nos enlaçarmos com ardor.

Fogo em que conservamos, te asseguro,
a minha felicidade e o teu futuro
para viver tão puro e santo amor.
-
AMOR, SEMPRE AMOR (2)
-
Mudam-se tempos, vidas e pesares,
mas, como outrora, a amar continuaremos.
Amo-te mais, não queiras nem saber,
amas-me mais agora e como sempre.

Se outrora caminhamos de mãos dadas,
era o medo do mundo e suas garras.
Já hoje nos soltamos pra andar juntos,
pra mais amar, que o nossa amor se aclara.

Teu corpo de menina e de mulher
Que tanto outrora já me deu ciúmes,
Hoje é prazer e graça como nunca.

Sendo eu feio, invulgar, e tu, tão bela
formamos lindo par por toda a vida
e abraçaremos outras se inda houver.
-
DEUSA
-
Era uma deusa humanamente bela,
de olhos molhados a deitarem luz,
sobre perdidos corações sem cores.
Desprendia paixões nos seus encantos.

Da carne, o cheiro, a tepidez, o orvalho
eram pingos da tarde... E a noite vinha.
Mas o brilho dos olhos tão intenso
iluminava todos os caminhos.

E eu disse - “tolo”! - à blusa desdobrada
à brisa, que assanhava as mentes frias,
cheia da graça dos recantos da alma.

De repente, nas asas dos seus braços
levado vi-me e, pelos céus abertos,
caírem penas pelos meus pecados.
-
DESCIDA
-
Quantos anos que gente sobe a vida
pensando que subiu, cresceu, mudou,
a enganar-se na festa e na bebida,
pra ignorar o mundo – este robô!

Vive-se o tempo. E as horas consumidas
em vãos gozos e gulas, sem fronteiras,
desconhecem as dores pressentidas,
e o fumo das batalhas derradeiras.

Ninguém espreita a onda dos mistérios,
da velhice, da doença e o conteúdo
de mascarados e sutis impérios.

A lei da morte apaga amor, carinhos,
porque o tempo de Deus ficou desnudo
na cruel desesperança dos caminhos.
-
A DEUSA NUA
-
Vi uma deusa solitária e nua,
a correr pelas praias. Seu segredo
era o silêncio. Eu quase senti medo
daquela cor de prata, cor de lua.

Corri para apanhá-la, ainda era cedo!
Com vergonha de mim, vindo da rua
tão faminto e cansado. E ela recua...
“Se deusa for”, gritei, “vou ficar quedo”.

E ela correu de novo... E, atrás, perdido,
desesperado, eu, louco e comovido,
queria o mel dos lábios cor de beijos.

Cego e surdo, ante aquela formosura,
seio pulsante, o’ estranha criatura!...
Caí morrendo a morte dos desejos.
-
A PARTIDA
-
Na partida os adeuses, gume e corte
dos prazeres do amor, quanto tormento!
Cada qual que demonstre quanto é forte,
lábios secos mordendo o sentimento.

Do ser brotam soluços a toda hora,
as faces no calor do perdimento,
olhos no chão, no ar, por dentro e fora,
pedem aos céus a força e o alimento.

Ninguém vai, ninguém fica. Oh! se reparte
no transporte que liga e que desliga!
Confusão de saber quem fica ou parte.

Não se explica tamanha intensidade
Amarga, e doce, e errante, que interliga
os corações perdidos de saudade.

EX-ANIMAL

Impossível falar à alma de um
dos viventes de Deus sobre esta lida,
sobretudo o que vai na alma ferida,
ou na lembrança que não é comum.

Somos ilhas cercadas por nenhum
outro ser dito irmão. Nada o convida
a um mínimo de esforço que dê vida
ou assunção de problemas, seja algum

conselho, bate-papo ou sofrimento
sobre ações, pensamentos e palavras,
salvo se se tratar do testamento.

O desumano egoísmo é sem limite,
do prazer de si só faz suas lavras,
e o mundo inteiro que se dinamite.
-
AS COISAS QUE...
-
Passo a limpo os guardados, vejo a capa
de um livro de poemas que me roeu
por ter nele o meu rosto!... Olho-o, à socapa,
tentando deslembrar quem era eu.

O mundo é diferente em cada etapa,
e a gente nem percebe que sofreu.
Já não quero sequer buscar, no mapa,
a alma, o sonho onde ela se perdeu.

Como senti-me mal naquele dia!
Mas me guardei daquela coisa fria
pra me esquecer, enfim, que fui um jovem.

