terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Concurso de Poesia Popular da UBT Maranguape - 2013 (Trovas : Resultado Final)

ÂMBITO – NACIONAL/INTERNACIONAL
 

Objetivo: Destinado a homenagear ao historiador Capistrano de Abreu, pela passagem dos 160 anos de seu nascimento, ocorrido em 23 de outubro de 1853 em Maranguape/Ceará, patrono emérito da ACLA.

Tema: Deve constar na trova lírica/filosófica uma das palavras:
Capistrano, Capistrano de Abreu, historiador, Maranguape, Ceará, maranguapense, cearense, Columinjuba, academia, ACLA.

TROVAS CLASSIFICADAS

VENCEDORES

1º. Lugar:


Nas letras teve por plano
ser um guerreiro fiel...
E as armas de Capistrano
foram a pena e o papel!
EDMAR JAPIASSÚ MAIA - Nova Friburgo/RJ

2º. Lugar:


Capistrano, tua glória,
de nós todos tem aval,
por dares crédito à História
do Brasil Colonial!
DODORA GALINARI - Belo Horizonte/MG

3º. Lugar:


Homem de sete instrumentos,
o Capistrano de Abreu,
é dos maiores talentos
que, no Brasil, floresceu.
GERALDO LYRA - Recife/PE

 MENÇÕES HONROSAS:

4º. Lugar:


“Capistrano”, tens na História,
tamanha beleza e porte,
que  revestiste de glória,
transcendendo o tempo e a morte!
IVONE TAGLIALEGNA PRADO - Belo Horizonte/MG

5º. Lugar:


Capistrano, nosso filho,
pelas obras que gerou
e o saber de grande brilho,
Maranguape iluminou.
DULCÍDIO DE BARROS MOREIRA SOBRINHO - Juiz de Fora/MG

6º. Lugar:


Capistrano...um baluarte
que Maranguape bendiz,
na escrita pôs a sua Arte,
no coração...seu País!
EDMAR JAPIASSÚ MAIA - Nova Friburgo/RJ

MENÇÕES ESPECIAIS

7º. Lugar:


Capistrano fez história
do Brasil e nos deixou
o seu legado de glória
que ele em vida conquistou!...
THEREZINHA TAVARES - Nova Friburgo/RJ

8º. Lugar:


Capistrano colhe a história
e dela traça o perfil:
- em cada fato, uma glória!
- em cada glória, o Brasil!
CAROLINA RAMOS - Santos/SP

9º. Lugar:


Todo o Brasil reconhece
de Capistrano, o valor.
Maranguape se envaidece
de ser berço do escritor.
ALBA HELENA CORRÊA - Niterói/RJ

DESTAQUES

10º. Lugar:


Maranguape, sua história,
rica de prosa e poesia
tem Capistrano por glória
patronando a Academia.
NILTON MANOEL - Ribeirão Preto/SP

 11º. Lugar:


Capistrano, gente rara,
deixou mensagem sutil:
só com vergonha na cara
salvaremos o Brasil.
OLYMPIO DA CRUZ SIMÕES COUTINHO - Belo Horizonte/MG

12º. Lugar:


Por seus feitos culturais,
Maranguape lhe proveu,
Patrono dos Imortais,
oh Capistrano de Abreu!
FABIANO DE CRISTO MAGALHÃES WANDERLEY - Natal/RN
=
=

ÂMBITO ESTADUAL - CEARÁ

VENCEDORES

1º. Lugar:


João Capistrano de Abreu
escreveu bem nossa história
por isso é que mereceu
tanta fama e tanta glória.
JOÃO OSVALDO SOARES - Maranguape/CE

2º. Lugar:


Ao longo da trajetória
de grande pesquisador
Capistrano fez História
de imensurável valor.
ANA MARIA NASCIMENTO - Araçoiaba/CE

3º. Lugar:

Um grande homem da história
que Maranguape nos deu
e nos trouxe muita glória,
foi Capistrano de Abreu.
ARGENTINA ANDRADE - Fortaleza/CE

 MENÇÕES HONROSAS

4º. Lugar:


Em território serrano,
foi por lá onde nasceu,
O ínclito Capistrano
De ilustre família Abreu.
HAROLDO LYRA - Fortaleza/CE

5º. Lugar:


Toda História do Brasil
por Capistrano contada,
nos mostra sempre o perfil
desta terra abençoada.
BÁRBARA MAYÃ ALENCAR - Fortaleza/CE

6º. Lugar:


Uma personalidade
que em Maranguape nasceu
nos deu a celebridade,
de Capistrano de Abreu.
BÁRBARA MAYÃ ALENCAR - Fortaleza/CE

 MENÇÕES ESPECIAIS

7º. Lugar:


Por mais um ano de história
De Capistrano de Abreu,
Faz-lhe jus, pela memória,
Maranguape, o berço seu!
ABELARDO NOGUEIRA - Araçoiaba/CE

8º. Lugar:

João Capistrano Honório
Com sobrenome de Abreu.
Um historiador notório.
Maranguape o concebeu.
ARTEMIZA CORREIA - Ocara/CE

9º. Lugar:

Com Capistrano de Abreu,
que grande historiador!-
O nosso povo aprendeu
a pesquisar com primor.
ANA MARIA NASCIMENTO - Araçoiaba/CE

 DESTAQUES

10º. Lugar:


Um marco na nossa história
Capistrano nos legou,
Foi sua profunda glória
O que ele nos deixou.
ARGENTINA ANDRADE - Fortaleza/CE

11º. Lugar:


Capistrano, não morreu,
em Maranguape, a raiz,
o seu nome já venceu
conservado no verniz.
SONIA NOGUEIRA - Fortaleza/CE

12º. Lugar:


Abreu família querida
mais destacada do ano,
cento e sessenta assistida
como o clã de Capistrano.
HAROLDO LYRA - Fortaleza/CE

Michel Roberto (A Filha de Marlene)

Ela olhou bem fundo nos olhos de sua mãe. Havia alguns minutos que aqueles círculos não tão brilhantes despertavam a sua curiosidade. Simplesmente era um mundo novo sendo descoberto a cada piscar de olhos, a cada movimento daquelas mãos que acabaram de sentir o que era uma dor física insuportável.

Seus cabelos loiros, curtos e cacheados eram herança de seu pai, um polaco que vivia enfurnado nas casas de jogos da cidade. Anteontem até duvidaram que ela fosse mesmo filha de Marlene, tamanha era a diferença de cor, cabelo e, principalmente, de vida nos olhos. “Certeza que é essa sua filha, Marlene?” – disse a dona da banca de revista que ficava perto da esquina onde a mãe pedia esmola.

Agora a menina usava seus preciosos minutos para desvendar aquele olhar de sua mãe. Um olhar de alguém que já deveria ter pedido a conta da vida e se ausentado para sempre. Alguém que já estava utilizando um bônus nesse nosso jogo de viver. E desvendar esse olhar tão sem vida não era o principal objetivo da menina, mesmo porque ainda não era capaz de sequer formular algum pensamento válido acerca da tristeza que estava impregnada no olhar de sua mãe. Apenas lhe chamava a atenção o sentimento indeterminado que subia por sua garganta.

Marlene sentiu profundamente sua filha tentando desvendar qual sentimento a mãe lhe passava. Sentimento de dor, esquecimento, desconsideração, talvez uma mágoa que chega de antemão. Nem ela sabia qual sentimento que o seu olhar transmitia para as outras pessoas. Mas sabia sim que de alguma forma um simples contato de olhos modificava a atitude de qualquer um que se atrevesse a cruzar o mesmo campo de visão que o dela. Era amargo demais.

Agora, depois de queimar o dedo de sua filha sem querer com uma brasa do cigarro, Marlene já não enxergava nada em sua frente, a não ser a porta da igreja a sua frente com um Jesus Cristo crucificado sangrando nas mãos, cabeça e pés, pedindo para ela o acompanhar, pois aquela vida já não mais pertencia a ela. Era chegada a vez de sua filha e, nesse momento, deveria ser apenas ela a continuar.

Colocou a menina em cima daquelas caixas de papelão que se transformavam em abrigo durante a noite fria. Passou na banca, avisou a dona que o Polaco estava pra chegar e apanhar a menina. Saiu.

Nunca mais se ouviu falar de Marlene.

Fonte:
Contos Maringaenses

Teófilo Braga (O Cavalinho das Sete Cores)

Recolhido em Lagoa, no Algarve

Um conde tinha ficado cativo na guerra dos mouros. Levaram-no ao rei para que fizesse dele o que quisesse. Tinha o rei três filhas, todas três muito formosas, que pediram ao pai que o deixasse ficar prisioneiro no castelo até que o viessem resgatar. A menina mais velha foi ter com o conde, e disse-lhe que casaria com ele, se lhe ensinasse qualquer coisa que ela não soubesse. O cativo disse:

– Pois ensino-te a minha religião, e vens comigo para o meu reino, e casaremos.

Ela não quis. Deu-se o mesmo com a segunda.

Veio por sua vez a menina mais moça; quis aprender a religião, e combinaram fugir do castelo, sem que o rei soubesse de nada. Disse então ela:

– Vai à cavalariça, e hás de lá encontrar um rico cavalinho de sete cores, que corre como o pensamento. Espera por mim no pátio, à noite, e partiremos ambos.

Assim fez. A princesa apareceu com os seus vestidos de moura, com muitas joias, e à primeira palavra que disse logo o cavalinho das sete cores se pôs nas vizinhanças da cidade donde era natural o cativo conde.

Antes de chegar à cidade havia um grande areal; o conde apeou-se, e disse à princesa moura que esperasse ali por ele, enquanto ia ao seu palácio buscar fatos próprios para aparecer na corte, porque estava com roupas de cativo e ela de mourisca.
   
Assim que a princesa ouviu isto, rompeu em um grande choro:

– Por tudo quanto há não me deixes aqui, porque hás de te esquecer de mim.

– Como é que isso pode ser?

– Porque assim que te separares de mim e alguém te abraçar logo me esqueces completamente.