Por que perder meu tempo em desmazelo?
Se o passado morreu já não é belo,
quero o presente e as coisas que nos movem.
-
CAMINHANTE
-
No início, para trás eram meus passos,
mesmo assim alcancei quem se atrasou
mais do que eu, quem nada me escutou.
Meus pés doíam presos a alguns laços...

De rosto, a olhar em volta do ocidente,
jamais ouvi um som de voz alheia,
sem ver minhas pegadas pela areia,
a curtir um passado inconseqüente.

Fiz pecados tão poucos, rezei tudo.
Cansado de falar me tornei mudo,
de tanto acreditar fiquei descrente.

Atrasei-me de amor pelo vizinho,
mas descobri, agora, que sozinho
ainda posso dar passos para frente.
-
DA VIDA E DA MORTE
-
Há quem busque esta vida noutra vida,
e são felizes recriação da morte.
E quem encontre a vida na antemorte,
e são felizes plenamente em vida.

Por que preocupar-se com a tal morte,
se ela vem no seu tempo como a vida,
ou depois. E se o ente está sem vida,
logo o engana e faz dele vida e morte?

Há quem, afadigado pela vida,
transforme a vida-vida em vida-morte
e passe uma existência sem ter vida.

E os que só vivem dissecando a morte
pra saber se depois da vida há vida,
ou se depois da morte tudo é morte.

Fonte:
O Autor

Francisco Miguel de Moura (1933)

Chico Miguel nasceu na cidade de Francisco Santos-PI (outrora povoado “Jenipapeiro”, município de Picos), aos 16/06/1933. Estudos primários com seu pai; ginasial e contabilidade, em Picos, onde casou e residiu alguns anos. Formado em Letras pela Universidade Federal do Piauí e pós-graduado na Universidade Federal da Bahia, em Salvador, onde residiu cerca de 3 anos. Funcionário aposentado do Banco do Brasil. Mestre-escola como seu pai, funcionário público municipal (escrivão de Polícia), radialista, professor de língua e literatura, cujas atividades não mais exerce. Dedica-se exclusivamente a ler, escrever, fazer palestras e brincar com os netos. Já ganhou prêmios em todos os gêneros que pratica, até em trovas no Ano do Sesquicentenário.

Colabora nos diversos jornais de seu Estado, entre os quais “O Dia”, “Diário do Povo” e “Meio Norte”; nas revistas “Literatura”, de Brasília (hoje editada em Fortaleza), “Poesia para todos”, do Rio; “LB - revista da literatura brasileira”, São Paulo; “Almanaque da Parnaíba”, “Cirandinha”, “De Repente”, “Revista da Academia Piauiense de Letras”, “Cadernos de Teresina” e “Presença”, de Teresina. É também colaborador permanente dos jornais “Correio do Sul”, Varginha, MG; “Diário dos Açores”, das Ilhas dos Açores e “O Primeiro de Janeiro” (Suplemento Cultural “das Artes das Letras”), de Porto, Portugal. Ultimamente, vem sendo editado pelas revistas “Lea” e “Clarín”, editadas na Espanha; “Pomezia-Notizie”, Itália; e “Jalons”, na França.

É sócio efetivo da União Brasileira dos Escritores e da Academia Piauiense de Letras, e membro-correspondente da Academia Mineira de Letras e da Academia Catarinense de Letras.

Por força de sua atividade como funcionário do Banco do Brasil, além de na cidade de Picos, morou na Bahia (Capital e interior) e no Rio, e por último em Teresina, onde concebeu e publicou a maioria de suas obras.

A obra de Francisco Miguel de Moura recebeu enorme manifestação da crítica, vinda de escritores de todo o país, inclusive críticos literários como João Felício dos Santos, Fábio Lucas, Nelly Novaes Coelho, Rejane Machado, Olga Savary, cujo material quase todo foi reunido em dois volumes já publicados: “Um Canto de Amor à Terra e ao Homem” (Editora da Universidade Federal do Piauí, Teresina, 2007) e “Fortuna Crítica de Francisco Miguel de Moura” (Edições Cirandinha, Teresina-PI, 2008).

Chico Miguel ama as artes, a poesia (literatura) especialmente – pelo trabalho que realiza com a palavra; ama o ser humano (o “eu” e o “outro”) e a natureza, quase como se fosse uma religião sem dogmas. Enquanto as religiões e a ciência são, de certa forma, indiscutíveis, incontestáveis, despóticas, portanto, a arte é humilde e trabalha em torno da humanização do homem, que ainda está bem longe. Talvez essas sejam as razões do seu agnosticismo.

POESIA:

“Areias”, editora Correio de Timon Ltda. Timon - MA, 1966. “Pedra em Sobressalto”, Pongetti, Rio, 1972;
“Universo das Águas”, Grupo Cirandinha,Teresina, 1979;
“Bar Carnaúba”, Universidade Federal do Piauí,Teresina, 1983;
“Quinteto em mi(m)”, Editora do Escritor, Rio, 1986;
“Sonetos da Paixão”, Ed. Ciradinha,Teresina, 1988;
“Poemas Ou/tonais”, Ed. e Gráfica Júnior Ltda.,Teresina, 1991; “Poemas Traduzidos”,Gráfica e Ed. Júnior Ltda., Teresina, 1993; “Poesia in Completa”, Ed. Fundação “Mons. Chaves”,Teresina, 1998 (comemorando os 30 anos de poesia);
“Vir@gens”, Editora Galo Branco, Rio, 2001:
“Sonetos Escolhidos”, Editora Galo Branco, Rio Rio, 2003;
“Porta Folio: 40 Sonetos”, Editora Guararapes, Recife-PE, 2003;
“Antologia”, Edições Cirandinha, Teresina, 2006;
“Tempo contra Tempo”, Edições Cirandinha, Teresina, 2007 (este em co-autoria com Hardi Filho);
“A®fogo – Romance da Revolução”, Paco Editorial, São Paulo, 2010;
“Cinquenta Sonetos” – Editora Guararapes – EGM, Recife - PE
Inéditos:
“Itinerário de Passar a Tarde”, “O Coração do Instante”, “A Casa do Poeta”, “Lindes do Caminho”, “As Cores a Cor”, “A Sombra do Silêncio, “A Jóia Rara” , “50 Poemas Escolhidos pelo Autor”, “Testemunho” e “Novos Poemas”.

ROMANCES:

“Os Estigmas” Ed. do Escritor, SP, (1984), reeditado em 2004, Ed. Cirandinha);
“Laços de Poder”, Projeto Petrônio Portela, Teresina (1991); premiado, 1º lugar (prêmio Fontes Ibiapina, da Fundação Cultural do Piauí;
“Ternura”, Ed Univ. Federal do Piauí, 1993 - reeditado em 2011-Ed. Livro Pronto – SP),
“D. Xicote”, Ed. do Governo do Estado do Piauí, 2005, em conj.com outros. Com este ganhou 2º lugar do prêmio Fontes Ibiapina em 2003;

Inédito:
“O Crime Perfeito”- terminado de escrever em julho de 1991, na praia da Atalaia,Luís Correia – PI.

CONTOS:

“Eu e meu Amigo Charles Brown”, Fundação Petrônio Portela, 1986,
“Por que Petrônio não Ganhou o Céu”, Companhia Editora do Piauí, 1999;
“Rebelião das Almas”, Academia Piauiense de Letras/Banco do Nordeste, Teresina, 2001.

CRÔNICAS:

“Eu e meu Amigo Charles Brown”, Projeto Petrônio Portela, Gráfica e Editora Júnior, Teresina, 1996;
“A Graça de cada Dia”, Edições do Autor/SIEC, Teresina, 2009;
“O Menino quase Perdido” - que não se enquadra bem na categoria de crônicas, assim chamei-o de “memorial” – Projeto A. Tito Filho/Fundação Culural Mons. Chaves, Teresina, 2009.

CRÍTICA LITERÁRIA:

“Linguagem e Comunicação em O. G. Rego de Carvalho”, 1972/1997, 1ª e 2ª edições, respectivamente, a primeira pela Editora Artenova, Rio; a segunda pela Universidade Federal do Piauí;
“A Poesia Social de Castro Alves”, Editora do Escritor, São Paulo, 1979;
“Um Depoimento Pós-Moderno” , Ed. Cirandinha, Teresina, PI, 1989; (este depoimento teve ma 2ª ed. em Goiânia – GO);
“Assis Brasil” (em conjunto com Edmilson Caminha), Projeto Petrônio Portela, Teresina, PI, 1989;
“Castro Aves e a Poesia Dramática”, Academia Piauiense de Letras, Teresina, 1998;
“Moura Lima: Do Romance ao Conto”, Ed. da Universidade de Tocantis, Araguaina-TO, 2002.