O conde prometeu que se não deixaria abraçar por ninguém, e partiu; mas assim que chegou ao palácio a sua ama-de-leite conheceu-o, e com a alegria foi para ele e abraçou-o pelas costas. Não foi preciso mais; nunca mais ele se pôde lembrar da princesa. Ela tinha ficado no areal, e foi dar a uma cabana onde vivia uma pobre mulher, que a recolheu e tratou bem; ali foi ter a notícia que o conde estava para casar com uma formosa princesa, e na véspera do casamento a mourinha pediu ao filho da velha que levasse o cavalinho das sete cores a passear no adro da igreja em que se haviam de casar.

Assim foi; quando chegou o noivo com o acompanhamento, ficou pasmado de ver um tão belo cavalinho, e quis mirá-lo de mais perto. O moço que o passeava andava a dizer:

– Anda, cavalinho, anda,
Não esqueças o andar,
Como o conde esqueceu
A moura no areal.

O noivo lembrou-se logo da sorte que lhe tinha caído, desfez o casamento com a princesa e foi buscar a mourinha com quem casou, e viveram muito felizes.

Fonte:
Contos Tradicionais do Povo Português

Machado de Assis (Gazeta de Holanda) N.º 39 – 6 de dezembro de 1887

Peguei da mais rica pena,
Molhei-a na melhor tinta,
E fiz uma cantilena:
“Tinta que repinta e pinta”.

Que haja nisso algum sentido,
Livre-me Deus de escrevê-lo;
Sentido, bem entendido,
No sentido de entendê-lo.

Mas que há nessa linha escura
Uma íntima harmonia
Com tudo o mais que se apura
De tantos casos do dia,

Isso é que não há negá-lo,
Exceto se uma pessoa
Quiser fazer de cavalo,
Assim, sem mais nada, à toa.

Pois não andou toda a gente
Com a imaginação acesa,
Em busca do presidente
Da República Francesa?

Havia apostas. Um era
Ferry, outro — homem de espada,
Outro Freycinet quisera,
Outro — Floquet, outro — nada.

E de tanta gente oposta
Sai um que a ninguém havia
Feito cuidar em aposta,
Se seria ou não seria...

Já sei... Não me explique, amigo;
Não seja de uns desfrutáveis
Que juram sempre consigo
Explicar os explicáveis.

Por exemplo, não me explique
O Ney, nem a delicada
Ação que faz com que fique
Toda a idade pasmada.

Essa jóia, esses quinhentos
Mil réis dados de pronto,
Como quem espalha aos ventos
Palavras leves de um conto,

Ação foi de grande siso;
Ter-se entre duas pilhérias
Ney, o marechal do riso,
Consolador de misérias.

E muitos pasmados ficam,
Por não crer que alguém possua
Cobres que se multiplicam
E os lance estéreis à rua.

Depois disto vem aquilo
Que a nenhum de nós consola,
Nem deixa a ninguém tranqüilo,
Nem traz figura de esmola.

Refiro-me às ameaças
Da Amazônia, que deseja,
Resguardar as suas graças
Do nosso amor, salvo seja.

Tudo porque há um sujeito,
Cardoso, ou cousa que o valha,
Que, não sei por que respeito,
Na tarefa em que trabalha,

Brigou com outra pessoa,
E os dois, que podiam juntos
Fazer muito cousa boa,
Em variados assuntos,

Agora não fazem nada;
Pregam-me até esta peça
De pôr a quadra acabada
Pendente da que começa.

Depois, daquilo, aquil'outro,
Expressão que ficaria,
Não rimando (e mal) com potro,
Sozinha, sem companhia.

Aquil’outro é a abundância
De roubos eclesiásticos,
Feitos com a petulância
Dos grandes dedos elásticos.

Sacrílegas limpaduras
Da casa de Deus — dos ouros,
Das pratas sacras e puras...
Naturalmente, só mouros.

Mouros — sejam da Mourama,
Ou mouros da Cristandade,
Que os há de uma e de outra rama
Por toda essa humanidade.

Não foram seguramente
Os capoeiras da rua
Que matam e francamente
Pela forte gente sua.

Adeus, versos duros, frouxos,
Sem inspiração nem graça,
Obra destes dias coxos,
Furtados e sem chalaça.

Por isso peguei da pena,
Por isso a molhei na tinta,
E fiz esta cantilena:
“Tinta que repinta e pinta!”

Fonte:
Obra Completa de Machado de Assis, Edições Jackson, Rio de Janeiro, 1937.
Publicado originalmente na Gazeta de Noticias, Rio de Janeiro, de 01/11/1886 a 24/02/1888.

Maria Thereza Leite (O Olhar Sobre uma Avenida)

Caminhar por uma mesma avenida, durante décadas, desde os seus começos até o momento em que esta, engolida pelos automóveis, força o desvio por outras ruas próximas, permite que se desenvolva um olhar perscrutador, às vezes como se debruçado num sonho, num momento de encantação, outras, inquisitivo ou enigmático, sobre aquilo que se pensa ver repetidamente. Talvez um recurso para que, verdade ou ficção, não se perca ali a capacidade de uma leitura atenta do espaço e da sua narrativa diferenciada pelo tempo, carregada de sustos, surpresas, dúvidas ou encantamento. Para que não se mergulhe no tédio e na indiferença e se acredite sempre que há algo de melhor a se fazer ali, ainda, e não se perca de vez a esperança. Mas, afinal, o que um simples olhar pode fazer por uma avenida?! Se “um mesmo homem não atravessa o mesmo rio duas vezes” – pois ambos já mudaram durante a travessia, o que dizer de uma avenida… Tão rápido ela se transforma… Do que ela precisará agora, quando eu também já não estarei lá?

Fonte:
http://therezaleite.wordpress.com/‎

Maria Thereza Leite (Passagem Secreta para Rua)

“Passagem secreta para a rua”, obra de Maria Thereza Leite está situado dentro do que podemos classificar de literatura contemporânea, e nos dá uma ideia do teor literário dos escritores da atualidade.

O conto “Passagem secreta para a rua”, traz uma característica forte dos contos contemporâneos que é a exploração de um tempo interior psicológico. A narração em 3º pessoa existente no conto nos permite entender todo o drama que se passa com os personagens, o sofrimento interior, casos densos de significação humana, indagações próprias da introspecção, formando contextos trágicos, enigmáticos que favorecem o crescimento da narrativa.

A escrita de Maria Thereza é dotada de detalhes, porém não deixam o conto exaustivo, ao contrario prende o leitor faz criar imagens, sons, cores, clima inebriante quase palpável, levando comoção e compaixão ao leitor. O olhar da narradora sobre os fatos detalhados no enredo não é um olhar preconceituoso, mas se derramam em contextos densos, dramáticos, porém suaves, rompendo com qualquer estrutura opressiva, sua linguagem coloquial apresenta vocabulários atuais, inerente a abordagem da atualidade.

Dentro deste contexto faz também uma analise da vida urbana dos grandes centros, de modo poético, sensível e quase imperceptível aborda temas como o crescimento das cidades, a violência, poluição e o estresse criado por tudo isso e a busca neste meio de uma existência um pouco mais satisfatória mudando o modo de viver das pessoas gerando o aprisionamento das mesmas enraizadas na preservação de si e dos entes em suas próprias residências, como deixa transparecer o enredo de “Passagem secreta para a rua”.

As narrativas de Maria Thereza, como podem observar tomando por base o conto analisado deixa entrever a dúvida nos atos dos personagens que dá ao leitor múltiplas significações e entendimentos além texto, o que parece ser uma característica utilizada em recorrência pela autora, destacando em uma leitura limpa e inebriante o brilhantismo da mesma.

Fonte:
artigo publicado por Kercya Nara Felipe de Castro, sob o título Literatura cearense e contemporaneidade:a atualidade expressa no conto de Maria Thereza Leite. Disponível em Brasil Escola

Nilto Maciel (Contistas do Ceará) – Outros Contistas – Maria Thereza Leite

    
        Maria Thereza Leite nasceu em Fortaleza. Cursou jornalismo na Universidade Católica do Rio de Janeiro. Pós-graduação na UECE. Ganhadora de diversos prêmios literários. Estreou em livro com Mosaicos, contos, em 2003. Passagem Secreta para a Lua, também de contos, é de 2007.

            Depois de submeter contos ao olhar de leitores experientes, em concursos, Maria Thereza Leite reuniu no volume Mosaicos algumas daquelas peças e outras inéditas. Apenas uma pode ser considerada curta: “Quando nós éramos pássaros”, com pouco mais de duas páginas. As demais vão de quatro a dezessete. Umas são narradas por protagonista; outras, por narrador onisciente. Os tradicionais diálogos antecedidos de travessão foram abolidos. No entanto, o que sobressai nessas narrativas é o uso constante do discurso indireto livre e do monólogo interior, num ir e vir do foco narrativo, ora em direção ao ser fictício e suas introspecções, ora voltado para o exterior, o ambiente ou o fato, seja ele pretérito ou presente.

Assim, o protagonista de “Mosaicos” inicia a narração com Ana a se balançar numa rede e a vasculhar os céus com o tubo formado pelas mãos, “à guisa de telescópio”. Ao mesmo tempo, descreve o ambiente: os armadores da parede, a varanda de labirinto da rede, os telhados das casas, os prédios, as luzes da cidade, a abóbada celeste. A seguir, como se a luz se apagasse, como se personagem e lugar se envolvessem em sombras, o narrador penetra na alma de Ana e lhe concede a oportunidade de falar ou monologar: “Pois contrariando todas as expectativas, ela estava ali, viva. E sentia-se feliz”. Não exatamente, isto, porque ainda o verbo se emprega na terceira pessoa. No entanto, não há episódios, mas somente flashes do passado, seguidos de análises psicológicas, considerações, observações. Os verbos inativos, por isso, substituem os de ação.