NOTA: - Além disto, devem ser considerados na mesma área:
“Piauí: Terra, História e Literatura” (cr[itica e antologia), Ed.do Escritor, São Paulo, 1980;
“Literatura do Piauí”, Academia Piauiense de Letras, Teresina, 2001;
“Miguel Guarani, Mestre e Violeiro”(biografia), Edições Cirandinha/FUNCOR, Teresina, 2005.
________________
site: www.usinadeletras.com.br
blogs: http://franciscomigueldemoura.blogspot.com
http:// cirandinhapiaui.blogspot.com
http://abodegadocamelo.blogspot.com

Fonte:
O Autor

Simone Borba Pinheiro (Ciranda da Amazonia) Parte 2

ARLETE PIEDADE
 Amazónia - Pulmão verde e rubro

-
 És verde e rubro, o pulmão deste planeta azul e branco!
 - Verde das florestas em extensão, rubro das queimadas,
 estendendo longos dedos negros em direção ao flanco,
 da mãe ignorada pelos filhos, de quem devia ser amada!

 Noutros tempos eras verde, azul, claro, limpo e puro,
 no teu seio criavas belos seres, de alma transparente!
 um belo e imponente rio atravessava teu corpo e juro...
 eras a mais preciosa jóia, deste planeta de alma doente!

 Mas os homens de distantes terras, foram chegando,
 de teu sadio, fértil, bravio e belo corpo se apossando,
 para seu deleite, prazer, sendo a riqueza fácil, o tema...

 teus tesouros foram furtando, teus rios conspurcando,
 teus habitantes foram corrompendo, mulheres violando,
 ainda será tempo de te salvar, sendo esse nosso lema?
====================

ARMANDO SOUZA
As cores da Amazônia


 Verde de mil e um verdes, vida a subir.
 Agarrando o sol
 Planície do verde olhando o céu, a florir.
 Casa e mesa das mariposas de mil cores a casar
 Beleza de diferentes pássaros a voar
 Subindo às alturas, para do verde sair.
 Amazônia, pulmão que a natureza nos deu.
 Folhas são ventoinhas purificando o ar do céu
 Dentro de seu verde tanta vida
 Beleza para nós desconhecida
 Tantos sonhos selvagens, frutos esquisitos.
 Podem ser de amor ou de morte da Amazônia gritos
 Numa certa clareira, moças deitadas.
 Cobrindo suas vergonhas
 São cores, muitas cores, tom garridas, pintadas.
 Cabanas construídas de folhas de bananeira
 Quando chove, é ali que se realiza toda a brincadeira.
 Macacos voam fugidios
 Mil qualidade de peixes e piranhas nos rios
 Debaixo de tanta frescura, vive gente primitiva sorrindo.
 Mas a civilização vai seu lar destruindo
 Com enormes queimadas
 Deixando as cores da Amazônia desbotadas
 Debaixo dos mil verdes, nossa saúde nas flores.
 As raízes são venenos da nossa doença
 Tudo isto pode fazer passar nossas dores
 Aumentar no viver nossa Crença
 Debaixo do verde repuxos ou lanças de pau
 Dão vida a vida com o cacau
 Névoa respiram chuva torrencial
 Não queiras conhecer os segredos dos fluviais
 Formam oceanos de espuma amarela
 Deixado os verdes aveludados
 Em linda aquarela
 O sol raia, grande alegria.
 Ouve-se o batuque, musica de poesia.
====================

BEATRIZ KAPPKE
Amazônia e a responsabilidade ambiental.

-
 Assunto da atualidade
 Que enfronha religiosos
 E pessoas de qualquer idade
 De todas as profissões e também os ociosos.

 Denunciados todo os dias com tristeza
 Abusos de toda sorte
 Crimes contra a frágil natureza
 Prevendo para o nosso planeta a morte!

 Tímidas porém são
 O vislumbrar de saídas eficazes
 Para resolver a tal questão
 Com ações realmente pertinazes.

 Leis editar, acordos firmar
 A Amazônia proteger
 A humanidade amedrontar
 Irá da imprudência humana os desmandos resolver?

 Sobre utilização dos recursos naturais
 São louváveis as campanhas
 Os diferentes e respeitáveis pontos de vista
 Denotam uma preocupação tamanha.

 Mas a atual situação, melhorar ou piorar
 O ser humano tem em suas mãos
 Porém urge a consciência mudar
 E ao comportamento dar outra direção.

 Meio ambiente exige atitude, visão e percepção
 Respeito à vida pessoal, à vida do outro e da natureza
 Não só na Amazônia mas em todo este torrão
 De tanta grandeza e singular beleza!

 Só então teremos neste mundo
 De seis bilhões de indivíduos
 Menos miseráveis num submundo
 Clamando para viverem mais dignos!

 Será o grande passo
 Que a humanidade precisa dar
 Enlaçar-se num grande abraço
 E a paz social alcançar!
==================

BILL SHALDERS
Pegar-te no colo

-
 Minha Amazônia Querida
 Pulmão do meu lar Terra
 Grandeza verde do planeta Azul
 Dói meu espírito ver sua devastação
 Dói minha alma ver sua agonia

 Ah, que vontade de pegar-te no colo
 Embalar-te até te curares
 Da maldade da serra
 Da maldade do homem
 Da maldade do ignorante

 Ah, que vontade de pegar-te no colo
 Embalar-te até adormecermos juntos
 E sonhar com uma nova Terra
 E sonhar com um novo planeta
 Que entenda e acolha a tua formosura

 Ah, que vontade de te pegar no colo
 Embalar-te até adormecermos juntos
 E acordar somente no despertar da humanidade
 Pois se morreres, morreremos junto
 Morreremos todos, queiramos ou não

 Cada ser que vive em tuas entranhas
 Cada pedacinho do teu chão
 Cada pedacinho de tua copa
 Representa um pedacinho do meu coração
 Representa um pedacinho do meu Ser

 Cada ser teu que morre, morro junto
 Cada ser teu que parte, parto junto
 Cada gota a menos de orvalho
 Uma lágrima minha a mais
 Ah, que vontade de pegar-te no colo

 Embalar-te até podermos fugir desta sanha
 Pois se um dia morreres
 Morrerei por ti, morrerei junto a ti
 Somos ligados pelo amor
 Ah, que vontade de pegar-te no colo.
====================

DENISE SEVERGNINI
Floresta Amazônica

-
 Brasil, sai desta insônia
 E salva a tua Amazônia.

 Desmatamento e erosão...
 Demanda de carvão...
 Animais em extinção...

 Brasil, sai desta insônia
 E salva a tua Amazônia.

 Assoreamento e erosão...
 Garimpo e contaminação...
 Culturas em destruição...

 Brasil, sai desta insônia
 E salva a tua Amazônia.

 Paisagem em degradação...
 Provocada pela mineração...
 E a droga da poluição...

 Brasil, sai desta insônia
 E salva a tua Amazônia.

Fonte:
http://www.familiaborbapinheiro.com/ciranda_amazonia.htm

Folclore dos Estados Unidos (Lenda Abenaki: Estória do Tambor)

Diz-se que, quando Tunkashila (o Avô Universo), estava a dar um lugar a todos os espíritos que habitam e tomam parte da habitabilidade da Mãe Terra, se escutou um som, uma forte explosão à distância.

Tunkashila escutou o som a aproximar-se cada vez mais até estar mesmo à sua frente.

-Quem és tu?- perguntou o Criador

-Eu sou o Espírito do Tambor- foi a resposta- e venho pedir-te que me permitas
participar nestas coisas maravilhosa que estás a criar.

- E como queres tu participar?

-Gostava de acompanhar o canto das gentes, quando se cante desde o coração eu próprio vou cantar como se fosse o bater do grande coração da Mãe Terra. Desta maneira toda a criação cantará em harmonia!

Tunkashila atendeu ao pedido e a partir de então o tambor tem acompanhado as vozes que cantam desde o coração. Para todos os primeiros povos do mundo (indígenas), o tambor constitui o centro das canções e é o catalisador para o espírito destas se elevar até ao Criador de modo a que as orações cheguem aonde estão destinadas a ir. O som do tambor traz integridade, respeito, entusiasmo, solenidade, força, coragem e cumprimento das próprias canções. Trata-se do bater do grande coração da Mãe Terra concedendo aprovação a todos os que nela habitam. A águia abraça esta medicina e conduz a sua mensagem ao Criador e aí se transforma a vida das gentes.

Para os índios, (Pajés e Xamãs), o tambor é o 'cavalo ou canoa' que os transporta para outras dimensões da realidade. Sua vibração é extremamente forte, capaz de propiciar a cura e a ampliação da consciência por ressonância vibratória. Quando o tambor é tocado, sua vibração é sentida dentro do corpo, criando um efeito purificante. Através das ondas sonoras, entramos em ressonância e ativamos a memória ancestral do homem como espécie e indivíduo.