Na apresentação da obra, Carlos Augusto Viana observa: (...) “os contos comportam, ao mesmo tempo, dois motivos: o factual e as ondulações psíquicas, isto é, uma história dentro de outra história”. Verifique-se a construção de “A Desconhecida”. Logo na abertura o narrador se refere à protagonista, que até o final não terá o nome explicitado: “Desde muito pequena, começara a ouvir histórias incomuns narradas por pessoas que iam passando próximas a ela”. Ou seja, a personagem desde menina ia colhendo pedaços de uma história, da história de sua família, de uma desconhecida com quem convivia. “Contavam como aquela mulher vestida de preto (...) retornara à sua cidade natal”. A história se avolumava, aos poucos, para a menina. (...) “Mais adiante (...) os narradores procuravam outras maneiras de tecer hipóteses” (...). Veja-se o constante emprego de vocábulos próprios da teoria da narração. “Precipitados, eles esqueciam que as histórias tinham seus começos” (...). Ou seja, os narradores se precipitavam e esqueciam o início do drama, começando pelo meio ou final. “Mais adiante, quando as dores se deram por amainadas, as narrativas puderam tomar outros rumos” (...). Porque os contos não são lineares, se bifurcam, se estilhaçam. “Os contadores de histórias, já velhos, depois de levarem a filha da desconhecida a passear em paisagens antigas, para melhor se fazer compreender, resolveram entregar as provas de que ela era a herdeira de todas aquelas narrativas”. A menina seria, então, a narradora ou a dona dos dramas. Mais adiante, quase no final, se lê: “Não havia mais o que contar”. A peça ficcional se completava, alcançava o final.

Nos contos de feição tradicional, de enredo plenamente ordenado, em que o descritivo narrativo linear se manifesta com mais ênfase, os personagens são retratos, figuras, seres com feições e nomes próprios. Nas composições modernas e pós-modernas ou sem ação externa, introspectivas, eles tendem a perder as formas, os contornos e até os nomes. São como retratos psicológicos, sem rostos, sem traços característicos, muitas vezes. Ana, de “Mosaicos”, era “moça doente” e só. A protagonista de “A Desconhecida”, assim como os demais seres fictícios, parece totalmente opaca. O narrador de “A angústia das árvores do parque” é um homem a caminhar sozinho num parque. Em “Quando nós éramos pássaros” os seres fictícios são apenas “ele” e “ela”. Quando os nomes são mencionados, como Clara e Vicência, de “Um varal novo para o ‘inverno’”, o que mais importa são a casa, o sítio, as árvores, os bonecos de pano, o tempo a escoar.

Os conflitos nos contos de Maria Thereza Leite são de natureza subjetiva. Os personagens se debatem na solidão, se voltam para dentro de si mesmos, afundam em introspecções, como se não participassem de ações reais. A paisagem é como uma figura colada na parede. O tempo passa e o personagem, ao acordar do torpor, olha para o mundo e é como se não tivesse percebido que também a paisagem muda, as velhas construções são substituídas por outras (casarões por prédios), o mato dá lugar a ruas. “Logo Ana se viu só na casa paterna de corredores vazios, cozinha sem cheiros e salas mudas, onde a craviúna, outrora polida a óleo de peroba, se tornava opaca pela fina poeira”. O protagonista de “A angústia das árvores do parque” relembra um passeio ao parque: “Tudo estava cinza e pesado, num alvorecer chuvoso que não conseguia clarear”. E durante toda a narração prepara o leitor para o desfecho: as árvores choravam e com ele conversavam, como se quisessem avisá-lo da tragédia ocorrida havia pouco. Por isso, os seres não são vazios, bonecos de pano, mas, antes, complexos, em permanente conflito interior.

O espaço da ação nos contos de Mosaicos é essencial para a movimentação interior dos protagonistas. O alpendre onde Ana se balançava, deitada numa rede, e de onde podia ver as estrelas, possibilitava o ir e vir do “emaranhado de lembranças” que a fazia acordada até o amanhecer. O parque, suas alamedas, “as verdes copas das árvores”, “a capela branca do outro lado da rua” – nesse ambiente bucólico se desenhava a tragédia que iria marcar a vida do narrador de “A angústia das árvores do parque”. A casa de “Não perca tempo olhando ursos prateados”, com seu portão de ferro, o alpendre, “as tábuas corridas do nobre angico”, as persianas e a televisão a mostrar “enormes ursos prateados” a tomarem refrigerante, é nessa casa que a personagem se debate em dúvidas. Por isso a importância do olhar nas composições de Maria Thereza Leite. Como o de Ana, a vasculhar os céus, a olhar estrelas. Ou o do homem do parque, a querer ver o voltear alegre de carrossel ou um leve aceno, enquanto as árvores o observavam. Como o do “colecionador de vitrines”, a olhar a exposição dos artigos de luxo e se ver refletido no espelho. Depois, no alto da árvore de Natal, “podia ver lá em baixo, à frente, o mar e o enorme e escuro navio ancorado”. Ao chegar ao topo, podia ver o mundo. E lançar-se ao espaço. Dos mais significativos nesse aspecto é “O ‘olho da libélula’”. Seu Francisco captura uma libélula para o menino e explica: “Ela tinha também o maior olho proporcional do reino animal, com o cristalino multifacetado, o que lhe permitia enxergar a imagem de um objeto, repetida, vinte e quatro vezes”.

Enquanto os personagens olham e veem o mundo, suas partículas, sejam estrelas, sejam grãos de areia, os narradores transformam esses olhares em sons, em palavras. Pois é possível ouvir estrelas, como poetizou Bilac.

Mosaicos são pavimentos de ladrilhos variegados, desenhos, peças de cores, para serem vistos. Se são mosaicos interiores, são pavimentos para serem vistos por todos os sentidos. Pois quando o olhar é proibido, os ouvidos assumem o lugar dos olhos. A menina de “A desconhecida” é toda ouvidos, para escutar as narrativas que se contam na casa onde vive. Mas até ouvir não lhe é permitido: “Uma criança pequena não precisava ouvir aquelas histórias desmedidas”.

Assim são os mosaicos sonoros de Maria Thereza Leite.

Fonte:
MACIEL, Nilto. Contistas do Ceará: D’A Quinzena ao Caos Portátil. Fortaleza/CE: Imprece, 2008.

sábado, 8 de fevereiro de 2014

A Saudade em Versos Diversos I


ALESSANDRA NEVES
Pra um dia ela voltar

E é sempre assim,
Quando você acha que a saudade se vai
Quando você acha que o vazio se acaba
Quando você acha que tudo passou
A saudade surge!
Aparece!
E você esta ali impotente...
Ela machuca e faz doer
E você nada pode fazer
Talvez chorar
Possa aliviar o peito
Mas nunca curar a alma...
Talvez sorrir, e
Se fizer de conta que não a vê
Talvez ela se vá!
Que nada!
E permanece o tempo que ELA quiser
E você não tem escolha
Fica remoendo os bons momentos
A alegria
Ou até mesmo apenas a falta da presença sentida
E uma hora,
O tempo, que não cura nada,
Faz com que você se acostume com a dor...
Faz com que você se acostume
Com a falta da presença
Faz com que você se acostume...
Pra um dia ela voltar.
=================

BENEVIDES GARCIA
Minha Saudade

Minha saudade parece infinita;
Ela vem de séculos,
Caminha por muitos cantos,
E beija as almas nas lembranças doces.
Ela me conforta nos dias sombrios
Quando a solidão resolve me abraçar.
Está sempre indo e vindo:
Às vezes me dá de presente uma alegria
Mas, sempre me faz chorar...
Tem dias que passa o tempo comigo
Depois parte em busca de novos corações.
E assim tudo se renova
Até chegar o dia,
Até chegar o dia…
========================

FLORBELA ESPANCA
Saudades

Saudades! Sim.. talvez.. e por que não?...
Se o sonho foi tão alto e forte
Que pensara vê-lo até à morte
Deslumbrar-me de luz o coração!

Esquecer! Para quê?... Ah, como é vão!
Que tudo isso, Amor, nos não importe.
Se ele deixou beleza que conforte
Deve-nos ser sagrado como o pão.

Quantas vezes, Amor, já te esqueci,
Para mais doidamente me lembrar
Mais decididamente me lembrar de ti!

E quem dera que fosse sempre assim:
Quanto menos quisesse recordar
Mais saudade andasse presa a mim!
==============
 
PATATIVA DO ASSARÉ

Há dor que mata a pessoa
Sem dó nem piedade.
Porém não há dor que doa
Como a dor de uma saudade.
==============

 SONIA NOGUEIRA
Saudade

Quando a saudade bate a porta
O sonho corre longe ao meu sertão
Lembranças da criança em compota
Adoça devagar meu coração

Revejo o gado solta na pastagem
O rio nas enchentes percorrendo
A terra encharcando, só aragem
A lua poderosa pernoitando

Relembro a serenata na calçada
Menina ainda, a tia se afoitando
Chegava tímida na janela disfarçada
O violão nas cordas amor cantando

A casa tão distante da cidade
A paz reinava firme sem barulho
De dia a rotina forte da enxada
Silêncio e solidão, no sonho o vulto

Trazia dois olhares que sonhavam
Promessas de amor em jura eterna
Sonho de menina que voaram
Sumiu na imensidão o sonho hiberna.
=================

SÍLVIA ARAÚJO MOTTA
Vida sem canção

Ah! Se eu pudesse ter os seus abraços
de madrugada, sem ninguém se opor;
parar a hora para atar os laços
sem ver a aurora, tempo que traz dor...

Ah! Se eu pudesse em pautas ter compassos,
prender o amor, manter o seu sabor,
fruto de outrora, doce entre os amassos
do ser amado, meu melhor cantor.

Ele se foi...Mudou a nossa meta;
levou também a imagem do prazer;
e na saudade marcas da traição;

Que faço agora? Trago a dor secreta;
triste, sozinha, não sei que fazer!
Minha alma chora a vida sem canção.

Fonte:
AISENMAN, Jacqueline. Revista Varal do Brasil. Varal da Saudade. ano 4. n. 23. maio/junho 2013.