Instrumento de cura e manifestação.

As vibrações do tambor mudam as ondas cerebrais de beta para ALFA, as ondas cerebrais alfa são as ondas do estado de meditação, as ondas que abrem o portal da genialidade, o lado direito do cérebro, o lado direito do cérebro é a nossa parte feminina, é a energia criativa individual e ao mesmo tempo a energia criativa de 'Tudo que Existe", o eu quântico onde não há mais a noção do ego linear que diz (Como a energia criativa pode ser minha e do Universo inteiro ao mesmo tempo?) essa noção diz respeito apenas as leis dessa dimensão linear, egóica, ao transcender essa dimensão Tu é Individual e TUDO QUE EXISTE ao mesmo tempo, sentir o que É ISSO é meditação, é a iluminação, é dizer "É ISSO" é dizer ao Universo "EU SOU" e assim perceber a irmandade de todas as coisas, portando, as vibrações do tambor são um instrumento quântico de cura interior, de autoconhecimento, de magia, a real magia..

Fonte:
Grupo Xamanismo

Guilherme de Azevedo (Alma Nova) XIII

foi mantida a grafia original.
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A MÃE

Eu canto-vos, mulher, porque vos tenho visto
Na pálpebra vermelha a lágrima de amor,
Que vem de Eva a Maria — a doce mãe de Cristo -
Formando a estalactite imensa duma dor!

Oh, quantas vezes já na aldeia miserável
Nas tristezas do campo, às portas dos casais,
Vos tenho surpreendido, em êxtase adorável,
Enquanto os filhos nus ao peito conchegais!

A fria noite chega. Os maus, de boca cheia,
Rebolam-se na terra: ainda pedem pão!
Com eles repartis a vossa parca ceia;
E vendo-os a dormir podeis sorrir então.

De inverno quase sempre as noites são mordentes.
Uivam lobos na serra: o vento uiva também:
Mas eles vão dormindo os longos sonos quentes,
Enquanto a vil insónia oprime a pobre mãe!

Tendes sustos cruéis. Temendo que lhes caia
A roupa que os abafa, aos pobres acudis;
E aninhando-os melhor nas vossas velhas saias
Podeis então dormir um tanto mais feliz.

Mulher quanto é suave e longo esse poema
Quanto é preciso ó mãe, no trânsito cruel,
Que vossa alma estremeça e o vosso peito gema
A fim de que em vós brilhe o mais alto laurel!

Quem é que nunca viu, na rua, a cada passo,
A pálida mulher que rompe a multidão,
Trazendo agasalhado, um filho no regaço,
E aos tombos, muita vez, um outro pela mão?!

Nos frios do lajedo, às vezes, pede esmola
Às portas dos cafés: ninguém a quer ouvir:
E a ela qualquer côdea a farta e a consola
Contanto que sem fome os filhos vão dormir!

E enquanto à luz do gás a turba prazenteira
No fumo dos festins revoa em turbilhão,
Quantos dramas cruéis nas húmidas trapeiras;
Nos campos quantas mães sem roupas e sem pão?!

E sempre a mesma lenda, a mesma história antiga:
Do palácio à cabana o vosso doce olhar,
Nas insónias cruéis, na fome ou na fadiga,
Dum raio criador o berço a iluminar!

No entanto à doce mãe, se aquele amor sem termo,
Da moda traja agora os novos ouropéis,
E o vosso coração já gasto e um pouco enfermo,
Sofrendo se dilui nos ideais cruéis;

Nas vagas pulsações dumas recentes ânsias,
Se aquela santa flor das grandes comoções,
Apenas tem lugar nas vossas elegâncias,
Como um enfeite de mimo amado nos salões;

Na corrente fatal que ao longe arrasta os povos,
Se o vosso grande afeto intenta erguer-se mais,
Sonhando a sagração dos heroísmos novos,
Resplendente de luz; vistosa de metais:

Aos reflexos do gás, ó mãe, abri passagem
Por entre a saudação das alas cortesãs,
Levando as seduções da vossa doce imagem
Aos delírios da noite, às ceias das manhãs!

Surgi do canto obscuro aonde o casto seio
Palpita ingénuo e bom na paz da solidão,
E o vosso amor levai à ópera e ao passeio
A fim de que ele arranque um bravo à multidão!

E eu hei de rir ao ver que o peito onde um tesouro
Maior do que nenhum podemos encontrar,
Intenta seduzir pela medalha de ouro
Que aos pequenos heróis os reis costumam dar!

Arcanjo vai-te embora: é tarde: em nossas casas
Talvez alguém se aflija; é tão deserta a rua!...
Tu deves sentir frio! Embuça-te nas asas:
Dá saudades à lua.

Um beijo em cada estrela! ... Espera que eu sou louco!
Sonhei devo pagar: perdão anjo dos céus!
Agora tem cuidado; o céu escorrega um pouco:
Boas noites adeus!

SANTA SIMPLICIDADE

Na serena missão de paz que tu cumpriste
Ó suave Jesus, ó doce galileu,
Que santa singeleza e que perfume triste
Do Teu casto perfil no mundo rescendeu!

Havia no Teu verbo aquela unção divina
Que a velha harpa de Job soltou nas solidões,
E o belo, o puro sol da antiga Palestina
Suave contornou, de luz, Tuas feições!

Compunham-Te o cortejo uns pobres pescadores
Almas retas e sãs; marchavas por Teu pé,
E sorrias falando aos rudes e aos pastores,
Sentado nos portais da pobre Nazaré.

Da Tua Galileia os vales percorrias
Levando um bom quinhão de afeto a cada lar,
E o grande olhar suave e terno das judias
Turbaste muita vez, decerto, sem pensar!

E mais simples na morte, apenas a Tua alma
Transpunha as regiões puríssimas do sol,
Tu que havias colhido a imorredoura palma
Não tinhas para o corpo as galas dum lençol!

Consola-te ó Jesus! Tu deves já ter visto
Que sobre a Terra, agora, ao Teu nome fiéis,
Os que se dizem ser apóstolos de Cristo
Não precisam trajar os ínfimos buréis.

Não maceram seus pés! Não vão pobres e rotos
Envoltos na estamenha, apedrejados, sós,
Nos desertos viver de mel e gafanhotos,
Convertendo o gentio ao som da sua voz.

Ante eles, ao contrário, alargam-se os batentes
Dos palácios reais, nas grandes receções,
E formam-lhes cortejo os coches reluzentes
Atrás dos quais se bate um trote de esquadrões!

Cobrindo-lhes, depois, de insígnias as roupetas,
A fim de honrar melhor a primitiva fé,
Redobram-se ainda mais as velhas etiquetas;
Polvilham-se melhor os homens da libré!

E dão-se-lhes festins onde há grandes baixelas,
Fatais cintilações de vinhos e rubins,
Gargantas ideais, grandes espáduas belas,
Lampejo de cristais, insídias de cetins!

Oh! Temo bem Jesus que tantas pedrarias
Façam peso de mais na barca do Senhor,
Quando é certo que as mãos de Pedro um pouco frias
Mal podem segurar o leme salvador!

Por isso quando avisto o espaço que negreja
E o mar que se encapela, eu temo que amanhã
Do fendido baixel da Tua velha Igreja
Apenas reste, à proa, uma ficção pagã!

O velho Olimpo dorme o bom sono comprido
Que prostra o lutador no fim duma batalha,
E os Deuses doutro tempo, em lívida mortalha,
Descansam no torpor dum mundo corrompido.

No puro céu cristão, de estrelas revestido,
No entanto há muito já que chora e que trabalha,
Por nós o Cristo bom sem que seu Pai lhe valha,
A fim de ver, de todo, o mundo redimido!

Justiça, traça o manto alvíssimo e estrelado
E senta-te, mulher, no trono abandonado
Pelos vultos gentis de tantos deuses velhos!

Depois inda maior, mais pura e mais serena,
No sangue de Jesus molhando a tua pena
Explica a nova lei no fim dos evangelhos!

Monteiro Lobato (A Reforma da Natureza) Capítulo 9 - O livro comestível

A maior parte das ideias da Rã eram desse tipo. Pareciam brincadeiras, e isso irritava Emília, que estava tomando muito a sério o seu programa de reforma do mundo. Emília sempre foi uma criaturinha muito séria e convencida. Não fazia nada de brincadeira.

- Parece incrível, Rã! - disse ela. - Chamei você para me ajudar com ideia na reforma, mas até agora não saiu dessa cabecinha uma só coisa aproveitável - só "desmoralizações ..."

- Isso não! A idéia das tetas com torneiras na Mocha foi minha e você gostou muito. A da pulga também.

- Só essas. Todas as outras eu tive de jogar no lixo. Vamos ver mais uma coisa. Que acha que devemos fazer para a reforma dos livros?