Irmãos Grimm (Branca de Neve e a Rosa Vermelha)

Era uma vez uma pobre viúva que vivia numa cabana solitária. Na frente da cabana havia um jardim onde dois pés de roseiras cresciam orgulhosos, um dos quais dava rosas brancas e o outro produzia rosas vermelhas. Ela tinha duas filhas que eram parecidas com os dois pés de roseira, e uma delas se chamava Branca de Neve, e a outra Rosa Vermelha. Elas eram boas meninas e viviam felizes, eram ágeis e carinhosas como somente duas crianças no mundo poderiam ser, apenas Branca de Neve era mais tranquila e mais gentil do que Rosa Vermelha. Rosa Vermelha gostava mais de correr pelos campos e pradarias em busca de flores e caçando borboletas; mas Branca de Neve gostava de ficar em casa com sua mãe, e a ajudava nas tarefas domésticas, ou lia para ela quando não havia nada para fazer.

As duas meninas gostavam tanto uma da outra que quando elas andavam pelas ruas, elas sempre seguravam uma na mão da outra, e quando Branca de Neve dizia, "Jamais nos separaremos um dia," Rosa Vermelha respondia, "Jamais, enquanto vivermos," e a mãe delas completou, "O que uma tinha, fazia questão de dividir com a outra."

Muitas vezes, elas gostavam de correr pela floresta sozinhas para colher frutas vermelhas, e nenhum animal nunca fez mal algum a elas, mas gostavam de ficar perto delas, porque confiavam nelas. A pequenina lebre gostava de comer folhas de repolho na mão delas, o cabritinho gostava de ficar pulando perto delas, o veadinho saltitava alegremente nos arredores, e os passarinhos ficavam pousados nos galhos das árvores, e cantarolavam canções maravilhosas para elas.

Nunca, nenhum perigo as ameaçava; se elas ficavam muito tempo na floresta, e a noite chegava, elas se deitavam uma perto da outra sobre a relva, e dormiam até a manhã seguinte, e a mãe delas sabia disto e não ficava preocupada com isso.

Uma vez, quando elas tinham passado a noite na floresta e acordaram somente no alvorecer do dia, elas viram uma linda criancinha vestida numa roupinha branca e reluzente que estava sentada perto de onde elas haviam dormido. O bebê se levantou e ficou olhando tranquilamente para elas, mas não disse nada e seguiu andando pela floresta. E quando elas olharam ao redor elas descobriram que haviam dormido bem perto de um precipício, e certamente teriam caído dentro dele na escuridão se elas tivessem dado apenas alguns passinhos a mais. E a mãe delas disse que deve ter sido o anjo que protege todas as crianças boas.

Branca de Neve e Rosa Vermelha ajudavam sua mãe a manter a casa tão limpa que era um prazer olhar dentro dela. No verão, Rosa Vermelha tomou conta da casa, e todos os dias de manhã ela colocava uma coroa de flores na cabeceira da cama de sua mãe antes dela acordar, na qual havia uma rosa de cada roseira. Durante o inverno, Branca de neve acendia a lareira e pendurava uma chaleira. E a chaleira que era de cobre brilhava como ouro, e era polida até ficar reluzente.

Ao anoitecer, quando caíam os flocos de neve, a mamãe dizia, "Branca de Neve, não esqueça de trancar a porta," e então, elas sentavam ao redor da lareira, e a mamãe pegava os seus óculos e lia um livro em voz alta para elas, e as duas garotinhas ficavam ouvindo, sentadas, enquanto fiavam. E perto delas ficava um cordeiro sentado no chão, e atrás delas estava uma pombinha branca sentada no poleiro e tinha a cabeça escondida debaixo de suas asas.

Uma noite, quando elas estavam assim confortavelmente acomodadas, alguém bateu à porta, como se desejasse entrar. A mãe disse, "Rápido, Rosa Vermelha, abra a porta, deve ser algum viajante que está procurando abrigo." Rosa Vermelha foi e destrancou a porta, achando que fosse algum mendigo, mas não era; era um urso que enfiou a sua cabeça grande e negra para dentro da porta.

Rosa Vermelha gritou e deu um pulo para trás, o cordeirinho berrou, a pombinha se agitou, e a própria Branca de Neve se escondeu atrás da cama da sua mãe. Mas o urso começou a falar e disse, "Não tenham medo, Não vou fazer nenhum mal a vocês! Eu estou meio congelado, e só quero me aquecer um pouquinho ao lado de vocês."

"Pobre urso," disse a mãe, "venha aqui se aquecer perto do fogo, e não se preocupe porque você não vai se queimar." Então, ela exclamou, "Branca de Neve, Rosa Vermelha, saiam, o urso não vai fazer mal a vocês, ele só quer se aquecer um pouco." Então, as duas saíram correndo, e pouco a pouco o cordeirinho e a pombinha também se aproximaram, e não ficaram com medo do urso. Então, ele disse, "Ei, crianças, será que vocês poderiam tirar um pouco de neve dos meus pelos;" então, elas trouxeram uma vassoura e escovaram toda a pele do urso; e ele se esticou perto da lareira e rosnava contente e satisfeito. E pouco tempo depois eles já haviam feito amizade, e já faziam estrepolias com o desajeitado convidado. Elas puxavam os pelos dele com as mãos, colocavam os pés nas costas dele e ficavam rolando, ou elas pegavam o quebra-nozes e batiam na cabeça dele, e quando ele rosnava, elas gargalhavam. Mas o urso aceitava tudo com despreocupação, somente quando elas exageravam um pouco ele gritava, "Crianças, me deem um pouco de sossego. Branca de Neve, Rosa Vermelha, vocês teriam coragem de bater em quem as ama?”

Quando chegou a hora de dormir, e as crianças já tinham ido para a cama, a mãe disse para o urso, "Você pode ficar aí deitado ao lado da lareira, pois aí você ficará protegido do frio e do mau tempo." E assim que o dia amanheceu, as duas crianças o deixaram sair, e ele saiu trotando alegre pela neve rumo a floresta.

Desse dia em diante o urso vinha todas as noites na mesma hora, ficava esticado ao lado da lareira, e deixava que as crianças brincassem com ele até se cansarem; e elas ficaram tão acostumadas com ele que as portas jamais eram fechadas até que o amigo delas de pelagem preta houvesse chegado.

Quando a primavera tinha chegado e tudo lá fora estava coberto de verde, o urso falou numa manhã para Branca de Neve, "Agora eu preciso ir embora e não voltarei durante todo o verão." "Para onde você vai, então, querido urso?" perguntou Branca de Neve. "Eu preciso ir para a floresta e guardar os meus tesouros dos malvados duendes. No inverno, quando a terra fica congelada, eles são obrigados a ficar aqui embaixo e não podem trabalhar; mas agora, que o sol derreteu o gelo e aqueceu a terra, ele abrem buracos, e saem para bisbilhotar e roubar; e o que cai em suas mãos, e entra em suas cavernas, não consegue ver a luz do sol novamente."

Branca de Neve ficou muito triste porque o urso precisava ir, e quando ela foi abrir a porta para ele, e o urso saiu apressado, ele esbarrou na tranca e um pouco dos seus pelos foram arrancados, pareceu a Branca de Neve que ela tivesse visto um brilho dourado através dele, mas ela não teve certeza disso. O urso fugiu rapidamente, para logo desaparecer por trás das árvores.

Pouco tempo depois a mãe mandou que suas filhas fossem até a floresta para buscarem lenha para a lareira. Lá elas encontraram uma árvore muito grande que estava caída no chão, e perto do tronco alguma coisa estava pulando pra frente e pra trás na relva, mas elas não conseguiram identificar do que se tratava. Quando elas chegaram mais perto, elas viram um duende com um rostinho magro e envelhecido e uma barba branca como a neve e com quase cem metros de comprimento. A ponta da barba estava presa na fenda de uma árvore, e um amiguinho dele estava pulando para a frente e para trás como um cachorro que estivesse amarrado a uma corda, e não sabia o que fazer.

Ele ficou encantado com as meninas com seus olhos vermelhos como brasa e exclamou, "O que vocês estão fazendo paradas aí? Será que vocês não podem vir aqui para me ajudar?" "O que você está fazendo aí, anãozinho?" perguntou Rosa Vermelha. "Tola e curiosa menina!" respondeu o duende; "Eu estava tentando rachar a árvore para conseguir um pouco de madeira para cozinhar. Para o pouco que comemos precisamos apenas que alguns gravetos sejam queimados; nós não comemos tanto quanto vocês que são grandes e gulosos. Eu tinha acabado de enfiar um calço dentro da fenda, e tudo estava indo como eu queria; mas a danada da madeira era lisa demais e de repente pulou para fora da fenda, e a árvore se fechou tão rapidamente que não tive tempo de puxar a minha barba branca e delicada; então, agora eu estou preso e não consigo ir embora, e vocês ficam aí rindo, vocês são tolas, ingênuas e bobas! Ugh! Como eu odeio vocês, suas patachocas!"

As meninas fizeram muita força, mas elas não conseguiam tirar a barba que estava muito presa. "Eu vou correndo buscar ajuda," disse Rosa Vermelha. "Sua gansa desajeitada!" rosnou o duende; "porque você iria buscar ajuda? Duas já são demais para mim; será que vocês não conseguem pensar em algo melhor?" "Não fique nervoso," disse Branca de Neve, "Eu vou ajudar vocês," e ela tirou uma tesoura do bolso, e cortou a ponta da barba do duende.
E assim que o duende se viu livre, ele pegou uma sacola que estava encostada entre as raízes das árvores, e que estava cheia de ouro, a levantou, e resmungava consigo mesmo, "Criaturas estúpidas, cortaram um pedaço da minha bela barba. Desejo má sorte para vocês!" (o duende era muito mal humorado) e então, ele jogou a sacola nas costas, e saiu em disparada sem nem sequer olhar para as meninas.