A Rãzinha pensou, pensou e não se lembrou de nada.

- Não sei. Parecem-me bem como estão.

- Pois eu tenho uma ideia muito boa - disse Emília. - Fazer o livro comestível.

- Que história é essa?

- Muito simples. Em vez de impressos em papel de madeira, que só é comestível para o caruncho, eu farei os livros impressos em um papel fabricado de trigo e muito bem temperado. A tinta será estudada pêlos químicos - uma tinta que não faça mal para o estômago. Q leitor vai lendo o livro e comendo as
folhas; lê uma, rasga-a e come. Quando chega ao fim da leitura está almoçado ou jantado. Que tal?

A Rãzinha gostou tanto da idéia que até lambeu os beiços.

- Ótimo, Emília! Isto é mais que uma ideia-mãe. E cada capítulo do livro será feito com papel de um certo gosto. As primeiras páginas terão gosto de sopa; as seguintes terão gosto de salada, de assado, de arroz, de tutu de feijão com torresmos. As últimas serão as da sobremesa - gosto de manjar branco, de pudim de laranja, de doce de batata.

- E as folhas do índice - disse Emília - terão gosto de café - serão o cafezinho final do leitor. Dizem que o livro é o pão do espírito. Por que não ser também pão do corpo? As vantagens seriam imensas. Poderiam ser vendidos nas padarias e confeitarias, ou entregues de manhã pelas carrocinhas, juntamente com o pão e o leite.

- Nem precisaria mais pão, Emília! O velho pão viraria livro. O Livro-Pão, o Pão-Livro. Quem soube ler, lê o livro e depois come; quem não souber ler come-o só, sem ler. Desse modo o livro pode ter entrada em todas as casas, seja dos sábios, seja dos analfabetos. Otimíssima ideia , Emília!

- Sim - disse esta muito satisfeita com o entusiasmo da Rã. - Porque, afinal de contas, isso de fazer os livros só comíveis para o caruncho é bobagem - podemos fazê-los comíveis para nós também.

- E quem deu a você essa ideia , Emília?

- Foi o raciocínio. O livro existe para ser lido, não é? Mas depois que o lemos e ficamos com toda a história na cabeça, o livro se torna uma inutilidade na casa. Ora, tornando se comestível, diminuímos uma inutilidade.

- E quando a gente quiser reler um livro?

- Compra outro, do mesmo modo que compramos outro pão todos os dias.

A ideia, depois de discutida em todos os seus aspectos, foi aprovada, e Emília reformou toda a biblioteca de Dona Benta. Fez um papel gostosíssimo e de muito fácil digestão, com sabor e cheiro bastante variados, de modo que todos os paladares se satisfizessem. Só não reformou os dicionários e outros livros de consulta. Emília pensava em tudo.

Também reformou muita coisa na casa. Por meio de cordas e carretilhas as camas subiam para o forro de manhã, depois de desocupadas, a fim de aumentar o espaço dos cômodos. As fechaduras não precisavam de chaves; bastava que as pessoas pusessem a boca no buraco e dissessem: "Sésamo, abre-te" e elas se abriam por si mesmas.

- E os mudos? - perguntou a Rãzinha. - Como vão arrumar-se? Só se eles andarem com uma vitrola no bolso, que pronuncie por eles a palavra Sésamo.

Emília atrapalhou-se com o caso dos mudos e deixou-o para resolver depois. O leite a ferver ao fogo dava um assobio quando chegava no ponto, de modo a avisar ao fogo, o qual imediatamente parava de agir. Q mesmo com todas as comidas - e dessa maneira acabou-se a desagradável história do "feijão com bispo."

E tanta e tanta coisa as duas fizeram, que se fôssemos contar metade teríamos de encher dois volumes. Lá pelo fim da semana o Sítio do Pica-pau estava totalmente transformado, não dando a menor idéia do antigo. Foi por essa ocasião que chegou carta de Dona Benta anunciando a volta.

- "Já concluímos o nosso serviço na Europa" - dizia ela. - "Deixamos o continente transformado num perfeito sítio - com tudo direitinho e todos contentes e felizes. A Comissão que nos trouxe vai reconduzir-nos para aí novamente. Devemos chegar na próxima segunda-feira e espero encontrar tudo em ordem."

Emília leu a carta para a Rãzinha, dizendo:

"É uma danada, esta velha! Foi lá e fez o que todos aqueles ditadores e reis não conseguiram. Temos agora de preparar a casa para recebê-la."
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continua