Algum tempo depois Branca de Neve e Rosa Vermelha foram pescar alguns peixes. Assim que elas chegaram perto do riacho elas viram algo que parecia um grande gafanhoto pulando em cima da água, e parecia que ele queria mergulhar. Elas correram em direção a ele e descobriram que era o duende. "O que você está fazendo?" disse Rosa Vermelha; "É claro que você não quer entrar na água?" "Eu não sou tão tolo assim!" exclamou o duende; "vocês não estão vendo que aquele peixe covarde está querendo me empurrar para dentro?" O anãozinho estava pescando ali, e por azar o vento tinha enroscado a sua barba na linha de pescar; bem nesse instante um peixe grande mordeu a isca, e como a criatura era fraca, ele não teve força para puxá-lo; o peixe foi mais esperto que ele e tentou puxar o duende. Ele se segurou em todos os juncos e caniços que pode, mas de nada adiantou, ele foi obrigado a acompanhar os movimentos do peixe, e por pouco não foi arrastado para dentro da água.

As meninas haviam chegado bem na hora; elas seguraram-no bem firme e tentaram soltar a sua barba da linha, mas nada deu certo, a barba e a linha ficaram mais enroscadas ainda. Não houve outro jeito senão trazer a tesoura e cortar a barba, e uma parte dela ficou faltando. Quando o duende viu o que ela fez, ele gritou, "Está certo isso, sua desajeitada, desfigurar o rosto de uma pessoa? Não foi o bastante cortar a ponta da minha barba? Agora você jogou fora a melhor parte dela. Agora não vou mais poder deixar que me vejam assim. Eu gostaria de saber se você poderia correr caso lhe faltasse a sola dos seus sapatos!" Então, ele pegou um saco de pérolas que estava no meio dos juncos, e sem dizer nem mais uma palavra, levou-o para longe e desapareceu atrás de uma pedra.

E aconteceu que pouco depois a mãe mandou que as duas crianças fossem à cidade para comprar agulhas e linhas, e também laços e fitas. A estrada tinha um cruzamento que levava até um brejo onde havia, por toda parte, grandes blocos. Então, elas perceberam que uma grande ave pairava no alto, e voando mais devagar um pouco acima delas; ela veio descendo devagar, e finalmente pousou perto de uma rocha não muito distante. Em seguida elas ouviram um grito alto e penetrante. Correram para o local e viram, com horror, que a águia havia capturado o velho amigo delas, o duende, e já estava se preparando para ir embora.

As meninas, ficaram com pena, e imediatamente seguraram o anãozinho, e lutaram com a águia durante tanto tempo, que finalmente ela soltou a sua presa. Assim que o duende se recuperou do seu primeiro susto gritou com sua voz estridente, "Você não poderia ter feito isso com mais cuidado! Você agarrou no meu casaco marrom com tanta força que ele está todo rasgado e cheio de buracos, suas criaturas inúteis e desajeitadas!" Então, ele pegou um saco cheio de pedras preciosas, e saiu correndo novamente debaixo das pedras e entrou no buraco onde ele morava. As meninas, que já estavam habituadas com a ingratidão do duende, continuaram a caminhar e foram comprar o que sua mãe lhes havia pedido.

Quando elas foram atravessar o brejo novamente ao retornarem para casa elas deram de cara com o duende, que tinha esvaziado a sua sacola de pedras preciosas em um lugar vazio e limpo, nem tinha imaginado que alguém poderia vir até ali tão tarde. Os últimos raio de sol refletiam sobre as pedras; elas brilhavam tanto e espalhavam seus reflexos por todos os lados e tudo era tão encantador que as meninas ficaram paradas e olhava para elas. "O que vocês estão fazendo aí de boca aberta, suas molengas?" exclamou o anão, e o seu rosto que era cinzento começou a avermelhar de tanta raiva. Ele ia começar a falar alguns palavrões, quando, de repente, elas ouviram um grunhido estrondoso, e o urso negro estava saindo da floresta e veio trotando em direção a eles.

O anão deu um pulo de tão assustado que ficou, mas ele não conseguiu entrar na sua caverna, porque o urso já estava bem perto. Então, tremendo que nem vara verde ele gritou, "Querido Senhor Urso, me poupe, eu lhe darei todos os meus tesouros; veja, as belas jóias que eu tenho aqui! Poupe a minha vida; o que você iria querer com uma criaturinha tão delicada como eu? você nem iria me sentir entre os seus dentes. Venha, leve estas duas garotas perversas, elas serão duas tenras iguarias para você, gordinhas como duas codornas; por misericórdia, fique com elas!" O urso não deu atenção às suas palavras, mas deu uma tremenda patada no duende sem coração, que ele nunca mais se moveu.

As meninas haviam fugido, mas o urso as chamou de volta, "Branca de Neve e Rosa Vermelha, não fiquem com medo; esperem, quero ir com vocês." Então, elas reconheceram a voz do urso e o esperaram, e quando ele chegou perto delas, de repente ele se desfez de sua pele de urso, e eis que ali estava um belo e garboso príncipe, todo vestido de ouro. "Eu sou filho do rei," disse ele, "e eu fui enfeitiçado por aquele duende malvado, que roubou todos os meus tesouros; tive de viver correndo pela floresta como urso selvagem até que me libertasse com a morte do duende. Agora ele recebeu sua bem merecida punição."

E finalmente, Branca de Neve se casou com ele, e Rosa Vermelha com o irmão dele, e elas dividiram entre si o grande tesouro que o duende havia juntado e levado para a caverna. A velha mãezinha viveu tranquila e feliz com duas filhas durante muitos anos. Ela levou as duas roseiras com ela, as quais foram colocadas diante da janela, e que todos os anos floriam as mais belas rosas, a branca e a vermelha.

Fontes:
Contos de Grimm
Imagem =Branca de Neve e Rosa Vermelha. Ilustração de Alexander Zick (1845-190
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Graça Graúna (Poemas Avulsos)


A CAMINHO DO HAITI TEM UMA PEDRA (*)

tem uma jangada de pedra
a caminho do Haiti
a esperança se avizinha
pois navegar é preciso
ou como diz o velho Mago
uma obrigação todos temos.
E agora, que fazer?
A caminho tem uma pedra
e uma jangada se recria
pois não há mais tempo a perder
________
(*) Fiz este poema, pensando em Carlos Drummond de Andrade, autor do poema “No meio do caminho” e empreguei o termo Mago para homenagear SaraMAGO e a sua solidariedade ao povo do Haiti.
 

ALMAS PEREGRINAS

Entre as histórias mais belas
do Rio Grande do Sul
é impossível esquecer
a canção de amor e morte
de Pulquéria e Tiaraju.

Na antiga São Miguel
com a lua por testemunha
em meio a flores silvestres
e os cantares dos pássaros
se encontram os amantes.

É um amor tão bonito
que Ñanderu nos faz ver
o que há de mais sagrado
na história de Pulquéria
e o seu amor por Sepé.

Foi na Guerra das Missões
que o amado parente
enfrentou as duras penas
que as lágrimas de Pulquéria
deram luz a uma nascente

Diz a lenda que Pulquéria
no rio ainda se banha
enquanto o guerreiro amado
segue o Cruzeiro do Sul
quando a noite é mais pituma.

CRAVOS DE ABRIL

Do outro lado do Atlântico
a liberdade é uma flor
a liberdade é vermelha.

Do outro lado do Atlântico
os prantos se foram
e o canto agora é de paz
à Grândola, Vila Morena
onde é possível encontrar
um amigo em cada esquina
e em cada jardim um sonho
de alegria e esperança
pois há um cravo a brotar

DEMASIADO
               (para Hideraldo Montenegro)

humano
é poder apalpar o universo,
ainda que de longe
e sem fronteiras.

Consciente desta possibilidade,
o poeta expõe a solidão
tatuada em seu silêncio.

ESCRITURA FERIDA

          
  à Florbela Espanca

Atiram mil pedras
na charneca em flor.

Ossos do ofício:
no mais fundo do poço
retirar o poema
encharcado de mágoas

MANIFESTO

...fragmento que sou
da fúria no choque cultural,
aqui, manifesto o meu receio
de não conhecer mais de perto
o que ainda resta
do cheiro da mata
da água
do fogo
da terra e do ar

Torno a dizer:
manifesto o meu receio
de não conhecer mais de perto
o cheiro da minha aldeia
onde ainda cunhantã
aprendi a ler a terra
sangrando por dentro

MIRAGENS

À meia luz
escudados nos sonhos
despistaram o medo de amar
e só diante do espelho admitiram
que a nudez é um perigo
capaz de intimidar o Amor
...depois do amor a espera
sem pressa, sem dor
depois do amor
o desejo natural
de repousar entre lençóis
e continuar a loucura
que não se vê em jornais.
Escudados nos sonhos
beberam a angústia do ser
na boca molhada de suor e sexo
seguindo o infinito
neste sopro de adeus…

O GUARANI
 

Sepé Tiaraju foi um guerreiro
defendeu com a vida o rincão
a caça, a pesca e o plantio
do guarani contra a invasão

Da real história poucos sabem
o que se deu no século dezoito.
Sepé Tiaraju morto em combate
em nome da cultura do seu povo.

Junto a mil e quinhentos guaranis
afirmando que “esta terra já tem dono”.
na luta contra o mal ele morreu

Mas contam lá em São Miguel
quando a noite parece mais pituma
o guerreiro Sepé vira uma estrela

UMA CHANCE À PAZ
               (pensando em John Lennon)

O silêncio nos acompanha
resmunga
diz que envelheceu
e que só alguns loucos tentam escutá-lo.

O silêncio reclama
diz que são raros
os que ousam tocá-lo
e continuam se perguntando:
— todos dormem ou fingem que estão mortos?

Imagine
um silêncio de fel sobre o gelo fino

Teófilo Braga (A Rosa Branca na Boca)

Recolhido no Algarve

Um homem muito abastado veio a cair em pobreza pelos seus desvarios; como tinha dado uma boa educação ao filho, este sabia tocar muitos instrumentos e para ganhar a sua vida foi por esse mundo além. Chegou a uma terra e parou diante de um palácio onde se estavam tocando peças de música muito lindas. Deixou-se ali ficar sem comer nem beber.

O dono do palácio vendo aquele homem parado na rua, perguntou-lhe o que queria. Ele disse que também gostava muito de música; o homem mandou-o entrar para ver se ele também sabia tocar.

Assim foi, tocou e desbancou todos os outros músicos. O homem admirado, despediu todos os músicos, e disse ao rapaz que ficasse com ele, para o ouvir tocar sempre.

Os outros músicos desesperados só queriam apanhar o rapaz para o matarem; mas o velho assim que soube disto protegia o rapaz, acompanhava-o sempre, e queria deixar-lhe tudo como se fosse seu filho.

Na corte correu a fama do tocador, e o rei pediu ao fidalgo para lhe levar o rapaz e deixá-lo no paço alguns dias. Lá lhe custou isso, mas não podia dizer que não ao rei. O rapaz espantou todos nas festas do palácio, porque tocava muito bem.

Uma noite que estava recolhido, sentiu entrarem-lhe na câmara e meter-se na cama com ele uma dama; quis saber quem era, acendeu uma luz, mas ela trazia uma máscara. Enquanto se demorou no paço, todas as noites ia a dama ter com ele.

O rapaz insistiu para que lhe dissesse quem era. Ela respondeu:

– Não te posso dizer quem sou! Amanhã ao entrar para a missa, hás de me ver com uma rosa branca na boca.
   
O rapaz foi dizer tudo ao fidalgo que já o tratava como filho; mas o fidalgo lembrando-se do ódio dos músicos, quis acompanhá-lo, não fosse alguma traição.

Pôs-se ele à porta da igreja, entraram todas as damas, e só quando veio a rainha é que ao lado dela viu a condessa que a acompanhava, e que todos tinham na corte por muito virtuosa, com a rosa branca na boca.

Assim que viu o rapaz em companhia do fidalgo botou a rosa ao chão e machucou-a com os pés. O rapaz chegou-se próximo da condessa para saber o motivo daquela zanga. Ela disse-lhe que a tinha atraiçoado, dizendo tudo ao fidalgo.

Perguntou-lhe ele o que era preciso que fizesse para tornar a alcançar o seu amor. Disse a condessa que só matando o fidalgo que lhe servira de pai.

Ele na sua cegueira assim fez.

O rei quando soube deste crime, achou-o tão atroz que deu ordem logo para que o enforcassem.

Então a condessa foi contar tudo ao rei, e confessou-se culpada, dizendo que o rapaz estava inocente, e que o que fizera era pela paixão do amor.

Então o rei perdoou-lhe:

– Já que a condessa fez a sua desgraça, case agora com ele para o fazer feliz.

Fonte:
Contos Tradicionais do Povo Português

Lavínia Severo (Fria Aurora)

Eram quase quatro da manhã. Não preguei os olhos a noite inteira. Já estávamos beirando julho e ela não conseguira realizar seu sonho. A mãe não cumprira sua promessa. Botijão já não se via há semanas e buscávamos o mingau da sobra do vizinho, que chegava já gelado. O frio e o ar seco cortavam-me os lábios e faziam doer os rins. As contrações, cada vez mais penosas, espinhavam na alma o ódio do desfavorecimento. Kayla acabava de padecer nos meus braços e abraços, mas meu calor, que já não dava conta nem de mim, falhou em mantê-la viva. Havia estendido a ela a promessa da mãe e seus olhos brilharam de esperança até o último minuto, inocente que era.

Nós duas éramos as únicas dos cinco irmãos na escola, por sermos meninas. Os meninos iam todas as noites coletar papelões e latinhas. Kayla era a razão da minha permanência naquela casa desgraçada e esquecida por Deus.

O interruptor não respondeu e confirmou o óbvio.

– Que m…., Armando! Não vá dizer que não pagou a conta? - a mãe perguntava por perguntar, em seguida resmungava meia dúzia de palavrões, porque chorar já tinha desaprendido.

O pai, que já abria a segunda garrafa de pinga, nem se deu conta da ausência de luz no casebre. Levantou, derrubando o copo, e agarrou a mãe colocando-a em cima da mesa, erguendo-lhe o vestido e mal conseguindo falar ordenou que calasse a boca. A mãe gemeu de dor. Segundos depois, já gritava de prazer.

Desta vez, não precisei cobrir os olhos e os ouvidos de Kayla.

Os meninos chegaram silenciosos e só então alguém me notou com Kayla nos braços, descolorida, pétrida e fria. Minha vida já não fazia sentido algum. Éramos as caçulas e entre nós quatro anos de distância. Depois de mim, a mãe abortou oito vezes, mas Kayla ela não conseguiu matar. Nasceu esmilinguida e sem movimento nas pernas, mas tinha uma sapiência incomum, ia entrar na quinta série com idade regular e escrevia histórias lindas - duvidei muitas vezes da fidelidade da mãe.

Pedi ao meu irmão mais velho que me ajudasse a carregar o corpo de Kayla pra rua, sem fazer muito barulho pra não levar a garrafada do pai, que ainda bebia pinga no gargalo.

Com a porta já às costas, meu irmão repousou o corpo na carroça de papelões e nos puxou para o centro da cidade. Eram meus últimos momentos com Kayla e prometi à sua memória que realizaria seu sonho.

Abandonamos o corpo na frente do IML, na ainda deserta perimetral. Subi na carroça e duas quadras dali pedi pro Valdir parar. Beijei o rosto dele, nos olhamos por muito tempo, mas ele sabia, desde que viu Kayla nos meus braços, que nunca mais nos encontraríamos. Virei as costas e ele me pegou pelo braço, tirou do bolso uma nota de dois reais e repousou-a sobre minha palma. Sorri timidamente e chorei, chorei por muito tempo depois que ele partiu.

Amanheceu, entrei na padaria e pedi um chocolate quente.

Fonte:
Contos Maringaenses

Machado de Assis (Gazeta de Holanda) N.° 38 – 29 de novembro de 1887

Nascimento cura, cura,
Curandeiro Nascimento;
Curandeiro fura, fura,
Fura-vida e fura-vento;

Pois que tens a liberdade
De curar tantas mazelas
Que devastam a cidade,
Curar e viver por elas;

Tudo isso com quatro passes
De evocação de defuntos,
Que, sem que mostrem as faces,
Todos ali falam juntos;

Espíritos diferentes;
Um cura barriga da água,
Outro arranca um ou dois dentes,
Sem deixar sangue nem mágoa:

E mais que tudo, são grandes
Em ler, como as adivinhas,
Para o que, basta que mandes,
Com tais e tais palavrinhas;

Nascimento (apre! que custa
Desfiar um pensamento
Verso abaixo! Custa e assusta).
Dize-me cá, Nascimento,

Dize o que virá de Minas,
Se queijo, tabaco, ou lombo,
Se cousas mais superfinas,
Quem dá pulo e quem dá tombo.

Antes que tudo nos venha,
Veio muita porcaria,
Muita rixa e muita lenha,
Pulso de gente bravia.

Palavreada sem estilo...
Ao menos, se os escritores
Nos fizessem ler aquilo
Com alguns poucos lavores,

Dariam à pobre gente
Que vive de outros negócios
Um recreio de patente
Para entreter os seus ócios.

Então, padecesse o Veiga,
Calmon, Santa Helena e o resto,
Para uma pessoa leiga
Era um gosto puro e honesto.

Lia em boa e sã linguagem
Que o vizinho era um modelo
De ignorância e parolagem,
Um papagaio e um camelo.

E, vice-versa, diria
O vizinho assim tratado,
Que a maior patifaria
Tinha no outro o grão-mestrado.

Eram certamente afrontas,
Mas rendilhadas, cobertas
De corais e finas contas,
Menos que afrontas, ofertas.

Ah! mas justamente é isso
O que faria à polêmica
Perder o melhor feitiço,
E pô-la inválida e anêmica.

E por que tanto barulho?
Para ter lugar marcado
Na casa, que é nosso orgulho,
E a que chamamos senado.

Que vale a pena, isso vale!
Ponham-me ali já eleito
Pela serra ou pelo vale,
E verão se não aceito.

Aceito, fico e sustento,
Com alma, com heroísmo,
Esse forte monumento,
Flor do parlamentarismo.

Uma só condição, uma,
Para pleitear aquilo
Descompostura nenhuma,
Ou nenhuma, ou com estilo.

Fonte:
Obra Completa de Machado de Assis, Edições Jackson, Rio de Janeiro, 1937.
Publicado originalmente na Gazeta de Noticias, Rio de Janeiro, de 01/11/1886 a 24/02/1888.

André Telucazu Kondo (Crônica do Medo)

 texto vencedor do XII Prêmio FACCAT - Panorama (Categoria Crônica)


– Você não teve medo?

          Essa foi uma das perguntas mais frequentes que me fizeram, quando voltei de minha viagem de volta ao mundo, passando por cinquenta países em oito meses. Depois, repetiram a mesma pergunta, quando voltei de outra viagem, desta vez, apenas pela América do Sul, só que realizada no estilo carona, dormir na praça e passar fome.
  
       Medo?

          Quase fui roubado e detido na Rússia, fui abandonado na fronteira tcheca, enganado no Peru, quase atropelado em uma ilha da Indonésia, quase despenquei de uma montanha na Venezuela, enfrentei uma enchente em Honduras, escalei um vulcão ativo na Guatemala, andei mil quilômetros na Espanha, fui ameaçado em Rondônia, dormi em caverna na Capadócia e em albergues de mendigos no Brasil, passei fome no Caminho da Fé, passei frio no Círculo Polar Ártico e calor na linha do Equador...

          Se eu tive medo?

          Sim. Eu tive medo. Tive medo de uma vida sem sentido, em trabalhar em um emprego em que acordasse com um suspiro de desânimo e retornasse para casa com outro de tédio. Tive medo de enfrentar o trânsito caótico de uma cidade para chegar a lugares em que eu não queria chegar. Tive medo de me enforcar com uma gravata todos os dias. Tive medo de abandonar o meu sonho de conhecer o mundo e de escrever sobre ele. Tive medo de viver cotidianos, de ver o mesmo dia se repetindo todas as semanas e todas as semanas se repetindo em todos os meses e todos os meses finalmente se convertendo em anos e os anos se convertendo em fim. Tive medo de adiar a minha vida.

          Por isso, eu parti. E em cada curva da estrada, em cada momento em que eu não sabia o que ia acontecer lá na frente, eu sorria. E nunca suspirei de tédio ou desânimo, mesmo diante de uma longa e escaldante estrada. Senti o frio ártico em minha pele e me senti mais aquecido do que nunca, pois é melhor sentir o frio na pele do que frio no coração. Senti o calor equatorial e suei todos as minhas frustrações, que se escondiam debaixo dos meus poros. Fui enganado, sim. Mas não perdi a confiança em mim. Fui abandonado, sim. Mas não abandonei a minha fé. Fui ameaçado, sim. Mas não ameacei desistir do meu sonho. Senti fome, sim. Mas nunca deixei de sentir a minha alma alimentada.

          Se eu não tenho medo agora?

          Tenho medo e sempre quero ter medo.

          Agradeço ao medo. Foi ele que me fez ter a coragem de enfrentar outros medos. A verdade é que não há medo maior do que não ter medo de nada. Pois o medo nos desafia a enfrentá-lo. Quem não sente medo, contenta-se com a segurança do cotidiano, dos pratos de mesmos sabores, dos bom-dias sem calor.

          Sinto medo de não ter medo. Medo de ter coragem de viver uma vida sem sobressaltos, sem riscos, sem desafios...

          Quero ter medo!

          Quero, sobretudo, ter medo da morte, para ter coragem de enfrentar... todos os medos da vida.


Fonte:
http://andrekondo.blogspot.com

Nilto Maciel (Contistas do Ceará) Outros Contistas : Luis Marcus da Silva

Luís Marcus (ou Marcos) da Silva nasceu em Fortaleza, 1964. Editou “Noite Empalhada”, no Almanaque de Contos Cearenses. Teve “Ociosidade” classificado (e publicado em coletânea) em 4º. lugar no I Prêmio Literário Cidade de Fortaleza. Estampou contos em jornais. Inédito em livro.

                Os contos de Luís Marcus da Silva, embora apresentem características da narrativa realista urbana, buscam o inusitado, o lado obscuro da realidade. Narrado na primeira pessoa, “Noite empalhada”, apresenta um narrador sem nome explícito, envolto em brumas, a falar para outro e, ao mesmo tempo, para si mesmo. Fala de noite, solidão, loucura e morte: “A loucura, a morte: elas sempre chegam durante a noite”. Como se delirasse: “Será que te matei ou te mataram?” Para quem conhece a cidade de Fortaleza, é fácil perceber por onde se locomove o personagem: “A 24 de Maio nos meus delírios, a saudade da outra cidade que não mais existe e uma forte atração pela morte”. Refere-se a uma rua do centro e a uma cidade que se transformou nos últimos anos numa metrópole caótica.   

                Em “Iniciação”, o mesmo caos interior a se misturar ao caos urbano e do planeta. No entanto, seu narrador se apresenta como um ser mitológico, e não como um personagem de carne e osso. Em vez de um conto realista ou intimista, uma parábola, uma alegoria, em que o narrador seria “o ser humano” e não “um ser humano”. Em “Pedrada” a violência urbana (o caos urbano) e também a violência humana são retratadas num enredo singular, em que meninos na rua atiram pedras uns em outros e terminam por atingir o rosto de uma mulher, “num talho entre os olhos e a boca”. O narrador (escondido em uma mercearia, testemunha ocular dos atos de desordem dos pequenos) não fala de si mesmo, voltado que está para os garotos e suas ações, como um repórter. Para ele, os atiradores de pedras se comportam como seres das cavernas: “A batalha primitiva continua no seu apogeu”.

Fonte:
MACIEL, Nilto. Contistas do Ceará: D’A Quinzena ao Caos Portátil. Fortaleza/CE: Imprece, 2008.

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

A Saudade em Sonetos Diversos VI


RAIMUNDO CORREIA
Saudade

Aqui outrora retumbaram hinos;
Muito coche real nestas calçadas
E nestas praças, hoje abandonadas,
Rodou por entre os ouropéis mais finos...

Arcos de flores, fachos purpurinos,
Trons festivais, bandeiras desfraldadas,
Girândolas, clarins, atropeladas
Legiões de povo, bimbalhar de sinos...

Tudo passou! Mas dessas arcarias
Negras, e desses torreões medonhos,
Alguém se assenta sobre as lájeas frias;

Em torno os olhos úmidos, tristonhos,
Espraia, e chora, como Jeremias,
Sobre a Jerusalém de tantos sonhos!...

RAUL DE LEONI
Decadência

Afinal, é o costume de viver
Que nos faz ir vivendo para a frente;
Nenhuma outra intenção, mas simplesmente
O hábito melancólico de ser...

Vai-se vivendo... é o vício de viver...
E se esse vício dá qualquer prazer à gente,
Como todo prazer vicioso é triste e doente,
Porque o Vício é a doença do Prazer...

Vai-se vivendo... vive-se demais,
E um dia chega em que tudo que somos
É apenas a saudade do que fomos...

Vai-se vivendo... e muitas vezes nem sentimos
Que somos sombras, que já não somos mais nada
Do que os sobreviventes de nós mesmos!...

SILVA LOBATO
Crepúsculo

Crepúsculo. Saudade é a dor da ausência. A essa hora
É triste o campo, é triste o rio e é triste a mata.
Pelo espaço, a reboar, a voz de um sino chora;
Chora o seu pranto oculto a alma de uma cascata.

Lento, o orvalho do céu, posto em pingos de prata,
Borda os verdes festões da sorridente flora...
Calam-se as aves. No ar, ao pôr do sol, desata
A alta estridulação a cigarra sonora.

Ó noivos, que povoais a vossa alma de sonhos,
Que nostalgia! Que tristeza, olhos tristonhos,
Não vos trouxe essa luz crepuscular de agosto?!...

E a saudade a pungir vosso peito dorido,
É a lembrança dos que se vão para o sol posto,
É a incontida explosão desse amor incontido!

VESPASIANO RAMOS
Soneto da volta

Desde este instante, sem cessar, maldigo,
Aquele instante de felicidade!
Para que tu vieste ter comigo,
Meu amor! Minha luz! Minha saudade?!

Dês que te foste, foram-se contigo
Todos os sonhos desta mocidade...
A tua vinda — fora-me um castigo;
A tua volta — uma fatalidade!

Dês que te foste, dentro em mim plantaste
A ânsia infinita dos desesperados
Porque voltando, nunca mais voltaste...

Correm-me os dias de aflições, cobertos:
Eu entrei para o amor de olhos fechados
E saí para a dor de olhos abertos!

VINICIUS DE MORAES
Soneto de contrição

Eu te amo, Maria, eu te amo tanto
Que o meu peito me dói como em doença
E quanto mais me seja a dor intensa
Mais cresce na minha alma teu encanto.

Como a criança que vagueia o canto
Ante o mistério da amplidão suspensa
Meu coração é um vago de acalanto
Berçando versos de saudade imensa.

Não é maior o coração que a alma
Nem melhor a presença que a saudade
Só te amar é divino, e sentir calma...

E é uma calma tão feita de humildade
Que tão mais te soubesse pertencida
Menos seria eterno em tua vida.

Fonte:
http://www.elsonfroes.com.br/sonetario/saudoso.htm

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Acruche Collection - Trova 20


Fábio Ramos (Poemas Avulsos)


INCERTEZAS

Corredores escuros
Avenidas desertas, cidade morta
Todos julgam-se amigos, companheiros
E, mesmo assim
Tudo é em vão, tudo é inútil
O tempo é só, incrédulo da própria realidade
O tempo é só...
É só ele em seu silêncio
Sussurrando apenas aos sábios, as almas puras
Tudo o que sente, o que pensa

No vem e vai, nada fica, tudo um dia partirá
A felicidade é por pouco tempo
Ela chega , encanta, e desaparece
Some em meio à sonhos, ilusões...
Pensamentos...

Quem sabe,
O segredo de ser feliz, é desaparecer
Partir junto a ela, sem rumo, sem direção
Mesmo que...
Uma vida toda, um passado por inteiro fique para traz
Mesmo que o destino torne-se incerto
E, o caminho obscuro, surpreso
Mesmo que tudo e todos
Contra o destino reajam, o julguem
Porque tudo vale, tudo se pode
Quando em meio a tantas incertezas
A grande razão de todas as loucuras
Seja um eterno amor...

H I S T Ó R I A S

Histórias.....
Toda história, é uma história de amor
Quisera eu, ter uma linda história à contar
Quisera eu, ter uma história

Histórias.....
O anseio de histórias, me fez te imaginar
Me fez te desejar, te compreender, te precisar
Criei....
Criei muitas histórias, fiz a minha história
Mas, não pude viver nenhuma delas como eu quis

Histórias....
Enquanto eu as tentei viver,
Caíram as lágrimas de meu rosto
Doeu, doeu muito em meu peito
E, até hoje dói muito

Vivo.....
Vivo em mundo que não entendo
Quero viver, para tentar entendê-lo
Não peço a morte, pois...
Não sei se vou amá-la como amo a vida

Então, eu vivo uma vida, procuro...
Uma vida de procura
Louca procura.....
Porque, loucos são, os que não se cansam de procurar
Louca vida, louco vivo....

Procuro......
Mas como procurar?
Se há algo trancado no peito
Se vivo trancado neste quarto
Sozinho, sem motivos......
Como aqui encontrar?
Se já não me encontro na imensidão deste Mundo aberto

Não......
Não há porque esclausurar, esquecer
Porque nas minhas histórias de romance,
Eu já amei
Não sei se às vivi, ou se apenas sonhei
Porque, sempre tento lembrar de mim
Mas, me lembro só
Não que eu estive solitário por todo o tempo
É porque, eu nunca encontrei ninguém
Para dizer comigo um só

Histórias......
Somente páginas que folheiam,
Que envelhecem
Páginas, que ficam no peito, e na memória
São páginas de amor, luta, dor e alegria
São, somente minhas histórias

FRAGMENTOS DA ALMA

Sonhos...
Ilusões do querer
Vida inconsciente
Vive no presente, fazendo sofrer

Sonhos que vem e vão
Pessoas que chegam, outras que partem
Amores que morrem outros que nascem
E no correr deste vai e vem
Entre chegadas e partidas
O que resta são feridas
Migalhas do que se foi

Fragmentos que restam
Restos que movem
Restos que ferem
Restos de momentos e lembranças
Ou, apenas restos de sonhos
Que jamais saíram da ilusão

Restos de um nada
Pairando no ar
Vagando um coração
Molhando um olhar
Fazendo viver
Uma alma que sangrou e partiu

SE FALO DE AMOR

Se falo de amor, não é porque saiba o que ele é
Mas porque o amo, e o amo por isso
Porque, quem ama não sabe o que ama
Nem sabe porque ama,
Muito menos quem é o amor

Talvez seja esquizofrenia
Pois, se o amo sem saber o que é
Como sei que o sinto?
Como saber que é ele?
Não sei,
Apenas o amo, imagino, sonho...
Deixo que em minha alma se alastre
E se faça presente em mim
Único, pleno, dominante

Porque...
Já não vale reagir,
Tão pouco adianta, é forte, muito forte,
É inútil tentar
O coração é frágil, inocente, indefeso
Um dependente deste amor tão distante
Que me persegue, me condena
E, me aprisiona....
Em tua ausência
Em tua falta, longe do seu toque
Do seu beijo, do seu cheiro
Do aconchego dos teus braços

O vazio, o frio e a solidão
Companheiros inseparáveis
São tomados por pensamentos exultantes
Viagens de brando sentimento
Perdido no ar, solitário
Na ilusão de sua própria existência
De suas próprias razões
No seu próprio existir...

Ah!!! Amor,
Se o amo,
Se te sinto, sem saber quem tu és,
Porque não vens ao meu encontro?
E, me revela quem tu és.

AMIZADE ETERNA

Falar de amigos, parece tão fácil falar de amigos.
Algo tão complexo, intenso, profundo
Alegrias e tristezas juntos, instantes eternos
Momentos inesquecíveis
Mão estendida quando falta o chão
Sorrisos e lágrimas compartilhadas em uma grande conquista
Lágrimas na dor, lágrimas na conquista
E sempre ali, mesmo em  silêncio
Acalento vindo do olhar, carinho partindo da alma inundando coração
Em uma energia inexplicável, vivida por você e eu

Amigo, um bem maior
Amigo na fé, amigos na alma
Amigos na eternidade
Amigos na simplicidade e na complexidade de sentir incomparável
Um querer incontrolável, sentimento sem cobrança, sem medida
Almejando a vida, de um laço abstrato, onipotente, viril
Um laço de amor na essência de uma AMIZADE eterna.

Fontes:
http://www.poetasdelmundo.com/detalle-poetas.php?id=6438
http://www.recantodasletras.com.br/autor_textos.php?id=25063&categoria=7

Fábio Ramos (1980)

Fabio Ramos nasceu em Lages, na Serra de Santa Catarina, em 04 de novembro de 1980.

Filho de Carlino dos Santos e Solineti Ramos dos Santos, iniciou sua carreira artística aos oito anos na música na cidade de Rio dos Cedros, no Vale Europeu de Santa Catarina.

Fabio viveu em contato com a arte e a cultura europeia, presente em movimentos sociais, esporte, cultura e lazer na cidade em que cresceu RIO DOS CEDROS - SC, e passando por diversas situações usou papel e caneta para fazer um verdadeiro amigo, um refúgio para suas lamentações, medos, sonhos, desejos. Bastante contraditório por estudar e trabalhar no setor das exatas, Fabio fez da música e da poesia algo muito forte em sua vida.

A princípio seus textos eram apenas rascunhos de papel escondidos, até que amigos e amigas começaram a ler e gostar dos textos, e então começaram a transmitir os mesmos, tornando Fabio conhecido por belos poemas.

Em 1996 conheceu o escritor Pomerano Cícero Pedro de Mello, que incentivou e mostrou os primeiros caminhos para tornar-se um bom escritor. Neste tempo a mídia local do Vale, começou a apoiar seu trabalho e depois de muito tempo utilizando diversos meios para divulgar suas obras, Fabio então foi reconhecido e tem textos espalhados por todo o Brasil e o mundo.

Em 2007 iniciou participações em livros, como a Antologia Coletânea de Poemas, Crônicas e Contos, “ELDORADO”, Volume IV, pelo Celeiro dos Escritores, e logo em seguida participou da Antologia de Poesia e Prosa de Escritores Contemporâneos “Amor & Paixão”, Volume I.

Também pelo Celeiro dos Escritores, em 2009 participou da Antologia “Poesia do Brasil”, e do Congresso Brasileiro de Poesia e encontro internacional de Arte, e hoje com diversas participações mundiais em livros e eventos.

Em 2010 pela primeira vez  tomou  posse como Imortal Acadêmico na Academia Boituvense de Letras e Artes / SP ", e recebeu também o Título de "CHANCELER DAS ARTES".

Recebeu Menção Honrosa, na Câmara Municipal da cidade de Capinzal – SC; pelas raízes familiares nesta cidade.

Menção Honrosa, na Câmara Municipal da cidade de Chapecó – SC.

No ano de 2011, Fabio Ramos, tornou-se Acadêmico da:  *ACLA/MG  – Academia de Ciências  Letras e Artes de  MG,  recebendo o cargo de Delegado de Artes , e em julho deste ano o título Provedor da Paz, todos pela ACLA/MG.

Ainda em julho de 2011 recebeu o título de “Comendador da Ordem do Mérito Tiradentes Protomartir da Independência”,   pela Casa Despotal de Thessalônica, Theocrática de Lagash, que é uma Entidade Cultural de Direito Histórico em Exilio. Recebeu medalha Tiradentes,  A " Ordem do Mérito Tiradentes Protomartir da Independência" é uma Ordem do Mérito que tem por Missão Honrar , Premiar e reconhecer Artistas , Escritores e Personalidades que se destaquem na sociedade onde vivem ,trabalhando em prol da Humanidade como fez o Protomartir da Independência.

Em outubro de 2011, recebeu na Itália a Medalha e Lauda de Honra ao Mérito da “Soberano Nobile e Reale Famiglia Italiani di Taranto”.

Nos anos de 2011, 2012 e 2013, recebeu o Prêmio Destaque da Literatura, pelo Colunista Social Paulista, Raimundo Nonato.

Foi selecionado para o Livro Os 100 Melhores da Poesia no Brasil, sendo eleito um dos melhores poetas Brasileiros.

Recebeu ainda a Lauda de Honra ao Mérito da Casa de Gouvin – Portugal.

Em  2012, a nomeação de Senador Estadual da FEBACLA – Federação Brasileira dos Acadêmicos de Ciências Letras e Artes, onde também passa a responder em nome da Federação para todo o Estado de SC.

Recebeu em julho de 2012 o Prêmio Pena de Ouro – Selo de Ouro da Literatura Brasileira, no Rio de Janeiro.

Membro Honorário da AFLA -  Academia Fraiburguense de Letras.
        
Recebeu a Medalha Poeta Célio G. da Silva, pela ALB - SC -  Academia de Letras do Brasil – SC.

Recebeu a indicação de MEMBRO da ALB - Suiça -  Academia de Letras do Brasil Internacional Sucursal  Suiça.

Recebeu a nomeação de membro vitalício Cadeira 41 como da ALB - SC -  Academia de Letras do Brasil – SC.

Nomeado Presidente da sucursal Rio dos Cedros – SC,  dA ALB - SC -  Academia de Letras do Brasil – SC, posse em novembro de 2013,
Nomeação de Presidente da sucursal Micro Região de Blumenau – SC,  da ALB - SC -  ACADEMIA DE LETRAS DO BRASIL – SC, posse em novembro de 2013,

Nomeação de Vice Presidente Estadual da ALB - SC.

Título de Doutor em Filosofia Univérsica Ph.I. - Filósofo Imortal, em reconhecimento a produção Filosofo/Literária de Repercussões Internacionais.

Recebeu em fevereiro de 2014 a nomeação de Secretário Poetas Del Mundo Para o Brasil.

LIVROS

*Antologia  Coletânea de Poemas, Crônicas e Contos, “ELDORADO” , Volume IV, pelo Celeiro dos Escritores,
*Antologia de Poesia e Prosa de Escritores Contemporâneos “Amor & Paixão”, Volume I, pelo Celeiro dos Escritores
*Antologia “Poesia do Brasil”, no Congresso Brasileiro e encontro internacional de Artes
*Antologia “Poetas Contemporâneos do Brasil", pelo Portal do Poeta Brasileiro
*Antologia “À PAZ”
*Antologia “ALIMENTO DA ALMA” pela Editora All Print – SP
*Agenda Poética, pela Editora All Print - SC
*Antologia “CRISTAL DE TALENTOS II” , pela Editora Scoterci - SP
*Antologia “DESTAQUE DA LITERATURA” , pelo Colunista Social Raimundo Nonato – SP
*Antologia “DEL´SECCHI” , pelo Colunista Social Raimundo Nonato – SP
*Antologia “MELHORES DA POESIA BRASILEIRA”, por Jane Rossi e Mônica Rosemberg
*Antologia “POESIAS” , pela ACHE, Associação Chapecoense de Escritores
* ETERNIDADE NA VOZ DE UM CORAÇÃO,  Livro solo de Poesias
* O CORAÇÃO DE LORENZO, Romance

Fonte:
Dados enviados pelo poeta